PRODUTIVOS LAPSOS DE INSÔNIA

Uma velha amiga me confidencia que, quando muito jovem, sonhava em poder dormir até mais tarde sem precisar levar as crianças à escola, no início da manhã. Agora que a idade chegou e que já não tem crianças em casa, o sono é pouco e rarefeito. 

Ou seja, até em matéria de dormir bem tudo tem o seu tempo. Saber lidar com essa estranha cronologia é um desafio. Creio que pelo hábito de dormir pouco, que conservo desde a adolescência, gastei muito menos horas de sono do que a maioria dos viventes e agora, como uma espécie de punição, dei para sofrer com lapsos de insônia. 

Acontece assim. No meio da noite, sem ter nem pra quê, perco o sono por umas duas ou três dezenas de minutos e me deparo com uma espécie de monólogo, com pauta bem definida.

Tem vez que continuo a reflexão do dia anterior sobre um problema de governo, uma questão de ordem política ou teórica que vem me acicatando a mente ou mesmo sobre lances do bom jogo de futebol, que vi na TV. Os temas até que são prazerosos. Ruim é a sensação de que despertarei no início manhã com a desagradável sensação de que fiquei devendo uma cota de repouso ao meu já sambado corpo e ao sempre irrequieto espírito.

Mas bem que poderia ter uma pauta mais suave. Ao invés de problemas pendentes, quem sabe versos de Neruda, ou de Drummond, ou de Bandeira ou de Mia Couto, ou um trecho de boa crônica de Rubem Braga ou uma canção de Lenine ou Chico. Não sei por que razão, minha sina é ter os lapsos insones ocupados invariavelmente por temas mais densos ou áridos. 

Então, resolvi tirar proveito do estranho fenômeno. A depender do assunto que venha à tona, faço mentalmente o esboço do meu próximo artigo ou crônica. Ou do roteiro de uma intervenção num debate próximo. Aqui mesmo, confesso a vocês que me brindam com a generosidade de me lerem, vários dos meus últimos textos foram "rascunhados" em plena madrugada, naquele vácuo que antecede a volta ao reino de Morfeu.

Apenas lamento não ter o dom dos poetas para poder dizer, como Carlos Pena Filho: “Lembranças são lembranças, mesmo pobres,/olha pois este jogo de exilado/e vê se entre as lembranças te descobres”.

Fonte: * Luciano Siqueira é vice-prefeito do Recife e escreve ao Blog da Folha
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MÚSICOS DE PERNAMBUCO CRIAM GRUPO PARA COBRAR POLÍTICAS CULTURAIS DO GOVERNO

Representantes de diversos segmentos da classe artística musical pernambucana lançaram uma série de reivindicações em relação a contratação durante os ciclos festivos no Estados. Composto por nomes como Nena Queiroga, Maestro Forró, André Rio, Karynna Spinelli, Marrom Brasileiro e Luciano Magno, entre outros 11 músicos, o Coletivo Pernambuco divulgou uma carta com reivindicações de mudanças na política cultural do Estado.

No documento, o Coletivo Pernambuco apresenta cinco pautas por melhores oportunidades e condições de trabalho: maior inserção de artistas locais nas grades oficiais dos eventos realizados durante os ciclos festivos (Carnaval, São João e Natal); atualização dos valores de cachês; revisão da política de prazos de pagamentos dos artistas; melhorias na divulgação das programações dos ciclos festivos e mudanças nas cláusulas contratuais de shows e editais públicos.

Segundo Nena Queiroga, que ao lado de Jota Michiles será homenageada do Carnaval do Recife 2018, a congregação de artistas teve início ainda em 2012 para cobrar maior transparência no processo de contratação e pagamento de artistas no carnaval. "São demandas antigas, que independem 'dessa ou daquela gestão'. Hoje nós nos unimos para falar sobre uma realidade que atinge músicos de todos os segmentos", conta a cantora.

"Estamos reivindicando este diálogo para que a gente volte a ter autoestima, para que as pessoas param e olhar para nós, artistas que representam a cultura pernambucana, com aquele olhar de pena por conta da realidade que enfrentamos", afirma Nena. 

A artista explica que além da divulgação da carta, o coletivo tem procurado se reunir com representantes das esferas municipais e estadual para apresentar as deliberações: "Nos reunimos com o vice-governador e iniciamos um diálogo sobre estas pautas. Aguardamos agora um retorno para audiências com o governador Paulo Câmara, com o prefeito do Recife, Geraldo Julio, e com o secretário de Turismo, Felipe Carreras, que devem ocorrer nas próximas semanas".

Outro integrante do Coletivo Pernambuco, André Rio conta que a situação não se resume à Região Metropolitana do Recife. "Existem aproximadamente 140 festas da padroeira em todo o estado. Nós sempre nos apresentamos como representantes da cultura pernambucana nesses eventos, dividindo espaço, de forma muito democrática, com representante de outras culturas. Porém, nos últimos anos temos perdido cada vez mais espaço", conta. 

Vocalista do grupo Som da Terra, Rominho Pimentel, acredita que a Fundarpe, a Secretaria de Cultura e a Empetur precisam agir como mediadores no processo licitatório e contratual dos polos festivos municipais. "É importante que eles cumpram este papel, porque muitas vezes as gestões municipais solicitam artistas que não têm nada a ver com estes ciclos, tomando espaço de representantes da cultura pernambucana", pondera o músico.
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PETROLINA DISCUTE PLANO DE CULTURA ESTADUAL DE PERNAMBUCO

A Pré-Conferência RegionaL de Cultura de Pernambuco aconteceu nesta terça-feira (28) no auditório do Senai, Petrolina. O Secretário de Cultura de Pernambuco, Marcelino Granja, Silvana Meireles, coordenadora da comissão organizadora, Maria Elena, Secretária de Cultura de Petrolina e diversas lideranças de movimentos sociais de Orocó, Cabrobó, Santa Maria da Boa Vista, Lagoa Grande e Dormentes participaram da plenária.

O objetivo do encontro é ouvir todos os segmentos envolvidos na arte e cultura para aprovar o Plano Estadual de Cultura de Pernambuco. "A proposta é afirmar que todos tem o lugar e direito a voz na elaboração da política pública de cultura com fundamento de desenvolvimento e luta de uma sociedade democrática", disse Marcelino.

Além de Petrolina acontece pré-conferências no Recife, na Região do Pajeú, Mata Norte e Sul, Sertão de Itaparica e Moxotó. A Plenária Final está marcada para acontecer em março de 2018, com o tema: “Um Plano Estadual de Cultura para Pernambuco”.  

“Será uma Conferência que reunirá fazedores de cultura da sociedade civil e do poder público para discutir e aprovar a proposta do Plano Estadual de Cultura de Pernambuco, ajudando, portanto a estruturar e consolidar o Sistema Estadual de Cultura de Pernambuco e democratizar ainda mais os processos de participação social nas políticas públicas de cultura”, finalizou Marcelino Granja.
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ANA DAS CARRANCAS E ZÉ VICENTE: A ARTE DO BARRO E A SÍNTESE DE UM AMOR PELA CULTURA

"Ana Leopoldina Santos Lima era o nome dela. Isso muito antes de o barro moldar seu destino lhe dando por amor um homem que não tinha olhos para enxergá-la. Os monstros gerados pelas mãos de Ana eram cegos como o companheiro de sua vida. Com um golpe rápido, certeiro, ela vazava os olhos de suas criaturas com a ponta de um pedaço de pau. Com Ana era assim, a desgraça virava épico". 

Ana "partiu para o sertão da eternidade" numa quarta-feira dia primeiro de outubro de 2008, aos 85 anos, a maior carranqueira do São Francisco voltou ao barro que a fez. E deixou Zé dos Barros, pela primeira vez, na escuridão.

