NO BRASIL, NÃO É A ENERGIA EÓLICA, MAS O MODELO. ELA IMITA A LÓGICA DO LATIFÚNDIO, DA VIOLÊNCIA, A NATUREZA SOFRE

Barulho, zumbidos no ouvido, depressão, medo, alteração da vegetação, destruição da flora e morte de animais. Esses são alguns dos efeitos relatados por moradores de comunidades vizinhas a parques eólicos, por causa da movimentação de seus aerogeradores – que funcionam dia e noite. As pessoas descrevem o som como uma turbina de avião que nunca desliga, destaca a Agência Brasil, que também reproduz o som dos equipamentos.

Moradora de Caetés (PE), Roselma de Oliveira convive com um aerogerador a apenas 160 metros de sua casa. E diante de uma fonte renovável de energia elétrica que vem se expandindo a passos largos no Brasil, seu relato impressiona por mostrar o lado (muito) negativo dessas instalações.

“Problemas de alergia, problemas de audição… perdendo a audição. Um dos piores que estão acontecendo também é a depressão, a ansiedade. Crianças de oito anos, nove, cinco, seis anos, para dormir, tem que ser à base de medicamentos. A gente não dorme. A gente cochila e acorda com aquele barulho terrível que é.”

Nevinha Valentim, do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental do Rio Grande do Norte, aponta a instalação dos parques eólicos como algo “devastador”: “Quando chega em larga escala, devastando dunas, manguezais, onde tem o modo de produção da agricultura familiar… então, isso é uma coisa devastadora”.

Um grupo de afetados pelos aerogeradores esteve em reuniões com o governo na semana passada. E a reivindicação dessas pessoas é bastante simples: reconhecem a importância dessa fonte de energia renovável, mas querem fazer parte da discussão no momento em que se decide onde e como esses parques serão instalados, explicam UOL, Um só planeta e Agência Sertão.

O professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Iure Paiva, resume o que seria o ideal: “Esse diálogo, esta abertura de possibilidades, da gente fazer com que estas vozes sejam ouvidas, tenham repercussão, esse é o primeiro passo. Em segundo, a gente vai ter que ter ação do poder público na fiscalização. E, em terceiro lugar, que a gente adote um modelo de desenvolvimento de segurança energética que seja centrado nas pessoas, e não apenas na atividade econômica”.

O Brasil de Fato destaca o documentário “Vento do Agreste”, que mostra os impactos dos parques eólicos em comunidades do Nordeste – região que abriga a maior parte dos projetos dessa fonte instalados no país. É uma produção da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em parceria com o Instituto Mãe Terra, a Universidade de Pernambuco (UPE) e o Fundo Casa Socioambiental.

O diretor e roteirista do documentário, João Paulo Do Vale, resume a questão: “Não é energia eólica, mas o modelo. Na Europa, existe outra regulamentação. No Brasil, ela imita a lógica do latifúndio, da violência. Então a gente mostra o que realmente acontece, que essa energia não é suficiente nem para a natureza, que sofre com esse modelo de instalação no Brasil, e muito menos para os camponeses e os povos da natureza”.

Em tempo: Entrou em operação comercial uma das duas primeiras usinas híbridas (diesel-solar-baterias) instaladas no sistema isolado – formado por áreas que não são conectadas à rede elétrica nacional e são abastecidas com energia elétrica gerada à base de combustíveis fósseis. Com 6,3 megawatts (MW) e capacidade para atender mais de 40 mil residências, as unidades ficam nas cidades de Amajari e Pacaraima, em Roraima, e receberam investimento de R$ 55 milhões da Oncorp, informa o Jornal o Valor. (Brasil de Fato)

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ONILDO ALMEIDA RECEBE TÍTULO DE CIDADÃO DE EXU NESTA TERÇA-FEIRA (31)

Prefeito, Vereadores e personalidades culturais de Exú serão recebidos nesta terça-feir (31), pelas autoridades de Caruaru no *alão Nobre  do Poder Legislativo, Pernambuco. A solenidade será a entrega do *Título de Cidadão de Exu* ao cantor e compositor, acadêmico e Doutor Honoris Causa da UFPE Onildo Almeida , o poeta da Feira.

"E o detalhe: em 32 anos de amizade entre Onildo Almeida e Luiz Gonzaga, foram diversos os convites, mas o compositor nunca foi em Exú.  Esse ano, 34 anos de saudades do Rei do Baião Exú virá até Caruaru*, representada pelas suas autoridades, em nome daquela gente querida e conterrâneos do Rei do Baião. Aqui, em Caruaru, serão recebidos pelo Prefeito Rodrigo Pinheiro, o Presidente da Fundação de Cultura, Herlon Cavalcanti e o Presidente Bruno Lambreta, diz o professor e pesquisador José Urbano.

Caruaru homenageou Luiz Gonzaga desde 1969, com título de Cidadão, Pátio de Eventos, maior estátua, ( uma em concreto outra em pedra, no Pátio e no Parque Baraúnas) bairro com nomes das músicas, diversos restaurantes.

Ainda de acordo com José Urbano, a relação artística e de amizade entre Luiz Gonzaga e Onildo Almeida começou em 1957, ano do centenário de Caruaru, quando o rei do baião gravou a música Feira de Caruaru.   A convivência entre os dois durou 32 anos, até o falecimento de Gonzagão, em 1989.   Dessa parceria, foram gravadas 22 músicas, sucessos que venderam centenas de milhares de discos e até hoje estão em regravações de diversos artistas e no repertório memorialista da música nordestina.  Entre os clássicos, Feira de Caruaru, Aproveita Gente, Regresso do Rei, Sanfoneiro Zé Tatu, A Hora do Adeus, entre outras. 

SERVIÇO 31 de Outubro 10hs

Salão Nobre da Câmara de Vereadores de Caruaru

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EXU: CASA DO REI DO BAIÃO SERÁ REFORMADA


Os deputados pernambucanos Antônio Moraes (PP-PE), Diogo Moraes (PSB-PE) e Izaías Regis (PSDB-PE) se comprometeram a destinar, juntos, R$ 400 mil em emendas para reforma da Casa do Rei do Baião, última residência de Luiz Gonzaga, que integra o acervo do Parque Aza Branca, em Exu, no sertão do Araripe de Pernambuco. O compromisso foi assumido pelos parlamentares em reunião com o sanfoneiro Jaiminho de Exu e com Junior Parente, presidente da ONG Parque Aza Branca, gestora do equipamento cultural, na manhã desta quarta-feira (25), na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). 

No encontro, o deputado Antônio Moraes disse que já articulou uma proposta de reforma com a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), que se dispôs a conduzir os reparos. Atualmente, a casa de Luiz Gonzaga apresenta problemas estruturais que dificultam a visitação de turistas e põem em risco móveis, fotografias, objetos, dentre outros itens que perteceram ao artista, eleito, em 2002, o Pernambucano do Século XX.

"O deputado Antônio Moraes criou uma frente parlamentar em defesa da reforma da Casa do Rei do Baião, além de ter se comprometido a destinar R$ 150 mil em emendas para o projeto. Além dele, o deputado Diogo Moraes se comprometeu a colocar R$ 100 mil em emendas e o deputado Izaías Regis, mais R$ 150 mil", celebrou Junior Parente.

Sobre o Parque Aza Branca-Administrado pela ONG homônima, criada por amigos de Gonzaga, o Parque Aza Branca recebe, em média, 60 mil visitantes por ano, sediando a Festa do Gonzagão, tradicionalmente realizada nos meses de agosto e dezembro. Em sua atual estrutura, o equipamento compreende uma área de 15 mil metros quadrados, em que estão alocados o Museu do Gonzagão, a Casa de Januário, a Casa do Rei do Baião, o Palco Principal, o Palco Gonzaguinha, o Palco do Pé de Juazeiro, o Mausoléu (onde foi sepultado o artista), loja, lanchonete e pousada, construída pelo próprio Gonzaga para receber os amigos.

Há ainda uma réplica da casa de reboco onde Gonzagão nasceu e um viveiro de asas-brancas. No acervo do Museu, estão conservados objetos pessoais, certificados, títulos, medalhas, troféus e prêmios que Gonzaga recebeu ao longo da carreira. Além disso, há ainda sanfonas que o acompanharam em momentos marcantes, como a que foi utilizada em apresentação durante a visita do Papa João Paulo II, em Fortaleza, em 1980, último instrumento que empunhou antes de morrer.

