CENSO ESCOLAR: MAIS DE 650 MIL CRIANÇAS SAÍRAM DA ESCOLA EM TRÊS ANOS

O número de matrículas na educação infantil registrou queda de 7,3% entre os anos de 2019 e 2021. Segundo informações da primeira etapa do Censo Escolar 2021 divulgadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) nesta segunda-feira (31), nesse período, 653.499 crianças de até 5 anos saíram da escola.  

O índice de crianças matriculadas em creches caiu 9% entre 2019 e 2021. A queda mais expressiva foi registada na rede privada, que apresentou uma redução de 21,6% de 2019 a 2021. Na rede pública, a queda foi de 2,3% nesse período. Ao todo, o Censo Escolar 2021 registrou 69,9 mil creches em funcionamento no Brasil.

Em todas as etapas da educação, foram registradas, em 2021, 46,7 milhões de matrículas – cerca de 627 mil a menos em comparação a 2020, o que corresponde a uma redução de 1,3%. A rede municipal atende à maioria (49,6%) dos alunos. A rede estadual é a segunda maior (32,2%), seguida pela privada (17,4%). A União (rede federal) é responsável por 0,8% dos alunos matriculado. O país tem, ao todo, 178,4 mil escolas de educação básica.

O Censo Escolar 2021 apontou estabilidade com relativo aumento do número de matrículas nos anos finais do ensino fundamental. A etapa educacional é a maior entre todas na educação básica, com 26,5 milhões de alunos. Em 2020, o país contabilizou 11.928.415 estudantes do 6º ao 9º ano. Já em 2021, houve 11.981.950 matrículas nesses mesmos anos – um acréscimo de mais de 53 mil alunos.

O levantamento mostrou também que a proporção de alunos do ensino fundamental matriculados em tempo integral voltou a aumentar. Entre 2019 e 2020, a taxa caiu de 9,6% para 7,6% nos anos iniciais e de 9,3% para 6,9% nos anos finais. Já em 2021, foram registrados 8,5% e 9,2%, respectivamente. No caso dos primeiros anos da etapa educacional, o patamar de estudantes em tempo integral é praticamente o mesmo do ano que precedeu a pandemia de covid-19.

De acordo com a pesquisa, também houve aumento no número de matrículas no ensino médio. Foram registrados 7,8 milhões alunos em 2021 – um acréscimo de 2,9% em relação a 2020. Segundo o Inep, há uma tendência de evolução nas matrículas nos últimos dois anos do segmento educacional, com crescimento de 4,1% entre 2019 e 2021. Nessa etapa, o número de alunos em tempo integral aumentou significativamente na rede pública – de 13,8% para 16,4% em um ano. Na rede privada, a evolução foi menor, saindo de 5,4% para 5,8% entre 2020 e 2021.

Redes de ensino: A rede municipal é a principal responsável pela oferta dos primeiros anos do ensino fundamental. São 10,1 milhões de alunos (69,6%), o que corresponde a 84,8% dos alunos da rede pública. Nos anos iniciais, 18% dos alunos frequentam escolas privadas. A proporção do segmento diminuiu 7,1 pontos percentuais entre 2020 e 2021.

Já a rede estadual responde por 40% das matrículas dos anos finais do ensino fundamental, com 4,8 milhões de alunos. Nessa etapa, há uma divisão majoritária de responsabilidade entre estados e municípios – a rede municipal atende 5,3 milhões de alunos (44,7%). As escolas privadas reúnem 15% das matrículas. Ao todo, 12 milhões de estudantes cursam os anos finais do ensino fundamental no Brasil.

A rede estadual tem a maior participação no ensino médio, atendendo 6,6 milhões de alunos (84,5%). Nela, também está a maioria dos estudantes de escolas públicas (96%). Em seguida, estão as redes privada, com cerca de 935 mil alunos (12%), e federal, com 229 mil matrículas (3%), respectivamente.

Educação profissional-O número de estudantes matriculados na educação profissional apresentou queda considerada pequena em meio ao cenário de pandemia. Em 2020, foram registrados 1.936.094 alunos no segmento. Em 2021, foram 1.892.458 matrículas. As matrículas da educação profissional estão principalmente concentradas na rede estadual, representando 42,6% do total, seguida pelas redes privada e federal, com 37,7% e 17,6%, respectivamente.

Censo Escolar-A primeira etapa do Censo Escolar 2021 traz informações sobre todas as escolas, os professores, os gestores e as turmas (nas suas diferentes etapas), além de revelar dados relativos a alunos e suas características.

Em 2021, foram registrados 2,2 milhões de professores e 162.796 diretores na educação básica brasileira. O Censo Escolar 2021 mostrou que maioria dos profissionais que exercem o cargo de direção têm formação superior (89,5%) e é mulher (80,7%).

A segunda etapa do Censo Escolar 2021 será realizada a partir de fevereiro. O Inep aplicará o questionário “Resposta educacional à pandemia de covid-19 no Brasil” pelo segundo ano consecutivo.

O levantamento foi feito pela primeira vez na edição de 2020, com o objetivo de verificar as consequências da crise sanitária no sistema educacional, além de mapear as estratégias adotadas para minimizar os danos no ensino e na aprendizagem. (Fonte: Agencia Brasil)

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VALDI GERALDO, ALEGRIA E BELEZA DA MÚSICA BRASILEIRA GONZAGUEANA

Hoje é dia do aniversário de Valdi Geraldo Teixeira. 

Sempre é bom lembrar: o grande balaio musical de Luiz Gonzaga tem um exuense. A cada viagem que fazia pela região Nordeste Luiz Gonzaga "descobria", encontrava um compositor. Em Caruaru: Onildo Almeida. Rio Grande do Norte o Janduhy Finizola. Paraíba, José Marcolino, Antonio Barros. Em Pesqueira, Nelson Valença. Campina Grande, Rosil Cavalcanti. Arcoverde João Silva. No Rio de Janeiro encontrou o parceiro Humberto Teixeira, nascido em Iguatu, Ceará. José Clementino, em Varzea Alegre. Zé Dantas, em Pernambuco, para citar alguns destes poetas parceiros que deram Luz a obra e vida do Rei do Baião.

E pertinho dele, ali na curva da Chapada do Araripe, em Exu, na sua terra, Valdi Geraldo, o Neguinho do Forró. Músico, compositor de quem Luiz Gonzaga gravou a música "Nessa Estrada da Vida" em 1984 no disco (LP), Danado de Bom. Neguinho do Forró é um desses talentosos compositores que contribui com o reinado de Luiz Gonzaga. 

Valdi é compositor do sucesso da música Nessa Estrada Vida, em parceria com Aparecido José. A história conta que ao ouvir a música Luiz Gonzaga teve paixão de primeira. Tarimbado, o Lua, sabia quando estava diante de uma riqueza musical, viu que melodia, ritmo e harmonia são frutos do seu Reinado. Gravou.

Hoje "Nessa Estrada da Vida" é uma das músicas mais interpretadas no cancioneiro brasileiro. Recebeu regravações de Dominguinhos, Jorge de Altinho, Waldonis, fiéis seguidores e discípulos do Rei do Baião.

Detalhe: o disco "Danado de bom" vendeu mais de um Milhão de cópias, contou com a participação de Elba Ramalho na faixa "Sanfoninha choradeira" (João Silva) e Luiz Gonzaga ganha o Disco de Ouro considerado no mundo musical um dos mais belos trabalhos de um artista brasileiro.

Com a morte de Luiz Gonzaga, em agosto de 1989, foi também em Valdi Geraldo que o Gonzaguinha, o poeta da resistência, que por centenas de vezes caminhou nas estradas, visitando lugares e construindo sonhos no pé da serra do Araripe pensando em concretizar o projeto do Parque Asa Branca, Museu Gonzagão. 

Desde 1999, quando conheci, Valdi Geraldo em Exu, tenho o maior respeito e admiração por este artista. Homem de Bem. Alma de cantador. Ele, não vive comercialmente da música. É funcionário do Ministério da Saúde. Na época produzimos uma reportagem para a TV Grande Rio/Afiliada Globo destacando a obra e vida do Neguinho do Forró. As imagens foram do produtor Luciano Peixinho.

Em 2012, Neguinho do Forró, lançou um CD, Alegria e Beleza do Sertão, uma das composições mais belas da música brasileira, que se junta a larva criativa do poeta. Valdi Geraldo cultiva a simplicidade, ou seja, sabe tratar o povo, que tanto Luiz Gonzaga pedia para não esquecer, e valorizar o seu pedaço de terra se fazendo universal.

Valdi Geraldo está marcado para a eternidade e o Brasil poderia ainda em Vida ser mais grato pela trajetória desse cantor e compositor. Caruaru, Pernambuco, através do pesquisador Luiz Ferreira souberam valorizar o artista e ele, em 2014, recebeu o título troféu Orgulho de Caruaru, através do Espaço Cultural Asa Branca do Agreste.

Luiz Gonzaga é citado por todos os compositores como um mestre na arte de sanfonizar as canções. Sanfonizar é um termo criado pelo próprio Luiz Gonzaga. O pesquisador José Teles, afirma que a maioria dos seus parceiros de Luiz Gonzaga não escondem que cederam parceria para o Rei do Baião, porém, geralmente, suavizam a revelação com um argumento: ninguém interpretaria a composição igual a ele. Ou ressaltam o talento de Gonzagão para “sanfonizar” as composições – ou seja, como usava seus dons de arranjador para enriquecê-las.

Nessa Estrada da Vida segue o poeta compositor Valdi Geraldo, o Neguinho do Forró. Poeta dos bons que caminhada na Luz da Chapada do Araripe.

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COMPORTAS DA USINA SANTA MARIA SERÁ FECHADA A PARTIR DE SEGUNDA-FEIRA (31)

A Cemig informou que vai iniciar o fechamento gradual do vertedouro da Usina Hidroelétrica de Três Marias, na Região Central Mineira. De acordo com a estatal, passados os reflexos do evento chuvoso que produziu o recorde de afluência ao reservatório, a Cemig, a partir de segunda-feira (31) será iniciado o fechamento gradual das comportas.

O vertimento foi capaz de reduzir de 94% para 90% o volume útil do reservatório, sem causar grandes inundações nas cidades abaixo da barragem.