Ela era uma mulher de solenidades. Não falava, entoava. “Minha vida é extensa...”, era a frase com que iniciava a narrativa. Analfabeta, fazia literatura pela boca. E mesmo limitada por uma seqüência de derrames, parte dos dedos com que tocava a lama do mundo paralisados, Ana era grande. Carregava nos gestos uma largura de alma. E o rio era seu espelho em mais de um sentido. A mulher que moldava o barro do chão só pisava o reflexo do céu. 

Ana das Carrancas costumava dizer que sua arte era a síntese de seu amor por um cego que via o mundo mas não era visto por ele. Entre ela e Zé dos Barros nunca se soube quem era criador, quem era criatura. 

Ela já veio ao mundo retirante, na cidade pernambucana de Santa Filomena. Mas diferente de quase todos, nunca lamentou a terra estéril sob seus pés. A estirpe de mulheres da qual era continuidade moldava pratos, panelas, vasos. Ana aprendeu com a mãe, e antes dela a avó, que do barro se arranca tudo, até a vida.

Uns poucos anos depois dela, José Vicente de Barros nasceu em Jenipapo, outro canto sertanejo. Desembarcou na vida sem olhos, por culpa do amor incestuoso entre primo-irmãos. Desde cedo a ele ensinaram que “quando Deus faz uma criança sem vista é porque quer que ela sobreviva como pedinte”. Para se localizar na escuridão, desde menino ele balançava a cabeça. E nesse de lá pra cá, de cá pra lá, encontrava equilíbrio mesmo nas trevas.

Ana e Zé só cruzaram seus pés descalços quase trinta anos mais tarde. Ana tornara-se viúva desde que seu marido despencara de um pau-de-arara. Conheceu Zé pedindo esmolas na feira de Picos, Piauí. Ele balançava guizos, cantava cantigas. Mas era um cego desaforado por anos ouvindo os meninos mangando dele, pegando nele. Ana, não. Era resignada, como costumam ser as mulheres com fome e filhos para dar de comer. Ana dava comida a Zé sem que ele precisasse implorar.
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Um dia a vizinha abordou Ana na rua. “Desenteirei açúcar do meu filho para dar esmola a Zé”, queixou-se. O rosto de Ana queimou de vergonha. Tirou uma nota do bolso e retrucou: “Enteire de novo o açúcar do seu filho. Por Zé ele não vai passar fome”. Naquela noite não dormiu. Sua tristeza não coube na rede que dividia com Zé. Quando acordou, chamou o marido e anunciou: “Meu velho, nunca lhe fiz um pedido. Mas hoje lhe peço. De agora em diante, você não vai mais pedir esmola". Assustado, Zé rebateu: “Deus me fez sem vista para que eu pedisse esmola”. Ana fincou pé: “De hoje em diante sua vista é a minha. Você pisa o barro, eu faço a peça. Nós vamos levar para a feira, nós vamos ser felizes”.

Ana pegou a enxada e caminhou até as margens do São Francisco, em Petrolina. Diante da fartura de líquidos, invocou o espírito do rio: “Meu grande Nosso Senhor São Francisco. Pelo poder que ostenta, pelas águas que estão correndo, do próprio barro melhore a nossa vida”. 

Ao terminar, juntou um bolo de lama e fez, sem que até hoje saiba como, a primeira carranca. Começou levando na feira, suportando calada riso e maldades. “É tão feia quanto a dona”, cutucavam. No dia seguinte, em vez de uma, Ana levava duas. Até que caiu nas graças dos turistas e dos ricos da cidade e, de lá, suas obras ganharam o mundo. Ela então deixou de ser Ana do Cego e virou Ana das Carrancas. E ele virou Zé dos Barros.

As carrancas de Ana são diferentes de todas as outras que, desde o final do século XIX, apontaram a face horrenda na proa das barcas do São Francisco. A maioria dos carranqueiros célebres esculpe em madeira, Ana, em barro. Mas a maior singularidade são mesmo os olhos vazados. São eles que dão a expressão melancólica, contendo mais sofrimento do que ameaça, à obra de Ana. É do feminino que Ana tira sua carranca dilacerada diante da dor do mundo.

Os traços deformados das carrancas de Ana expressam, pelo avesso, a perfeição de seu amor. É este sentimento avassalador que tomava conta de Ana, anos atrás, quando ela começou a pressentir que o fio de sua vida atingia seu cumprimento. “O barro é como gente. Tem o barro ruim e o barro bom. E até o barro regular. Conhecendo o barro se conhece o mundo”, sussurrava ela. “O barro é o começo e o fim de tudo. Sem ele não sou ninguém. Foi ele que me deu o direito. Não me separo dele pra coisa nenhuma, porque eu amo aquilo que ama a mim. O barro é um caco de mim. Nas minhas veias corre sangue de barro.”

As lágrimas abriam então sulcos em sua face. Por um momento, ela assemelhava-se à sua criação. Movia o rosto em direção a Zé, que não a via com os olhos, mas era o único a abarcá-la por completo. Ana então dizia: “Não estou pedindo a morte. Mas quando eu me for, qualquer pedacinho de orelha, nariz ou olho é lembrança dele. E de mim”. 

Zé Vicente infartou em 2014...ganhou definitivamente Luz...

Fonte: Eliane Brum-Jornalista
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CONSELHO MUNICIPAL DE CULTURA E PATRIMÔNIO DE PETROLINA SERÁ REATIVADO

A secretária de Cultura, Turismo e Esportes de Petrolina, Maria Elena convida os interessados para a reunião de Reativação do Conselho Municipal de Cultura e Patrimônio de Petrolina.

O evento acontecerá na sexta-feira (24), no Centro de Convenções, às 16hs.
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PLANTAS MEDICINAIS E O CULTIVO DA AGRICULTURA FAMILIAR

Semear, regar e colher. Aos 67 anos estes são os principais verbos da vida de Francisca Zuza dos Santos. Nascida no Crato, Ceará, devota de Padre Cícero do Juazeiro do Norte, a agricultora diz que há 25 anos trabalho na Horta de Plantas Mediciais em Petrolina, no bairro Areia Branca. 

Além de valorizar a alimentação saudável e beneficiar o meio ambiente, a atividade, de acordo, com dona Francisca torna a vida mais prazerosa. Ela revela que muitos dizem que "o trabalho valoriza o conhecimento tradicional sobre plantas medicinais, assim como as detentoras desses saberes, por meio da construção coletiva de conhecimentos sobre o manejo agroecológico."

O detalhe do trabalho de dona Francisca está no "cuidado que ela tem pelas plantas medicinais". "Temos e cultivamos erva cidreira, capim santo, melão de são caetano hortelã, abacaxi, entre outros. "É uma alegria poder ajudar. Os compradores vão chegando todo dia e nós vamos contribuindo com uma vida mais saudável".

É o caso de Gernira Monte que logo nas primeiras horas dessa quarta-feira (22), veio até a horTa comprar capim santo. "Sou adepta do chá caseiro. Sempre um alivio. Costumo fugir dos remédios industrializados. Prefiro sempre que posso os da natureza".

Em todas as épocas e em todas as culturas, o conhecimento dos remédios caseiros, que cura gripe e dores no corpo se desenvolveu e foi sendo ajustado de acordo com os efeitos produzidos sobre o organismo. Saber que plantas usar e a dosagem certa, todavia, requer experiência e sabedoria.

"Esse saber popular, porém, vem sendo cada vez mais ameaçado. O discurso dominante busca desqualificar as técnicas dessa medicina alternativa, fazendo com que o povo abandone suas receitas caseiras para comprar remédios industrializados. Por outro lado, a indústria de fármacos e cosméticos tem se apropriado e privatizado os conhecimentos construídos coletivamente e ao longo de gerações", escreveu o médico Celerino Carriconde, na época coordenador do Centro Nordestino de Medicina Popular.
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CLARISSA LOUREIRO: RESENHA DO LIVRO NINGUÉM DETÉM A NOITE DE NIVALDO TENÓRIO

“ Ninguém detém a noite” espanta. E é por conta desse aspecto que está a contemporaneidade de sua linguagem. Traz na sua estruturação arredia à leitura desatenta o traço marcante de dizer o indizível, ou seja, o que sufoca na garganta do indivíduo do século XXI. Neste sentido, dialoga com a primeira obra “ Dias de Febre “. Em todas as narrativas, há uma ressignificação metafórica da noite que perde seu sentido original para alcançar o significado da explosão do aparente equilíbrio do estabelecido dentro ou fora dos personagens. 

