SEMINÁRIO SOBRE SUSTENTABILIDADE DO JORNALISMO ACONTECE ENTRE OS DIAS 25 A 27 DE NOVEMBRO

A Capital cearense volta a ser palco dos grandes debates sobre o jornalismo brasileiro, com a realização de dois eventos simultâneos: o Seminário Nacional Sustentabilidade do Jornalismo e o II Encontro Estadual de Jornalistas de Imagem e Profissionais da Comunicação do Ceará (II EEJIC). As atividades acontecerão de 25 a 27 de novembro deste ano, no auditório do Sebrae/CE (Av. Monsenhor Tabosa, 777, Centro).

Numa realização da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce), os eventos pretendem reunir cerca de 200 participantes entre estudantes e professores de Jornalismo, profissionais da mídia e demais interessados.  As inscrições podem ser feitas AQUI.

O Seminário Nacional Sustentabilidade do Jornalismo vai aprofundar o debate sobre a proposta da FENAJ de taxação das grandes plataformas digitais e criação do Fundo Nacional de Apoio e Fomento ao Jornalismo (Funajor), uma das pautas prioritárias da categoria para o novo governo brasileiro. O evento tem apoio da Fundação Friedrich Ebert (FES) e da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ).

“O Jornalismo sofre reiteradas crises no mundo inteiro, em especial no Brasil, com o fim do modelo de negócios baseado na publicidade para a sustentação financeira dos veículos de mídia e a ação predatória das chamadas big techs na captura desses recursos”, comenta a presidenta da FENAJ, a cearense Samira de Castro. “O crescimento da desinformação em massa, por outro lado, evidencia que precisamos cada vez mais fortalecer o Jornalismo e o trabalho dos jornalistas”, acrescenta.

Já o II EEJIC acontece exatamente dez anos depois da sua primeira edição, realizada em setembro de 2012, e tem o objetivo de debater as questões pertinentes aos jornalistas de imagem (repórteres fotográficos e cinematográficos, ilustradores e diagramadores). Entre os temas, a importância dessas funções nos registros jornalísticos, como as guerras e a pandemia de Covid-19, além da própria organização sindical e os direitos trabalhistas destes profissionais.

“O Sindjorce tem uma sólida atuação na defesa dos interesses dos jornalistas de imagem e vem buscando, a cada dia, garantir o cumprimento dos direitos convencionados desse segmento”, afirma o presidente da entidade, Rafael Mesquita. Para ele, a organização da categoria é fundamental para o enfrentamento coletivo dos desrespeitos e para a garantia de valorização desses trabalhadores.

SERVIÇO: Seminário Nacional Sustentabilidade do Jornalismo

II Encontro Estadual de Jornalistas de Imagem e Profissionais da Comunicação do Ceará (II EEJIC)

25, 26 e 27 de novembro de 2022

Local: Auditório do Sebrae/CE (Av. Monsenhor Tabosa, 777, Centro).

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CONFIRA NA INTEGRA O PRIMEIRO DISCURSO DO PRESIDENTE LULA ELEITO NESTE DOMINGO (30)

Confira a íntegra o primeiro discurso do presidente eleito,Luiz Inácio Lula da Silva:

"Meus amigos e minhas amigas.

Chegamos ao final de uma das mais importantes eleições da nossa história. Uma eleição que colocou frente a frente dois projetos opostos de país, e que hoje tem um único e grande vencedor: o povo brasileiro.

Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora.

Neste 30 de outubro histórico, a maioria do povo brasileiro deixou bem claro que deseja mais – e não menos democracia.

Deseja mais – e não menos inclusão social e oportunidades para todos. Deseja mais – e não menos respeito e entendimento entre os brasileiros. Em suma, deseja mais – e não menos liberdade, igualdade e fraternidade em nosso país.

O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que exercer o direito sagrado de escolher quem vai governar a sua vida. Ele quer participar ativamente das decisões do governo.

O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que o direito de apenas protestar que está com fome, que não há emprego, que o seu salário é insuficiente para viver com dignidade, que não tem acesso a saúde e educação, que lhe falta um teto para viver e criar seus filhos em segurança, que não há nenhuma perspectiva de futuro.

O povo brasileiro quer viver bem, comer bem, morar bem. Quer um bom emprego, um salário reajustado sempre acima da inflação, quer ter saúde e educação públicas de qualidade.

Quer liberdade religiosa. Quer livros em vez de armas. Quer ir ao teatro, ver cinema, ter acesso a todos os bens culturais, porque a cultura alimenta nossa alma.

O povo brasileiro quer ter de volta a esperança.

É assim que eu entendo a democracia. Não apenas como uma palavra bonita inscrita na Lei, mas como algo palpável, que sentimos na pele, e que podemos construir no dia-dia.

Foi essa democracia, no sentido mais amplo do termo, que o povo brasileiro escolheu hoje nas urnas. Foi com essa democracia – real, concreta – que nós assumimos o compromisso ao longo de toda a nossa campanha.

E é essa democracia que nós vamos buscar construir a cada dia do nosso governo. Com crescimento econômico repartido entre toda a população, porque é assim que a economia deve funcionar – como instrumento para melhorar a vida de todos, e não para perpetuar desigualdades.

A roda da economia vai voltar a girar, com geração de empregos, valorização dos salários e renegociação das dívidas das famílias que perderam seu poder de compra.

A roda da economia vai voltar a girar com os pobres fazendo parte do orçamento. Com apoio aos pequenos e médios produtores rurais, responsáveis por 70% dos alimentos que chegam às nossas mesas.

Com todos os incentivos possíveis aos micros e pequenos empreendedores, para que eles possam colocar seu extraordinário potencial criativo a serviço do desenvolvimento do país.

É preciso ir além. Fortalecer as políticas de combate à violência contra as mulheres, e garantir que elas ganhem o mesmo salários que os homens no exercício de igual função.

Enfrentar sem tréguas o racismo, o preconceito e a discriminação, para que brancos, negros e indígenas tenham os mesmos direitos e oportunidades.

Só assim seremos capazes de construir um país de todos. Um Brasil igualitário, cuja prioridade sejam as pessoas que mais precisam.

Um Brasil com paz, democracia e oportunidades.

Minhas amigas e meus amigos.

A partir de 1º de janeiro de 2023 vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somo um único país, um único povo, uma grande nação.

Não interessa a ninguém viver numa família onde reina a discórdia. É hora de reunir de novo as famílias, refazer os laços de amizade rompidos pela propagação criminosa do ódio.

A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra.

Este país precisa de paz e de união. Esse povo não quer mais brigar. Esse povo está cansado de enxergar no outro um inimigo a ser temido ou destruído.

É hora de baixar as armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas. Armas matam. E nós escolhemos a vida.

O desafio é imenso. É preciso reconstruir este país em todas as suas dimensões. Na política, na economia, na gestão pública, na harmonia institucional, nas relações internacionais e, sobretudo, no cuidado com os mais necessitados.

É preciso reconstruir a própria alma deste país. Recuperar a generosidade, a solidariedade, o respeito às diferenças e o amor ao próximo.

Trazer de volta a alegria de sermos brasileiros, e o orgulho que sempre tivemos do verde-amarelo e da bandeira do nosso país. Esse verde-amarelo e essa bandeira que não pertencem a ninguém, a não ser ao povo brasileiro.

Nosso compromisso mais urgente é acabar outra vez com a fome. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer, ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário.

Se somos o terceiro maior produtor mundial de alimentos e o primeiro de proteína animal, se temos tecnologia e uma imensidão de terras agricultáveis, se somos capazes de exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo brasileiro possa tomar café da manhã, almoçar e jantar todos os dias.

Este será, novamente, o compromisso número 1 do nosso governo.

Não podemos aceitar como normal que famílias inteiras sejam obrigadas a dormir nas ruas, expostas ao frio, à chuva e à violência.

Por isso, vamos retomar o Minha Casa Minha Vida, com prioridade para as famílias de baixa renda, e trazer de volta os programas de inclusão que tiraram 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza.

O Brasil não pode mais conviver com esse imenso fosso sem fundo, esse muro de concreto e desigualdade que separa o Brasil em partes desiguais que não se reconhecem. Este país precisa se reconhecer. Precisa se reencontrar consigo mesmo.

Para além de combater a extrema pobreza e a fome, vamos restabelecer o diálogo neste país.

É preciso retomar o diálogo com o Legislativo e Judiciário. Sem tentativas de exorbitar, intervir, controlar, cooptar, mas buscando reconstruir a convivência harmoniosa e republicana entre os três poderes.