O fechamento será realizado em patamares, da mesma forma que foi realizada a abertura, para evitar impactos à vida aquática do rio São Francisco e proteger os terrenos das planícies naturais ocupada pelas águas. Partindo do patamar final de liberação que hoje totaliza 3.040 m³/s, as reduções seguirão um cronograma conforme abaixo:

31/01/2022, segunda-feira: redução da liberação de vazão para 2.640 m³/s (vazão turbinada + vazão vertida);

01/02/2022, terça-feira: redução da liberação de vazão para 2.200 m³/s (vazão turbinada + vazão vertida);

02/02/2022, quarta-feira: redução da liberação de vazão para 1.640 m³/s (vazão turbinada + vazão vertida);

03/02/2022, quinta-feira: redução da liberação de vazão para 1.300 m³/s (vazão turbinada + vazão vertida);

04/02/2022, sexta-feira: redução da liberação de vazão para 800 m³/s (vazão turbinada e fechamento total do vertedouro).

A Cemig destacou a importância da atuação das Defesas Civis locais, bem como da Defesa Civil Estadual e do IEPHA, auxiliando no acompanhamento dos efeitos da cheia natural que ocorreu ao longo do mês de janeiro.

“É com muita felicidade que se passa pelo evento crítico de maior valor já vivido e, mesmo assim, foi possível garantir a proteção ao importante patrimônio histórico e cultural da bacia do rio São Francisco, o vapor Benjamin Guimarães, que segue atracado para reforma e revitalização”, disse a empresa em comunicado.

Serão 21 dias de vertimento, desde a abertura, no dia 12, até o fechamento total no dia 4, “buscando controlar os possíveis efeitos para o trecho de jusante e dar transparência à operação, bem como garantir tempo hábil para o monitoramento e as ações preventivas dos municípios ribeirinhos”, destacou a Cemig.

As chuvas de dezembro e janeiro foram capaz de produzir a subida no armazenamento do reservatório em mais de 7 metros, o que representou um aumento de mais de 40% em apenas 20 dias. Ainda assim, o poder de amortecimento dessa acumulação de água durante a cheia natural garantiu que o nível na região de Pirapora e Buritizeiro se mantivesse mais baixo que o evento vivenciado no dia 12 de janeiro, quando a usina se mantinha com o vertedouro fechado, mas o rio Abaeté (que deságua após a barragem) por si só foi capaz de produzir uma cota de inundação mais alta que as vividas ao longo desse período de vertimento.

Para os municípios mineiros é visto, pelo monitoramento da Rede Hidrometeorológica Nacional, que já se iniciou o esvaziamento da calha do rio São Francisco. Considerando que para o presente evento o tempo de viagem da cheia natural tem sido bastante lento, para os municípios baianos ainda é esperada a estabilização do nível do rio apenas ao longo deste final de semana.

Previsão de Chuvas-Deve voltar a chover nos próximos dias nas regiões de cabeceira do rio São Francisco e de alguns de seus afluentes

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CANTOR E COMPOSITOR JOÃOZINHO DE EXU PARTICIPA DO PROGRAMA NAS ASAS DA ASA BRANCA-VIVA LUIZ GONZAGA E SEUS AMIGOS

O cantor e compositor Joãozinho do Exu participa neste domingo (30), a partir das 8hs, na Rádio Cidade Am 870, e em todas as plataformas digitais do Programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga e seus Amigos.

Joãozinho do Exu, traz no nome a referência da cidade onde nasceu o Rei do Baião Luiz Gonzaga. É considerado um dos principais compositores da atualidade da música brasileira, basta citar gravações na voz de Dorgival Dantas, Xand do Aviões, Joquinha Gonzaga. 

Na sua trajetória artística e musical gravou Lps com a participação de sanfoneiros da categoria de Severo e Duda da Passira, e produção de João Silva, um dos principais compositores e parceiro e produtor musical dos Lps de Luiz Gonzaga, que na época ficaram entre os mais vendidos.

Joãozinho nasceu na zona rural, Sítio Mandacaru. Herdou o talento do avô tocador de sanfona de 8 Baixos, o Pé de Bode. O talento o fez ganhar o mundo. 

Luiz Gonzaga que sempre foi capaz de reconhecer um talento, o presenteou com uma sanfona. Na época Joãozinho tinha 10 anos. São diversos os sucessos que o Brasil e especial o Nordeste canta embalado nas composições de Joãozinho de Exu. 

Antes do decreto da calamidade devido a pandemia do coronavírus, Joãozinho do Exu, estava programado a gravação do DVD, no Parque Asa Branca, data que também marca o Aniversário do sanfoneiro e teria a presença do cantor e compositor Dorgival Dantas, Fabio Carneirinho, Caninana do Forro, Valdonys, Edson Lima, Joquinha Gozanga, Flavio Leandro, Targino Gondim além de outros, parceiros e amigos que participam desta 'Vida de Viajante".

No programa deste domingo, numa conversa com o jornalista Ney Vital, o cantor Joãozinho de Exu, vai contar a curiosidade que envolve a Barraca Verifique, que por anos foi ponto de parada no Sítio Guaribas, próximo ao Crato Ceará, local onde Luiz Gonzaga "gostava de saborear uma cachaça com catuaba".

Joãozinho também cita amigos e homenagens feitas para valorizar o taleto de Luiz Gonzaga, exemplo Saudade do Rei e O Gonzagão.

"Andou pelo mundo inteiro tocando xote e baião voltou com a sanfona branca pra descansar no sertão. Eu sou Joãozinho do Exu e falo do Gonzagão! Seu Lula guarda a sanfona que agora eu vou falar das coisas lindas do Exu dos belos tempos de lá. Eu era ainda menino ouvindo você tocar!

O tempo foi se passando e o menino cresceu ainda guardo comigo aquele presente seu relembro aquela sanfona que um dia você me deu!

Hoje está tudo mudado tem até irrigação cuidando da plantação. Asa Branca é rodovia cruzando nosso sertão! Chapéu de couro e gibão ainda se vê por lá xaxado, xote e baião dá gosto se escutar. Uma morena bonita uma noite de luar, pois quem visita o Exu um dia tem que voltar! Andou pelo mundo inteiro tocando xote e baião voltou com a sanfona branca pra descansar no sertão. Eu sou Joãozinho do Exu e falo do Gonzagão!

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LIXÕES A CÉU ABERTO AINDA REPRESENTAM PROBLEMA AMBIENTAL NA BACIA DO SÃO FRANCISCO

Mesmo previsto em lei (nº 12.305, em vigor desde 2 de agosto de 2010), a exigência de que todos os rejeitos do país devem ter uma disposição final ambientalmente adequada, a realidade do Brasil, quando se fala em destinação do lixo, ainda é muito precária.

 A Política Nacional de Resíduos Sólidos deu prazo até 2014 para que todos os lixões a céu aberto fossem encerrados e quase oito anos após a data estabelecida, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe), o Brasil ainda conta com mais de 2.700 lixões a céu aberto em funcionamento.

Cerca de 3 mil municípios fazem uso de unidades de destinação inadequadas, em lixões ou em aterros controlados, representando mais da metade das cidades brasileiras nesta situação. Cerca de 730 aterros sanitários, tecnicamente adequados, recebem 59% do total de resíduos gerados diariamente nas cidades do país e só 4% do total de resíduos sólidos urbanos no país são reciclados, ainda de acordo com a Abrelpe.

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) já financiou mais de 100 planos de saneamento básico (PMSB) de municípios da bacia. Deste montante, 67 planos já foram concluídos, em um investimento de mais de R$ 10 milhões. Outros 46 seguem em elaboração e mais seis estão em fase de licitação. Neste novo lote são investidos cerca de R$ 6,5 milhões.

Com os resultados obtidos dos estudos dos PMSBs, verificou-se que boa parte das cidades da bacia enfrentam desafios ao tratar o lixo e dar a destinação adequada. 

“Os problemas associados à destinação inadequada do lixo são muitos, e provocam danos primeiramente ao meio ambiente com a emissão de gases. Às vezes fazem queimadas no próprio lixão, o que piora a qualidade do ar. Segundo, por não terem infraestrutura (manta PEAD de isolamento), o chorume vai todo para os lençóis freáticos, além dos problemas de saúde por proliferação de vetores como, ratos, moscas, baratas e etc”, pontuou o secretário do CBHSF, Almacks Luiz Silva.

A destinação e tratamento adequado do lixo é um dos eixos previstos no saneamento básico, direito assegurado pela Constituição e definido pela Lei nº. 11.445/2007. O Saneamento Básico é definido como o conjunto dos serviços de infraestrutura e instalações operacionais de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana, drenagem urbana, manejos de resíduos sólidos e de águas pluviais.

Dados apontaram que durante o ano de 2020 a geração de resíduos sólidos alcançou um total de aproximadamente 82,5 milhões de toneladas ou 225.965 toneladas diárias. Com isso, cada brasileiro gerou, em média, 1,07 kg de resíduo por dia. Nas regiões Sudeste e Nordeste, por onde passa o Rio São Francisco, 26,6% e 63,7% do lixo, respectivamente, ainda tem disposição inadequada.

A especialista em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Raissa Vitareli, lembra ainda que mesmo após a inativação, os lixões a céu aberto necessitam de ações continuadas. 

“Destaca-se que, apesar de serem grandes problemas, é sabido que o adequado manejo dos resíduos, desde a coleta até a destinação final, exige um grande investimento que os municípios de pequeno porte não possuem. Ademais, uma grande parcela desse investimento refere-se à implantação e manutenção do aterro sanitário. Assim, ainda de maneira geral, os consórcios entre municípios têm se apresentado como uma opção viável para solucionar a destinação inadequada dos resíduos, todavia, destacam-se também outras medidas/ações como capacitar e dar condições adequadas aos catadores, capacitar gestores municipais e a realização de campanhas junto à população para redução do volume de resíduos gerados e para o incentivo à coleta seletiva, dentre outras práticas”.