E ela é inevitável porque a própria realidade dos personagens está tão doente quanto a do sujeito que a reinterpreta enquanto a lê. E isso não pode ser dito se não através do constante uso de lacunas a serem preenchidas pelo leitor que vagarosamente vai revisitando temas tão difíceis de serem afirmados e, quiçá, vivenciados nos dias de hoje. HIV, Câncer, Incesto, Suicídio, Demência, Envelhecimento reprimido, homossexualidade reprimida, família destruída pelo silêncio, pela solidão, pela incompreensão da formas particulares de existir.

A noite é, portanto, o doloroso encontro consigo mesmo e o espanto de não estar no padrão que todos de alguma forma tentam viver. Dai, a ironia do “ciclo militar” que compõe as três narrativas que fecham a obra. Ambas recriam a psique de militares adoecidos pelo paradigma ditado por uma identidade controlada por uma metodologia de existir que os molda, os castra e os desestrutura emocional e fisicamente: 
“ A coruja branca” justapõe câncer de próstata e o homicídio da coruja como uma morte da própria sensibilidade de viver num mundo além dos paradigmas militares, num jogo narrativo entre passado e presente em que os conceitos de memória coletiva ( grupo de militares) e memória individual ( um ex-militar) se identificam para expressarem a solidão do homem desvirilzado no espaço onde vive. Perder a potência é perder também um pouco da força para se construir no mundo. 

“Giulia” exprime o lirismo nostálgico do combatente de guerra, perdendo a memória de si mesmo por conta de demência do envelhecer e poeticamente buscando na “ memória viva” de Giulia ( uma enfermeira de guerra) um “ lugar de memória” de uma existência espontaneamente vivida na juventude e, paradoxalmente, na guerra. E, então, o enlouquecer é uma forma de achar-se além do planejado. E a beleza do gesto da esposa é a compreensão dessa busca além dos grilhões da família, talvez numa das mais belas declarações de amor da obra.

“ Além da noite” é por si só, a maior explosão do livro em que desvenda a hipocrisia de militar entediado com os afazeres de gabinete, reinventando o tesão pela ação bélica em prostíbulos em que possui meninas que jamais sua esposa foi capaz de parir, numa pedofilia contaminada por todos os receios do homens e mulheres do séculos XXI.

Acredito que com esses três contos, NIvaldo, de fato, consegue discutir uma dos temas mais atuais na literatura: a identidade como um processo relacional com o outro, o tempo e o espaço. E faz isso com a coragem de trazer o que dói no homem de hoje como um ingrediente necessário para essa construção em eterna construção em desconstrução.

E isso só pode ser feito através de uma linguagem que se abre a ressignificações plurais sem deixar de abrir mão de usar intertextos canônicos como a presença do “Ateneu” de Raul Pompéia para discutir a homossexualidade reprimida em “ O Internato” ou a beleza do revigor sexual do idoso a partir de uma relação com uma bela jovem cujo adormecer ao seu lado é mais forte do que o próprio ato, como se nota em “ Memória de Minhas putas tristes” de Gabriel Garcia Marquês. O diferencial no romance de Nivaldo Tenório é dor incontida que faz seu desfechos serem abertos como um rio que nos corta, afoga e dilacera.
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CANUDOS: 120 ANOS DO FIM DO MASSACRE

Na próxima quinta-feira (23), no plenário da Assembleia Legislativa da Bahia, às 14h, a Sessão Especial que recorda os 120 anos do fim da Guerra de Canudos. A cerimônia foi proposta pelos deputados estaduais Rosemberg Pinto e Fátima Nunes, ambos do PT.

A Guerra de Canudos é tido como um dos mais importantes vultos da história do Brasil e ocorreu no interior da Bahia entre os anos de 1896 e 1897.

“É uma iniciativa legítima. Canudos representa a luta do povo baiano por dias melhores, ao contrário do que se possa definir como guerra, entendemos que ali aconteceu um massacre”, afirmou Rosemberg.

Canudos, no sertão baiano, localizado a cerca de 400 km de Salvador, originou de uma pequena aldeia durante o século 18, às margens do rio Vaza-Barris, mas só cresceu após a chegada do beato Antônio Conselheiro, no ano de 1893. Em pouco tempo, a localidade, que passou a receber desabrigados do sertão e vítimas da seca contava com uma população de cerca de 25 mil habitantes.

Antônio Vicente Mendes Maciel ou Antônio Conselheiro foi um líder religioso e social, nasceu em 13 de março de 1830 na cidade de Quixeramobim, no Ceará, e morreu em 22 de setembro de 1897, em Canudos, considerado como um revolucionário, agitador pelas autoridades locais.

Sob a liderança de Conselheiro, Canudos passou a incomodar as autoridades religiosas e políticas da região. Em novembro de 1896, uma tropa de soldados da polícia baiana atacou os seguidores do beato, mas acabaram derrotados. A guerra chega ao fim quando 12 mil soldados de 17 regiões do Brasil realizam o que é considerado por muitos como o maior massacre em território nacional, provocando a morte de pelo menos 25 mil pessoas e destruindo mais de 5 mil casebres a fogo. 

O corpo de Antônio Conselheiro foi exumado e teve sua cabeça decapitada para estudos, mas acabou queimada em um incêndio na antiga Faculdade de Medicina, no Terreiro de Jesus, em Salvador, onde estava preservada.

Ainda em homenagem ao acontecimento, os parlamentares indicaram ao governador Rui Costa (PT) que a Estação do Metrô de Lauro de Freitas, prevista para ser inaugurada em março do próximo ano, seja batizada como Estação Antônio Conselheiro.
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JOQUINHA GONZAGA E TARGINO GONDIM PARTICIPAM DO FÓRUM NACIONAL DOS FORROZEIROS EM JOAO PESSOA, PARAÍBA

A possibilidade da cultura do forró ser reconhecida como patrimônio imaterial brasileiro é tema de debate na audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR) nesta segunda-feira (20), em João Pessoa, na Paraíba. 

A audiência acontece na Sala de Concerto Maestro José Siqueira do Espaço Cultural José Lins do Rego. A abertura solene da programação do Encontro Nacional de Forrozeiros será às 20hs e vai até o dia 22. O secretário de Estado da Cultura da Paraíba, Lau Siqueira, ressaltA que “preservar as matrizes do forró é importante para que a gente não se distancie da identidade cultural nordestina”.

O Fórum Nacional de Forró de Raiz é o resultado de uma articulação entre profissionais envolvidos com a cadeira produtiva do forró, pesquisadores e agentes culturais, que desde 2011 discutem formas de preservação das matrizes do forró, bem como o registro do ritmo musical enquanto patrimônio cultural imaterial do Brasil.

O evento faz parte da programação do Encontro Nacional de Forrozeiros, que acontecerá entre os dias 20 e 22 de novembro na capital paraibana. O forum reúne artistas, gestores culturais, pesquisadores e autoridades políticas de vários estados do Nordeste, bem como Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal.

A ideia é elaborar uma Carta de Diretrizes voltada para o planejamento da instrução técnica de registro que será enviada ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Segundo a coordenadora do Fórum, Joana Alves da Silva, artistas como Targino Gondim, Joquinha Gonzaga, Alcymar Monteiro, Santanna, Nando Cordel, Genival Lacerda, Cezzinha, Chambinho do Acordeon, entre outros, já confirmaram a participação no evento.
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DONA FLOR 2017: O RISO COMO UMA ARMA CRUEL. E O CINEMA QUE DELEITA, MASSIFICA E ALIENA

*Texto: Professora doutora-Clarissa Loureiro

A problemática da tradução semiótica é um dos temas mais instigantes quando se pensa a relação entre literatura e cinema. Até onde um roteiro cinematográfico silencia romances ou reiventa-os? Isso depende de como os fatores produção, direção e encenação são usados nos filmes. O certo é que é sempre um recorte que, por si só, é uma transcrição de linguagens. 