A normalidade democrática está consagrada na Constituição. É ela que estabelece os direitos e obrigações de cada poder, de cada instituição, das Forças Armadas e de cada um de nós.

A Constituição rege a nossa existência coletiva, e ninguém, absolutamente ninguém, está acima dela, ninguém tem o direito de ignorá-la ou de afrontá-la.

Também é mais do que urgente retomar o diálogo entre o povo e o governo.

Por isso vamos trazer de volta as conferências nacionais. Para que os interessados elejam suas prioridades, e apresentem ao governo sugestões de políticas públicas para cada área: educação, saúde, segurança, direitos da mulher, igualdade racial, juventude, habitação e tantas outras.

Vamos retomar o diálogo com os governadores e os prefeitos, para definirmos juntos as obras prioritárias para cada população.

Não interessa o partido ao qual pertençam o governador e o prefeito. Nosso compromisso será sempre com melhoria de vida da população de cada estado, de cada município deste país.

Vamos também reestabelecer o diálogo entre governo, empresários, trabalhadores e sociedade civil organizada, com a volta do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

Ou seja, as grandes decisões políticas que impactem as vidas de 215 milhões de brasileiros não serão tomadas em sigilo, na calada da noite, mas após um amplo diálogo com a sociedade.

Acredito que os principais problemas do Brasil, do mundo, do ser humano, possam ser resolvidos com diálogo, e não com força bruta.

Que ninguém duvide da força da palavra, quando se trata de buscar o entendimento e o bem comum.

Meus amigos e minhas amigas.

Nas minhas viagens internacionais, e nos contatos que tenho mantido com líderes de diversos países, o que mais escuto é que o mundo sente saudade do Brasil.

Saudade daquele Brasil soberano, que falava de igual para igual com os países mais ricos e poderosos. E que ao mesmo tempo contribuía para o desenvolvimento dos países mais pobres.

O Brasil que apoiou o desenvolvimento dos países africanos, por meio de cooperação, investimento e transferência de tecnologia.

Que trabalhou pela integração da América do Sul, da América Latina e do Caribe, que fortaleceu o Mercosul, e ajudou a criar o G-20, a UnaSul, a Celac e os BRICS.

Hoje nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo.

Vamos reconquistar a credibilidade, a previsibilidade e a estabilidade do país, para que os investidores – nacionais e estrangeiros – retomem a confiança no Brasil. Para que deixem de enxergar nosso país como fonte de lucro imediato e predatório, e passem a ser nossos parceiros na retomada do crescimento econômico com inclusão social e sustentabilidade ambiental.

Queremos um comércio internacional mais justo. Retomar nossas parcerias com os Estados Unidos e a União Europeia em novas bases. Não nos interessam acordos comerciais que condenem nosso país ao eterno papel de exportador de commodities e matéria prima.

Vamos re-industrializar o Brasil, investir na economia verde e digital, apoiar a criatividade dos nossos empresários e empreendedores. Queremos exportar também conhecimento.

Vamos lutar novamente por uma nova governança global, com a inclusão de mais países no Conselho de Segurança da ONU e com o fim do direito a veto, que prejudica o equilíbrio entre as nações.

Estamos prontos para nos engajar outra vez no combate à fome e à desigualdade no mundo, e nos esforços para a promoção da paz entre os povos.

O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a Floresta Amazônica.

Em nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia, diminuindo de forma considerável a emissão de gases que provocam o aquecimento global.

Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazônia

O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva. Uma árvore em pé vale mais do que toneladas de madeira extraídas ilegalmente por aqueles que pensam apenas no lucro fácil, às custas da deterioração da vida na Terra.

Um rio de águas límpidas vale muito mais do que todo o ouro extraído às custas do mercúrio que mata a fauna e coloca em risco a vida humana.

Quando uma criança indígena morre assassinada pela ganância dos predadores do meio ambiente, uma parte da humanidade morre junto com ela.

Por isso, vamos retomar o monitoramento e a vigilância da Amazônia, e combater toda e qualquer atividade ilegal – seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida.

Ao mesmo tempo, vamos promover o desenvolvimento sustentável das comunidades que vivem na região amazônica. Vamos provar mais uma vez que é possível gerar riqueza sem destruir o meio ambiente.

Estamos abertos à cooperação internacional para preservar a Amazônia, seja em forma de investimento ou pesquisa científica. Mas sempre sob a liderança do Brasil, sem jamais renunciarmos à nossa soberania.

Temos compromisso com os povos indígenas, com os demais povos da floresta e com a biodiversidade. Queremos a pacificação ambiental.

Não nos interessa uma guerra pelo meio ambiente, mas estamos prontos para defendê-lo de qualquer ameaça.

Meus amigos e minhas amigas.

O novo Brasil que iremos construir a partir de 1º de janeiro não interessa apenas ao povo brasileiro, mas a todas as pessoas que trabalham pela paz, a solidariedade e a fraternidade, em qualquer parte do mundo.

Na última quarta-feira, o Papa Francisco enviou uma importante mensagem ao Brasil, orando para que o povo brasileiro fique livre do ódio, da intolerância e da violência.

Quero dizer que desejamos o mesmo, e vamos trabalhar sem descanso por um Brasil onde o amor prevaleça sobre o ódio, a verdade vença a mentira, e a esperança seja maior que o medo.

Todos os dias da minha vida eu me lembro do maior ensinamento de Jesus Cristo, que é o amor ao próximo. Por isso, acredito que a mais importante virtude de um bom governante será sempre o amor – pelo seu país e pelo seu povo.

No que depender de nós, não faltará amor neste país. Vamos cuidar com muito carinho do Brasil e do povo brasileiro. Viveremos um novo tempo. De paz, de amor e de esperança.

Um tempo em que o povo brasileiro tenha de novo o direito de sonhar. E as oportunidades para realizar aquilo que sonha.

Para isso, convido a cada brasileiro e cada brasileira, independentemente em que candidato votou nessa eleição. Mais do que nunca, vamos juntos pelo Brasil, olhando mais para aquilo que nos une, do que para nossas diferenças.

Sei a magnitude da missão que a história me reservou, e sei que não poderei cumpri-la sozinho. Vou precisar de todos – partidos políticos, trabalhadores, empresários, parlamentares, govenadores, prefeitos, gente de todas as religiões. Brasileiros e brasileiras que sonham com um Brasil mais desenvolvido, mais justo e mais fraterno.

Volto a dizer aquilo que disse durante toda a campanha. Aquilo que nunca foi uma simples promessa de candidato, mas sim uma profissão de fé, um compromisso de vida:

O Brasil tem jeito. Todos juntos seremos capazes de consertar este país, e construir um Brasil do tamanho dos nossos sonhos – com oportunidades para transformá-los em realidade.

Mais uma vez, renovo minha eterna gratidão ao povo brasileiro. Um grande abraço, e que Deus abençoe nossa jornada."


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LULA, ELEITO PRESIDENTE PELA TERCEIRA VEZ DO BRASIL

Em pronunciamento na noite deste domingo, após eleito presidente do Brasil pela terceira vez, Luiz Inácio Lula da Silva agradeceu o povo brasileiro, disse que governará para todos – quem votou e quem não votou nele – e reafirmou compromissos assumidos durante a campanha. A prioridade número 1 é combater a fome e criar condições para que todos os brasileiros tenham acesso a, ao menos, três refeições por dia.

“Nosso compromisso mais urgente é acabar outra vez com a fome. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer, ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário. Se somos o terceiro maior produtor mundial de alimentos e o primeiro de proteína animal, se temos tecnologia e uma imensidão de terras agricultáveis, se somos capazes de exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo brasileiro possa tomar café da manhã, almoçar e jantar todos os dias”.

Ao lado da esposa Janja, do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, com sua esposa Lu, e de outros nomes da Coligação Brasil da Esperança, o presidente eleito afirmou que o povo brasileiro é que foi vencedor de uma das eleições mais importantes da história. “Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora”.

Segundo Lula, a mensagem das urnas é que o povo brasileiro deixou claro que deseja mais – não menos – democracia, inclusão social, respeito, oportunidades para todos. “Em suma, deseja mais – e não menos liberdade, igualdade e fraternidade em nosso país. O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que exercer o direito sagrado de escolher quem vai governar a sua vida. Ele quer participar ativamente das decisões do governo.”