Diversas cidades da bacia do Rio São Francisco ainda possuem algum grau de dificuldade para tratamento do lixo e destinação adequada dos resíduos

NOVOS PRAZOS: Com a aprovação do novo marco regulatório do saneamento, novas regras e prazos foram definidos para a universalização dos serviços de água, esgoto e para a erradicação dos lixões. Em agosto de 2021, terminou o prazo para que todas as capitais e cidades com mais de 150 mil habitantes resolvessem o problema. Para os municípios com mais de 100 mil habitantes a data limite é agosto de 2022. Em 2023, encerra-se o prazo para os municípios com população entre 50 mil e 100 mil habitantes e em 2024, para cidades com menos de 50 mil habitantes.

“Muitos municípios da Bacia se encontram nesta situação que prevê prazos mais longos, primeiramente devido a Bacia ser composta pela grande maioria de municípios pequenos. E o pior agora pelo favorecimento do prazo na Lei 14.026/2020 (Atualização do Marco do Saneamento) que permite até 2 de agosto de 2024, para Municípios com população inferior a 50 mil habitantes”, acrescentou o secretário do CBHSF.

O engenheiro sanitarista Rafael Meira lembra que um dos problemas associados é a ausência da coleta seletiva nas cidades, ação que poderia reduzir a quantidade de lixo descartado. “A destinação inadequada do lixo, pode ser sim um dos grandes problemas dos municípios, mas além disso, tem o agravante que é a falta da coleta seletiva, porque muitas cidades destinam aos aterros ou lixões, materiais como plástico, metais que poderiam ser reciclados e que infelizmente não são. Essa é uma realidade preocupante, que tem melhorado em cidades do Sudeste, mas ainda precisa avançar mais na região Nordeste”.

A política de saneamento básico e seus eixos, como os serviços de água tratada, coleta e tratamento dos esgotos, quando bem aplicados, levam à melhoria da qualidade de vidas das pessoas, principalmente na saúde das crianças, reduzindo a mortalidade infantil, além de, como consequência, proporcionar melhorias na educação, expansão do turismo, despoluição dos rios e preservação dos recursos hídricos. (FONTE-CHBSF-Juciana Cavalcante)

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BIOGRAFIA E BIOGRAFADOS. CHICO BUARQUE, JORNALISTAS E ROBERTO CARLOS

Rei também tem seu ídolo. E essa admiração do soberano é por um companheiro de profissão. Revelada publicamente em 1993, ela permanece cada vez mais viva e consolidada. São dois grandes cantores e compositores que, diferentemente de boa parte dos seus colegas, atravessaram o tempo e permanecem até hoje atuantes em seu métier. Suas respectivas obras estão definitivamente consolidadas no cancioneiro brasileiro contemporâneo. Assim sendo, já se pode dizer: são atemporais e, portanto, permanecerão para sempre. 

Elas são muito diferentes, mas não divergentes. Isso é da maior importância porque desconstrói alguns mitos sobre a estética e a poética musical na canção. Estou me referindo ao Rei Roberto Carlos, cujo título de nobreza recebeu oficiosamente, é claro, de seus milhões de fãs; e a Chico Buarque, Dois jovens dos anos de 1960, cujo prestígio profissional transcendeu nossas fronteiras para tornar a música popular brasileira ainda mais conhecida e requisitada no exterior.

Depois do movimento da Bossa Nova que internacionalizou definitivamente nossa música, esses dois artistas, embora não sejam os únicos, são, sem dúvida, os principais responsáveis pelo crescimento e consolidação do prestígio internacional da nossa canção popular. Se o estilo e a estética musical de um e de outro são diferentes, se o público de ambos também é diferente, isso é outra história para uma escrita à parte. Importante mesmo é que nada disso interferiu negativamente em seus respectivos trabalhos, muito menos na aceitação dos amantes da música popular. 

Afinal, como todos sabemos, a questão do gosto estético está estreitamente ligada à condição social das pessoas, ao seu grau de informação, ao seu repertório, ao respectivo universo cotidiano em que elas vivem, e em algumas pequenas e importantes sutilezas que não seria possível analisá-las em um só artigo.

Assim sendo, o aforismo popular que diz, “gosto não se discute”, pelo menos nesse caso, definitivamente não procede. Gosto se discute, sim, exatamente para que todos nós possamos analisar, ponderar e aceitar, ou não, uma canção ou qualquer outra coisa. Esta é uma questão de opção exclusivamente pessoal, temos autonomia para esta escolha. É um direito inarredável. Os adjetivos qualificativos como brega, varzeano e cafona, por exemplo, nesse caso não se sustentam no plano teórico. São conceitos de classe social que não resistem a uma análise mais acurada à luz da Sociologia. São vazios, nada explicam. 

Aliás, o sociólogo Pierre Bourdieu já escreveu um trabalho sobre gosto estético e classes sociais que se tornou referência em pesquisas acadêmicas, é sempre bom consultá-lo. Para início de conversa, os adjetivos acima citados, quase sempre são usados como uma manifestação de desprezo pelo gosto estético do outro. Mas não é só isso. Eles revelam também, ainda que de forma velada, um preconceito de classe social. A obra musical de Roberto Carlos nessa época, recebeu forte resistência de alguns segmentos mais politizados do nosso país. Boa parte da intelligentsia brasileira considerava brega seu trabalho musical.

Vivíamos na década de 1960, uma cruel ditadura militar que, entre torturas e censuras, deixava o país atônito, a população insegura e à margem de uma participação política. Não havia eleições para os cargos mais importantes do poder Executivo, e até mesmo durante algum tempo nem para o poder Legislativo. Era a época dos políticos biônicos. Os militares sempre agiam, não só ao arrepio da lei, mas também não tomavam conhecimento nem da nossa Constituição.

Por conta desse quadro sinistro, havia um certo maniqueísmo político extremamente nocivo ao país. Para as organizações de esquerda, quem não se engajasse politicamente contra a ditadura militar era visto com muita desconfiança. 

E, ainda em alguns casos, era considerado mesmo reacionário. Por sua vez, as organizações de direita e o próprio Estado repressivo agiam da mesma forma, mas com muita truculência. Quem não os apoiasse era considerado comunista, corria risco de prisão e, consequentemente, de vida. Enfim, vivíamos naquele momento, em um país inteiramente ideologizado tanto pela direita, quanto pela esquerda. Mas, quem dava o tom de tudo e o que prevalecia mesmo, era a insensatez e a truculência de ambas as partes, não havia nenhuma chance de diálogo. Para ser mais preciso, a força-bruta era diuturna por parte do governo autocrático. Ideologizava-se a literatura, a música, enfim, cultura, as relações sociais e, lamentavelmente, a própria ciência.

Nessa luta política não havia mediação, ou você era comunista ou reacionário. O autoritarismo militar não poupava vidas dos seus adversários políticos. Esta era uma época em que o discurso político-ideológico radical reinava soberano. Com este quadro político sombrio e perigoso, era natural que ocorresse a esperada diáspora também nas artes do país e, portanto, na música popular. E isso de fato aconteceu. 

É nesse momento que os jovens artistas integrantes do programa Jovem Guarda passam a ser vistos por certos setores da imprensa brasileira como reacionários, alienados politicamente e de mau gosto. Um estigma sem nenhum fundamento, porque rigorosamente não eram nada disso. E para fazer justiça a eles, é bom que se diga o seguinte: muitos artistas do programa Jovem Guarda, entre eles, o líder Roberto Carlos, viviam um início promissor, um momento particularmente importante em sua carreira profissional de artistas populares. Suas canções versavam quase sempre sobre temas como o amor, a paixão, as festas, os carrões, o abandono pela namorada, enfim, uma narrativa quase pueril e inofensiva. Não era um discurso engajado politicamente, mas também não era alienado. Não tinha nada a ver com aquele clima nefasto e soturno que vivia o país.

Em seu texto poético, quase sempre predominava o que chamamos de função emotiva da linguagem, cujo objetivo da mensagem é impactar, emocionar e sentimentalizar o discurso para o ouvinte. Eles não tinham a dimensão exata do que estava ocorrendo na política do seu país. Esta situação contribuiu enormemente para que no início da carreira, Roberto Carlos recebesse forte oposição por parte da imprensa que se considerava de esquerda. Ainda assim, ele conseguiria sobreviver profissionalmente, o que não ocorreu com grande parte do elenco que integrava o programa Jovem Guarda.

Pois bem, seria natural que toda essa luta política interferisse nas obras musicais de Roberto Carlos e de seu ídolo Chico Buarque. Eles, aliás, sempre tiveram respectivamente, em suas canções, os componentes formais (melodia, harmonia, ritmo, intensidade, timbre, densidade, altura e duração) e estilos estéticos diferentes. Isto não significa, evidentemente, que uma obra seja melhor que a outra por terem seus componentes formais e estilos estéticos distintos. 

Significa, isto sim, que elas são esteticamente diferentes, mas não divergentes em sua qualidade como corriqueiramente já estamos quase acostumados a ouvir. Todas as vezes que vemos alguém hierarquizar a qualidade de uma obra sobre a outra, devemos ficar atentos ao seguinte: subjaz a esta ação um preconceito elitista de classe social que pode ser consciente ou não, mas ele existe.

Apenas para sintetizar e finalizar esta questão, podemos dizer que a obra do Rei e do seu ídolo, sempre caminharam e caminham paralelas e autônomas desde os anos de 1960. Devemos reconhecer, aliás, que aquela década foi pródiga com a música popular brasileira. Em 1965, o grande sucesso da canção Quero que vá tudo pro inferno abriu as portas para a criação do programa Jovem Guarda. De agosto daquele ano, até o início de 1968, a televisão Record liderava absoluta a audiência aos domingos apresentando justamente Roberto Carlos em seu programa Jovem Guarda.

Com ele, estavam lançadas as bases para a continuidade de um movimento musical jovem, que mais tarde seria chamado “rock brasileiro”, e que mudou sensivelmente os rumos da nossa música popular. Até porque, um pouco mais tarde, nas décadas posteriores, surgem inúmeras bandas de Rock, a partir de 1980 como, por exemplo, Barão Vermelho e Blitz, entre outras, misturando-se aos ritmos como o samba, a marcha, o samba-canção e o próprio rock’n’roll que chegara ao Brasil em meados dos anos de 1950, com Bill Halley, Little Richard e Elvis Presley, principalmente.