A Casa do Rei do Baião reúne louças, porta-retratos, cama e guarda-roupas originais, assim como toda a decoração. No primeiro cômodo, a sala em que o músico assistia televisão. Em um pequeno oratório, a fé era devotada às imagens de Padre Cícero e Frei Damião. Nas paredes, estão eternizadas fotos de viagens, shows e campanhas publicitárias. No primeiro andar, o quarto do artista também é mantido do jeito que foi deixado por ele. (Leia Já)
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BRASIL PERDE 15 PORCENTO DE FLORESTAS NATURAIS EM QUASE 40 ANOS, DIZ MAPBIOMAS

Em novo levantamento, a rede MapBiomas constatou que, entre 1985 e 2022, houve redução de 15% da área ocupada por florestas naturais no país, passando de 581,6 milhões de hectares para 494,1 milhões de hectares.

O principal fator de devastação foi a apropriação da agropecuária, e os últimos cinco anos aceleraram o processo de desmate, respondendo por 11% dos 87,6 milhões de hectares perdidos, revela a Coleção 8 do Mapeamento Anual da Cobertura e Uso da Terra no Brasil. Segundo o trabalho, os biomas que mais viram florestas sumirem nesse período foram a Amazônia (13%) e o Cerrado (27%).

O mapeamento considera diversos tipos de cobertura arbórea: formações florestais, savanas, florestas alagáveis, mangue e restinga. De acordo com o MapBiomas, esses ecossistemas ocupam 58% do território nacional. Quando todos são considerados,  a Amazônia (78%) e a Caatinga (54%) aparecem como os biomas com maior proporção de florestas naturais em 2022.

O MapBiomas observou, ainda, que dois terços da área destruída, ou seja, 58 milhões de hectares, foram de formações florestais, que são áreas de vegetação com predomínio de espécies arbóreas e dossel contínuo como as florestas que prevalecem na Amazônia e na Mata Atlântica. A diminuição das formações florestais foi de 14% nos 38 anos analisados. O Pampa foi o único em que o patamar se manteve estável, mesmo com o passar dos anos.

Pelos cálculos da organização, quase todo o desflorestamento (95%) se deu como consequência do avanço da agropecuária, que implica tanto a transformação de floresta em pastagens como a utilização das áreas para cultivo agrícola. Nas duas primeiras décadas do período sob análise, registrou-se aumento da perda de florestas, seguido de período de redução da área desmatada a partir de 2006.

As florestas alagáveis também fazem parte da paisagem da Amazônia e passaram a ser monitoradas pelo MapBiomas neste ano. Tais florestas são caracterizadas por se formar nas proximidades de cursos d’água. Nesse caso, no intervalo de quase 40 anos, foram perdidos 430 mil hectares de florestas, que ocupavam 18,8 milhões de hectares ou 4,4% do bioma em 2022.

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ALDY CARVALHO LANÇA LIVRO O CAVALEIRO DAS LÉGUAS

O Cavaleiro das Léguas, romance catingueiro de Aldy Carvalho, é uma alegoria sobre muitas coisas. Imagine-se, caro leitor, numa gesta, isto é, num combate. Esse combate, no entanto, embora você esteja paramentado como um cavaleiro, portando espada e escudo e armadura, e montando seu belo Rocinante como um Dom Quixote, ou como um Sir Galahad, não é um combate entre dois cavaleiros numa disputa qualquer. 

Melhor dizendo, é, mas ambos são você mesmo. Porém, antes de chegar ao momento desse combate, você viveu muitíssimas aventuras, cruzou terras longínquas e desertas, lutou contra demônios e bruxas até que aqui chegasse. 

Voce andou pelo reino dos imbuzeiros, conheceu pessoas muito simples, às quais protegeu com sua coragem contra os desmandos do mundo. Aprendeu ofícios, calou os soberbos, exaltou os humildes. Contudo, o combate que vai sagra-lo cavaleiro definitivamente, porque ainda lhe falta uma parte em sua alma é chegado. Porque, tendo conhecido o amor pelo próximo, você se ressente da falta da constante companheira. É aqui, nesse ponto da jornada, que você se encontra agora, diante dela, investido de seu próprio valor cavalheiresco.

Dando voz ao eterno feminino, esse é um poema sobre a busca da parte que nos falta e que não é um objeto a ser tomado, mas um presente em face de uma transformação ética, que se reflete no respeito pela vontade dela. Voce não está diante de uma donzela frágil e indefesa e não pense que será dela o protetor ou dominador porque a conquistou no combate. Muito ao contrário, é com ela o combate final, combate virtuoso em que nenhum dos dois sairá derrotado, e do qual advém o seu valor definitivo. É dela a escolha, é dela a decisão e isso, meu caro, é inelutável. 

Ouça a sua voz, responda às suas perguntas honestamente, quebre o desencanto da vida cotidiana e deixe-se levar pelo encantamento dessa mulher que te espera e torne-se merecedor dela. Ela inaugura o melhor de você e, nela, você se torna alguém melhor.

Assim é que o poema O Cavaleiro das Léguas, de Aldy Carvalho, atualiza o tema das gestas cavalheirescas do ciclo arturiano. O poema começa já no fim da jornada, mas, em sua parte mais importante, em que o herói torna-se aquilo que fomos talhados pra ser, isto é, humanos no mais profundo sentido do termo, porque completos, porque encantados, porque plenos, porque bons e justos. Abra estas páginas e, ao final, escreva seu nome no rol dos melhores que já trilharam essa terra...

(Ely Verissimo)

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CÁTIA DE FRANÇA, CANTORA COMPOSITORA ILUMINADA AO REDOR DO SOL


Na insistência de quem sabe o que quer, Cátia de França lançava o 20 Palavras ao Redor do Sol em maio de 1979, denunciando a rebeldia do Nordeste, questionando um Sertão bem masculino e elevando seu espaço enquanto artista. 

O disco ganhou um relançamento pela Três Selos e a cantora reflete sobre sua trajetória como uma das vozes e composições mais potentes da música popular brasileira. "Um atestado de que minha música é eterna", disse.

Apesar de sua grandeza, Cátia é humilde ao falar que o disco na verdade não começou nas gravações no Rio de Janeiro, mas na Rua Almeida Barreto, no Centro de João Pessoa. “Na maioria das histórias das pessoas, tem que falar da mãe. É na mãe que começa tudo", fala a cantora ao agradecer a presença da literatura em sua vida, fruto de muito incentivo da sua mãe Adélia de França.

DETALHE: Cátia de França é multi-instrumentista - o que gerou um convite de Zé Ramalho em 1978 para tocar percussão e sanfona no LP Avohai. O conterrâneo, que era um dos padrinhos do Selo Epic, da Sony Music, disse depois de sua turnê que estava no tempo de sua amiga ter uma carreira solo e, assim, o 20 Palavras ao Redor do Sol começou a nascer.

Mas ela se muniu de iguais. Zé Ramalho, Elba Ramalho, Sivuca e Dominguinhos são alguns nomes que compõem o 20 Palavras ao Redor do Sol, lançado em maio de 1979 pelo selo Epic, da gravadora CBS.

É  “20 Palavras ao Redor do Sol” (CBS, 1979), um álbum que já nasceu uma obra-prima e que conta com a assinatura de Zé Ramalho na produção musical, Sivuca (sanfona e piano elétrico), Bezerra da Silva (berimbau), Dominguinhos (sanfona), Chico Batera (bateria), Lulu Santos (guitarra elétrica), Elba Ramalho e Amelinha (vocais). Além de contar com Sérgio Natureza na parceria da canção “Ensacado” e Xangai e Israel Semente em “Djaniras”.

Primeira professora negra da Paraíba, ela alfabetizou Cátia cantando. A artista começou aos quatro anos com o piano que a mãe deu, para despertar o amor. Além disso, o instrumento na época era muito chique para as moças. “Introduzir sem sentir; quando vê já foi (...) quando ela viu que eu tomei gosto aí pronto. Mas só fui ganhar o piano definitivo que tenho até hoje aos 12 anos, que ela comprou com o salário de professora, já pensou?”.