Na lista de desejos citados pelo presidente eleito, emprego, bom salário, saúde, educação, segurança, moradia, salário justo, viver com dignidade, comer bem, morar bem. “O povo brasileiro quer viver bem, comer bem, morar bem. Quer um bom emprego, um salário reajustado sempre acima da inflação, quer ter saúde e educação públicas de qualidade”.

Das sinalizações de um novo governo, Lula falou em retomar o protagonismo internacional, fazer a economia crescer, atraindo investimentos externos, lutar contra a crise climática e proteger todos os biomas, sobretudo a Amazônia, com meta de desmatamento zero.

Ele também falou em reconstruir o país em diferentes dimensões, buscar a paz, o entendimento e a democracia real e concreta. “É essa democracia que nós vamos buscar construir a cada dia do nosso governo. Com crescimento econômico repartido entre toda a população, porque é assim que a economia deve funcionar – como instrumento para melhorar a vida de todos, e não para perpetuar desigualdades”.

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CÂNDIDA BEATRIZ LIMA: CARTA ABERTA AOS PROFESSORES E ALUNOS

De acordo com o artigo 205 da Constituição Federal do Brasil, a educação é um direito de todos e dever do Estado. Portanto, está constitucionalizado que, todos, sem exceção devem ter acesso à educação de qualidade. Contudo, emboraconstitucional, essa nossa realidade nos foi castrada por muito tempo e por muitas vezes, reflexo de políticas, diferenças raciais, de classe social, dentre tantas outras diferenças impregnadas em nossa sociedade que fizeram frente impedirem o acesso à educação de direito a todos Apesar de todos os incansáveis esforços dos meus pais, para que eu pudesse estudar, até o ano de 2003, eu fiz parte de uma dessas classe que não tinham acesso à educação de qualidade.

 Nascida no interior da Bahia, onde o coronelismo imperava por anos, a única coisa que se preocupavam os políticos da época (que não mudou muita coisa) era perseguir quem tentasse ser opor ao pensamento deles, e pagar os salários em dias dos funcionários indicados da Prefeitura Municipal, eu saí de casa aos 13 anos de idade, para tentar estudar em uma lugar que pudesse me proporcionar uma melhor educação. Era assim que os meus pais me ensinavam, era assim acreditavam, na EDUCAÇÃO.

Muito jovem, cheia de sonhos e com uma certeza, eu iria estudar e iria dá muitoorgulho para minha família. Em 2004, eu ingressei na Universidade Estadual do Piauí, no curso de Engenharia Agronômica, encontrei uma universidade sucateada, sem laboratórios, biblioteca com livros antigos, defasados, carteiras quebradas, professores sem perspectivas, reflexo de políticas públicas e educacionais inexistentes. Ao passar de um ano, o cenário era outro, as coisas mudavam, novos professores, a biblioteca ganhava uma nova estrutura, já se falavam em construir um prédio próprio com laboratórios, aquele prédio antigo, com paredes sujas, ganhava uma nova visão. 

A universidade vizinha, UFPI – Universidade Federal do Piauí, ganhava novos cursos, eram outras oportunidades, a nossa visão era a ESPERANÇA!

Com dois anos de universidade, professores com mestrado e cursando doutorado começaram a chegar e fazer parte de um colegiado de concursados efetivos, os sonhos cresciam para eles e para gente também, e eu, uma matuta sonhadora, flutuava nas nuvens com um sonho quase intangível, fazer doutorado fora do país, parecia louco esse sonho, me lembro como hoje, dos meus amigos rindo de mim, e me dizendo que aquilo era impossível, mas eu, repetia aquilo todos os dias, e levava em mim e nos meus pensamentos os meus professores como exemplo, e lembrava de todas as lutas dos meus pais para me manterem ali. Em quatro anos e meio eu me formei em Engenheira Agrônoma, era tudo muito diferente de quando eu iniciei a faculdade, nós tínhamos para onde ir, o que fazer, tinha trabalho, tinha pesquisa, nós tínhamos oportunidades, e eu? Eu abracei todas que surgiram.

Trabalhei em prefeituras, fui bolsista na Embrapa, e em 2013, eu abracei o início daquele sonho de 2006. Comecei em março de 2013, na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia a cursar o mestrado em ciências Agrárias, dois anos depois eu embarcava para Manchester – Reino Unido para fazer o doutorado sanduiche, um ano e três meses de experiências fantásticas, vivendo uma cultura, uma educação, vivendo e aprendendo muito. 2017, realmente o sonho se realizou! Doutora Cândida!

Minha trajetória foi marcada por muita luta, muitas dificuldades, muitas privações, como a de todos que se permitem ir em busca dos seus sonhos, sim, e eu me esforcei muito, muito mesmo, mas, nenhum esforço meu, teria resultado na 1ª doutora da Família Lima, porque, nenhum esforço dos meus pais, por mais vontade, anseio, trabalho que eles pudessem fazer, conseguiriam arcar financeiramente com todas as despesas que é viver em outro país, nenhum esforço meu, ou dos meus familiares me permitiriam ter realizado uma pesquisa de tamanha importância para o Brasil e para o mundo sobre o comportamento das abelhas e seu impacto sob a produção de alimentos e interferência no aquecimento global. Tudo que eu vivi, toda a minha construção acadêmica, tudo que me foi permitido até realizar esse sonho de ser doutora com estudo em outro pais, foi exatamente, porque na minha época eu tive a sorte a felicidade de ter políticas públicas educacionais, com bolsas de estudos, financiamento de projetos de pesquisas, parcerias entre instituições de ensino superior, todos eles oportunizados pelo governo Lula e Dilma.

Sim, foi o Lula que oportunizou a mim e a tantos outros ex estudantes, hoje doutores, a conseguirem realizar sonhos como o meu.

Não precisou muito para que esses sonhos de tantos, fossem castrados, Após pessoas como eu e como tantos, de classes sociais menos favorecidas conseguirem o que anteriormente só era permitido a classe A, nos foi tirado o direito constitucionalizado, e as bolsas de estudos, os investimentos à pesquisa, as parcerias entre universidades brasileiras e de outros países foram sendo cancelas, até que não fosse mais possível ter acesso à educação com a mesma facilidade que tínhamos entre os anos de 2003 à 2016.

Se você não assistiu, não viu, ou ouviu, eu sim, eu vi muitos, muitos, muitos colegas e estudantes precisando comprar com dinheiro do próprio bolso, reagente, luvas, vidrarias e esterilizar ponteiras para conseguirem terminar a graduação, sem perspectivas de sonharem com o mestrado, doutorado, ou com o primeiro emprego.

Após 2016, os cortes na educação começaram a crescer, em um ano, cerca 6 bilhões a menos na educação, em 2019, mais de 12 mil bolsas canceladas pela CAPES, maior fomentadora de pesquisa do país, mais de 2.5 bilhões de reais bloqueados que deveriam ser investidos na ciência.

Bem, eu não sei se o seu sonho é parecido com o meu, mas, eu tenho certeza que você tem um sonho, seja fazer uma graduação, montar sua empresa, passar em

um concurso, conhecer um outro país através do estudo, ou de passeios, e eu também tenho certeza, que você alcançará isso se você se esforçar assim como eu, contudo, de nada valerá o seu esforço, se os cortes na educação e na ciência permanecerem.

Eu espero que após ler essa carta, você tenha consciência de tudo e de tantos que perderam e poderão perder a oportunidade de construir, de aprender, de viver e de realizar sonhos assim como eu pude fazer, quando o governo Lula junto com o meu esforço me possibilitou estar aqui hoje, estudante, professora, palestrante, servidora pública e doutora!

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.” Paulo Freire

Juazeiro, BA, 28 de outubro de 2022

Cândida Beatriz Lima, engenheira agrônoma, mestre e doutora em ciências agrárias – UFRB – University Salford, professora universitária e defensora da educação. 

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CONSTRUÇÃO DE VIVEIROS DE PLANTAS NATIVAS AJUDAM NA RECUPERAÇÃO DOS BIOMAS DA BACIA DO SÃO FRANCISCO

“A floresta em pé é mais interessante, importante, econômica e eficaz”, afirma o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Maciel Oliveira. Por isso, com os recursos oriundos da cobrança pelo uso da água bruta da bacia do São Francisco, o CBHSF vem investindo sistematicamente em obras que visam a preservação e recuperação das margens do rio e da sua vegetação nativa.

As futuras e atuais gerações já dependem diretamente do que se faz hoje para garantir a melhoria da quantidade e qualidade de água ofertada na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Entendendo a situação urgente, o CBHSF investe também na construção de viveiros de plantas nativas para garantir que as populações possam se qualificar e produzir em grande escala espécies de cada região que auxiliem para o reflorestamento da mata ciliar.