No filme " Dona flor" de 2017, a problemática do luto feminino e a crise de ser mulher constantes no romance são substituídos pelo humor da circunstância de uma mulher conciliar duas realidades inconciliáveis para as esposas criadas numa comovisão patriarcal: o prazer sexual fornecido pelo marido morto e os cuidados cotidianos recebidos pelo marido vivo. O foco é se brincar com circunstâncias de convivência numa mesma casa de dois homens que não podiam conviver segundo os padrões católicos, já que o corpo de uma mulher honrada só podia ser de um único marido. 

Mas se o defunto veio antes, quem trai ou traiu quem? O certo é que o filme desmistifica o próprio conceito de traição feminina. Dona Flor se trai quando aceita ser agredida pelas traições do primeiro marido, suas ausências em casa, suas agressões. Dona Flor se trai quando aceita a relação sexual mecânica do segundo marido, onde o gozo dele é estipulado em dias e horários certos. Por que aceita se trair? Porque é criada para isso: ser mulher de alguém. E quando concilia os dois na mesma cama não foge à esse parâmetro. 

Todavia é a esposa que serve a si mesma. A imagem clássica de Vadinho apertando as suas nádegas nu, enquanto Teodoro a segura pelos braços expressa bem isso: tenho a estabilidade e tenho o prazer. O único erro é que no filme essa balança não é igualitária. A repetição constante do trecho musical: " estou com saudade de tu meu desejo. Estou com saudade do beijo e do mel" exalta a saudade do corpo nu de Vadinho em oposição ao corpo de pijama e educado de Teodoro, o qual pouco se sabe, pouco se envolve. E quando é apresentado é com o humor próprio de Leandro Hassan, desvendando o ridículo que há em se ser politicamente correto demais. 

Celebra-se então a picardia do malandro que pouco cuida, que pouco nos olha, além do atrativo de nossas ancas e seios: " eu vou comer a sua bucetinha e você vai me dar", Vadinho repete diante de uma Flor que parece não resistir ao desejo de ceder ao desejo do outro, tornando-lhe objeto de toda as posições sexuais possíveis. Mas a pergunta que fica: será que " dá" sem ser vista ou existida no outro, por si só, não é um estupro de si mesma? 

A conciliação resolvida por Flor é uma falácia cruel pois fragmenta o sentimento feminino, masculinizando-a. No final, ela se espelha no Vadinho para ser feliz. " minha filha, tenha os dois". Sabemos que não não podemos nem nos ter a nós mesmos. E Flor segue em 2017 ensinando subterfúgios equivocados para as mulheres descobrirem seus corpos, usando o riso como uma arma cruel. E o cinema deleita, massifica, aliena.
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MARÇO DE 2018: 100 ANOS DO PAI DO CORDEL, LEANDRO GOMES DE BARROS

No dia 4 de março de 2018, o calendário nos contará dos 100 anos de morte do Pai do Cordel Brasileiro, considerado o "primeiro sem segundo". Seu nome é Leandro Gomes de Barros, paraibano, nascido no sertão, na cidade de Pombal, no sítio Melancia. Sua passagem pela Terra se dará, como ícone da poesia brasileira, na cidade do Recife e seu embarque para o rio da eternidade acontecerá nesse mesmo torrão.

Não nos resta dúvidas desse feito leandrino. Porque o cordel não é apenas uma forma fixa da poesia universal, além da única forma poética genuinamente brasileira. O cordel é também um sistema literário, na concepção de Antonio Candido, nosso crítico e teórico da literatura mais respeitado, aquele que nos apresenta a literatura como um direito essencial da humanidade.

É esse sistema que nos mostrará a verdadeira face do criador do cordel brasileiro: a presença de um autor, de um editor, de um vendedor e de um leitor, visto que Leandro foi insistente nessas práticas, lendo e corrigindo seus próprios folhetos e opinando sobre outros. A codificação cordelística, a sistematização de sua produção, a observação na confecção gráfica dos folhetos, a estratégia de vendas e a atuação social como principal poeta de bancada de sua geração, transformaram-no, nos tempos em que não se chamava o cordel de cordel, em personificação da própria poesia do povo.

Leandro dialoga em sua importância com os fundadores da poesia nacional: conversa com os cronistas, quando se lança sobre as delícias e mazelas da terra; afina-se com Gregório de Matos em sua crítica de costumes e pena ferina na descrição da cidade do Recife; conluia-se com Gonçalves Dias, ao buscar liricamente a descrição telúrica de sua gente; abraça-se a Castro Alves na forma e na técnica; envereda por elementos dos estilos de época de nossa literatura.

Leandro desenvolveu o cordel brasileiro quando as correntes literárias nacionais eram regidas pelas diretrizes do Realismo, do Naturalismo e do Parnasianismo. E deles herdará vários elementos constitutivos. Do Realismo abraçará os temas e a reflexão sobre as turbulências sociais, as denúncias, os costumes, a notícia, as paródias, todos os embates entre as classes. Do Naturalismo trará o debate das ideias, a discussão entre personagens que simbolizam o aparecimento das novas tendências nacionais (temas religiosos, discussões esotéricas, observação cotidiana pautada pelo debate e pelas pelejas, sinais do fim do mundo, profecias).

O cordel leandrino, como a literatura brasileira da época, ambientará suas histórias sobre o tema regional, sobre a terra, sobre o sertão e seus viventes, mas também sobre a transição de uma vida rural para um tempo de fundação da urbanidade. Nota-se, nele, o aparecimento dos romances, mas também o vasto material de crítica aos costumes. 

O Parnasianismo ofertará ao cordel de Leandro sua forma fixa, a observação do verso de métrica perfeita, mas o poeta, o gênio, optará pelo verso de sete sílabas, o verso do povo, o verso da respiração.

O chamamento é para que não se deixe apagar, nem sofregar, a chama cordelística. Para que a unidade seja regida para o fortalecimento da causa, mesmo com as diferenças latentes no corpo. As vaidades serão virtudes quando servirem para melhorar as obras e serão venenosas quando ferramentas para a própria destruição do cordel. O debate é e será sempre uma pauta. O deboche será sempre uma fenda. Como se disse há anos: poetas cordelísticos de todo o Brasil a hora é agora. Uni-vos!
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ALAN CLEBER: O INTÉRPRETE E A GRANDEZA DE MOSTRAR A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA BREGA NA HISTÓRIA DA CULTURA

Nascido em Juazeiro, Bahia, no dia 03 de fevereiro. Não é por acaso que Alan Cleber traz a energia musical no corpo e na alma.  Alan conta que o impulso da carreira artística começou no teatro, na época dos grandes festivais de Juazeiro. "No primeiro festival Edésio Santos da Canção eu fui convidado para interpretar apenas uma música. Foi uma canção de Cássio Lucena que se chama “A travessia do Mar Vermelho”. 

Ali, ele ganhou o primeiro lugar de melhor intérprete. E interpretar é uma das grandezas de Alan Cleber. No repertório Maria Bethania, Roberto Carlos, Ney Matogrosso...do forró ao tropicalismo, do frevo ao maracatu. É Alan Cleber um vendaval, no melhor sentido de inventar o ritmo da vida na paz do cantar. É um rio caudaloso de talento musical e presença de palco.

Um dos shows mais expressivos de Alan  Cleber é  "Foi tudo culpa do Amor". Aliás, desde que vi este espetáculo, onde ele mostra um dos melhores lados da Música Brasileira e quebra preconceitos, lembro do jornalista e historiador Paulo Cesar de Araújo.  Paulo César é também o autor da biografia “proibida” do “Rei” Roberto Carlos – leitura obrigatória para quem conseguir encontrar algum exemplar do livro censurado. Paulo pesquisou durante sete anos a história da chamada música brega entre 1968 e 1978 – os anos de chumbo da ditadura militar no Brasil. 