Além dos discos de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, os livros também foram uma forte presença e uma de suas maiores alegrias era quando eles chegavam pelos correio. O pai não gostava muito da questão da música, queria que ela estudasse: “Era primeiro os livros, depois a gente conversa. Podia faltar manteiga, mas livro não”.

Durante toda a sua carreira de mais de 50 anos, Catarina Maria de França Carneiro nunca deixou de se posicionar em defesa daquilo que acreditava. Mesmo que, às vezes, tal posicionamento lhe tenha trazido custos. Sobre isso, Cátia, como ficou conhecida, conta que tem a certeza de que fez o certo, o que a faz dormir tranquila todas as noites.

Quem deu seu nome e seu apelido – que se transformaria em seu nome artístico – foi sua mãe, a professora Adélia Maria de França. Na casa dela, Cátia, desde cedo, entrou em contato com as ideias de Che Guevera, Josué de Castro, Dom Hélder Câmara e Francisco Julião. A professora, pernambucana de Aliança (PE), no entanto, nem sempre deixava que a filha se aproximasse dos artistas que viviam marcando presença no Mercado Central de João Pessoa, que ficava próximo à casa de dona Adélia, a primeira professora negra da história da Paraíba.

Foi na biblioteca particular de sua mãe, a afamada Biblioteca Coelho Lisboa – que tem esse nome em homenagem a um líder abolicionista paraibano – que Cátia começou a construir a sua poesia, inspirada em autores como Graciliano Ramos, José Lins do Rêgo e João Cabral de Melo Neto. O rigor de sua mãe durou até que ela tivesse a segurança de que a filha estaria diplomada. Quando Cátia já era adulta, Adélia mandou-a para o Rio de Janeiro. Na capital fluminense, trabalhou como datilógrafa e participou de grupos de teatro subversivo.

Durante a repressão da ditadura, vivenciou a experiência de ser uma mulher negra, lésbica e nordestina na São Paulo dos anos 1970, sendo perseguida pela polícia política do DOI-CODI que, de acordo com ela, odiava nordestinos. Mas, assim como previra a sua mãe, que a mandara ao Rio justamente porque sabia que não iria conseguir impedir essa intensa relação, foi na música que Cátia de França encontrou a maneira mais encantadora de expressar a sua poesia.

Seus álbuns passeiam pela obra dos poetas que lia na casa de sua mãe, pela música eletrificada das guitarras dos Beatles, pelos ritmos que compõem o tecido da cultura nordestina, pelo swing do violão de Jorge Ben Jor e também pela psicodelia predominante na música dos anos 1970. Para além de uma referência estética e (re)criativa, a influência desta última, que marca toda uma geração de compositores e cantores nordestinos, era – para ela e para sua geração – quase como um antídoto, uma forma de lidar com o peso que vinha da sensibilidade, do entendimento e da reflexão crítica sobre as profundas violências pelas quais o Brasil passou. E das desigualdades que retalham o Brasil e o Nordeste por toda a nossa história.

Aos 76 anos, dos quais mais de 50 dedicados à sua arte, Cátia de França vem sendo reconhecida, mais recentemente, por uma nova geração e parte da crítica musical, que a coloca, com a justiça devida, no mesmo patamar que artistas como Alceu Valença, Elba Ramalho, Chico César, Amelinha, Bezerra da Silva e Zé Ramalho. Pela sua influência, talento, originalidade e inventividade que contribuíram para o desenvolvimento daquilo que se entende como a música do Nordeste e a música popular brasileira. (Texto G1 e Revista Continente)

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FESTIVAL UNUÉ (SONHAR) TERÁ JOÃO DO CRATO E CÁTIA DE FRANÇA NA PROGRAMAÇÃO

João do Crato, Cátia de França, Luedji Luna, Don L, Dextape, Zabumbeiros Cariris e Kaê Guajajara são alguns nomes confirmados para este encontro que busca sonhar um território ancestral no sul do Ceará: o Cariri. O “Festival Unaé – Sonhar o Cariri” é um momento para celebrar este espaço e suas múltiplas linguagens em diálogo com diferentes artistas brasileiros, entre os dias 26 e 29 de outubro, no Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo, Crato , equipamento gerido pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará em parceria com o Instituto Mirante de Cultura e Arte. Toda a programação é gratuita.

Em consonância com a política cultural do Governo do Estado do Ceará, o festival abraça as mais diversas facetas deste Cariri, que é ao mesmo tempo encantado e urbano, com uma potência cultural que passeia do cordel à dança e à performance, do repente ao slam, da zabumba à batida eletrônica e aos vídeo mappings. Um Cariri aberto a quem quiser chegar.

Na língua originária do povo Kariri, Unaé significa sonhar. “É poder deixar a imaginação te levar para uma outra dimensão. E nessa medida, a gente acredita que o Centro Cultural é um instrumento para você poder fazer isto: para alargar as fronteiras que você naturalmente encontra como limite do fazer, do criar, do conviver”, afirma a diretora do Centro Cultural do Cariri, Rosely Nakagawa.

O festival é um convite para sonhar o Cariri em diálogo com outras expressões do Nordeste e do Brasil. “Esta programação pretende difundir a diversidade do nosso território e promover esse encontro geracional, ancestral, tradicional e contemporâneo”, diz Américo Córdula, diretor geral do Festival Unaé.

Integrando a programação, a compositora paraibana Cátia de França traz o seu coco de roda mesclado ao rock psicodélico ao festival neste ano em que comemora 50 anos de carreira. A exposição “HãHãw: Arte indígena antirracista” ressoa as vozes de 21 artistas indígenas de diferentes etnias e contextos do Brasil, entre elas as caririenses Barbara Matias Kariri e Vivi Kariri.

Don L e Dextape levam, juntos, o rap ao palco. É uma das várias apresentações que permeiam o universo das oralidades presente no festival, que conta ainda com a Batalha do Cristo, Slam das Minas Kariri e Nego Gallo. As atividades seguem também com nomes já conhecidos da cena local, como João do Crato, Abidoral Jamacaru e Pachelly Jamacaru. Além disso, ainda conta com o espetáculo Poeira, do Grupo Ninho de Teatro.

TERRA ANCESTRAL-O Festival Unaé é um momento para celebrar e fruir toda a efervescência cultural de uma terra ancestral, que respira história, tradição e contemporaneidade no sul do Ceará. Com 29 municípios, localizado a 400 quilômetros da capital Fortaleza, a região do Cariri é uma terra fértil que reinventa a vida com narrativas populares que atravessam a memória, a fé, a cultura e a ciência.

O lugar, que atrai milhares de romeiros todos os anos para o Horto do Padre Cícero, é palco de um intenso e diverso caldeirão cultural. O Cariri também guarda a história do mundo nos fósseis e rochas de uma época em que aquele sertão já foi mar.

Na região, mestres de cultura e artistas da música, da literatura de cordel, da oralidade, da dança, do grafite, do teatro, do slam e de tantas outras linguagens constroem diariamente a identidade de um povo que olha para o passado enquanto sonha com o futuro. “Nós temos uma diversidade de gênero e de linguagens muito grande, que ainda não é percebida”, pontua Américo.

Toda essa efervescência cultural, ganhou um novo espaço em 2022 para a fruição artística: o Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo, um dos maiores centros culturais localizados fora de capitais do Brasil.

SERVIÇO Festival Unaé – Sonhar o Cariri

Entrada Gratuita

Data: 26 a 29 de Outubro

Local: Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo. Av. Joaquim Pinheiro Bezerra de Menezes, 1, Gizélia Pinheiro (Batateiras), Crato, Ceará

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UNIVASF FARÁ PARTE DA REDE PÚBLICA DE RÁDIO E TV

A Rede Nacional de Comunicação de Pública (RNCP), coordenada pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), vai passar pela maior expansão de sua história. Em evento no Palácio do Planalto, nesta terça-feira (17), foram assinados acordos de cooperação entre a EBC, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e 31 universidades federais, para a operação de 72 novas emissoras de rádio e TV. 

A RNCP, prevista na lei de criação da EBC e constituída em 2010, é formada por emissoras de TV e rádio que atuam por todo país, propiciando cultura e informação para milhões de brasileiros. Atualmente, segundo a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), é a quinta maior rede de radiodifusão do país.