Simultaneamente, o jovem Francisco Buarque de Holanda, também em 1965, mostrava ao público de seu país a canção Pedro Pedreiro. Tratava-se de um samba apresentando o perfil do que viria ser mais tarde, boa parte do seu trabalho musical e a construção literária dos textos poéticos nas suas canções ao longo das décadas subsequentes. A justiça social, sua obstinada luta pela democracia, a dor, mas também o amor, nossa condição humana e os problemas existenciais por que passam as pessoas, foram e continuam sendo temas prioritários na sua obra musical e literária.

Passados cinquenta e sete anos da apresentação de Pedro Pedreiro, a extensa e consagrada obra musical de Chico Buarque dispensa comentários. Em nosso cancioneiro ela goza do mais alto prestígio, não apenas da crítica, mas também do grande público. Entre seus colegas cantores e compositores a situação não é diferente. O Rei Roberto Carlos, por exemplo, é um dos grandes entusiastas da obra de Chico Buarque. Certa ocasião fez questão de declarar publicamente ser grande fã e admirador do autor de Carolina, como veremos adiante.

Ao contrário das canções de Roberto Carlos, a obra musical de Chico Buarque nos anos de 1970, incomodou e irritou muito os governos militares. Intérprete de rara habilidade com as palavras e de excepcional domínio do nosso vernáculo, em algumas de suas canções dessa época o compositor de Construção e Roda Viva se valia dos recursos que as figuras de linguagem nos oferecem, e que podemos aqui chamar de “fugas” discursivas do idioma, uma vez que a literalidade da comunicação seria inevitavelmente censurada. 

Afinal, vivíamos sob uma ditadura implacável e inescrupulosa. Para não ter problemas com o censor, Chico Buarque usava, entre outros recursos, figuras de linguagem como a metáfora, a alegoria e a paródia em boa parte de suas canções. Com isso, ele se valia ainda de um recurso semântico cuja interpretação do significado das suas palavras, versos e expressões, tinham sempre um caráter conotativo e polissêmico.

Com essa legítima estratégia, diversas de suas canções passaram pela censura. Em algumas delas lhe foi sugerido fazer algumas modificações para serem aprovadas e ele as fez, mas nada que mudasse a intenção do seu texto poético. Ainda assim, o álbum de sua autoria intitulado Calabar, de 1973 foi inteiramente censurado. Tratava-se da trilha sonora de uma peça de teatro também de sua autoria com o mesmo nome. Mas talvez o maior drible de Chico Buarque na censura tenha ocorrido em 1974, quando lançou o álbum Sinal Fechado. Ele gravou canções da autoria de outros compositores, e apenas uma era sua. Chama-se Acorda amor, mas não tem seu nome como autor, e sim o pseudônimo por ele escolhido, que se chamava Julinho da Adelaide. A censura não percebeu, aprovou, liberou e pronto, ficou tudo bem.

Pelo que vimos até aqui, Roberto Carlos e Chico Buarque, duas grandes referências da nossa música popular há mais de cinquenta anos, possuem carreiras paralelas, mas muito diferentes no plano estético e especialmente no tocante ao próprio discurso de cada um. As respectivas funções poéticas das suas canções, como vimos acima, embora não sejam convergentes, não são também divergentes como explico na narrativa do texto. Isto é importante sim, mas por diversos motivos, a relação de amizade, de cordialidade entre esses dois grandes artistas, não é menos importante para a história da nossa música popular como vamos ver agora.

Há mais de trinta anos, a Rede Globo de Televisão vai ao ar com seu tradicional programa de natal apresentando Roberto Carlos Especial. No ano de 1993, entre os convidados estava lá Chico Buarque. Desde os anos de 1970, época da ditadura militar, ele que não tinha um bom relacionamento com a Rede Globo, foi proibido em toda a sua programação. No entanto, em ainda 1993, momentaneamente deixou o problema de lado e aceitou o convite do amigo Roberto Carlos. Até porque, já vivíamos uma democracia e as proibições pereceram, sobraram apenas ressentimentos.

Caro leitor, melhor do que minhas palavras para explicar esse encontro histórico entre os dois, são as palavras sinceras e emocionadas do Rei Roberto Carlos. Antes de anunciar Chico Buarque ao palco, ele começa a cantar a canção Carolina de autoria do seu amigo, composição de 1967. Intencionalmente, antes de terminar a interpretação desta música ele para de cantar e inicia a apresentação de Chico Buarque exatamente assim:

“Um dos maiores, senão o maior compositor que o Brasil já conheceu em todos os tempos de sua história; o maior pra mim!! Francisco Buarque de Holanda!!! Meu orgulho, minha alegria, a minha felicidade, a minha satisfação!!! Que alegria, que alegria Chico, quanto tempo eu esperava por esse momento, que bom rapaz!!!”

Chico responde: “eu também, ensaiei vinte anos pra vir aqui”.

A emoção e o orgulho com que Roberto Carlos apresentou Chico Buarque em seu programa foi completamente diferente de outras ocasiões. Ele estava totalmente tomado pela emoção e em nenhum momento tentou dissimular. Foi espontâneo em tudo, até no longo e apertado abraço com beijo de afeto no rosto do amigo. O Rei, enfim, depois de tantas tentativas, finalmente realizou o desejo levar seu ídolo ao Roberto Carlos Especial, em 1993.

Passados treze anos daquele encontro entre amigos, o jornalista Paulo Cesar de Araújo publicou a biografia não autorizada de Roberto Carlos em 2006, e causou uma grande polêmica. Na tramitação do processo movido pelo Rei para vetar a venda do livro, a justiça acolheu sua reivindicação e a obra foi recolhida. Paulo Cesar, no entanto, recorreu da decisão ao Supremo Tribunal Federal (STF) e, finalmente, em junho de 2015 ganhou a causa. Após essa decisão final, houve muitas manifestações contra e a favor do Rei Roberto Carlos. Tudo girava em torno do direito à liberdade de expressão, da censura e do contraponto de invasão da privacidade.

Com a decisão do Supremo, a justiça deu o caso por encerrado. Convém se observar, porém, que a própria justiça tem duas interpretações para o mesmo caso. A primeira decisão foi favorável ao Rei Roberto Carlos, mas a segunda deu ganho de causa a Paulo Cesar de Araújo, mas não totalmente. Talvez a fala mais esclarecedora e que sintetiza a decisão do STF tenha sido a do Ministro Dias Toffoli quando diz: “este dispositivo que estamos a julgar não está dando nenhum tipo de autorização plena ao uso da imagem das pessoas, ao uso da vida privada das pessoas de uma maneira absoluta, por quem quer que seja, havendo ainda a possibilidade de intervenção judicial no que pertine aos abusos, às inverdades manifestas, aos prejuízos que ocorram a uma dada pessoa. Isso não é censura, nem afronta à liberdade de expressão.”

Perfeita e inteligente interpretação. Se por um lado, o STF é a maior instituição jurídica do país, por outro lado, há que se considerar uma divergência de opiniões e interpretações jurídicas para o mesmo caso dentro do poder judiciário. Vale ainda registrar, que ambas as decisões, uma a favor de Roberto Carlos e a outra contra, foram tomadas tenho como base, evidentemente, a Constituição brasileira.

Em entrevista ao médico e escritor Dráuzio Varela, Paulo Cesar de Araújo afirma não haver como estabelecer limite sobre o que se abordar ou não, em uma biografia. Em suas palavras fica assim: “… o que não se pode é proibir porque não é possível estabelecer o limite …”. Pois bem, mas a coisa não é bem assim. As palavras do Ministro Dias Toffoli apontam para uma solução muito inteligente e que poderá resolver futuramente questões similares a esta.

De minha parte, quero sugerir ao biógrafo Paulo Cesar, que é possível sim, estabelecer limite sobre o que se abordar ou não, em uma biografia autorizada ou não autorizada, tanto faz. Para isso, basta ser sempre ético com seus biografados, e isso não aconteceu no caso da biografia de Roberto Carlos. A ética é algo fundamental e que se deve manter sem tergiversações. Especialmente quando alguém se propõe a escrever sobre a vida alheia, seja esta pessoa desconhecida, figura pública ou uma celebridade, como é o Rei Roberto Carlos. Se tivesse acontecido isso, teria grandes chances de dar certo, e não haveria necessidade de invocar a justiça. 

O que não se pode é deixar a ética de lado, talvez até por conveniência à procura do sucesso, não se sabe, alegando o cerceamento da liberdade de expressão e o direito ao livre arbítrio. A ética nunca será incompatível com nossa condição humana, devemos respeitá-la sempre. É plenamente compatível a coexistência dos valores morais e éticos, com a liberdade de expressão e o direito ao livre arbítrio. Seria ainda de grande valia para Paulo Cesar, ler o parecer do Ministro Dias Toffoli. Temos muito a pensar e a aprender com suas palavras.

Finalizo aqui registrando o que escreveu Chico Buarque, ao defender o Rei Roberto Carlos acusado de ter censurado sua biografia escrita por Paulo Cesar de Araújo. Este jornalista tornou-se conhecido, não pela qualidade do seu trabalho biográfico, e sim pelas desavenças com o Rei Roberto Carlos, uma celebridade não apenas da música popular brasileira, mas da canção internacional.

Em seu artigo intitulado Penso eu, publicado no jornal O Globo em 16/10/2013, Chico Buarque inicia a defesa de seu amigo Roberto Carlos, com uma fina ironia quando diz o seguinte: “pensei que o Roberto Carlos tivesse o direito de preservar sua vida pessoal. Parece que não. Também me disseram que sua biografia é a sincera homenagem de um fã. Lamento pelo autor que diz ter empenhado 15 anos de sua vida em pesquisas e entrevistas com não sei quantas pessoas, inclusive eu. Só que ele nunca me entrevistou.

” Um pouco mais tarde, Chico Buarque se desculpou com Paulo Cesar de Araújo. Lembrou que realmente deu uma entrevista ao jornalista, mas não exclusiva sobre sua relação de amizade com Roberto Carlos. Ao longo de todo o texto, há diversos exemplos de invasão de privacidade mencionados. Todos eles, claro, rechaçados por Chico Buarque. Mas é no último parágrafo que está a síntese de todo o artigo e do assunto que trata da censura e invasão da privacidade. Vejamos:

“Nos anos 70 a TV Globo me proibiu. Foi além da Censura, proibiu por conta própria imagens minhas e qualquer menção ao meu nome. Amanhã a TV Globo pode querer me homenagear. Buscará nos arquivos as minhas imagens mais bonitas. Escolherá as melhores cantoras para cantar minhas músicas. Vai precisar da minha autorização. Se eu não der, serei eu o censor.”