O livro mostra que os cantores Odair José, Benito Di Paula, Diana Pequeno, Barto Galeno, Evaldo Braga, Fernando Mendes, Agnaldo Timóteo foram ignorados por estudos e pesquisas sobre o período e marginalizados na história cultural do país. É preciso saber: os cantores (chamados) bregas, embalavam as massas, foram quase tão vitimados pela censura quanto Chico Buarque, Caetano Veloso. Foram massacrados pela industria cultural. No livro Eu Não Sou Cachorro, Não, título extraído de um grande sucesso de Waldick Soriano, o historiador tenta fazer justiça a esses ídolos populares.

Odair José, por exemplo, teve  música proibida por ter sido lançada quando o governo fazia programas de incentivo ao controle de natalidade entre as populações pobres, apesar da posição católica contrária ao uso de anticoncepcionais. Para os censores, a canção de Odair José representava uma conclamação à desobediência civil e uma referência explícita à sexualidade.

'A maioria dos trabalhos sobre música brasileira trata da tradição, como o folclore nordestino, e da modernidade, como o tropicalismo', diz o escritor. 'O brega não é nem uma coisa, nem outra. Caiu no limbo. 'A idéia é mostrar que os bregas também tiveram importância na história de nossa cultura'.

Então tenho dito: viva a Alan Cleber...Tudo foi e é por culpa do amor...Viva a música brasileira!




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O RIO DAS MORTES CORRE A TRITURAR CORAÇÕES ABRAÇADO A ETERNIDADE



Dois são os rios das Mortes: um no Mato Grosso, na bacia do Araguaia, outro em Minas Gerais, na bacia do Rio Grande. A foto é do primeiro e ilustra meu sentimento diante da própria Morte, o extenso e ancestral rio no qual a Vida deságua, o verdadeiro Rio das Mortes. A última semana de outubro e a primeira de novembro carreou para mim a viagem derradeira de três chegados.

Um dia depois do lançamento do meu livro, na cidade onde nasci, Areia, na Paraíba do Norte, quando eu já estava me preparando para dormir, hospedado na casa de meu dileto Beto Brito, soube da partida repentina, e pelas próprias mãos, de um amigo, jovem e novo, vida e olhar para a frente, vencido por forças interiores tão estranhas quanto avassaladoras. Partiu, mas nos legou a memória e a continuidade em dois rebentos com nomes de santo.

O triturador de corações, a assombrosa lâmina, o intangível manto do que se resolveu chamar Depressão, em todas as suas formas e roupas cênicas, atua silenciosamente, em alguns casos, noutros se pronuncia com protuberantes intervenções. Nosso amigo, rasgado o peito e as vísceras em chama, repousa no éter, abraçado à eternidade. Será presença viva em nossos penhorados corações. Nos tatuou a existência. Estamos marcados.

Logo depois, assim como quem vai ali na padaria, nas terras piauienses, outro amigo, sóbrio e decidido, despido de medo e interventor, pegou o trem eterno, debilitado, com alguma idade e um filho recém nascido, saído das prensas, rodado em papel, com o nome estranho de O Terno E O Frango, memórias. Foi-se embora e deixou-me com uma resenha inacabada, uma foto que não foi enviada, um hiato robusto entre Oeiras e Rio de Janeiro.

Foi Soahd, amiga também, quem nos singrou a notícia. Egberto e Francisco devem ter tomado o susto, como eu tomei. O sorriso, as fotografias, o pensamento e a letra fizeram morada nele. Edmar foi quem nos apresentou. Cruzou o Brasil e elevou-se incógnito, perfurou o firmamento e encantou-se lá para as bandas do Sete Estrelo. E o rio continuou correndo, catando seres numa outra margem.

Domingo passado, na manhã baiana, alguém também foi-se embora. Aproveitou que Tia Florinda nos visitava e nem disse adeus. Com seus muitos mais que anos, vitimada por um AVC, evento tão presente nos brasileiros, mas tão pouco comentado, já acamada há dois anos, com os reflexos físicos em câmera mais que lenta, desfez-se das sondas, afastou os cobertores, ignorou o leito e foi encontrar Seu Flodoaldo, pai santo, postado em sua cabana do lado de lá.

A personalidade de Tia Mariinha era o próprio ferro bruto. Era sua a ordem, era sua a última palavra, era seu o desejo e era sua a vontade. Elegia e condenava, abria as portas a parentes, fechava os ouvidos aos mais próximos, presenteava e cruzava a casa do Tororó como a rainha. E foi assim que partiu: fazendo valer a própria vontade, sem negociar com o rio, domando-o ao seu querer.

O Rio das Mortes é uma paragem irremovível. Nadaremos em suas piscinas, mergulharemos, pela manhã, em águas geladas, pela tarde, em águas mornas. À noite, com estrelas ou sem a lua; na madrugada, com todo o silêncio. Procurei algum topônimo que se chamasse Rio das Vidas. Não há. Mesmo assim, estamos nele, todos nós, em suas corredeiras e quedas d'água, sendo levados, a reboque, para o Rio das Mortes. Um dia seremos saudade!

Fonte: Aderaldo Luciano
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RAQUEL DE QUEIROZ, A DAMA DO SERTÃO

Há 107 anos, no dia 17 de novembro de 1910, no antigo nº 86 da Rua Senador Pompeu, em Fortaleza, nascia Rachel de Queiroz. Descendia, pelo lado materno, da estirpe dos Alencar, parente, portanto, do ilustre autor de O Guarani, pelo lado paterno, dos Queiroz, família de raízes profundamente lançadas no Quixadá e Beberibe. Essa ancestralidade e o decisivo apoio de seus pais indiscutivelmente seriam, sem dúvida, os responsáveis pelo desabrochar de seu talento literário, ainda em tenra idade, e pelo imenso amor que nutria pelo Sertão nordestino ao longo de sua vida de escritora.

Falar de Rachel de Queiroz é falar de literatura, mas é impossível fazer qualquer referência à Grande Dama do Sertão sem mencionar sua paixão pela política. Talvez por isso, em suas crônicas, tenha se deixado arrastar pelo jornalismo, posto que sempre fez questão de se proclamar como jornalista, e não como ficcionista.

Faço aqui um parêntese para lembrar o que dizia Joaquim Nabuco no seu discurso de posse como secretário-geral da Academia Brasileira. Dizia Nabuco: “Nós não podemos matar no literato, no artista, o patriota, porque sem a pátria, sem a nação, não há escritor, e com ela há forçosamente o político”.

Admiradora de Churchill – “o homem que encheu o século”, como o qualifica em O caçador de tatu, e a quem considerava um profundo conhecedor da natureza humana –, dizia que o grande político é “o homem de ação, que sabe fazer valer as ideias inovadoras e consolidar valores culturais e melhorias sociais significativas para o seu povo”.

Antigetulista convicta, Rachel ingressou no Partido Comunista Brasileiro, o então PCB, em 1931, de onde saiu pouco tempo depois, por não permitir que a ideologia política interferisse em sua liberdade como escritora. Em 1932, havia escrito João Miguel e submetido o romance à aprovação da hierarquia partidária. Para tal, Rachel teria de mudar o destino de 30 personagens, fazendo o operário matar o coronel e a mocinha se prostituir, o que ela, terminantemente, recusou-se a fazer. Por isso, deixou o partido.

Embora fosse prima do presidente Castello Branco, com quem tinha ótimo relacionamento, e mantivesse contato com diversas personalidades políticas, entre as quais se incluem os presidentes José Sarney, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, o máximo a que se permitiu foi aceitar um cargo no Conselho Federal de Cultura, órgão que integrou desde sua fundação, nos idos de 1967, até sua extinção, em 1989. Participou também Rachel de Queiroz da 21ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, em 1966, na condição de delegada do Brasil.

O presidente Jânio Quadros chegou a convidá-la para ser ministra da Educação, ao que respondeu: “Presidente, colaboro no que for preciso, mas sem cargo oficial. Não posso pôr em risco minha independência intelectual, nem nasci para viver em cortes palacianas”.