A EBC é responsável pela formação, fortalecimento e expansão da RNCP. A primeira transmissão ocorreu há 13 anos, com sete emissoras universitárias e 15 emissoras públicas estaduais. Desde então, a rede veio ampliando a difusão integrada de conteúdo jornalístico, educacional e cultural para todas as regiões do Brasil, até chegar a 40 emissoras de rádio e 69 de televisão, totalizando 109 veículos de radiodifusão. São emissoras que difundem produções da TV Brasil, Rádio MEC e Rádio Nacional, além de exibir conteúdo produzido pelas emissoras parceiras em rede nacional.

Com a consignação de novos canais de rádio e TV do Ministério das Comunicações para a EBC, a rede praticamente vai dobrar de tamanho. A consignação é o serviço executado em nome da União por ministérios, EBC, Câmara dos Deputados, Senado Federal e Supremo Tribunal Federal, nos termos da Portaria nº 04, de 17 de janeiro de 2014.

Além das 32 universidades e 72 novas emissoras, outras 13 universidades federais deverão assinar acordos similares com a EBC em breve, com a intenção de operar em parceria outras 28 estações, chegando a 100 novas emissoras em potencial.

"Esse ato de hoje é o maior movimento de expansão da rede nacional de comunicação pública da história da EBC", destacou o ministro da Secom, Paulo Pimenta.

Para o diretor-presidente da EBC, Hélio Doyle, os acordos de cooperação representam um marco na história da comunicação pública.

O presidente da EBC, Hélio Doyle (e), ministro da Educação, Camilo Santana (d), durante anúncio de expansão da Rede de Comunicação Pública e da comunicação universitária no país, no Palácio do Planalto. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

"Até o momento, como nós vimos, integram a Rede Nacional de Comunicação Pública, 40 emissoras de rádio e 69 de televisão. Com as assinaturas de hoje, passamos a contar com 91 emissoras de rádio e 118 emissoras de televisão. Um número bastante expressivo, que tornará essa rede ainda mais forte", detalhou.

"Desde que assumimos a direção da EBC, procuramos aprofundar a relação com as universidades federais, com as universidades públicas. Aumentamos a produção de notícias feitas por emissoras universitárias em nossa programação, em nossos telejornais", acrescentou Doyle.

Conteúdos de qualidade-Reitora da Universidade de Brasília (UnB) e atual presidente da Andifes, Márcia Abrahão Moura celebrou o passo dado pelas universidades na expansão da rede pública de comunicação. Os acordos previstos, segundo ela, vão estabelecer novas emissoras em 50 municípios.

"Nós prontamente aderimos ao chamamento, porque sabemos da importância que é levar comunicação de qualidade, com informações verdadeiras. Vivemos num mundo, e num momento do nosso país, em que uma informação de qualidade é fundamental", observou.

Para a reitora, o desafio agora é assegurar recursos para a implantação e operação dessas emissoras. "Certamente todo esse avanço necessita de mais investimento, mais pessoal. O financiamento não só para a manutenção das nossas instituições, mas também a ampliação do orçamento para que a gente possa dar conta das nossas obrigações, e com grande compromisso social."

Para o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, a ampliação da cobertura da EBC no território nacional, por meio de consignações de canais da União, para a execução dos serviços de FM e TV digital, em parceria com as universidades, é uma medida "imprescindível". "Além de caráter informativo, traz uma gama de conteúdos educativos, não só da cultura local, mas estudos e pesquisas desenvolvidos pelas nossas universidades", enfatizou.

Em entrevista a jornalistas após o evento que anunciou a expansão da RNCP, Paulo Pimenta mencionou o caráter de complementaridade da comunicação pública na oferta de conteúdos à população.

"Esse gesto de parceria da EBC com as universidades públicas é uma afirmação de uma comunicação que traz para a população a oportunidade de ter acesso a um conteúdo que comercialmente não interessa às outras emissoras", argumentou o ministro da Secom.

Entre os acordos assinados, está o de ampliação do sinal da TV da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), a TV Ufal. Atualmente presente na região metropolitana de Maceió, abrangendo uma população de 1,3 milhão de habitantes, o sinal da TV será expandido para os campi de Arapiraca e Delmiro Gouveia, no interior do estado. Além disso, a capital e os dois municípios também terão uma nova estação de rádio FM operada pela universidade. Com isso, o sinal de rádio e TV será expandido para cerca de 3,2 milhões de pessoas, prevê o reitor da Ufal, Josealdo Tonholo.  

"Nada melhor do que essa parceria da educação, que está em todo o território nacional, associada à EBC, que passa a ter, através das universidades, o lastro de ocupação em todo o país", afirmou Tonholo.

Segundo ele, a medida amplia as possibilidades de regionalização do conteúdo cultural e informativo, aumentando a diversidade no rádio e na TV aberta.

"O que tem de importante nesse movimento é que a gente se articula enquanto rede de comunicação pública. Cada emissora isolada tem uma força perante aquele público da região, mas no momento que a gente expande isso nacionalmente, a gente consegue repercutir temas e pautas importantes, como divulgação científica, desenvolvimento científico e tecnológico, educação, criando uma pauta diferente na sociedade, comprometida com a qualidade e a veracidade dos fatos, e contribuindo com a democracia brasileira", analisou a professora da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Maíra Bittencourt, diretora do Colégio de Gestores de Comunicação das Instituições Federais de Ensino Superior (Cogecom), vinculado à Andifes.

A EBC foi criada em 2007 como responsável pelo sistema público de comunicação federal, incluindo a rede pública de comunicação de Rádio e TV. A EBC gerencia as rádios Nacional e MEC, a Radioagência Nacional, a Agência Brasil e a TV Brasil, além do veículo governamental Canal Gov, e do programa Voz do Brasil.

Confira abaixo a lista de universidades federais que assinaram acordos de parceria com a EBC para a expansão da Rede Nacional de Comunicação Pública:

Televisão

1. Universidade Federal do Pará (UFPA)

2. Universidade Federal do Ceará (UFC)

3. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab)

4. Universidade Federal Rio de Janeiro (UFRJ)

5. Universidade Federal São Carlos (Ufscar)

6. Universidade Federal do Cariri (UFCA)

7. Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB)

Rádio

1. Universidade Federal do Rio Grande (FURG)

2. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

3. Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

4. Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS)

5. Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB)

6. Universidade Federal do Pampa (Unipampa)

7. Universidade de Brasília (UnB)

8. Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

9. Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)

TV e Rádio

1. Universidade Federal do Recôncavo Bahiano (UFRB)

2. Universidade Federal do Amapá (Unifap)

3. Universidade Federal do Juiz de Fora (UFJF)

4. Universidade Federal do Agreste Pernambuco (Ufape)

5. Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

6. Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

7. Universidade Federal do Paraná (UFPR)

8. Universidade Federal de Lavras (UFLA)

9. Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa)

10. Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)

11. Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG)

12. Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

13. Universidade Federal de Sergipe (UFS)

14. Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf)

15. Universidade Federal Fluminense (UFF)

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NETO TINTAS UMA SAUDADE GONZAGUEANA

Desafinados cantávamos. Cantar para viver a arte de ser Feliz. Cantar para afirmar que Luiz Gonzaga vive! E na curva da estrada eu escutava sempre o homem/menino/criança. "Poeta Amigo Jornalista Vitalino estamos chegando em Exu. Aumenta o som":

Meu Araripe Meu relicário. Eu vim aqui rever meu pé de serra beijar a minha terra festejar seu centenário/. Sejam bem vindos os filhos de Januário/Pro Araripe festejar...Meu Araripe. Meu relicário...

No dia (15 de outubro) ano 2017 na madrugada, "Eu vi a Morte, a moça Caetana, com o Manto negro, rubro e amarelo. Vi o inocente olhar, puro e perverso, e os dentes de Coral da desumana...vi asas deslumbrantes que, rufiando nas pedras do Sertão, pairavam sobre Urtigas causticantes, caules de prata, espinhos estrelados e os cachos do meu sangue iluminado". 

Eu vi. Juro que vi a Moça Caetana, a morte levando Anésio Lino de Souza Neto Tintas...e ele foi com o sorriso e braços abertos. E partiu... nas asas do Pensamento uma lágrima. Juazeiro/Petrolina, Garanhuns, Barbalha-Ceará, Juazeiro do Padim Ciço, Serrita-Missa do Vaqueiro, Feira de Caruaru, Paraíba-Campina Grande, rua Indio Cariris são cidades sonhos que choram tua saudade.

