A seca que há três anos castiga o Nordeste está
acabando com as árvores e animais selvagens. Por falta de comida, no interior
do Piauí as onças estão saindo dos parques nacionais para caçar nos vilarejos
vizinhos. Só o agricultor Orleide José da Silva Reis perdeu dez cabeças de
ovelhas e de cabras nos últimos três meses. “Nós soltávamos os animais e quando
chegava a hora de recolher eles estavam faltando.”
Enquanto os predadores caçam fora do parque, os
moradores dos vilarejos, que sofrem com uma estiagem de três anos, invadem a
Reserva Nacional da Serra das Confusões em busca do que comer. Nem o tamanduá
bandeira escapa. Em um abrigo natural a equipe do Jornal Hoje encontrou ossos
de pelo menos quatro animais. “É um bicho que está na lista oficial de
extinção. Por isso a nossa preocupação”, explica o chefe do parque José
Wilmington Paes Landim.
A equipe de reportagem do JH, com a ajuda do
biólogo do parque da Serra da Capivara Fernando Tizianel, entrou na mata para
tentar identificar algumas espécies que não resistiram à estiagem. Segundo ele,
até a árvore angico preto, típica de mata seca, não resistiu. “Ela tem uma
resistência para suportar baixas precipitações de chuva.”
Em outro ponto da mata, o mateiro Adão dos Reis
Silva encontrou uma carcaça de tatu bola, um animal típico da região. “Ele está
muito magro e é um animal que engorda muito. Arrisco dizer que ele morreu mesmo
de fome ou de sede.”
Até 2010, a média de chuva na região era de 600
milímetros por ano. Em 2012 caiu para 200 milímetros. Em outras palavras, a
árvore que recebia três litros de água por ano, agora só recebe um terço disso.
“Ela tem recebido apenas um litro por ano e isso tem sido insuficiente para a
planta”, completa o biólogo.
Os pesquisadores que monitoram os répteis da
região há dois anos estão preocupados. “Algumas espécies com ocorrência bem
abundante no primeiro ano, nesse segundo ano com a seca mais proeminente não
estão caindo nas armadilhas”, explica a pesquisadora do Instituo Chico Mendes
Juliana Rodrigues.
Ela explica que até os animais mais resistentes à
seca estão correndo risco. “Se essa seca se prolongar por muitos anos essas
populações podem flutuar a ponto de eles não se restabelecerem e ocorrer uma
extinção local ou algo nesse sentido.”
Fonte: Jornal Hoje/Rede Globo
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