Pois é, este foi um momento em que o ídolo do Rei decidiu usar seu talento no trato com as palavras para fazer justiça à sua majestade e, por extensão, a si próprio.

Waldenyr Caldas, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP

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DECRETO REGULAMENTA LEI DA CHANCELA DA PAISAGEM CULTURAL DO CEARÁ

O governador Camilo Santana assinou o Decreto que regulamenta a lei que institui a Chancela da Paisagem Cultural do Ceará (lei Nº17.606, de 6 de agosto de 2021), abrindo possibilidades de várias porções do território cearense solicitarem essa Chancela a fim de fortalecer a preservação do seu patrimônio cultural, complementando e integrando outros instrumentos de promoção e proteção já existentes na legislação cearense, como tombamentos e registros.

Um grupo de instituições públicas e privadas solicitou o primeiro pedido de Chancela da Paisagem Cultural do Ceará para a Chapada do Araripe. O pedido será analisado pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (Coepa) nesta quinta-feira (27), por meio da constituição de uma equipe de avaliação.

A Chancela Estadual fortalece a candidatura da Chapada do Araripe como Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e à Cultura (Unesco), em curso desde 2019, a partir da realização de um Seminário sobre o tema, ocorrido em Nova Olinda, envolvendo a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Ceará (Sema) e Secretaria do Turismo do Estado do Ceará (Setur), além da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), Universidade Regional do Cariri (Urca), o sistema Fecomércio, a Fundação Casa Grande e o Geopark Araripe.

A lei que estabelece a chancela da Paisagem Cultural do Ceará tem por objetivo promover um pacto entre o poder público, a sociedade civil e a iniciativa privada, visando à gestão compartilhada de porção do território cearense assim reconhecido, considerando o caráter dinâmico da cultura e da ação humana frente à natureza, com as transformações inerentes ao desenvolvimento econômico e social sustentáveis.

O Pacto convencionado para proteção da Paisagem Cultural do Ceará chancelada prevê ainda a elaboração de um Plano de Gestão a ser acordado entre diversas entidades, órgãos e agentes públicos e privados envolvidos, com acompanhamento da Secult.

Qualquer pessoa física ou jurídica é parte legítima para requerer a instauração de processo administrativo visando à chancela. Conforme a Lei, o requerimento para Paisagem Cultural deverá ser dirigido à Secult), que irá instaurar processo administrativo, coordenar, analisar e instruir. A aprovação da Chancela será realizada pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural  COEPA) e comunicada aos municípios onde a porção territorial estiver localizada.

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FLÁVIO BAIÃO PROMOVE A PRIMEIRA EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO COM SHOWS DE JOÃOZINHO DE EXU, SILAS FRANÇA E MATHEUS DO ACORDEON

O cantor e sanfoneiro Flávio Baião comemora nesta sexta-feira (28), a Primeira edição de Aniversário no Espaço Baião Nordeste, localizado na Avenida Flaviano Guimarães, Juazeiro Bahia.

A partir das 20hs terá show com o cantor e compositor Joãozinho de Exu, Silas França e Matheus do Acordeon.

FLÁVIO BAIÃO: Flávio Baião nasceu no dia 28 de janeiro de 1968. Flávio Marcelo Mendes da Silva, o Flávio Baião é a síntese de um seguidor do forró feito por Luiz Gonzaga, Trio Nordestino e Dominguinhos. Ele é fiel ao valorizar o nome artístico que ganhou: Flávio Baião. 

Inspirado no tradicional chapéu de couro e sua simplicidade de ribeirinho nascido nas margens do Rio São Francisco Flávio é baião já gravou cinco Cds e 1 DVD. 

No chiado da sanfona, na batida da zabumba e no zunido do triângulo, esse músico segue difundido os autênticos ritmos nordestinos. Coco, baião, xote xaxado e arrasta- pé são as palavras de ordem desse grande cantor. Da sua voz ecoa melodias que revelam o jeito de ser e de viver do seu povo, suas músicas são marcadas pelo calor festivo presente no sertanejo; sendo o sol o maior dos holofotes a iluminar esse artista que, de tão apaixonado pela sanfona, adotou por sobrenome Baião.

Flávio conta que desde criança foi embalado pelas canções de Luiz Gonzaga, no vai e vem das quadrilhas juninas. "Minha mãe, dona Belinha é a responsável por tudo que faço em nome da cultura". 

Em 2015, o sanfoneiro, cantor e compositor Flávio Baião recebeu da Câmara de Vereadores de Juazeiro, a Comenda Doutor Pedro Borges Viana. A Comenda é uma forma de agradecer e homenagear pessoas que prestam relevantes serviços a comunidade. Flávio Baião atualmente além de inúmeros shows beneficentes é responsável por uma Escola de Música, que atende crianças e adolescentes no aprendizado da sanfona e outros instrumentos. Flávio Baião no ano de 2013 gravou o seu primeiro DVD-Feiras do Nordeste. 

JOÃOZINHO DE EXU; Joãozinho do Exu, traz no nome a referência da cidade onde nasceu o Rei do Baião Luiz Gonzaga. É considerado um dos principais compositores da atualidade, tendo gravações na voz de Dorgival Dantas, Xand do Aviões. Na sua trajetória artística e musical gravou Lps com a participação de sanfoneiros da categoria de Severo e Duda da Passira, e produção de João Silva, um dos principais compositores da música brasileira, e parceiro e produtor musical dos Lps de Luiz Gonzaga, que na época ficaram entre os mais vendidos.

Joãozinho nasceu na zona rural, Sítio Mandacaru. Herdou o talento do avô tocador de sanfona de 8 Baixos, o Pé de Bode. O talento o fez ganhar o mundo. 

Luiz Gonzaga que sempre foi capaz de reconhecer um talento, o presenteou com uma sanfona. Na época Joãozinho tinha 10 anos. São diversos os sucessos que o Brasil e especial o Nordeste canta embalado nas composições de Joãozinho de Exu. 

Antes do decreto da calamidade devido a pandemia do coronavírus, Joãozinho do Exu, estava programado a gravação do DVD, no Parque Asa Branca, data que também marca o Aniversário do sanfoneiro e teria a presença do cantor e compositor Dorgival Dantas, Fabio Carneirinho, Caninana do Forro, Valdonys, Edson Lima, Joquinha Gozanga, Flavio Leandro, Targino Gondim além de outros, parceiros e amigos que participam desta 'Vida de Viajante".

HOMENAGEM AO REI: "Andou pelo mundo inteiro tocando xote e baião voltou com a sanfona branca pra descansar no sertão. Eu sou Joãozinho do Exu e falo do Gonzagão! 

Seu Lula guarda a sanfona que agora eu vou falar das coisas lindas do Exu dos belos tempos de lá. Eu era ainda menino ouvindo você tocar! O tempo foi se passando e o menino cresceu ainda guardo comigo aquele presente seu relembro aquela sanfona que um dia você me deu! Hoje está tudo mudado tem até irrigação ogando a seca pra fora cuidando da plantação. Asa Branca é rodovia cruzando nosso sertão!

Chapéu de couro e gibão ainda se vê por lá xaxado, xote e baião dá gosto se escutar. Uma morena bonita uma noite de luar, pois quem visita o Exu um dia tem que voltar!

Andou pelo mundo inteiro tocando xote e baião voltou com a sanfona branca pra descansar no sertão. Eu sou Joãozinho do Exu e falo do Gonzagão!

SILAS FRANÇA: Silas França, tem 22 anos, acordeonista, ele integra uma nova geração de músicos. Nascido em Juazeiro, Bahia a música teve início muito cedo em sua vida."O meu pai Professor, e Pastor, também músico amador...me colocou gosto, desde cedo na arte. Antes de falar eu já solfejava", conta Silas.

Virtuoso e estudioso, dedicado e inspirado, Silas é capaz de com a mesma firmeza ter no repertório o melhor da música brasileira, jazz e forró. Apaixonado por música ele de forma autodidata, no início tocou violão, gaita de boca e outros instrumentos. "O Acordeon veio para derrubar tudo o que conhecia, entre os 13 e 14 anos de idade, para uma melhor comunicação musical também aderi ao forró, a música tradicional nordestina".

Silas revela que a  inspiração nos palcos e por onde anda se apresentando e fazendo palestras é em Luiz Gonzaga,  Sivuca, Oswaldinho do acordeon, Chiquinho do acordeon, Waldonys, mas de especial do Grande Dominguinhos.

Uma de suas grandes referências está no juazeirense João Gilberto. "Foi um grande amigo da minha família (Meu Avô e seus irmãos e irmãs) e para mim o que existe de mais "Brasil" para o mundo. Novos baianos, Dominguinhos, Armando Macedo, Luiz Gonzaga, Toninho ferragutti, Alexandro Kramer (Bêbe)...dentre vários mestres"

O músico aponta que gosta das possibilidades que a sanfona propõe. "É um instrumento riquíssimo e no meu caso é fácil se encontrar com as várias línguas dele. Minha família é de origem Italiana, isto me incentivou a pesquisa maior para com o instrumento, e junto as minhas referencias me encontro no mesmo contexto de pluralidade instrumental", finaliza Silas.

A sanfona é o principal instrumento das festas populares do mundo. Fascina pela sua sonoridade, pela diversidade de modelos e gêneros, mas seu encanto transcende o poder da música, porque desperta um afeto misterioso. 

Talvez pelo fato de ficar junto ao coração do sanfoneiro, ou, quem sabe, por ser um instrumento que é abraçado ao se tocar. Ou ainda, por ser um instrumento que respira. O fato é que a sanfona une as pessoas e é amada por todos os povos.

Silas é um exemplo e distribui o prazer de tocar na vida de viajante, qual os mestres Luiz Gonzaga e Dominguinhos.

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FORRÓ DO POEIRÃO FAZ HOMENAGEM A CANTORA E SANFONEIRA DE 8 BAIXOS, CHIQUINHA GONZAGA

O Forró do Poeirão 2022,  acontece no sábado (29), a partir das 13hs, em Ouricuri-Pernambuco, na Churrascaria Chico Guilherme.  O evento é coordenado pelo cantor e compositor Tacyo Carvalho e produção de Alzeni Suzart.