 E o Riacho do Navio onde nós mais Italo/Abilio/Icaro, Gonzagueanos a brincar de atravessar pontes e cantar...e o nosso relicário-Fazenda Araripe centenário festejar. E a hora mágica quando na Igreja do Araripe às 18horas rezavamos Ave Maria.

Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum...Perdoe-me Pai Criador. Morrer tem seu sentido...as escrituras sagradas afirmam que sim: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. 

É assim que Penso: Anésio Lino de Souza-Neto Tintas fez a grande viagem. Foi colorir os céus do Sertão da Eternidade e em algum lugar vai garantir mais Felicidades e sorrisos na vida dos amigos...tornar mais belo a razão de viver e de haver estrelas...

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SEM ÁGUA NAO TEM VIDA: SECA NA AMAZONIA BRASILEIRA AUMENTA O TEMOR PELO FUTURO

As comunidades que dependem dos cursos de água da floresta amazônica estão isoladas sem abastecimento de combustível, alimentos ou água filtrada. Dezenas de botos morreram e foram levados até as margens.E milhares de peixes sem vida flutuam na superfície da água.

Essas são apenas as primeiras imagens sombrias da seca extrema que assola a Amazônia brasileira. Os níveis historicamente baixos da água afetaram centenas de milhares de pessoas e animais, e, com a previsão dos especialistas de que a seca pode durar até o começo de 2024, os problemas tendem a se intensificar.

Raimundo Silva do Carmo, de 67 anos, ganha a vida como pescador, mas atualmente vem tendo dificuldades de simplesmente encontrar água. Como a maioria dos moradores rurais da Amazônia brasileira, Carmo normalmente retira água não tratada dos abundantes cursos de água do bioma. Na manhã de quinta-feira, ele já estava fazendo sua quarta viagem do dia para encher um balde de plástico em uma cacimba no leito rachado do lago Puraquequara, a leste da capital do Amazonas, Manaus.

"É um trabalho medonho, ainda mais quando está assim, sol quente", disse Carmo à Associated Press. "A gente bebe, toma banho, e faz a comida (com a água). Sem água, não tem vida."

Joaquim Mendes da Silva, um carpinteiro naval de 73 anos que vive às margens do mesmo lago há 43 anos, diz que esta é a pior seca de que se recorda. As crianças da região pararam de ir à escola um mês atrás, porque ficou impossível chegar lá pelo rio.

Oito estados brasileiros registraram os menores índices pluviométricos dos últimos 40 anos no período entre julho e setembro, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, CEMADEN. A seca afetou a maioria dos principais rios do Amazonas, a maior bacia hidrográfica do mundo, que representa 20% da água doce do planeta.

Até sexta-feira, 42 dos 62 municípios do Amazonas haviam declarado estado de emergência. Cerca de 250 mil pessoas foram afetadas pela seca até agora, e esse número pode dobrar até o fim do ano, segundo a Defesa Civil do estado.

Na Reserva Extrativista Auatí-Paraná, cerca de 700km a oeste do lago Puraquequara, mais de 300 famílias ribeirinhas enfrentam dificuldades para conseguir comida e outros suprimentos. Apenas canoas pequenas com carga reduzida conseguem fazer o trajeto até a cidade mais próxima, e encontrar uma rota pelas águas rasas aumentou o tempo de viagem, de 9 para 14 horas. Além disso, os canais até os lagos onde elas pescam pirarucu, o maior peixe da Amazônia e sua principal fonte de renda, secaram, e carregar peixes de até 200kg por trilhas seria extremamente custoso.

"Se a gente correr o risco de pegar o peixe no lago e trazer, ele vai chegar estragado. Não tem como a gente pescar", diz Edvaldo de Lira, presidente da associação local.

Os períodos de seca fazem parte do padrão climático cíclico da Amazônia, com chuvas mais leves de maio a outubro na maior parte da floresta. A pluviosidade já menor está sendo ainda mais reduzida por dois fenômenos climáticos este ano: o El Niño, o aquecimento natural das águas superficiais na região do Pacífico Equatorial, e o aquecimento das águas tropicais do norte do Oceano Atlântico, explica Ana Paula Cunha, pesquisadora do CEMADEN.

O aquecimento global, impulsionado pela queima de combustíveis fósseis, é o pano de fundo da intensificação desses fenômenos. A elevação das temperaturas aumenta a possibilidade de condições meteorológicas extremas, embora a atribuição de eventos específicos às mudanças climáticas seja complexa e exija um estudo aprofundado. Ainda assim, à medida que as temperaturas continuam a subir e os efeitos das mudanças climáticas se tornam mais graves, a seca e suas consequências devastadoras podem ser um vislumbre de um futuro desolador, segundo os especialistas.

As temperaturas médias globais atingiram um recorde em setembro. Ondas de calor sufocantes atingiram grandes áreas do Brasil nos últimos meses, embora fosse inverno. No Rio Grande do Sul, enchentes catastróficas mataram dezenas de pessoas.

As secas se tornaram mais frequentes no rio Madeira, na região amazônica, cuja bacia se estende por cerca de 3.315km da Bolívia ao Brasil, e quatro dos cinco níveis mais baixos já registrados no rio aconteceram nos últimos quatro anos, diz Marcus Suassuna Santos, pesquisador do Serviço Geológico do Brasil.

O nível do rio Madeira em Porto Velho atualmente é o mais baixo desde que as medições começaram em 1967. Perto dali, a quarta maior hidrelétrica do Brasil, a usina de Santo Antônio, interrompeu as operações esta semana em razão da falta de água. É a primeira vez que isso acontece desde sua inauguração, em 2012.

Mais ao norte, na bacia do rio Negro, surgiu um outro padrão. O principal afluente do rio Amazonas sofreu sete das suas maiores inundações nos últimos 11 anos, sendo a pior em 2021. Mas, este ano, o rio Negro também está no rumo dos mais baixos níveis históricos de água.

"Já vivemos um cenário de clima alterado que oscila entre eventos extremos, seja de seca ou de fortes chuvas. Isso tem consequências muito graves, não só para o meio ambiente, mas também para as pessoas e a economia", diz Ane Alencar, diretora científica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, ou IPAM, uma organização sem fins lucrativos.

"Acho que há uma chance muito grande de que o que estamos vivendo agora, a oscilação, seja o novo normal", acrescenta ela.

O governo brasileiro criou uma força-tarefa para coordenar uma resposta. Ministros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitaram Manaus na terça-feira. O vice-presidente Geraldo Alckmin prometeu alimentos, água potável e combustível para as comunidades isoladas, e disse que os pagamentos do programa Bolsa Família seriam antecipados. A dragagem de trechos de dois rios - Solimões e Madeira - está em andamento para melhorar a navegabilidade.

Suspeita-se que o calor, juntamente com a redução dos rios, seja responsável pela morte de mais de 140 botos no lago Tefé, cerca de 520km a leste de Manaus, que chegou às manchetes do Brasil e do exterior, com imagens de urubus bicando as carcaças encalhadas. O calor excessivo pode ter causado falência de órgãos, segundo Ayan Fleischmann, hidrólogo do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

Outra hipótese são as bactérias, e as águas excepcionalmente quentes podem servir de fator adicional de estresse.

"É uma tragédia sem precedentes. Aqui na região, ninguém tinha visto nada parecido", diz Fleischmann. "Foi um choque para todo mundo."

A previsão é que a precipitação fique abaixo da média até o fim do ano, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Inpe. O impacto da seca já está se propagando para além dos cursos de água da Amazônia e atingindo a floresta.

As áreas de floresta ao longo das margens dos rios acumulam uma espessa camada de serrapilheira, o que as torna especialmente suscetíveis a incêndios florestais, segundo Flávia Costa, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Inpa.

No Estado do Amazonas, quase 7 mil incêndios foram registrados só em setembro, o segundo maior índice para o mês desde que o monitoramento por satélite começou, em 1998.

A fumaça resultante está sufocando os mais de 2 milhões de habitantes de Manaus, que também enfrentam o calor escaldante. No domingo passado, a cidade registrou a temperatura mais alta desde que as medições regulares começaram, em 1910.