Ao longo dos anos, o CBHSF já implantou esses espaços em cidades como Lapão, no médio São Francisco, Patos de Minas, no Alto São Francisco, Santana do Ipanema e Piaçabuçu, no Baixo, e Jaguarari, no Submédio – os dois últimos seguem em fase de conclusão. Em todas as cidades o projeto serve para o plantio de mudas nativas e frutíferas que auxiliam ações ambientais ao longo do leito do rio e ainda podem gerar renda para centenas de famílias que fazem também o beneficiamento dos frutos.

Em Lapão (BA), o projeto “Produzindo mudas para a recomposição da Caatinga” instalado dentro da estrutura do Parque da Cidade, pretende diversificar a produção agrícola da região e incentivar a fruticultura. O novo viveiro oferta à população mudas de espécies nativas para a recomposição da Caatinga, estimulando o reflorestamento em áreas degradadas, especialmente em morros e encostas, ajudando a mudar o processo de desertificação no Território de Irecê, um dos mais atingidos pelo desmatamento no Estado da Bahia.

Em Santana do Ipanema, o viveiro florestal de produção de mudas é irrigado com sistema de reuso da água tratada na Estação de Tratamento de Efluentes (ETE). Já no município mineiro de Patos de Minas, uma parceria entre o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), a Agência Peixe Vivo, o Instituto Estadual de Florestas (IEF), responsável pelo viveiro, e a Prefeitura de Patos de Minas garantiu espaço e capacidade para triplicar a produção de mudas destinadas à recuperação do Velho Chico, passando de 200 mil mudas/ano para 700 mil. O viveiro que produz cerca de 500 espécies do Cerrado foi reformado em uma ação financiada pelo CBHSF para atender matas ciliares, nascentes, áreas degradadas, recarga hídrica e programas de educação ambiental para as comunidades rurais.

“É preciso pensar em continuidade de forma a garantir a importância dos viveiros. Acredito muito no sucesso desses locais a partir dos cuidados dados por comunidades tradicionais que vestem a camisa quando se fala em preservação do meio ambiente. Então esses espaços são vitais tanto para a geração de renda como também para se pensar no futuro, entendendo que o avanço do desmatamento e do setor imobiliário é grande, o que por vezes acaba com as plantas nativas. Por isso, acredito muito que além de criar os viveiros é tão fundamental quanto, o cuidado deles, ou seja quem vai ficar responsável pela governança. Com isso, entendo como primordial a participação e o empoderamento das comunidades tradicionais que entendem e vivem todos os conceitos de preservação”, afirmou o ambientalista, especialista em Desenvolvimento Sustentável do Semiárido Brasileiro, Jorge Izidro.

Na cidade de Piaçabuçu, em Alagoas, onde funciona a Associação Aroeira, o Projeto de Educação Ambiental e Reflorestamento Bosque Berçário das Águas está em andamento e já colocou em funcionamento parte do viveiro que fornece mudas para o reflorestamento de Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal na região da foz do rio São Francisco, em Piaçabuçu e Brejo Grande/SE, recuperando o ecossistema nativo com foco no extrativismo sustentável e educação ambiental dos beneficiários.

O presidente do CBHSF reforça ainda que manter as árvores de pé é essencial para a preservação da Bacia do Rio São Francisco. “Precisamos ter árvores, cuidar pela preservação ambiental e por isso, os viveiros são essenciais para que haja repovoamento de forma antrópica, com o plantio nas margens dos rios, lagoas, nascentes, áreas de preservação permanente. Como exemplo, o projeto berçário das águas na região da foz do São Francisco além de fazer o replantio de espécies nativas que vão ser preservadas pelas populações, vai possibilitar que essas comunidades possam sobreviver através do beneficiamento de frutos como a cajarana, cajá, pimenta rosa, entre muitas outras árvores e espécies nativas que já estão sendo produzidas”, acrescentou Oliveira.

O viveiro de mudas em Piaçabuçu tem a capacidade de produção de 115.000 mudas ao ano. “Aqui temos em média 13 pessoas já trabalhando no viveiro produzindo diversas variedades de frutas nativas que são beneficiadas e viram doces, geleias, compotas, bolos, entre muitos outros produtos. Então, esse é um importante espaço que representa literalmente nosso futuro”, destacou a presidenta da Associação Aroeira, Maria Patrícia Santos Vilela.

As construções dos viveiros fazem parte das obras de requalificação ambiental que atendem as demandas das comunidades. As obras são financiadas integralmente pelo CBHSF.

Assessoria de Comunicação do CBHSF: *Juciana Cavalcante Fotos: Deisy Nascimento; Bianca Aun

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AS SEVERINAS LANÇAM SINGLE COM COMPOSIÇÃO DO POETA ZÉ MARCOLINO

O trio feminino mais famoso do Sertão do Pajeú vai lançar um novo trabalho na próxima semana, dia 04, em todas as plataformas de streaming digitais. As Severinas, depois de terem lançado o álbum "Forró das Severinas" no primeiro semestre, apresentam agora o single "Minha Crença", de composição de Zé Marcolino.

A canção fará parte do álbum "Zé Marcolino - Cantigas do Poeta", uma homenagem ao compositor, com dez faixas de sua autoria. O lançamento ocorrerá ainda neste ano. "'Minha Crença' foi uma música que me tocou ainda quando nós estávamos no processo de escolha das faixas da obra em homenagem a Zé Marcolino. Eu nunca tinha ouvido a música e quando eu ouvi à capela, sendo cantada por Bira Marcolino, eu fiquei extremamente encantada, me tomou de imediato", contou a cantora Monique D'Angelo, incitando a curiosidade dos fãs.

Ainda de acordo com Monique D'Angelo, ela disse logo às companheiras do grupo que "Minha Crença" deveria ser uma das músicas escolhidas para o álbum e que, provavelmente, seria uma das mais importantes. "Ver o processo da música se montando foi algo peculiar para mim, a cada nova fase da criação, ela ficava muito mais bonita. Até que gravei a voz definitiva e recebi a faixa para ouvir depois, e chorei, essa música me emociona bastante. É a minha música preferida do álbum", confessou.

A música tem a peculiaridade da obra de Marcolino, com letra que fala de costumes, crenças e sabedorias populares, exaltando vivências nordestinas. A faixa é mítica, tem simplicidade e ainda conta com um toque especial - um poema de Isabelly Moreira, declamado pela própria artista. O arranjo deixa "Minha Crença" com uma roupa de um forró autêntico, costurada com uma guitarra agregadora, gravada pelo grande Instrumentista César Raseck.

História - Mesclando música e poesia, e lembrando das raízes culturais do Sertão do Pajeú, o trio As Severinas surgiu com o intuito de difundir, com musicalidade, a força feminina, mantendo a tradição do forró pé-de-serra, dando nova roupagem a cantigas, xotes e arrasta-pés. Formado por três jovens mulheres, o grupo traz Isabelly Moreira, no vocal, triângulo e declamações, Monique D'Ângelo, no vocal, sanfona e declamações, e Marília Correia, na zabumba. As Severinas se apresentam desde maio de 2011.

Em 2012, lançaram o primeiro CD, que leva o nome do grupo, com composições autorais e versões de músicas de Chico César e Vander Lee que conquistaram o público. Em 2016, o grupo lançou o seu segundo trabalho, intitulado "Tribos", com faixas autorais, parcerias e releituras de canções de artistas que influenciaram a formação musical do grupo.

Em 2021, quando As Severinas completaram 10 anos de estrada, foi lançado um documentário registrando a obra e a história do grupo, junto com um EP, denominado "Xamego de Fulô". O trabalho foi todo composto por músicas inéditas, entre canções autorais e parcerias. Houve participações especiais que evidenciaram a relevância artística e cultural adquirida pela banda: Anastácia, Assisão, Quinteto Violado e Thais Nogueira, além da participação da percussionista Negadeza, foram alguns dos nomes presentes no trabalho.

Neste ano, As Severinas se apresentaram no Teatro do Parque, em Recife, e foram premiadas como "Destaque Trajetória em Música", pelo show "Xamego de Fulô" com o Prêmio JGE Copergás de Teatro, Dança, Circo e Música de Pernambuco 2022, realizado pelo 28º Janeiro de Grandes Espetáculos – Festival Internacional de Artes Cênicas e Música de Pernambuco, edição 2022. Além disso, lançaram o clipe "Não Tento Mais" em março e o DVD junto ao álbum "Forró das Severinas" em junho.