Se esses dois lados de Rachel de Queiroz – o literário e o político – são de tal forma fascinantes, a eles vem se somar o lado profundamente humano da autora de O Quinze, pedra basilar de sua literatura e de seu interesse pela política. Dizia Rachel de Queiroz: “Na realidade, o de que eu gosto é da vida e das pessoas com suas contradições, paixões e afetividades. A criatura humana me fascina muito, me fascina e também me comove. Quando escrevo, tenho o ser humano como objeto de minha narrativa. Eu tenho paixão é pelo ser humano”.

Foi a primeira mulher cearense a se candidatar ao Legislativo estadual, em 1934, herdando o pioneirismo de Bárbara de Alencar, sua quinta avó, primeira presa política do Brasil. Foi também a primeira mulher a receber o Prêmio Camões e a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras, antecipando-se à Academia Francesa, que somente quatro anos mais tarde, em 1981, escolheria Margarite Youcenar como a primeira mulher a integrar o seu panteão de imortais.

Possuía uma profunda ligação com a sua terra, sobretudo com a aridez de Quixadá, com a aridez das secas dos nordestinos que tanto conhecemos. Costumava dizer que “ser nordestino é um privilégio que eu não específico para não fazer inveja aos que não gozam dessa felicidade”.

Lutou Rachel de Queiroz com determinação, para que fosse criado o Parque Nacional dos Serrotes, do Quixadá, com o objetivo de proteger os inselbergs daquela região, onde popularmente são designados como serrotes.

Rachel fez da sua vida uma arte e transformou a arte em vida! Relembro, por isso, as palavras utilizadas por Adonias Filho no discurso com o qual recepcionou Rachel de Queiroz na Academia Brasileira de Letras: “O vosso lugar nesta casa, pois, não é apenas vosso. É também e, sobretudo, da literatura brasileira, porque ninguém a serviu melhor que vós, senhora Rachel de Queiroz, com talento e amor, respeito e dignidade”.

Fonte: Marco Maciel
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SEM ARBORIZAÇÃO, CIDADES SOFREM MAIS EM ÉPOCAS DE CALOR E DE SECA

Nas ruas e avenidas que contornam Juazeiro e Petrolina, o blog destacou ipês florindo os municípios. Porém, essas árvores não se resumem a enfeites para embelezar uma região. Elas emanam saúde, bem-estar, ajudam no ciclo da chuva e podem até amenizar as altas temperaturas. Em meio a um ano de calor recorde, e de uma crise hídrica causada pelos baixos níveis dos reservatórios, a arborização urbana se mostra como uma importante ferramenta para combater os impactos climáticos.

Mas como o plantio de árvores pode ajudar a melhorar questões como temperatura e questões hidrológicas? Alguns estudos comprovam a relação entre as condições microclimáticas de uma região e a arborização. Ou seja, plantar uma árvore não significa resolver todos os problemas, mas traz benefícios inatingíveis dentro de uma região, como, por exemplo, diminuir a exposição ao sol, amenizar as temperaturas e absorver a água para infiltrá-la no subsolo — parte importante do processo de formação das chuvas. 

Segundo o professor e doutor em arquitetura e urbanismo Caio Silva, da Universidade de Brasília (UnB), a diferença de arborização entre os lugares mostra a necessidade de um novo planejamento urbanístico. “Eu fiz uma pesquisa em Teresina. Na mesma hora, mesmo dia e na mesma medição, eu tenho 3,1°C a mais da temperatura em avenidas que não têm arborização”, diz. 

Isso acontece porque, como a cidade é feita de materiais urbanos, ou eles acumulam ou transferem o calor para a atmosfera. “Mas qual é o único material que consegue consumir calor como radiação? A vegetação. Um ipê, um flamboyant não vão pegar a radiação e refletir, ou acumular. Eles vão se alimentar da radiação para sobreviver. Por esse simples fato, eu tenho um espaço menos quente”, explica.

Outro ponto importante é que as árvores são peças fundamentais no equilíbrio hidrológico e formação das chuvas. Assim, com elas, é possível ajudar no ciclo de precipitação. “A árvore tem copa grande. Ela tem esse papel de pegar água da chuva e infiltrá-la no subsolo. A chuva tem tudo a ver com o equilíbrio ambiental da superfície”, afirma o professor.
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FULO DE MANDACARU: RITMO DA SANFONA, DOUTORADO E COMPROMISSO CULTURA BRASILEIRA

A expressão usada em todo o Nordeste para dizer que uma coisa é perfeita não passou despercebida pelo trio que comanda a banda pernambucana Fulô de Mandacaru. Ela dá nome ao principal sucesso da banda que foi fundada em 2001 e que em 2016 alcançou um dos seus principais feitos ao conquistar a primeira colocação no programa Superstar, da TV Globo. 

Mas nem tudo foi "só o mi" para Armandinho, Tiago e Pingo. Antes de conquistar o País, vencendo a disputa na Globo com uma votação popular, os meninos de Caruaru, Pernambuco enfrentaram vários desafios. 

Armandinho fez um breve relato da história da banda que tem nome de uma flor que brota de uma planta que resiste às piores estiagens do Sertão Nordestino. "Lembro que meu pai, que sempre foi compositor e cantava lá em Caruaru, resolveu apostar na gente. Foi aí que viemos para Recife e enfrentamos imensas dificuldades", contou o artista, lembrando que já foi cobrador de lotação numa Kombi velha.

Após as tentativas na capital pernambucana, eles se mudaram para o Vale do São Francisco. Em Petrolina, o trabalho era tão árduo quanto em Recife. "Carregávamos caixas de frutas na cabeça para vender", resumiu.

O tempo passou e eles, antes de se reencontrarem com a música, foram viver o universo acadêmico, mesmo estudando a vida inteira em escolas públicas. "Vou concluir meu doutorado na Universidade Federal da Paraíba daqui a dois anos, meu irmão (Pingo) parou a faculdade de Direito e Tiago abandonou o seminário", completa Armandinho. 

Filhos do cantor e compositor, Armando Barros, Armandinho e Pingo viram a vida mudar quando o pai vendeu um automóvel para comprar um teclado. Anos depois, estavam em Paris para uma temporada de 30 dias divulgando o forró.

No palco, os garotos de Caruaru se transformam. Com muita irreverência, eles fazem releituras de clássicos do Rei do Baião, Luiz Gonzaga que consideram a sua principal referência, juntamente com Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, Elba Ramalho, Alceu Valença e Anastácia. "A gente faz questão de se vestir como verdadeiros nordestinos, pois temos um compromisso enorme com a cultura da nossa região", ressalta Pingo. 

Além dos artistas consagrados, eles também prestigiam artistas locais como João do Pífano, Didi Caruaru, dentre outros que participaram recentemente da gravação do DVD acústico, que também será o especial de Natal da Globo Nordeste, com exibição prevista para dia 23 de dezembro. Canções deles próprios e do pai Armando também fazem parte do repertório. 

A performance de palco do trio Fulo de Mandacaru é um show à parte. Enquanto pingo rodopia no ritmo certo, Armandinho puxa acordes diferenciados da sanfona e Tiago apresenta uma maneira peculiar de extrair som do triângulo. 

Sucesso em todo o Nordeste e em estados como Rio de Janeiro e São Paulo , com um público diversificado, que vai das crianças de oito anos e idosos de 80 - eles agora querem se tornar referência na terra de todos-os-santos. Segundo Armandinho, o próximo DVD deve ser gravado em solo baiano. O repórter sugeriu que fosse durante o São João e ele respondeu: Excelente ideia. 

Na agenda 2018, os baianos já podem se preparar para assisti-los em Senhor do Bonfim e Irecê, onde tocarão pelo segundo ano seguido, além de Amargosa, onde farão sua estreia. São Sebastião do Passé e Salvador estão no radar.