O aumento da frequência dos eventos climáticos extremos acentua a necessidade de coordenação entre os níveis federal, estadual e municipal de governo, para preparar e criar um sistema de alertas que mitigue os impactos.

"De agora em diante", diz Alencar, "as coisas vão piorar".

Fonte Agencia Estado (Contribuíram para esta matéria Fabiano Maisonnave, de Brasília, e Eléonore Hughes e Diane Jeantet, do Rio de Janeiro, repórteres da AP.)


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PADRE CÍCERO ENTRA PARA LIVROS DOS HERÓIS DA PÁTRIA. ELE É AUTOR DOS PRECEITOS ECOLÓGICOS

O nome de Cícero Romão Batista - mais conhecido como padre Cícero - foi inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, através da lei 14.693/2023, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e publicada nesta quarta-feira (11), no Diário Oficial da União.    

Considerado um santo popular, principalmente no Nordeste, antes mesmo de sua canonização pela Igreja Católica, o líder religioso ficou conhecido por um incansável trabalho de difusão da doutrina, aconselhamentos e sermões que arrebatavam multidões no interior do Ceará.

Nascido em 24 de março de 1844, na cidade de Crato, aos 12 anos de idade ele fez voto de castidade depois de ler sobre a vida de São Francisco de Sales, santo francês que viveu no século dezessete.

Aos 26 anos foi ordenado padre depois de iniciar os estudos religiosos em Cajazeiras, na Paraíba, e cursar o seminário da Prainha, em Fortaleza. Fixou residência em Juazeiro do Norte, aos 28 anos, quando foi designado vigário e logo conquistou a simpatia do povo.

Em 1889, uma hóstia que teria se transformado em sangue durante a comunhão geral na Capela de Nossa Senhora das Dores, conduzida por ele, foi considerada seu primeiro milagre. Novas ocorrências do fenômeno atraíram católicos a Juazeiro do Norte e a Igreja Católica decidiu investigar.

Após diferentes pareceres, a igreja considerou que não houve milagre e as ordens sacerdotais de padre Cícero foram suspensas. Em 1898, padre Cícero apelou ao Vaticano pela revogação da pena, que foi mantida.

Política-Afastado da igreja, o religioso tornou-se prefeito de Juazeiro do Norte, depois elegeu-se deputado federal e chegou a ser vice-governador do Ceará. Faleceu em 20 de julho de 1934, aos 90 anos, e as romarias a Juazeiro - em devoção ao carinhosamente chamado Padim Ciço - só aumentaram.

A Igreja Católica Apostólica Brasileira canonizou padre Cícero em 1973, baseada na devoção dos nordestinos ao líder religioso e aos milagres atribuídos a ele por seus devotos. O processo de beatificação pela Cúria Romana só teve início em junho de 2022, quando o santo popular foi beatificado.

Com a lei publicada, padre Cícero é imortalizado em mais uma iniciativa, que o incluiu no Livro de Aço, abrigado no Panteão da Pátria, em Brasília, onde estão registrados nomes como o de Chico Xavier, Irmã Dulce e Zumbi dos Palmares. Com seu nome, são ao todo 66 Heróis e Heroínas da Pátria que tiveram o reconhecimento por terem dedicado suas vidas a um Brasil melhor.

ECOLOGIA-Em seus preceitos ecológicos, Padre Cícero fazia os seguintes alertas:

    1. Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau
    2. Não toque fogo no roçado nem na Caatinga
    3. Não cace mais e deixe os bichos viverem
    4. Não crie o boi nem o bode soltos; faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer
    5. Não plante em serra acima nem faça roçado em ladeira muito em pé; deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e não se perca a sua riqueza
    6. Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água de chuva
    7. Represe os riachos de cem em cem metros, ainda que seja com pedra solta
    8. Plante cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer, até que o sertão todo seja uma mata só
    9. Aprenda a tirar proveito das plantas da Caatinga, como a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem ajudar a conviver com a seca
    10. Se o sertanejo obedecer a estes preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando e o povo terá sempre o que comer
    11. Mas, se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só.
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    ARTICULAÇÃO SEMIÁRIDO REALIZA CONFERÊNCIA DE SEGURANÇA E SOBERANIA ALIMENTAR NA TERÇA (24)

    A Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) realiza, no próximo dia 24, das 8h às 17h, a Conferência Livre de Segurança e Soberania Alimentar (CLSAN Semiárido). O encontro será virtual, por meio da plataforma Zoom, e discutirá o tema “Terra, água e biodiversidade para um Semiárido Vivo, com participação popular e segurança e soberania alimentar”.

    As conferências livres são atividades autogestionadas que buscam facilitar a organização da sociedade civil nessa retomada das políticas públicas de combate à fome. A ideia também é eleger delegadas e delegados, e ampliar o debate em preparação para a 6ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CNSAN), que acontece entre os dias 11 e 14 de dezembro, em Brasília (DF).

    INSCRIÇÕES ABERTAS-A CLSAN Semiárido deve reunir cerca de 300 pessoas entre agricultoras e agricultores, técnicos das organizações da rede ASA, representantes de povos tradicionais e demais interessados na temática. As inscrições gratuitas devem ser feitas neste link até o próximo dia 15.

    “Será uma ótima oportunidade para debatermos e elaborarmos propostas em relação à terra, água, ao saneamento com reúso de água como fonte de segurança alimentar, participação popular nas políticas públicas, mudanças climáticas e agrobiodiversidade. Temas e questões que nos são caros e que compõem nossos sonhos de convivência com o semiárido”, afirma Cícero Félix, membro da coordenação executiva da ASA.

    PROGRAMAÇÃO-Para alcançar o objetivo principal da CLSAN Semiárido, que é “contribuir para a superação, com participação social, dos desafios estruturantes que impedem a SAN” no território que abrange o Nordeste e Minas Gerais, a ASA preparou uma programação intensa começando com uma mística seguida da fala de abertura com um representante do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).

    Logo depois acontece o painel problematizando os temas ligados aos objetivos da conferência e aos eixos da 6ª CNSAN, entre eles o cuidado com os territórios das comunidades e povos tradicionais, as estratégias de acesso e direitos relativos à agua, a preservação e conservação da caatinga e do cerrado e a participação social na construção das políticas de SAN.

    Em um terceiro momento, os participantes se dividirão em grupos temáticos (Terra e território; Água e saneamento rural; Sementes vegetais e animais e Participação social). Cada equipe trabalhará a partir de questões norteadoras na elaboração de propostas de políticas públicas.

    A CLSAN Semiárido será concluída com a eleição de até quatro delegadas e delegados que vão representar a região na 6ª CNSAN. (Fonte: Texto: Kleber Nunes | ASACOM)

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    ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL PEDEM QUE LULA VETE PROJETO DE LEI DO MARCO TEMPORAL

    Um grupo formado por cerca de 150 organizações da sociedade civil enviou nesta segunda-feira (9) uma carta ao presidente Lula pedindo o veto integral do projeto de lei aprovado pelo Congresso no final de setembro que estabelece a tese do Marco Temporal para a demarcação de Terras Indígenas no país.

    O PL 2.903/2023 foi aprovado no Senado no mesmo dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) finalizou o julgamento da tese, decidindo pela sua invalidade. Como já havia passado pela Câmara – foi aprovado em maio pelos deputados federais – a proposta foi diretamente para sanção presidencial.

    Na carta, as organizações pedem o veto do projeto não só por ele contrariar o entendimento do STF, mas também por trazer uma série de outros retrocessos aos direitos indígenas.

    “O marco temporal é apenas uma das gravíssimas inconstitucionalidades e violações de direitos do texto aprovado pelo Congresso Nacional. O PL desmonta, em vários de seus dispositivos, o próprio conceito de terra indígena consagrado na Carta Magna”, diz trecho da carta.

    O texto dos deputados e senadores prevê a possibilidade de a União retomar as “reservas indígenas” a partir de critérios subjetivos, como a alteração de traços culturais e “outros fatores ocasionados pelo decurso do tempo”.

    O projeto também autoriza a instalação de bases, unidades e postos militares e demais intervenções militares dentro de Terras Indígenas, além da exploração energética e mineral nessas áreas, independente da consulta às comunidades indígenas envolvidas.