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CREDIBILIDIADE, DESINFORMAÇÃO E ISENÇÃO: COMO A INTERNET MUDOU O JORNALISMO

O surgimento da internet mudou muitos aspectos da vida e hábitos pessoais e uma das principais mudanças nos últimos anos foi em relação ao consumo de informação. O que antes era acessível apenas em rádio, televisão, jornal impresso e revista, agora fica tudo à disposição dos cliques no celular. E se a informação era criada em redações jornalísticas por profissionais da área, hoje, qualquer pessoa pode divulgar e criar qualquer tipo de informação. Esse cenário trouxe junto a questão da credibilidade, principalmente depois do fenômeno das fake news.

Segundo Rodrigo Ratier, jornalista e professor de jornalismo digital da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, a crise de credibilidade da informação na era digital põe em risco a própria existência da profissão de jornalista. “Ela, a crise, dialoga um pouco com a ideia de que vivemos num contexto de pós-verdade, em que as emoções importam mais do que a razão, em que os fatos enfim perdem um pouco da força que eles tinham e que o monopólio sobre o relato do real, que antes era atribuído ao jornalista, está difuso”. 

Para resolver esse dilema, segundo a jornalista e professora da ECA, Daniela Ramos, o jornalismo deve assumir um papel de educador, ajudando as pessoas quanto ao consumo da informação correta. Isso faz com que o jornalismo seja capaz de combater a desinformação. “Nesse sentido o jornalismo brasileiro tem uma grande missão, da sociedade como um todo se sentir representada por ele.” 

Elizabeth Saad, também jornalista e professora de comunicação digital da ECA,  destaca que o jornalismo se encontra em um processo muito grande de desinformação graças ao cenário polarizado, em que “existe uma correlação entre o conteúdo informativo produzido com a linha editorial para qual o profissional trabalha”. De acordo com a professora, a linha editorial se posiciona dependendo da empresa e dos proprietários. “É possível que uma determinada marca informativa, não o profissional em si, mas a marca, se posicione num espectro polarizado e o jornalista tem que produzir a matéria conforme esta linha editorial, o que não implica que ele seja alguém que está produzindo desinformação”. 

Elizabeth enfatiza que o jornalismo não pode se deixar contaminar por fake news, de forma a checar todas as informações antes das publicações. Esse procedimento básico para o jornalista deve ser respeitado para que o próprio jornalismo seja diferenciado dos veículos disseminadores de fake news. Para lutar contra isso, é preciso enfatizar a questão da ética jornalística já dentro da universidade. 

Transformações tecnológicas-Apesar de pôr em xeque a credibilidade da informação, a tecnologia transformou o jornalismo e entre suas novas características está a velocidade com que a informação é gerada e transmitida ao consumidor da notícia. O Superintendente de Comunicação Social da USP e também professor da ECA, Eugênio Bucci, em seu livro A superindústria do imaginário: como o capital transformou o olhar em trabalho e se apropriou de tudo que é visível (Autêntica, 2021), explica que a mudança criou a economia da atenção, isto é, na sociedade transformada pela tecnologia o jornalismo precisa atrair a atenção do espectador, competindo não somente com outros veículos, mas também com redes sociais como o TikTok, Facebook e Instagram e com streamings como a Netflix, HBO, Amazon, etc.

E mesmo antes do surgimento da internet, a tecnologia sempre esteve presente no jornalismo, como lembra o jornalista e professor Ratier. “A gente pode voltar aos primórdios e pensar na prensa de Gutenberg, no século XV, que foi sendo evoluída ao longo dos tempos para aumentar a velocidade de impressão, contemplar a impressão em cores, e assim por diante. Da mesma forma, outras tecnologias foram sendo incorporadas aos sistemas produtivos. O próprio telefone, por exemplo, vai se transformar em um instrumento importante para a transformação das práticas jornalísticas possibilitando as entrevistas à distância e assim por diante”.

Para Ratier, essas transformações tecnológicas proporcionaram o enxugamento das redações. “A gente observa sobretudo uma diminuição muito relevante no número de jornalistas necessários para colocar um programa de TV no ar, para pôr um site para funcionar, em comparação, por exemplo, a veículos impressos se a gente voltar 30 anos no tempo”.

Segundo o jornalista, a diminuição das redações veio acompanhada de um jornalismo multimídia. Ser capaz de produzir e editar vídeos, textos e podcasts, além de articular isso em produtos multimídia, se tornou essencial para garantir um espaço no mercado de trabalho. Ratier conta que além da produção jornalística em si, o profissional deve estar apto a fazer várias atividades. “Fazer a gestão de equipes que consiga controlar o orçamento para produção, que saiba transitar não apenas pensando no contexto do jornalismo digital, entre os sites, mas também nas mídias sociais, entendendo como fluem os canais de divulgação da informação”.

Isenção e precisão-Na construção da produção jornalística o profissional precisa tomar muitas decisões que, querendo ou não, impactam na interpretação do leitor, ouvinte ou espectador. Na faculdade, um dos primeiros aprendizados é de que o jornalista não é imparcial porque imprime no texto automaticamente sua carga de conhecimentos e vivências.

Para Elizabeth Saad, mesmo que o jornalista em si não seja imparcial, ele deve sempre buscar a isenção. A professora explica que trabalhos jornalísticos sempre vão envolver a tríade: precisão, veracidade e isenção. “Em qualquer matéria jornalística que se faça, tem que ter a busca da verdade, a isenção, justamente ouvindo múltiplas vozes envolvidas no acontecimento, e a precisão, ou seja, a checagem do conteúdo levantado”.

Texto: Laura Oliveira-jornal da usp

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LUIZ GALVÃO, FUNDADOR DOS NOVOS BAIANOS, MORRE AOS 87 ANOS

O músico e poeta Luiz Galvão, fundador do grupo Novos Baianos, morreu na noite de sábado (22), aos 87 anos, em São Paulo.

A causa da morte não foi divulgada, mas Galvão estava internado desde o dia 16 de setembro, quando deu entrada na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com suspeita de hemorragia gastrointestinal. Após complicações, ele foi internado no Instituto do Coração, também na capital paulista, onde morreu.

A morte foi confirmada pela esposa do artista. Ainda não há informações sobre o sepultamento.

Galvão é fundador do grupo Novos Baianos, 1968, que marcou a música brasileira. Com o grupo, lançou o álbum “Acabou chorare”, que juntava samba, rock, bossa nova, frevo, choro e baião. O disco trazia faixas como “Preta pretinha”, “Mistério do planeta”, “A menina dança” e “Besta é tu”.

A coletânea foi eleita pela revista Rolling Stone como a melhor da história da música brasileira, em outubro de 2007.

Luiz Dias Galvão nasceu em Juazeiro, no norte da Bahia, em 22 de julho de 1937. Bom de letras, e bom de bola, Galvão jogou futebol profissional em Juazeiro e chegou a ser campeão baiano de futebol de salão.

Seguiu os estudos, ainda no norte da Bahia, onde se formou e trabalhou por seis anos com agronomia, até deixar a atividade de lado e decidir viver de sua arte.

Anos antes, ainda adolescente em Juazeiro, Luiz Galvão conheceu João Gilberto. A amizade mudaria para sempre a história da música brasileira.

Anos depois, uma nova amizade culminaria em um dos maiores grupos da história da música popular brasileira, os Novos Baianos. Galvão se reuniu, em Salvador, com outros dois jovens saídos de cidades do interior da Bahia. De Santa Inês, no sul da Bahia, vinha Paulo Roberto Figueiredo de Oliveira, o Paulinho Boca de Cantor; e de Ituaçu, no sudoeste do estado, vinha Antônio Carlos Moraes Pires, o Moraes Moreira.

Em 1968, eles criaram o espetáculo que deu origem aos Novos Baianos, Desembarque dos Bichos depois do Dilúvio Universal.

O trio ainda ganharia os reforços Baby do Brasil e Pepeu Gomes. Além de nomes como Jorge Gomes, Dadi, Charles Negrita, Baixinho, Bola Morais e Gato Félix.

Em 1970, o grupo lançou seu disco de estreia, “Ferro na boneca”. Em seguida, foram morar em um sítio em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, onde seguiam a cultura hippie dos EUA e da Europa em plena ditadura militar brasileira.