O Forró do Poeirão já é tradição e a cada aumenta o número de forrozeiros que participam da Festa. O objetivo é valorizar e prestar uma homenagem a todos os amigos, admiradores e seguidores de Luiz Gonzaga. Este ano o Forró do Poeirão faz homenagem a irmã do Rei do Baião, a cantora e sanfoneira de 8 baixos, Chiquinha Gonzaga.

Forró do Poeirão faz homenagem no próximo sábado (29), a primeira mulher a tocar uma sanfona de oito baixos nos anos 50 foi a  cantora e compositora Chiquinha Gonzaga, irmã do Rei do Baião.

Chiquinha Gonzaga, irmã do Rei do Baião Luiz Gonzaga nasceu no dia 11 de dezembro de 1925. Se fosse viva estaria completando 97 anos. Chiquinha costumava dizer em vida dizer: "É preciso manter a tradição de meu pai Januário, o  maior sanfoneiro de oito baixos que o Nordeste já teve". Generoso, disposto a arrumar trabalho para a família inteira, Luiz Gonzaga criou o grupo Os Sete Gonzagas, formado por ele, o pai e mais cinco irmãos, incluindo, mesmo sob os protestos de dona Santana.

A cantora e compositora Francisca Januária dos Santos, Chiquinha Gonzaga, "partiu para o Sertão da Eternidade, aos 85 anos, no ano de 2011, era a caçula dos irmãos de Luiz Gonzaga. 

Em vida sua história foi marcada por desafios. Chiquinha enfrentou o machismo da sociedade. Irmã de Luiz Gonzaga, também seria vítima do mesmo tipo de preconceito ao arriscar as primeiras notas na sanfona de  oito baixos do pai, mestre Januário. Proibida de tocar pela mãe, Dona Santana, Chiquinha só aos 74 anos gravou um disco inteiro dedicado a sanfona de 8 Baixos. Méritos de Gilberto Gil que bancou a idéia, produziu o CD e encorajou sua volta aos palcos.

Chiquinha e o compositor baiano ficaram amigos durante as filmagens, de "Viva São João!", documentário dirigido por Andrucha Waddington. No filme, um entusiasmado relato das festas juninas em 19 cidades do Nordeste, os dois visitam Exu, cidade da família Gonzaga, e relembram histórias do rei do baião e do sertão pernambucano. Na oportunidade Gilberto Gil prometeu que iria ajudar Chiquinha a voltar a gravar.

Devoto do baião, Gil já tinha feito o mesmo agrado ao irmão mais velho de Chiquinha, mergulhado no ostracismo no fim da década de 60, depois do  surgimento da bossa nova e da jovem guarda. O compositor baiano gravou "17 Légua e Meia", antigo sucesso de Gonzagão, no álbum "Gilberto Gil" - que contém "Cérebro Eletrônico"-, em 1969. Outro tropicalista, Caetano Veloso  (exilado em Londres), repetiria a homenagem dois anos mais tarde, numa histórica regravação de "Asa Branca".

O álbum "Pronde Tu Vai, Luiz?", lançado de forma independente, conta com a participação de Gilberto Gil na faixa-título, originalmente gravada por Gonzagão em 1954, num dueto com a irmã. Há outros convidados ilustres, como o tocador de gaita e acordeonista gaúcho Renato Borghetti, mas quem brilha mesmo é Chiquinha.

Chiquinha Gonzaga participou com a família, do show de lançamento da TV Tupi e gravou cinco LPs (Filha de Januário, em 1973; Xodó na Rede, em 76; Penerou Xerém, em 78; Chiquinha Gonzaga e Severino Januário e Forró com Malícia, ambos em 80). Em 2002 gravou o CD Pronde tu vai, Lui?, com participação de Gilberto Gil. Estrela em programas de rádio, apresentou-se em Nova York e, de tão bem que dançava o forró, ficou conhecida como pé de ouro.

Chiquinha nas suas conversas contava que esperava os pais partirem para o trabalho na roça para que ela pudesse pegar a sanfona num canto do quarto de Seu  Januário. A farra durava pouco. Quase sempre era pega em flagrante pela mãe. "Larga isso, menina! Isso é coisa pra homem!", censurava Dona Santana.

A emancipação só veio em 1949, quando Luiz Gonzaga, já desfrutando da fama de sanfoneiro no Rio de Janeiro, como autor de "Baião", "Asa Branca" e "Juazeiro", comprou um caminhão e mandou buscar a família em Exu (Gonzagão queria que os parentes viajassem de avião, mas Seu Januário, indignado - ou com medo-, disse que não era urubu para andar pelos céus).

Tanto Seu Januário como Dona Santana, enraizados em Pernambucano, nunca pensaram em deixar o Estado. Achavam, aliás, que o Sul do país não era lugar para o "menino" Luiz se aventurar.

Mudaram de idéia e foram para o Rio de Janeiro. A viagem para o Rio de Janeiro durou  vários dias ("tinha até fogão dentro do caminhão", lembrava Chiquinha), mas  valeu a pena, principalmente para a jovem cantora.

A popularidade do irmão explodiu na década de 50 e Chiquinha, mesmo sem tocar sanfona, passou a cantar forró em pequenas casas noturnas do Rio. No embalo do irmão gravou cinco LPs e estrelou programas de rádio. 

Chiquinha sempre lembrava de histórias curiosas dessa fase. Como chegou a desfrutar  de um relativo sucesso, algumas pessoas passaram a confundi-la com a musicista carioca de mesmo nome, morta 20 anos antes, em 1935. "Eu achava que esse tipo de confusão nunca aconteceria. Mas ficava assustava quando pediam para eu cantar 'Ô Abre-Alas' (marcha carnavalesca de estrondoso sucesso, composta em 1899)", recorda-se Chiquinha.

Gonzagão, principal incentivador da irmã e seu padrinho musical, tratou de desfazer a confusão. Passou a apresentá-la aos donos de casas noturnas e empresários como "Chiquinha Gonzaga, a Cantadora de Forró". Ela lembra que, mesmo assim, sempre havia alguém que estranhava a ausência do piano clássico no palco.

"É preciso manter a tradição de meu pai Januário, o maior sanfoneiro que o Nordeste já teve", dizia Chiquinha, cantarolando "Respeita Januário", um dos grande sucessos de Gonzagão: 'Luiz, respeita Januário/ Luiz, respeita Januário/ Luiz, tu pode ser famoso mas teu pai é mais tinhoso/ E com ele ninguém vai, Luiz/ Respeita os oito baixo do teu pai/ Respeita os oito baixo do teu pai." 

"Chegou a hora de respeitar os oito baixos da irmã de Luiz Gonzaga, o eterno Gonzagão", brincava a cantora em vida.

A cantora, compositora e sanfoneira Chiquinha Gonzaga, morreu no ano de 2011, aos 85 anos. Segundo a família, ela sofria de Mal de Alzheimer.

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TÁCYO CARVALHO: FORRÓ DO POEIRÃO 2022 ACONTECE NESTE SÁBADO (29), NO RESTAURANTE CHICO GUILHERME, EM OURICURI

O Forró do Poeirão 2022,  acontece no sábado (29), a partir das 13hs, em Ouricuri-Pernambuco, na Churrascaria Chico Guilherme.  O evento é coordenado pelo cantor e compositor Tacyo Carvalho e produção de Alzeni Suzart.

O Forró do Poeirão já é tradição e a cada aumenta o número de forrozeiros que participam da Festa. O objetivo é valorizar e prestar uma homenagem a todos os amigos, admiradores e seguidores de Luiz Gonzaga. Este ano o Forró do Poeirão faz homenagem a irmã do Rei do Baião, a cantora e sanfoneira de 8 baixos, Chiquinha Gonzaga.

Tacyo Carvalho é cantor e compositor, organizador do Forró do Poeirão. O Forró do Poeirão dá visibilidade aos músicos e ao próprio forró. “O projeto amplia o espaço para os artistas divulgarem seus trabalhos e já se tornou um grande encontro onde os amigos fazem a confraternização. O compromisso é o legado deixado por Luiz Gonzaga”.

Tácyo ganhou o apelido de Luiz Gonzaga: o garotão de Ouricuri. Isto aconteceu devido a popularidade que Tácyo Carvalho atingiu apresentando programas de Rádio no Rio de Janeiro e sendo um dos responsáveis em divulgar a vida e obra de Luiz Gonzaga nos meios de comunicação no sudeste. 

Tácyo é o autor de Trem do Sertão, uma das mais belas músicas do cancioneiro brasileiro. 

Interessados entrar em contato com Alzeni Suzart  (whatsApp)71 992943603

"O forró do poeirão já é um sucesso e é uma oportunidade de fazermos um grande encontro, confraternização de amigos e amantes da boa música e valorizar nosso forró, xote e baião", define Tacyo Carvalho.

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FILME EDUARDO E MÔNICA: DÁ VONTADE DE LEVANTAR DA POLTRONA E APLAUDIR PARA A TELA

Quando Renato Russo cantou que não há razão nas coisas feitas pelo coração, ele não estava errado. Eduardo e Mônica é uma canção que inevitavelmente acabou criando dois personagens populares da música brasileira e consequentemente tornou-se referência para o famigerado "opostos se atraem". Finalizada em 2019, a adaptação cinematográfica levou um tempão para ser concluída e ainda mais dois longos anos para chegar às telonas por conta da pandemia da covid-19.

É necessário explicar esse contexto para mensurar a tamanha responsabilidade na hora de trazer dois personagens tão significativos e eternizados na música do Legião Urbana para uma narrativa audiovisual. Uma vez que quanto maior a distância entre a expectativa e realidade, maior a frustração, o diretor René Sampaio mexe com a memória afetiva do brasileiro e também com a cultura nacional entregando uma história sem beirar o surrealismo — e que pode estar acontecendo mais perto do que imaginamos.

Eduardo e Mônica é, sobretudo, um filme sobre paixão e para os apaixonados — mas não no sentido de entregar uma comédia romântica repleta de elementos escapistas para dias difíceis.