    Segundo o texto, também está proibida a retirada de invasores das terras indígenas enquanto o processo de demarcação não for concluído, mas seria permitido o contato com povos que vivem em isolamento.

    “A sociedade brasileira não pode mais admitir a institucionalização da barbárie e espera que o Presidente da República cumpra com seus deveres constitucionais e garanta o restabelecimento dos direitos fundamentais e humanos dos povos indígenas”, diz o documento, assinado por organizações como Observatório do Clima, WWF. Climainfo, Greenpeace, Oxfam, entre outras.

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    DIA NORDESTINO: A CONSTRUÇÃO DA ICONOGRAFIA DO NORDESTE E SUAS CONTRADIÇÕES

    Ao longo da história, a pujante produção cultural de nordestinos ajudou a construir o imaginário sobre a região. Desde o chamado romance de 1930, com o alagoano Graciliano Ramos, a cearense Raquel de Queiroz, o paraibano José Lins do Rego, entre outros nomes; além da rica bibliografia de diversos autores como o baiano Jorge Amado e os pernambucano João Cabral de Melo Neto e Ariano Suassuna.

    “Esse conjunto de autores vão produzir toda uma literatura que constrói e define as temáticas básicas pelas quais gira a ideia de Nordeste, que é a seca e a retirada, o cangaço, o messianismo e o coronelismo. São essas temáticas que têm grande impacto na produção cultural que gira em torno da ideia de Nordeste”, explica o historiador Durval Muniz. 

    Apesar de criar nossa identidade, segundo o professor, essa construção imagética cria estereótipos. “Esse imaginário exclui as camadas populares e sua produção cultural, que são folclorizadas. A cultura nordestina não é pensada como uma cultura moderna, urbana, informada pela contemporaneidade.Cultura nordestina é sempre folclórica.Qual o problema do folclore? É que você arranca a manifestação cultural do seu contexto de produção e ela vira um ícone desistoricizado e deslocalizado”, critica Durval Muniz. (Folha Pernambuco. Foto Agencia Brasil)

    A gente vê muitas obras literárias importantíssimas como ‘Os Sertões’, de Euclides da Cunha e ‘O Quinze’, de Raquel de Queiroz”, que eram obras que traziam o aspecto de formação do que seria essa identidade nordestina e, ao mesmo tempo, denunciava o problema social das questões agrárias e ligadas à seca. Mas vejo isso como uma construção política também”, opina Elza Mendonça. 

    “Houve o apagamento de diversas iniciativas de revoltas. Por exemplo, a Revolução de 1917 aqui em Pernambuco é uma das primeiras que traz um aspecto republicano, uma ideia de independência, e se colocou [a Inconfidência] de Tiradentes, em Minas Gerais, que nem chegou a ser de fato uma revolução e ser efetivada, mas se tornou o símbolo da República. Diversos historiadores, quando eles voltam para essa iconografia, têm uma intenção dessa imagem que foi construída muito no final do império, com essa ideia da  economia cafeeira, no Rio de Janeiro e São Paulo”, argumenta a historiadora.

    Após superar a invisibilidade e apagamento no final de 1910 e construir sua identidade no imaginário nacional a partir de pesquisas acadêmicas, matérias jornalísticas e produção artísticas nas diversas linguagens, o Nordeste precisou - e ainda precisa - superar mais um obstáculo: a folclorização de seus símbolos e a estrutura política interessada em mantê-los rígidos.

    “O sertão, por exemplo, que antes era uma categoria que compreendia o Brasil todo - essa ideia foi capturada completamente pelo discurso regionalista nordestino. Só quem passa a ter sertão é o Nordeste. É uma maneira de ver a região que vai ficando cada vez mais caricatural. À medida que o Nordeste muda e se transforma e essa transformação não aparece em seu imaginário, é como se o Nordeste não tivesse história. Ele está sempre girando em torno dessas temáticas”, aponta o professor Durval.

    “Esse imaginário exclui as camadas populares e sua produção cultural, que são folclorizadas. A cultura nordestina não é pensada como uma cultura moderna, urbana, informada pela contemporaneidade. Cultura nordestina é sempre folclórica. Qual o problema do folclore? É que você arranca a manifestação cultural do seu contexto de produção e ela vira um ícone desistoricizado e deslocalizado. Você não considera que o rap produzido em Fortaleza ou que o rock feito no Recife é cultura nordestina, por exemplo”, completa o historiador.




    Identitarismo e dominação-“O discurso identitário é homogeneizador. Todo discurso de identidade é falso, porque ele é um discurso de embate político. O regionalismo nordestino e o Nordeste surgiram por causa da debacle econômica e política das elites desse espaço. Foi à medida que as elites perderam centralidade política e econômica - lembremos que aqui era a principal área da economia durante o período colonial - a partir da descoberta das Minas Gerais, começa um processo de deslocamento para o Sul que vai se acentuar com o café, no século XIX”, argumenta Durval Muniz. 


    “Paulatinamente uma área que era totalmente periférica na colônia como São Paulo ganhou centralidade e o Norte agrário foi entrando em declínio. E esse regionalismo surge como uma reação a esse processo de declínio. À medida que as elites perdem a nação, ela se refugia na região e cria um espaço de domínio. Por isso que o Nordeste é sempre pensado no passado e a partir de uma ideia nostálgica e saudosista. Saudade desse domínio perdido e da centralidade que essa área já teve no país e já não tem mais”, pontua.

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    DESMATAMENTO NA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO AUMENTA 546%

    A área desmatada na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco nos últimos quatro anos foi de 638.338 hectares, segundo levantamento concluído recentemente pela iniciativa MapBiomas. Os números revelam que a região do Velho Chico perdeu, de 2019 a 2022, cobertura vegetal equivalente ao tamanho do município de Juazeiro, na Bahia. No total, foram 18.693 alertas de desmatamento. Em 2019, houve 1.087 alertas, enquanto em 2022 tiveram 7.028 – um aumento de 546%.

    Os dados obtidos pelo MapBiomas no mês em que o Rio São Francisco completa 522 anos do seu mais notório registro histórico – feito pelo navegador italiano a serviço de Portugal Américo Vespúcio (1451-1512), em 4 de outubro de 1501 – são um alerta para a necessidade de revitalização da maior bacia hidrográfica do Nordeste.

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    A região do Submédio São Francisco, com 59% de sua área em Pernambuco, 40% na Bahia e 1% em Alagoas, registrou o maior crescimento do número de alertas de desmatamento, passando de apenas oito em 2019 para 2.359 em 2022.

    Os números relativos à perda de vegetação são proporcionais ao incremento dos sistemas de irrigação na Bacia do São Francisco, o que evidencia a conversão da vegetação nativa em área agrícola como uma das principais causas do desmatamento. No mesmo período (2019 a 2022), a área de sistemas de irrigação implantados subiu de 615.815 para 728.949 hectares, um incremento de 18%.

    O avanço do desmatamento e dos sistemas de irrigação ocorre especialmente no Matopiba – acrônimo formado pelas sílabas iniciais dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia -, fronteira de expansão agropecuária sobre o Cerrado.

    PERDA DE ÁGUA: A maior parte da água do Rio São Francisco não está mais no seu leito, e sim em hidrelétricas, reservatórios e até mineradoras. Descontadas essas intervenções humanas, o rio perdeu metade da superfície natural de água desde 1985, como mostrou estudo do MapBiomas divulgado no ano passado, em parceria com o Plano Nordeste Potência.

    “O Velho Chico tem sofrido com intensa exploração de seus recursos naturais. Os usos múltiplos da água e do solo da bacia são muito maiores do que a capacidade de recuperação natural, então precisamos urgentemente investir em sua revitalização”, afirma a analista política do Plano Nordeste Potência, Fabiana Couto. (agenciaeconordeste.com.br)

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    PAPA FRANCISCO ALERTA PARA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: O MUNDO ESTÁ DESMORONANDO

    As reações contra o aquecimento global são insuficientes "enquanto o mundo que nos acolhe está desmoronando e talvez se aproximando de um ponto de ruptura", alertou o papa Francisco em um novo texto publicado nesta quarta-feira (4) e com o título "Laudate Deum".

    Oito anos depois de sua encíclica sobre ecologia "Laudato Si", e poucas semanas antes do início de uma nova rodada de negociações climáticas da ONU (COP28), em Dubai, o papa argentino alertou sobre as "pessoas que tentaram zombar dessa constatação" e pediu uma transição energética "vinculante" que possa ser "monitorada".