A grande obra viria após uma visita de João Gilberto à casa em que eles moravam juntos, já no Rio de Janeiro. Era 1972, quando o grupo lança o álbum “Acabou chorare”, que consagrou os Novos Baianos. O trabalho juntava samba, rock, bossa nova, frevo, choro e baião.

Com a regravação de “Brasil pandeiro”, de Assis Valente, além de “Preta pretinha”, “Mistério do planeta”, “A menina dança”, “Besta é tu” e a faixa título, todas de coautoria de Moraes Moreira.

O disco foi eleito pela revista Rolling Stone como o melhor da história da música brasileira, em outubro de 2007. No total, foram oito discos de estúdio. Há ainda dois álbuns ao vivo, de reuniões do grupo, um de 1997 e outro de 2017.

Luiz Galvão escreveu a maioria das canções gravadas pelo grupo, e musicadas por Moraes Moreira. Entre suas composições estão "Acabou Chorare", "Preta Pretinha" e "Mistério do Planeta".

Aém da vida musica, o artista também investiu na literatura e deixou registros da história do grupi que marcou a história da música no Brasil. Galvão é autor dos livros: "Novos Baianos: A história do grupo que mudou a MPB"; "João Gilberto: a bossa" e "Anos 80: A história de uma amizade na década perdida". O juazeirense ainda lançou o disco Galvão, A Palavra dos Novos Baianos.

O poeta sai de cena deixando como legados a paixão pela arte, a poesia, as letras marcantes, e o bom humor. Além de uma defesa intransigente do seu povo e da sua terra.

“O nordestino é um lutador, um vencedor. E Juazeiro é uma cidade brincalhona, de muito humor, é ‘cheguei’. Juazeiro é o cara”, gostava de dizer em entrevistas.

Apesar da saúde frágil com que viveu nos últimos anos, Luiz Galvão se manteve sempre em estado de poesia. Ao lado dos filhos e da esposa Janete, acompanhando o Vasco, time do coração, ou nos mínimos detalhes, Galvão fez valer os versos que deixou eternizados. "Apesar de tudo, a vida é boa e ainda é bela".

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PROFESSOR JOSÉ URBANO: VIVA O MESTRE VITALINO

O Alto do Moura é, desde sempre, o bairro sagrado da cultura de Caruaru. Nasceu como uma comunidade rural, e hoje está integrado a paisagem urbana da cidade, pelos bairros que foram nascendo no seu entorno, as vias de acesso e principalmente pelo fator  cultural, espaço rural escolhido pelo Mestre Vitalino para viver, constituir família e de onde foi para a eternidade, nos deixando um legado cultural grandioso.   Como expressão cultural, Vitalino se tornou mestre, a matriz da cultura do barro figurativo, reconhecido pelo Brasil e mundo afora, há 75 anos passados.

A grandeza desse personagem também está representada pela escola de arte popular que ele, talvez sem ter consciência disso, formatou e que perdura até os nossos dias.  

Foram discípulos de Vitalino artesãos da grandeza de Manuel Eudócio, que tem peças expostas na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro (eu fui lá conferir em 2019) Zé Caboclo, Luiz Antonio, D. Ernestina (primeira mulher artesã de Caruaru) e tantos outros que tem descendestes que vivem exclusivamente da arte do barro na cidade.   

Em 1947 a coleção de Vitalino, com temas 100% nordestinos, foi levada para uma exposição no Rio de Janeiro, então capital federal, e atraiu os olhares do país para a nossa arte popular.   Nos anos 50 algumas peças foram levadas para outra exposição na Suíça, e foi um sucesso.   Vitalino tornou-se nosso embaixador cultural de Caruaru.  

Outro artesão migrou para o Alto do Moura e criou um novo estilo do artesanato em barro, e hoje tem um importante memorial, o Mestre Galdino, que fez um trabalho numa simbiose entre humano, animais e seres  de mundos imaginários.

A arte do Alto do Moura é 75% exportada para todos os Estados do Brasil, movimenta a economia com muita força. Atualmente, mais de 600 famílias vivem da arte do barro, que tem recebido toda atenção das administrações públicas, nos quesitos de urbanização, com escola, Casa da Mulher Artesã, Associação dos Moradores, asfalto, iluminação, segurança pública e no período junino, grande pólo onde se curte o verdadeiro forró, criado por Luiz Gonzaga, nosso pernambucano do século.

Viva Vitalino, viva a cultura Nordestina

Professor José Urbano

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FALTA DE ÁGUA E POLÍTICAS PÚBLICAS PROVOCAM DESESPERO AOS AGRICULTORES DE JUAZEIRO E PETROLINA

Nos últimos meses Juazeiro e Petrolina, emitiram alertas sobre a baixa umidade do ar. A massa de ar seco e quente que está na região, além de fazer com que as temperaturas atinjam a marca dos 36ºC nos próximos dias, deve fazer com que a umidade varie entre 12% e 20%, isto representa uma temperatura igual aos dos desertos.

Mais uma seca avassaladora mostra o drama da falta de política publica que assola a zona rural de Juazeiro e Petrolina. A falta de água provoca desespero em diversos municípios do norte da Bahia e região do Vale do São Francisco.

O BLOG NEY VITAL colheu diversos depoimentos de moradores da região. O agricultor Martonio Ribeiro Marins mora no Sítio Vassoura. "São mais de vinte anos e a cada dia que passa á dificuldade de água aumenta, bebemos água de carro pipa e mesmo assim com muita dificuldade não só aqui mas na população em geral que moram aqui perto estamos todos com a cisternas secas carregando água de muito longe em baldes, na minha casa moram seis pessoas e dessas seis pessoas quatro crianças e há mais de anos prometem encanar água pra cá e estamos sempre na espera mas nunca chegou por isso estou aqui fazendo esse relato por que estamos necessitando muito".

Outro desabafo é de Francisco de Assis Delmondes Baia, lider comunitário, presidente da Associação de Agricultores do Distrito de Barra de São Pedro, Ouricuri, divisa com Petrolina, Pernambuco. "Temos conversando com agricultores de Petrolina, Ouricuri e região. A situação é dramática. Falta água para abastecer as casas e também para os animais", diz Francisco ressaltando que a situação torna-se mais dramática quando na residência moram mais crianças e idosos. "Falta de água maltrata muito", desabafa.

Em Petrolina, no Povoado de Cristalia, Almas, Caititu, Simpatia a situação é de calamidade. O coordenador de Comunicação e relações sociais do Conselho Popular de Petrolina e da Bacia do São Francisco, Rosalvo Antonio, revela que "por causa da estiagem, rios e açudes secaram em vários pontos e a população depende de carros-pipa para fazer atividades básicas, como tomar banho e cozinhar".

Ele avalia que "é inacreditável ainda ter comunidades sem água e que vivem próximo ao Rio São Francisco e o mais dramático próximo a adutoras".  "Aqui em Petrolina toda a região do Sequeiro está sofrendo, mesmo aquelas que tem cisternas e ou barragens. É preciso uma antecipação dos Governos ações concretas", diz Rosalvo.

Segundo o BLOG NEY VITAL obteve informações em algumas localidades de Juazeiro e Petrolina os caminhões-pipa e levam água para comunidades da zona rural. Mesmo assim, a água que chega na casa dos moradores é insuficiente para cuidar de todas as tarefas de casa e do campo.

No Povoado de Pontal, localizado próximo ao Distrito de Itamotinga, a agricultora conhecida por Lela Bezerra revela "que animais estão morrendo com sede, não tem água para os animais". Fotos registram bodes e carneiros "já caídos no chão".

"Peço socorro e a quem de direito possa ajudar. A falta de água torna difícil viver no semiárido. Nossa região está mendigando por água. Somos mais de 150 famílias e precisamos de água. A operação carro pipa aqui foi cortada. Estamos sem nenhuma assistência. Precisamos que o poder público traga água para a região", desabafou Lela.

No próximo mês de novembro, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) não chove na região.

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NÃO SE PODE MAIS ILUDIR POIS ESTÁ EM JOGO É A VIDA NO PLANETA TERRA

De 6 a 15 de novembro próximo será realizada a 27ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, conhecida como Conferência do Clima (COP) da ONU. Neste ano será no Egito, país que tem semelhanças no clima e vegetação com o Nordeste brasileiro. Ambos sofrem com a escassez de chuvas. 

A vegetação desértica predominante no Egito, tem do lado brasileiro uma correspondência, a de possuir uma das maiores áreas do mundo suscetíveis à desertificação, com extensão de 1,3 milhões de km², que abriga uma população de 31 milhões de pessoas. As áreas desertificadas no Brasil já cobrem uma superfície em torno de 230 mil km2, praticamente o dobro do tamanho da Inglaterra.