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René Sampaio propõe uma reflexão praticamente universal sobre a romantização das diferenças e como a realidade pode ser um tanto dura para os românticos incorrigíveis. Quando Renato Russo contou uma história sobre duas pessoas absolutamente diferentes uma da outra (seja na faixa etária até a assuntos mais complexos, como posicionamentos sociopolíticos), pouco se pensou o quão difícil seria viver esse romance na prática, e a realidade acaba sendo bem distante do romance que os versos da canção propõem: chega um momento que o amor é o de menos.

Isso pode acabar ressoando em cada um de maneira dolorosa, quase sem pedir licença; mas Sampaio conta essa história de um jeito bem natural e fluido, sem dar margens para aqueles sem decepções amorosas dizerem qualquer coisa sobre a mudança de tom da música. Não existe.

Numa realidade, seja em 2022 ou 1986, seja em Brasília ou no Rio de Janeiro, há um momento em que a própria vida exige sintonia nos passos em que damos, e Eduardo e Mônica traz esse momento de consciência de forma sutil e discreta na superfície, mas que arranha no interior — exatamente como acontece na vida real.

Tal como qualquer início de relacionamento, a paixão mascara essas diferenças à princípio, mas depois elas passam a se tornar características gritantes e decisivas para uma eventual ruptura. Eduardo e Mônica não as romantiza por si só, apenas as mostra sendo romantizadas no começo por ambas partes do relacionamento como acontece em qualquer outro.

Tudo está aqui: as falhas de comunicação que indicam o fim e a impaciência para resolver crises minúsculas, mas que mostram serem um acumulado de diversos outros incômodos.

O diretor ainda oferece uma reflexão sobre os paradigmas que nós mesmos criamos quando ouvimos essa história pela primeira vez. Mônica (Alice Braga) é uma mulher com espírito livre, rockeira e muito inteligente — como o músico eternizou em seus versos. Eduardo (Gabriel Leone) de fato está prestando vestibular e não é o melhor aluno em sua turma, porém o interessante de se acompanhar é como Sampaio explora o coração tão puro como o de uma criança de seu personagem, capaz de quebrar as barreiras que Mônica construiu ao seu redor.

No final das contas, o tão esperado ensino sobre amadurecimento acaba virando-se como alguém gira um tabuleiro do avesso: a inocência (e até mesmo ingenuidade) de Eduardo mesclado ao seu entusiasmo pelo agora e paixão pela vida acabam dando à Mônica a maturidade que todos acreditavam que ela tinha.

Eduardo e Mônica, nesse aspecto, quebra a ideia de que idade e autonomia são relativos a maturidade emocional; René Sampaio mergulha o longa nessa reflexão e forma um bolo na garganta de cada espectador. A forma como ressoa, no entanto, é muito particular de cada um: seja transbordando em lágrimas nos créditos finais ou tendo vontade de levantar da poltrona e aplaudir para a tela.

"E QUEM ME IRÁ DIZER QUE NÃO EXISTE RAZÃO"-No final das contas, Eduardo e Mônica acontece mais perto do que imaginamos. O que se mostrou inicialmente ser uma canção com um conto de fadas moderno sobre opostos acaba se tornando, na prática, uma novela adulta e urbana: com longos expedientes, cansaço mental, parentes repletos de pré-conceitos, grupos de amigos com diferentes costumes e distâncias que são mais díficeis de lidar do que o esperado.

O filme mostra que, na prática, as coisas são diferentes, e mesmo trazendo um final feliz como o próprio Renato Russo propusera, existe aqui a ideia de "pessoa certa na hora errada" ou a vontade de fazer dar certo independentemente de qualquer coisa.

Ambientado numa Brasília que se reerguia da Ditadura Militar e mergulhado em clássicos do rock 'n roll e da música oitentista estrangeira, Eduardo e Mônica fecha o ano (ou inicia 2022) celebrando o cinema nacional e dando vigor à uma das mais populares histórias de amor brasileiras.

Eduardo e Mônica está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil (Fonte:  Beatriz Vaccari-Jornalista pela Universidade Metodista de São Paulo. Apaixonada por cinema, literatura e música)

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LIVE MEMÓRIA E POESIA ACONTECE NESTA QUINTA-FEIRA 27

Um sarau virtual. É assim que os organizadores da live “Memória e poesia” estão chamando o evento que vai ao ar nesta quinta-feira (27), às 17h20, no Canal “Cultura do Sertão do Araripe”, para celebrar a história e a cultura do povoado de Poço Dantas, localizado na cidade de Santa Cruz (Sertão).

A ideia da iniciativa, que foi contemplada com os recursos da Lei Aldir Blanc em Pernambuco, é mostrar um pouco dessa memória coletiva do povoado, com poesias que estão no imaginário do povo sertanejo.

HISTÓRICO - Há 12 anos, Luzia Barbosa, moradora da comunidade de Poço Dantas, fundou o “Memorial Sertanejo”, um museu que reúne em seu acervo todo tipo de objeto que faz parte da vida do povo do Sertão, como moinhos, selas e candeeiros.

Instalado numa casa centenária, pertencente à paróquia local, o acervo conta atualmente com mais de 200 peças, todas doadas por moradores da comunidade de Poço Dantas, da cidade de Santa Cruz e sítios vizinhos.

TRANSMISSÃO - A live trará um pouco dessa história e fará um tour pelo “Memorial Sertanejo”, ouvirá depoimentos e, através de um recital, poetas da região representarão em versos um pouco desse universo histórico e cultural que faz parte o Memorial Sertanejo e a comunidade de Poço Dantas. Além de Luzia Barbosa, participam da live os poetas Juarez Nunes e Ramírio Nunes. A transmissão será feita pelo link: www.youtube.com/watch?v=hu2DMvyOu7Q.

Serviço: Live “Memória e poesia”, com as participações de Luiza Barbosa, Juarez Nunes e Ramírio Nunes

Quando: 27 de janeiro (quinta-feira), às 17h20

Transmissão pelo link: www.youtube.com/watch?v=hu2DMvyOu7Q.

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RÁDIO CONTINUA VANGUARDA PELA CAPACIDADE DE MEXER COM A IMAGINAÇÃO DAS PESSOAS, DIZ PUBLICITÁRIO WASHINGTON OLIVETTO

O rádio passa por uma profunda transformação diante do avanço do áudio digital. Apesar das mudanças sofridas, ele preserva um conjunto de características que o torna capaz de absorver e explorar uma série de inovações, na avaliação de especialistas que compuseram a mesa de discussão “30 anos da CBN: das ondas ao podcast, o futuro do áudio”, no Palco do Conhecimento, na Rio Innovation Week.

Para Washington Olivetto, publicitário e fundador da W/GGK, da W/Brasil e da WMcCann, tanto o rádio quanto o podcast - que se popularizou nos últimos anos - possuem capacidade singular de lidar com a instantaneidade e a imaginação do público se comparado aos demais meios de comunicação:

"O rádio continua vanguarda por ter duas características imbatíveis: a instantaneidade e a capacidade de mexer com a imaginação das pessoas. Esse tipo de imaginação o rádio sempre vai ter e o podcast também. E isso bem produzido tem tudo para ser cada vez mais sucesso, seja para os anunciantes que apostaram nisso, seja para as agências que precisam de prestígio para trabalho criativo".

Márcia Menezes, head de Jornalismo Digital da Globo, destaca que o formato do áudio traz “uma temperatura do que está acontecendo” e mistura, no jornalismo, a informação com a “emoção e a verdade”.

Isso permite, avalia, que o mercado teste programas em áudio com formatos de curta e longa duração, a depender do consumo. A revolução trazida pelos podcasts, inclusive, expõe o potencial do áudio digital no mercado brasileiro:

— A voz traz o componente do humano, da verdade. Fizemos uma pesquisa em 2020 no Brasil que mostra que os novos formatos de áudio entram muito nas áreas urbanas, especialmente Sudeste e capitais do Nordeste. Ele captura - seja jornalismo ou entretenimento - várias gerações, especialmente entre os jovens a partir de 15 e 16 fala muito com a população brasileira, com a classe C.

Na avaliação de Marcelo Kischinhevsky, professor e pesquisador de Rádio da UFRJ, o rádio se adaptou melhor ao ecossistema digital do que a televisão aberta no país, que “demorou a entender o novo contexto de concorrência''.

Ele avalia que o rádio está cada vez mais inserido na lógica multiplataforma ao passo em que está presente no smartphone, nas mídias sociais, na TV por assinatura e até nos smart speakers (assistentes de voz). Uma das próximas tendências para os próximos anos, diz, será o formato de “rádio híbrido”:

A BMW, por exemplo, fechou um acordo para ter equipado nos veículos de fábrica o rádio híbrido, que inclui o rádio digital via internet e o analógico. Você clica no painel do seu carro e ele busca nos dois formatos o melhor sinal e coloca pra tocar pra você. Além disso, tem outras coisas sendo estudadas no rádio híbrido que envolve a escuta não linear, em que o usuário pode ter acesso a listas de músicas que vão tocar na rádio e pular o que não quer ouvir ou ouvir fora daquela ordem, podendo voltar ao fluxo normal à qualquer momento. São algumas das novidades a nível internacional.

Para Washington Olivetto, uma das frentes que ainda precisam ganhar corpo no Brasil é o investimento publicitário em áudio digital. Há vasto potencial de crescimento na área, diz ele:

— Historicamente, o que fez o sucesso da publicidade brasileira foi a boa relação entre agências, veículos e anunciantes. Mais do que nunca, agora com o rádio, podcasts e a possibilidade de alguns assumirem características visuais, é fundamental que agências e anunciantes de veículos estejam unidos para a gente começar a fazer coisas cada vez de maior qualidade. (Fonte: O Globo)

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PALESTRA GRATUITA EM JUAZEIRO VAI ENSINAR TÉCNICAS PARA VENCER O MEDO DE FALAR EM PÚBLICO

Quem deseja vencer o medo de falar em público e se expressar com desenvoltura poderá participar gratuitamente da palestra "Comunicação é Poder", ministrada pelo professor de Oratória Paulo Ricardo Moreira. 

O evento acontecerá dia 02 de fevereiro (quarta-feira), às 19h, na Faculdade UNIBRAS Juazeiro-BA, localizada na Rua do Paraíso,  bairro Santo Antônio (ao lado da Univasf). As inscrições podem ser feitas pelo fone/zap (87)98852-3517. Estão sendo disponibilizadas 50 vagas. 