    Laudato Si’ é uma encíclica do Papa Francisco publicada em maio de 2015. Ela trata do cuidado com o meio ambiente e com todas as pessoas, bem como de questões mais amplas da relação entre Deus, os seres humanos e a Terra. O subtítulo da encíclica, “Sobre o Cuidado da Casa Comum”, reforça esses temas-chave.

    Uma encíclica é uma carta pública do Papa que desenvolve a doutrina católica sobre um tópico, muitas vezes à luz de eventos atuais. A Laudato Si’ é dirigida a “toda pessoa que habita este planeta”. (LS 3) Por isso, é oferecida como parte de um diálogo contínuo dentro da Igreja Católica e entre católicos e o mundo.

    O que significa Laudato Si’? O título de uma encíclica é normalmente tirado das primeiras palavras do documento. Ou seja: as encíclicas não recebem um título tópico, mas são nomeadas por sua expressão de abertura, muitas vezes sugestiva do tema principal da obra.

    As primeiras palavras da Laudato Si’ são italianas e traduzidas como “louvado sejas”. São uma citação do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis, que abre a encíclica, no qual o santo louva a Deus meditando sobre a bondade do sol, do vento, da terra, da água e de outras forças naturais.

    A escolha dessa passagem para iniciar a Laudato Si’ é um lembrete de como as pessoas de fé devem não apenas respeitar a Terra, mas também louvar e honrar a Deus por meio de seu envolvimento com a criação.

    O BLOG NEY VITAL destaca o  “Capítulo Cinco: Algumas Linhas de Orientação e Ação” aplica o conceito de ecologia integral à vida política. Pede acordos internacionais para proteger o meio ambiente e ajudar os países de baixa renda, novas políticas nacionais e locais, tomadas de decisão inclusivas e transparentes e uma economia ordenada para o bem de todos.

    Por fim, o “Capítulo Seis: Educação e Espiritualidade Ecológicas” conclui a encíclica com aplicações à vida pessoal. Recomenda um estilo de vida focado menos no consumismo e mais em valores atemporais e duradouros. Propõe educação ambiental, alegria no ambiente de cada um, amor cívico, recepção dos sacramentos e uma “conversão ecológica” na qual o encontro com Jesus leva a uma comunhão mais profunda com Deus, com as outras pessoas e com o mundo natural.

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    LIVRO DO POETA, CANTOR COMPOSITOR ALDY CARVALHO É LANÇADO EM SÃO PAULO

    O poeta e cantador, compositor e violonista  petrolinense Aldy Carvalho , realizou no último  sábado, 23 de setembro de 2023, o lançamento nacional de sua mais nova obra literária "O Cavaleiro das Léguas", um romance em versos.

    Mais de 200 pessoas estiveram presentes no lançamento, no espaço cultural da Editora Nova Alexandria  em São Paulo e foram brindadas com pocket show poético  musical com as participações do poeta cordelista *João Gomes de Sá* , da cantora *Marisa Serrano* e do jovem violoncelista *Jorge Lucas* . 

    Até  o final do ano o poeta deverá autografar  o livro em sua terra natal e região. Em novembro, a obra será lançada na Flip- Feira Literária de Paraty (RJ)

    Com "O Cavaleiro das Léguas", Aldy estabelece um rigor literário-magistral em sua multifacetada obra que passeia por diversas linguagens para além da música e literatura. Nesta obra,  o autor  atravessa os horizontes  do cordel, do conto maravilhoso, da fábula, da crônica e do romance na condição da criatividade aberta ao endossar sua verve criativa conectada com a intertextualidade.

    Como observa o educador e ensaísta Ely Verissimo na apresentação da obra, a narrativa de Aldy  é uma "alegoria ética , metáfora tanto da unidade e do equilíbrio  do individuo, reconectado  com sua energia psíquica feminina, quanto do equilíbrio do mundo, reconectando à Justiça" .

    "O Cavaleiro das Léguas", ainda segundo  Ely,  combate  as formas arcaicas de vida, do modo que "as virtudes cavalheirescas já não  se contam mais em batalhas  e torneios  contra outro oponente, mas, no combate  de vida  ou morte contra o reducionismo que a vida  cotidiana engendra, rebaixando o ser  em face aos seus descréditos  tanto no amor  quanto nos valores  mais elevados da espécie humana".

    Ao longo de 35 páginas, a narrativa – que dá cena a um cavaleiro e uma donzela que travam  um duelo verbal – a obra ganha o auxílio luxuoso das ilustrações de Rafael Limaverde, artista visual, xilogravurista e grafiteiro paraense radicado em Fortaleza,CE.  Cada traço, traduz com perfeição a força dos versos que se constroem nas entrelinhas do romance. 

    O Cavaleiro das Léguas transita por um diálogo plural, fazendo a ponte entre o imaginário medieval a desembocar como um rio caudaloso nas entranhas do Nordeste, lugar recorrente  de fala do cantador Aldy Carvalho. Em vários momentos da narrativa do belissimo poema o leitor vai perceber instantes de filosofia nos diálogos de seus personagens: "A vida é feita em pedaços/Aos poucos vamos colando/ A recolagem nos dói/ E dá trabalho ir montando/ Em busca  da completude/ É que seguimos tentado.

    Para o historiador, poeta e folclorista Marco Haurélio  "O Cavaleiro das Léguas" é  um poema ao mesmo tempo lírico  e épico,  com suas evocações  de batalhas travadas, incontáveis,  até  o momento do encontro em que, seguindo as regras do Amor Cortês, Cavaleiro e Donzela travarão um duelo verbal, na verdade, a última  e mais difícil  prova para o herói  que veio de longe."

     Na última página do livro o leitor ainda pode apreciar a partitura  musical de "O Cavaleiro das Léguas", pois o trecho final e apoteótico desse romance já  havia sido musicado por Aldy em canção  emocionante contida no cd "Cantos d'Algibeira" com participação da cantora maranhense  Zélia  Grajaú interpretando a donzela.

    Há  ainda um QR Code que o levará a ouvir a música.

    O livro e outras obras do autor pode ser adquirido em: https://editoranovaalexandria.com.br/

    Ou direto com o autor: pazinko@gmail.com

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    GOVERNO FEDERAL REATIVA PROJETO CONTRA DESERTIFICAÇÃO DO SEMIÁRIDO

    O Ministério do Meio Ambiente (MMA) anunciou nesta semana a retomada do projeto Redeser para conter a expansão da desertificação no Semiárido, iniciativa que tinha ficado paralisada nos últimos quatro anos.

    O programa consiste basicamente em incentivos para produtores rurais e proprietários de terra investirem em sistemas agroflorestais, que mesclam a ocupação do solo com vegetação nativa e culturas agrícolas comerciais.

    A reativação do projeto foi anunciada na sexta pelo biólogo e educado Alexandre Pires, ex-candidato a deputado pelo PSOL, que assumiu a diretoria do departamento de combate à desertificação do MMA em março.

    Governo vai investir R$ 2 bi para segurança na Amazônia Legal

    "A principal missão do projeto Redeser é combater e reverter os processos de desertificação, por meio da gestão integrada de paisagem, manejo florestal sustentável da Caatinga, sistemas agroflorestais e trabalho com apicultura junto a agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais", afirmou Pires.

    Em comunicado, o MMA afirmou que o projeto terá investimento de R$ 19 milhões do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), uma verba que deve ser aplicada antes de 2026.

    Os primeiros projetos contemplados são em Uauá (BA), um dos 14 municípios em quatro territórios considerados essenciais do bioma. Os outros são nas regiões do Seridó (PB/RN), Araripe (CE), Xingó (AL) e Sertão do São Francisco (BA).

    "Atualmente no Brasil existem cerca de 1,3 milhão de km² de áreas suscetíveis à desertificação, num território que ocupa os nove estados da região Nordeste, mais o norte de Minas Gerais e o norte do Espírito Santo, envolvendo 1.500 municípios e uma população de 38 milhões de pessoas",  afirmou o próprio biólogo em vídeo divulgado anteriormente pelo MMA.

    O ministério disse que o projeto tem apoio da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e tem planos de expansão.

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