O bioma Caatinga, predominante no Semiárido brasileiro, é o quarto maior bioma do Brasil, correspondendo a 11% do território nacional, mas que já perdeu 53 % da cobertura original. Segundo estudos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, é um dos biomas mais vulneráveis às mudanças climáticas, cujas consequências dramáticas já estão se fazendo notar em todo Semiárido.

Feitas as comparações, a COP27 tem como objetivo debater metas e ações para o enfrentamento das mudanças climáticas, reunindo representantes governamentais e não governamentais de diversos países. As grandes corporações com interesses em petróleo, gás, carvão estarão também presentes, atuando como sempre fizeram em outras reuniões do gênero, na direção de dificultar, embargar os acordos necessários para a redução do uso dos combustíveis fósseis (petróleo e derivados, gás natural e carvão mineral) na matriz energética mundial.

Nestes quase 30 anos de COP, as políticas adotadas foram insuficientes para reverter as emissões de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera terrestre, nem encontrar soluções eficazes e estratégicas para a atual situação de aquecimento global, que coloca em risco todo o Planeta. Assim, desastres climáticos em todos os continentes se sucedem.

Mesmo com os acordos e promessas, realizados no âmbito do mercado, para a redução das emissões de gases, constata-se, ano a ano, recordes da temperatura média global do Planeta. A cada ano a Terra fica mais quente. Tal situação está relacionada ao aumento da concentração de GEE na atmosfera, majoritariamente pelo uso de combustíveis fósseis. O setor de energia é a fonte de cerca de ¾ das emissões mundiais dos gases de efeito estufa, e a transição para fontes renováveis de energia é inevitável.

Desde a Conferência RIO-92, porém, a ação dos “céticos do clima”, dos lobistas das corporações de petróleo, gás e carvão, conseguiram barrar os avanços e a velocidade necessária para evitar o agravamento desta situação alarmante que nos encontramos hoje. Existe uma grande semelhança nesta ação dos que são contrários à vida, com o que ocorreu com o poderoso lobby da indústria tabagista no âmbito da Organização Mundial de Saúde (OMS). Retardaram e criaram obstáculos para medidas que poderiam salvar milhares de vidas. Só depois que não foi mais autorizada a participação destes promotores da morte, é que decisões antitabagistas foram tomadas com o rigor devido.

Importantes e decisivos resultados são apresentados pela curva de Keeling, base de dados referencial para toda discussão sobre o efeito estufa e o aquecimento global. Este gráfico mostra o acúmulo de CO2 na atmosfera, tendo como base medições contínuas desde 1958 até os dias atuais, pelo Observatório Mauna Loa, na ilha do Havaí. E o que se tem verificado ao longo do tempo é o crescimento linear da concentração de CO2. No ano de 2021 a concentração já estava em torno de 420 partes por milhão (PPM), enquanto nos anos 60 do século passado, era de 317 partes por milhão de CO2.

Assim, cada vez mais, o debate sobre as mudanças climáticas coloca de um lado as corporações gananciosas em defesa de seus interesses econômicos, que lutam contra a redução de emissões de gases estufa; do outro lado os movimentos sociais que lutam pela vida, por um planeta justo, ético, plural e que proteja os ecossistemas naturais. A luta é desigual. Todavia, a consciência coletiva transformada em prática atuante poderá pender a balança para os interesses públicos e da natureza envolvidos nesta questão que é de toda civilização.

A transição ecológica-energética necessária para conter as emissões de gases de efeito estufa não significa apenas passar de uma sociedade baseada nas fontes de energias fósseis para uma com fontes renováveis. É uma oportunidade para um debate urgente e abrangente sobre o significado de viver em uma sociedade capitalista, consumista, predatória e militarista, cujo pilar de sustentação são os combustíveis fósseis.

Existe muita desilusão e descrédito em relação à governança mundial no enfrentamento das mudanças climáticas. Os fatos mostram que os objetivos anunciados pelas COPs, e os resultados alcançados têm a ver com este histórico de insucessos. Para a COP27 os resultados já previsíveis e com certeza insuficientes para enfrentar este fenômeno provocado pelas atividades humanas.

O engajamento nesta luta, que não é só dos ambientalistas, mas de todos os homens e mulheres de boa vontade, é fundamental para a sobrevivência da humanidade que está ameaçada e exige a realização de profundas mudanças no atual modelo civilizatório. O que implica mudar o modelo insustentável de produção e consumo, e o próprio modo de vida das pessoas.

O envolvimento e mobilização cada vez maior da sociedade civil organizada é essencial e mesmo fundamental para responder sobre: Qual mundo queremos? Qual é o tipo de sociedade almejada?

Aqui ressalto o papel das mulheres como participantes ativas nas escolhas e decisões a serem tomadas. O compromisso, devido à própria condição biológica, de gerar e bem cuidar da vida, é a verdadeira condição fundamental para preservar e conservar o meio ambiente.

Em breve mensagem aos participantes da 27º COP, diria: ousem nas propostas, definam quem pagará a conta, estipulem metas globais e de cada país, e que compromissos assumidos sejam cumpridos. Que os maiores poluidores tenham maiores responsabilidades. E que a participação dos que defendem os combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão) não seja mais permitida no âmbito das Conferências do Clima. É um contrassenso esta participação.

Em todo este processo cabe ressaltar o papel vital da sociedade civil, em denunciar a falta de efetividade no combate às emissões de gases de efeito estufa, o que exige outra postura dos governantes no rumo de limitar o uso de combustíveis fósseis, e substituí-los por fontes de energia renováveis sem deixar de discutir e minimizar seus impactos socioambientais, aumentar a eficiência energética dos processos. Modelos sustentáveis para a extração de minérios, criação de gado, monoculturas também deve fazer parte da pauta, pois tais atividades muito contribuem para a deterioração das condições climáticas.

Não se pode mais iludir, nem tergiversar, pois o que está em jogo é a vida no planeta Terra.

Heitor Scalambrini Costa-Professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Publicado originalmente no EcoDebate

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LER É CONSTRUIR SENTIDOS E ALCANÇAR VERDADES QUE AJUDEM A COMPREENDER MELHOR O MUNDO

Por mais acaciano que pareça, “a arte da leitura”, diz Nelson Rodrigues, “é a releitura”. Nunca tive dúvidas a respeito. Mesmo que a primeira leitura, sobretudo de certas obras, nos envolva num turbilhão de surpresas, de emoções inimagináveis e de novas descobertas no campo da percepção e do conhecimento, recuperar e reviver esses momentos em dimensão mais profunda só nos é permitido pelo de ato de reler.

Pode parecer paradoxal: se leio um livro apenas uma vez, na verdade não o li. Se ler é construir sentidos e alcançar verdades que nos ajudem a compreender melhor o mundo e seus enigmas irredutíveis, é porque ler é reler, e reler, e reler… Sempre na predisposição de uma prática dialógica que nunca se esgota. Como se sabe, os grandes autores e as grandes obras abordam questões que são permanentes e que nos desafiam para além das épocas e das circunstâncias históricas e individuais.

Por isso não tenho receio de usar o termo “conviver” em lugar de “ler”, pois a convivência pressupõe a continuidade da ação, a partilha e o constante contato com os sinais mágicos, necessários e lúdicos da releitura.

Há autores que não podem ser apenas lidos. Lidos assim, apenas uma única vez. Exigem a releitura, isto é, uma convivência, uma intimidade, que tende a se intensificar com o passar dos dias e dos anos, como se fossem velhos amigos com os quais proseamos nas nossas horas de sossego, silêncio e meditação.

Vou dar três exemplos que, pelo menos para mim, integram essa seleta estante dos que devem ser lidos e relidos sempre, sob pena de perdermos o que existe de mais refinado e de mais precioso no sigilo melódico e semântico de suas frases e de seus versos. Vou ficar com os de casa e me ater a um ficcionista, a um ensaísta e a um poeta que me parecem exemplares dessa idiossincrasia literária e livresca.

Machado de Assis é um desses. É preciso relê-lo sistematicamente para podermos apreciar a sutileza de seu estilo e captar bem a obliquidade leviana de seu olhar sobre as coisas, olhar ao mesmo tempo tocado de humor e melancolia. Um romance, por exemplo, como Dom Casmurro, ou um conto como “Uns braços”, não se revelam, inteiros, na primeira nem na segunda nem na terceira leituras. Creio mesmo que, a cada leitura que se faça ao longo do tempo, algo de novo se descobre. São textos tão abertos em sua significação, que novas e múltiplas leituras nunca os preencherão, restando sempre um halo de mistério a ser saboreado.