Aliás, a capital baiana pode ser um destino deles no carnaval, onde eles poderão apresentar o Mandacaru Elétrico, projeto em que colocam o forró numa velocidade ainda mais rápida que a habitual.

Fonte: Gabriel Carvalho
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SERTANEJOS FESTEJAM CHUVAS

Sertão é terra-mãe, com todas as delicadezas deste relacionamento. Pouca chuva. Sol causticante. Sertanejos que na fé e com menos água, comida e sonhos vão atravessando o presente. São 7 anos sem chuva no sertão do norte da Bahia e Vale do São Francisco. 

Todavia nesta terça-feira (14), a chuva voltou a cair no sertão. Do município de Casa Nova, a redação do blog recebeu uma foto do empresário Marcelo das Baterias. Marcelo representa o sentimento de milhões de sertanejos: festejar com o banho de chuva a esperança, o batismo da felicidade da chuva no sertão.

"Só quem é das plagas sertanejas sabe bem o que representa despedir a estiagem, que na curva da estrada faz seu caminho para o oco do mundo. Açoitada pelos relâmpagos cortando os céus e sob o som estremecedor dos trovões, a seca vai embora por minutos...o homem vai parando em cada biqueira, molhando o corpo e lavando a alma, banhando-se alegre nas águas da chuva mandada por Deus, corre feliz na amplidão do sertão", diz o juiz e escritor Onaldo Queiroga.

Noticias são de chuvas desde as primeiras horas deste dia em vários municipios. "Queria ver o voo da volta da Asa Branca descrito por Zé Dantas e cantado por Luiz Gonzaga. Queria sentir a poesia Zé Marcolino: “Pássaro Carão cantou / Anum chorou também / A chuva vem cair no meu sertão / Vi um sinal meu bem / Que me animou também/ É bom inverno que vem", aponta Onaldo Queiroga.

É verdade que a chuva de 2017 não remediou a seca dos últimos 7 anos. Mal chegou e já está de partida. 
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RESPEITEM A SANFONA DE 8 BAIXOS DE LUIZINHO CALIXTO

A Sanfona de 8 Baixos possui toda uma tradição musical, sendo fundamental para a música nordestina e brasileira. “No Nordeste do Brasil, ela adquiriu características de afinação próprias que a tornaram diferente, detentora de um sotaque próprio, representativo da nossa cultura. Representa, além de uma tradição musical, um saber único, um jeito de conviver e festejar muito nosso, bem nordestino, e por isso, bem brasileiro também.

"É o instrumento mais difícil de tocar entre os de fole porque quando fecha uma tecla faz um som e quando abre, a mesma tecla faz outro som. É difícil encontrar quem toque a sanfoninha, mas ela foi responsável por disseminar o forró no Nordeste", explica, o sanfoneiro Luizinho Calixto, membro de uma família com tradição na música brasileira e que já escreveu dois manuais ensinando a tocar o fole pé de bode.

"Quem sabe tocar sanfona de oito baixos hoje está ficando velho, morrendo. É preciso renovar, buscar novos talentos, para a tradição não morrer". Essa é preocupação do sanfoneiro paraibano Luizinho Calixto, que há 10 anos inicia crianças, jovens e adultos no instrumento, famoso nas mãos de Januário, pai de Luiz Gonzaga. 

O músico desenvolveu uma didática para facilitar o ensino, que carece de professores em todo o Nordeste. Uma dessas oficinas aconteceu em Exu, Pernambuco. No último dia 11 de novembro, tive a alegria de compartilhar o dia ao lado de Luizinho Calixto.

"A sanfona de oito baixos veio da Europa com uma afinação diatônica. Quando chegou aqui no Nordeste, alguém transportou, não se sabe o porquê nem baseado em quê, a afinação para o dó-ré, que é única no mundo todo", explicou Luizinho Calixto.

Esta falta de informação sobre a sanfona de oito baixos foi um desafio que o músico teve que vencer para poder elaborar a oficina de iniciação. "Diziam que só tocava quem tinha dom ou um parente na família para ensinar. Mas criei um sistema onde cada tecla é um número. Se a tecla está pintada de vermelho, é para fechar. De azul, para abrir. Assim, os meninos olham e pronto, já saem praticando sozinhos", disse. O método foi batizado de tablatura.

A professora de biologia Ana Vartan é apaixonada pela cultura brasileira e é uma pesquisadora da música de Luiz Gonzaga. Ela diz que sempre quis aprender a tocar sanfona de oito baixos, mas não tinha quem ensinasse. "Aqui, em Exu, não tem professor para essa sanfona, só para 80 ou 120 baixos. E é bom que tenham crianças, que é a melhor fase de aprender", disse Ana.

Fonte: UEPB
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FREI DAMIÃO RECEBERÁ EM 2018 RECONHECIMENTO DA IGREJA CATÓLICA POR SUAS VIRTUDES CRISTÃS

A data já está marcada: 6 de fevereiro de 2018. Nesse dia, a Comissão de Teólogos do Vaticano se reunirá na Santa Sé para avaliar o processo de canonização de frei Damião de Bozzano. O religioso deverá receber o título de venerável, um reconhecimento da Igreja Católica por suas práticas e virtudes cristãs em grau heróico. A partir daí, começarão a ser analisados os milagres de sua autoria. Até o fim de 2019, o frade capuchinho deverá se tornar beato. Depois que o decreto for publicado pelo papa Francisco, espera-se que aconteça um novo milagre para assim Damião tornar-se um santo oficialmente. Para seus devotos brasileiros, o italiano natural de Bozzano, no Norte da Itália, já é considerado popularmente o primeiro santo nordestino. Estima-se que o frade seja autor de mais de 30 mil milagres ao longo de sua vida.

Frei Damião morreu em 31 de maio de 1997, aos 98 anos, após sofrer um acidente vascular cerebral. Seu processo de beatificação e canonização foi aberto em maio de 2003 e encaminhado ao Vaticano em julho de 2012. Para o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, o processo que tramita em Roma só oficializará o que já está no coração do povo. “Frei Damião é uma pessoa de Deus, um homem que dedicou toda sua vida à missão, à evangelização, sobretudo nas comunidades mais carentes e pobres. É muito justa a causa. Temos esperança de que, o quanto antes, a Igreja possa proclamar essa verdade para a alegria de todos nós”, declara o arcebispo. 

“Frei Damião não é só religião. Ele é um ícone da cultura nordestina, que ultrapassou as barreiras da religião do povo, atingindo as artes. Grandes intérpretes da música brasileira como Luiz Gongaga cantaram frei Damião. Gil Borges tem todo um trabalho de xilogravura envolvendo o frade. Ele está nos livros de cordel espalhados no interior do Nordeste.

Fonte: Ana Paula Neiva - Diário de Pernambuco
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RIO SÃO FRANCISCO: SOBRADINHO, PILÃO ARCADO, CASA NOVA E SENTO SÉ...ADEUS ADEUS

Vivenciando um dos piores períodos de estiagem já registrados, o Vale do São Francisco onde fica situado o maior lago artificial do mundo, o reservatório de Sobradinho, no norte baiano, reúne, como em toda bacia hidrográfica, cenários de desolação com a crescente redução no volume de água. A formação de bancos de areia, o aumento das margens do rio, a diminuição dos peixes, problemas para o abastecimento humano e animal nas cidades, além do desafio para a irrigação das plantações são os problemas cada vez mais evidentes para todas as comunidades na região do Submédio São Francisco.

Nas cidades com alguma distância das margens do rio, os problemas com o abastecimento já são conhecidos desde o início do período seco, há cerca de 10 anos. Agora, além de acentuadas as dificuldades, as cidades ribeirinhas como Casa Nova e até a própria Sobradinho buscam novas alternativas para evitar colapsos no sistema que precisou ganhar novos metros de tubulações nos pontos de captação.

“O cenário é de devastação. Onde hoje podemos caminhar em solo firme, existia muita água, quase quatro metros de altura e a cena que nos deparamos agora é de muita tristeza. Este é o resultado não só da seca que nos assola há 10 anos, mas também da ausência de medidas continuas de preservação. Não temos mais tempo, precisamos revitalizar, ou em muito breve, não haverá mais rio”, afirmou o funcionário público Francisco Ivan de Aquino, membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Lago de Sobradinho.