Na palestra, o professor abordará técnicas sobre como vencer a timidez; sobre o uso correto da voz e das expressões corporais e qual o caminho para falar bem em público.

"Dominar essas técnicas de Oratória coloca o profissional em uma posição de destaque no mercado de trabalho. De acordo com uma recente pesquisa do Linkedin, a comunicação  tornou-se a habilidade mais valorizada pelos empregadores durante a pandemia", afirmou Paulo Ricardo


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RIO SÃO FRANCISCO: CENÁRIO DE PUJANÇA DO VELHO CHICO É NOVAMENTE VISTO APÓS 14 ANOS DE ESCASSEZ HÍDRICA


Com vazão de 4.000 metros cúbicos por segundo (m³/s) a partir do Reservatório de Sobradinho, na Bahia, o Rio São Francisco apresenta, hoje (24), o maior nível de água em seu curso natural dos últimos 13 anos, no trecho que atravessa o Nordeste. O rio permanecerá nesse patamar até o próximo dia 1º de fevereiro, quando haverá nova divulgação.

A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) está realizando operação especial de controle de cheia do rio desde o dia 12 de janeiro, com aumento programado e gradativo da vazão, e vem mantendo diálogo com prefeituras, defesas civis, associações, Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco e outras entidades, para atuação desses órgão quanto a ações de prevenção e orientação dos usuários.

A operação é necessária mediante condição de cheia declarada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em articulação com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), provocada pelas fortes chuvas ocorridas em Minas Gerais.

“Estamos permanentemente avaliando a situação hidrológica e qualquer alteração de vazão será informada com antecedência, como temos feito. Os reservatórios que temos ao longo do São Francisco permitem um controle do nível do rio, acumulando água. Entretanto, o período úmido do rio se estende até abril”, explicou o diretor João Henrique Franklin.

“Neste momento, não há sinalização de que haverá nova elevação da vazão além dos 4.000 m³/s”, acrescentou o diretor.

A Chesf emitiu alertas para que as autoridades competentes pudessem tomar medidas preventivas para casos de possíveis inundações e, também, para orientação de todos os usuários.

Na carta enviada às prefeituras e usuários cadastrados, a Companhia não afasta a hipótese de ter de praticar vazão maior que 4.000 m³/s no decorrer do presente período úmido, a depender da evolução das chuvas na Bacia do São Francisco.


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EMPODERAMENTO DAS MULHERES APICULTORAS E MELIPONICULTORAS DO SERTÃO DO SÃO FRANCISCO

As mulheres do campo têm ganhado maior visibilidade no trabalho com a apicultura e com a meliponicultura no território Sertão do São Francisco, localizado no Norte da Bahia. A atividade desempenhada com as abelhas têm ajudado a subverter a lógica do machismo, além de melhorar a renda de muitas famílias, garantir o empoderamento feminino e a sustentabilidade ambiental.

Margarida Ladislau é presidente da Associação de Apicultores de Sento-Sé (AAPSSE), localizada na zona rural da cidade de Sento-Sé, no norte da Bahia. O empreendimento que também é atendido pelo Centro Público de Economia Solidária Sertão do São Francisco (CESOL-SSF), realiza o trabalho de forma coletiva, através do beneficiamento do mel da abelha apis melífera (com ferrão).

A trabalhadora, antes de ser presidente da Aapssé, era conhecida na localidade como Margarida da comunidade de Andorinhas. "Minha comunidade não tinha costume de trabalhar com abelhas. Quando iam tirar, cortavam as colmeias e matavam as abelhas. Comecei a trabalhar com elas, me apaixonei, passei a capturar os enxames e a cuidar das pequenas", explicou Margarida.  

A apicultora fez parte da fundação da Aapssé. Toda articulação para a formação da associação teve início na década de 1990, mas a formalização somente aconteceu em 2002. A associação surgiu com o propósito de reduzir o êxodo de jovens para a cidade.

 De acordo com Margarida, os associados viram na comunidade um espaço propício para a criação de abelhas e após diversos treinamentos e capacitações, a ideia que era apenas um projeto piloto se tornou realidade e surgiu o trabalho com a marca Balaio da Caatinga.

"Fui gostando do trabalho e trazendo outras pessoas para a luta. Para mim, trabalhar com as abelhas é muito mais do que tirar o mel para vender. É uma terapia", afirmou a apicultora.

"LUGAR DE MULHER É ONDE ELA QUISER": Ao longo de sua trajetória de 20 anos de trabalho com abelhas, Margarida já passou por diversas situações de preconceito e machismo, uma vez que a apicultura, por muito tempo, foi tratada como uma atividade exclusivamente masculina. Porém, aqui no Sertão do São Francisco, as mulheres têm andado na contramão da história, reescrevendo uma nova realidade.  A apicultora afirmou que já ouviu várias frases de descrédito, mas nunca se deixou abalar com nenhum comentário e nunca teve medo em trabalhar com as abelhas com ferrão.

"Primeiro, começaram a dizer que a gente não podia com o peso das caixas. Depois, que teríamos medo das abelhas, que seria difícil. Não é difícil!  Não temos medo das abelhas! Acreditava-se que somente os homens poderiam fazer as atividades e que a gente deveria ficar apenas na casa do mel. Superamos as dificuldades e mostramos que, se a caixa é pesada, juntamos várias mulheres e levantamos o peso com motivação e cantando 'companheira me ajude, eu não posso andar só. Eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor'", pontuou Margarida.  

DE MÃE PARA FILHA: UMA TRADIÇÃO DE FAMÍLIA- Cinco horas da manhã e o sol está despontando no horizonte. A apicultora e associada da Aapssé, Iara Nogueira (32) já está de pé para o trabalho com as abelhas. Ela realiza toda a atividade de manejo, o processo de alimentação, limpeza das caixas, o transporte das melgueiras até a casa do mel, a higienização, recepção, a desperculação, processo de abertura do favo para ser colocado na centrífuga. Após a decantação, o produto é envazado, rotulado e colocado para a comercialização.

"O manejo com as abelhas nos proporciona o empoderamento, pois a sociedade determinou que a apicultura é um trabalho pesado, desempenhado apenas por homens e não é verdade. Nós aqui na Aapssé fazemos tudo, dividimos os pesos e temos muito cuidado em cada processo", explicou Iara Nogueira.

O trabalho com as abelhas surgiu em 2008, no início do casamento, através de um projeto idealizado por Iara e o marido. A paixão tem influenciado a pequena Iandra Nogueira (10), que sonha em seguir a profissão dos pais, quando tiver na idade adulta. A menina não realiza nenhuma atividade em campo, mas tem curiosidade em conhecer e para isso, a mãe Iara comprou um Equipamento de Proteção Individual (EPI) para que a filha pudesse ir a campo observar o trabalho realizado pela família.

"Minha mãe sempre diz que na hora certa eu vou fazer as atividades lá. Ela só deixa ir olhar depois da aula e das atividades da escola feitas. Eu gosto muito das abelhas e não tenho medo delas", afirmou Iandra.

GERAÇÃO DE RENDA E EMPODERAMENTO:  Sento-Sé e Remanso, dois extremos separados pelo maior Lago Artificial da América Latina, o Lago de Sobradinho, têm em comum a atividade da apicultura e o empoderamento das mulheres. São 320km de estrada e duas horas de viagem por embarcação.

A apicultora Nilmaria Santos reside na comunidade de Lages, em Remanso. Ela é responsável pelo empreendimento Flores da Caatinga. A jovem empreendedora se destaca na comunidade pela criatividade na produção. "É uma profissão que gera renda não só para mim, como também para as pessoas que estão junto comigo", pontuou Nilmária.

Além do mel da abelha apis melífera (com ferrão), Nilmara também trabalha com a pasta de pólen, geoprópolis, o hidromel e o mel de mandaçaia e com muita criatividade consegue desenvolver seus equipamentos de trabalho.

Ela explica que quando iniciou na apicultura, ouviu muitas críticas por ser mulher. "Trabalho com abelhas, porque foi a profissão que me identifique. Fui muito criticada por ser mulher, muitos diziam que mulher não consegue trabalhar como apicultora, mas comecei a me dedicar e a mostrar que lugar de mulher é onde ela quiser", afirmou a apicultora.

BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE- O mel da abelha apis melífera e da abelha Melipona Quadrifasciata, popularmente conhecida como Mandaçaia possui inúmeros benefícios para a saúde.  O produto ajuda a aumentar a imunidade do corpo, auxilia no tratamento da tosse e inflamações de garganta, ajuda a evitar doenças cardiovasculares e a hipertensão, entre outros.

Na comunidade de Melosa em Remanso, a apicultora Rosângela Gonçalves, responsável pelo Apiário e Meliponário Flores do Sertão, comercializa o mel de mandaçaia, o mel de apis, o geoprópolis, o extrato de própolis, a pasta de pólen, favo de mel, o hidromel e o melomel. A ideia em trabalhar os subprodutos do mel surgiu como alternativa para abertura de novos mercados, pois o apiário não possuía mel suficiente para ser comercializado com o atravessador. E veio a grande surpresa: os produtos conquistaram mais mercados do que o próprio mel.

A apicultora passou a se identificar com o ofício em 2013, após a conclusão de um curso técnico e investiu na meliponicultora e apicultura. Mulher, mãe, esposa, apicultora, Rosângela tem conseguido driblar os estigmas do machismo.  

Um grande diferencial no trabalho da meliponicultora é a criação da abelha Mandaçaia, espécie sem ferrão, mansa, que pode ser criada próximo das residências, porém o manejo exige atenção e cuidados redobrados.

"Não é fácil trabalhar com as melíponas. Já pensei várias vezes em desistir. O mel de mandaçaia é muito sensível, e difícil no combate de pragas e doenças. Requer atenção, observação diária e é difícil dar conta da casa, do filho e trabalho, mesmo compartilhando as atividades com o esposo", explicou a meliponicultora.

COMERCIALIZAÇÃO: Os produtos das apicultoras de Remanso e Sento-Sé podem ser encontrados na loja de Economia Solidária Empório Meu Sertão, que fica na rua Canafístula, nº 148, bairro centenário, em Juazeiro-BA.  (FONTE: CESOL-SSF)

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