Assim como em Sobradinho, a cidade de Casa Nova também vem adotando medidas para continuar garantindo o acesso à água e acabar com o racionamento, com o qual a comunidade vive há algum tempo. “A cada recuo do rio, temos que colocar novos metros de tubulação. Atualmente o município tem se preparando para garantir uma rede de distribuição eficiente”, afirmou Amilton do Nascimento Souza, funcionário do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE).

Operando com uma vazão de 550 m³/s, o reservatório de Sobradinho que recebe em torno de 310 m³/s comporta apenas 3,6% do seu volume útil, segundo o último relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), divulgado em 19 de outubro. De acordo com o Diretor de Operação da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), João Henrique de Araújo Franklin Neto, o reservatório de Sobradinho poderá atingir o seu volume morto no final do mês de novembro, segundo a simulação realizada pelo ONS. “Considerando que o período úmido da Bacia do São Francisco inicia no mês de novembro, espera-se que, se for o caso de operar o reservatório no seu volume morto, será por curto intervalo de tempo”.

Embora haja uma perspectiva esperançosa em relação ao período de chuva por parte da companhia, os ribeirinhos seguem preocupados se esse volume será suficiente para minimizar os efeitos atuais da seca. Pessoas como o pescador Manoel Eduardo Souza, um dos poucos a resistir na profissão relata as dificuldades em viver apenas da pesca. “É cada vez mais difícil viver da pesca. Todos os anos vemos o rio secar ainda mais, formando ilhas onde antes só existia água. Muitos pescadores se viram obrigados a deixar seu ofício porque não tem mais peixe”.

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) continua atuando para garantir do Governo Federal a execução imediata da revitalização, única forma viável para preservar e recuperar todo o leito do rio. “Precisamos sim discutir políticas públicas viáveis e que possam contribuir para a qualidade do rio e consequentemente para a quantidade de água e qualidade para atender os múltiplos usos”, concluiu o coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) Submédio São Francisco, Julianelli de Lima.

Fonte: CHBSF - Juciana Cavalcante
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JORGE DE ALTINHO A PALAVRA, O CANTO POÉTICO

O título de cidadão de Petrolina concedido a Luciano Peixinho, proporcionou a oportunidade de um grande encontro com o que existe de melhor na Música Universal Brasileira.

Encontramos Jorge Assis Assunção, Jorge de Altinho. Compositor de alma cheia e grandeza humana. É de Jorge de Altinho as primeiras composições gravadas pelo Trio Nordestino (Lindu, Cobrinha e Coroné), destaco "Fole de ouro", "Amor demais", "Forró quentão",  "A separação". 

Em seu início de carreira inspirou-se em Raul Seixas e Jackson do Pandeiro. O seu primeiro disco LP: "Jorge de Altinho - O príncipe do baião" é hoje considerado pelos pesquisadores e colecionadores uma das raridades no mercado dos especialistas e admiradores da vida e obra de Jorge de Altinho.

Ressalto sempre que Luiz Gonzaga foi pedra angular, referência maior do forró, mas o Rei do Baião, não trilhava sozinho. Havia por trás de si, uma constelação de compositores, músicos, além de profícuos conhecedores do seu trabalho, amigos talhados de sol, nascidos do barro vermelho, com almas tatuadas por xique-xiques e mandacarus. 

Jorge de Altinho é uma dessas estrelas! Tem sua luz propria até hoje. É Jorge inspirado no convivio dos sertões, conhecedor dos segredos e nuances da noite estrelada. Humilde e grande na sabedoria de seguir os ensinamentos e conselhos de Luiz Gonzaga e Dominguinhos. "Seu compromisso com o forró, Nordeste é grande".

Uma das mais belas interpretações de Jorge de Altinho é Tamanho de Paixão. Ali onde ouvimos Luiz Gonzaga e Dominguinhos fazendo a sanfona roncar feito trovão em dia de chuva.

No livro Forró de Cabo a Rabo, o jornalista e crítico musical Ricardo Anísio, aponta Jorge de Altinho, como uma das vozes mais bonitas do reduto forrozeiro. Timbre de voz de rara beleza. Compositor de maior sensibilidade, construtor da palavra poética.

Tenho dito: Viva a Música Brasileira. Viva Jorge de Altinho.
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A REDAÇÃO DO ENEM FOI FÁCIL PARA QUEM SABE SE COLOCAR NO LUGAR DO OUTRO

A estranheza com a redação do Enem começou logo após a divulgação do tema, antes mesmo do final da prova: como adolescentes de 17, 18 anos teriam repertório para escrever sobre “Os desafios para a formação educacional de surdos no Brasil?”. Isso é um tema técnico! Não existe muita literatura a respeito! E a pouca que existe é de difícil acesso!, bradaram os críticos.

Eu logo achei o tema ótimo porque pensei nos surdos apenas como a porta de entrada para uma discussão bem mais ampla. Eles poderiam ser “substituídos”, com todo o respeito às suas questões, claro, por ‘crianças com autismo’, ‘com síndrome de Down’, ‘jovens com deficiência’ e por aí vai.  Como garantir a “formação educacional” dos surdos e de todas essas crianças e adolescentes que são marginalizados e encarados como obstáculos ao aprendizado dos ditos estudantes “normais”? (Atenha-se às aspas, por favor, porque muitos psicólogos creem que todas crianças têm algum tipo de dificuldade de aprendizagem). Foi assim que eu encarei o tema e acredito que, no fundo, o que o Enem queria era que os jovens falassem sobre algo maior: a importância da inclusão e o que ganhamos quando todos sentamos juntos em frente ao mesmo quadro negro.

Se houve um estranhamento com o tema da redação por parte dos estudantes, dos pais e das escolas é porque alguém falhou nesse processo tão amplo chamado Educação, ‘tomou bomba’ na prova de inclusão. Você só não sabe escrever sobre algo quando nunca teve contato com a questão, quando nunca foi instigado a pensar sobre o assunto ou ninguém te contou ou mostrou que sim, um deficiente auditivo ou visual podem estudar em uma escola regular. Assim como uma criança autista. Cadeirante. Com síndrome de down. Se não há bom senso em recebê-los, eles contam com o apoio da lei. Pode pesquisar.

Os surdos, no caso, precisam de professores que não lhes deem as costas e que falem devagar para que possam ler seus lábios, os cadeirantes necessitam de escolas mais acessíveis, com rampas, alguns estudantes precisam de material adaptado, sei lá, tô aqui fazendo um brainstorm para uma redação que não tive o prazer de escrever. O que eu sei sobre o assunto? Talvez pouco, mas sei que a inclusão é possível e é benéfica a todos, porque vejo a escola do meu filho praticando-a todos os dias, sem hipocrisia e sem querer ganhar uma medalha por isso.

Claro que as escolas têm de fazer algumas adaptações para receber a todos, mas são elas que têm que se adequar ao aluno, e não o contrário. As crianças e adolescentes com alguma deficiência têm o direito de estar em uma sala de aula junto com os colegas da mesma faixa etária e que não tenham deficiência e vice-versa. Juntos, vão aprender as matérias do curriculum básico, mas vão aprender também a conviver. A se respeitar. E tirar o que há de bom e de ruim dessa experiência. Vai ser fácil? Às vezes sim, às vezes não. Assim como a vida.

O Enem tem percebido, ainda bem, que pouco importa se as orações são sindéticas ou assindéticas, que troço difícil, nem me lembro qual é uma, qual é outra. Importa mesmo é saber se o estudante sabe conviver e respeitar as diferenças, a diversidade, os direitos humanos, mesmo com os cães ladrando por aí que isso “é coisa de comunista”. Não é não. Isso é coisa de quem sabe tirar dez na vida e, de quebra, na redação do Enem.

FONTE: RITA LISAUSKAS
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