O ensaísta, que também é poeta e memorialista, é o gaúcho Augusto Meyer. Algumas de suas páginas de crítica, sobretudo as reunidas em À sombra da estante, A chave e a máscara e A forma secreta, demonstram a densidade e a argúcia analíticas de um leitor criativo, presa da beleza estética e da autonomia da linguagem literária.

Augusto dos Anjos é o nosso poeta. O Eu é como a Bíblia: passa-se a vida inteira lendo-se e relendo-se suas páginas. Cada verso é um versículo; cada estrofe, uma imagem sagrada; cada poema, um Eclesiastes, um Apocalipse. Visionário, profético, sobretudo monumento estético, objeto material e artístico, coisa mental e linguagem expressiva. Relê-lo é fundamental!

Hildeberto Barbosa Filho-Poeta, escritor e professor da UFPB. Membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: hildebertopoesia@gmail.com

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OURICURI: FESTIVAL CONCERTO PARA GONZAGÃO CELEBRA CULTURA DO ARARIPE NESTA QUINTA-FEIRA (20)

Neste dia 20 de Outubro acontecerá o finalização do Projeto “Concerto para Gonzagão: Feira agroecológica e cultural o Gonzagão Aprovaria” em Ouricuri, festival que já teve dois momentos em agosto e setembro e celebra a cultura Gonzagueana ao mesmo tempo em que une produtos das famílias agricultoras da região do Araripe.

O evento acontecerá na Praça Frei Damião em Ouricuri-PE, a partir das 19hs e neste momento de finalização contará com a poesia da Cia Medusa e a música de Joquinha Gonzaga, sobrinho do rei do baião. O evento contará ainda com o espetáculo “Concerto para Gonzagão”, momento que reunirá diversos artistas da região em uma exaltação a música de Luiz Gonzaga. Além dos shows, famílias e artistas da região estarão comercializando seus produtos na feira agroecológica e cultural, artesanato, livros de cordel, comidas regionais, frutas, verduras, doces e diversos outros produtos da agricultura familiar. Importante também é citar que todo o evento conta com interpretação em libras. 

Nos dois primeiros encontros passaram pelo palco do festival artistas como Tacyo Carvalho, Ana Paula Nogueira, Elmo Oliveira e Júnior Baladeira, a população abraçou de uma maneira toda especial o projeto, sempre com praça lotada, comercialização de produtos e resgate da cultura popular,  escolas da zona urbana e rural se fizeram presentes por sentirem-se também representadas pela ideia do projeto, grupos culturais locais participaram fazendo diversas homenagens a cultura cantada por Luiz Gonzaga, sem dúvida, o encontro de gerações da música nordestina tem sido outro importante elemento trazido pelo festival, jovens e precursores da música têm confraternizado sob a bandeira da cultura de Luiz Gonzaga.  O projeto tem sido um momento fortalecedor, uma oportunidade que há muito se esperava para movimentar a cultura da região do Araripe. 

O Projeto Concerto para Gonzagão acontece com recursos do Fundo de Cultura de Pernambuco, Funcultura, com o patrocínio de Secretaria de Cultura, Fundarpe e Governo do Estado, tem na coordenação o artista Júnior Baladeira em parceria com o Grupo Fazendo Arte sob a produção de Elmo Oliveira e também da ONG Caatinga. 

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CESOL-SERTÃO DO SÃO FRANCISCO DISCUTE ALIMENTAÇÃO SUSTENTÁVEL COM PROFISSIONAIS DA COOPERFTIZ

Com o propósito de discutir a alimentação sustentável e formas de aproveitamento integral dos alimentos, o Centro Público de Economia Solidária Sertão do São Francisco realizará, na próxima quinta-feira (20), a partir das 14h30, oficina formativa com profissionais da reciclagem da Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis (Cooperfitz), em Juazeiro. O evento integra a meta Consumo Sustentável do Cesol-SSF, e será mediado pela chefe de cozinha alternativa Poliana Santana, na sede da Cooperfiz, localizada no distrito industrial.

A proposta será discutir alternativas para a construção de um banco de alimentos para os cooperados. Entre os temas abordados estarão o desperdício dos alimentos e fome; as diferenças entre aproveitamento e reaproveitamento; o que fazer com as sobras? As plantas alimentícias não convencionais.  De acordo com chefe de cozinha alternativa, a alimentação sustentável consiste em um convite para uma mudança de comportamento em relação ao reaproveitamento integral dos alimentos.

"É de extrema importância essa nova visão sobre o consumo, pois sabemos que, seguindo esse ritmo que estamos, em 2050, a gente entra em um colapso alimentar e, infelizmente, não vai ter comida para todo mundo. Então um dos degraus é, de fato, a redução do desperdício", explicou Santana.

SUSTENTABILIDADE: A economia solidária potencializa a aquisição de produtos sustentáveis, que respeita o trabalho coletivo, a cooperação, a autogestão dos empreendimentos, proporcionando o empoderamento de familiais da região. Para a coordenadora do Cesol-SSF, Aline Craveiro, comprar produtos da economia solidária significa fortalecer pequenas inciativas de produtores e produtoras rurais locais.

"Costumamos dizer que, ao adquirir os produtos da Economia Solidária, os clientes não só estão fortalecendo os produtores e produtoras, como também se presenteiam com belas histórias de empreendimentos do nosso território fortalecendo, dessa forma, o consumo e vivência consciente com essa produção", finalizou Aline Craveiro.

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CAATINGA E O SEMIÁRIDO TEM ÁREAS DE DESERTIFICAÇÃO AUMENTADAS, DIZ MAPBIOMAS

Um novo levantamento obtido através de imagens de satélite pelo MapBiomas mostrou que o bioma Caatinga, inserido integralmente no território do Semiárido brasileiro, nos últimos 37 anos teve 15% de sua área queimada, e redução de 160 mil hectares de superfície de água.

Segundo o MapBiomas, a Caatinga teve um quarto, o equivalente a 25,59%, de seu território modificado pela ação do homem entre 1985 e 2021. Mais de 15% da Caatinga foi queimada, totalizando 13.770 hectares e, na bacia do São Francisco, as maiores ocorrências de queimadas ocorreram nos anos de 1987 a 2007. Houve ainda redução de áreas naturais, superando os 6 milhões de hectares, 10,54% da área mapeada em 1985. Além disso, a Caatinga, que conta com a maior parte dos rios de característica intermitente (correm apenas durante o período das chuvas, ficando secos durante a estação de estiagem), sendo os dois rios perenes de grande porte o rio São Francisco e o rio Parnaíba, perdeu mais de 160 mil hectares de superfície de água, ou seja 16,75%. O diagnóstico mostrou que, com exceção de Sergipe, todos os estados onde predomina a Caatinga tiveram redução de superfície de água.

O MapBiomas apontou que o principal motivo de avanço sobre a vegetação nativa foi a agropecuária, que ganhou 6,7% de território, ou 5,7 milhões de hectares. No período avaliado, a agropecuária cresceu um quarto da sua área. Segundo o coordenador da Equipe Caatinga do MapBiomas, Washington Rocha, o levantamento identificou ainda áreas de desertificação. “Mapeamos a região de Irauçuba, no Ceará, e detectamos a expansão de um núcleo de desertificação. Padrão semelhante foi observado em outros núcleos de desertificação, como em Cabrobó (PE), com tendência de expansão no sentido de Alagoas. Além dos núcleos de desertificação, é possível monitorar com os dados do MapBiomas as ASD´s (áreas suscetíveis à desertificação), como Jeremoabo, na Bahia. Este é um exemplo de como a transformação da Caatinga coloca o bioma em risco”.

Mesmo em área classificada como Reserva da Biosfera houve perdas de 7,6%, ocupadas pelas atividades de agricultura (2%) e pastagens (5,6%). Já as Unidades de Conservação ocupam 9,01% do bioma, totalizando 7,8 milhões de hectares, perderam 3,3% de sua área. Agricultura e pastagem ganharam 1,42% e 2,06%, respectivamente.

Vulnerabilidades-O Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (LAPIS) apontou que cerca de 93% dos municípios do Semiárido brasileiro considerados de pequeno porte, com população inferior a 50 mil habitantes, são marcados por uma confluência de vulnerabilidades e já lidam com problemas ambientais como secas extremas, desertificação e mudança climática.

O laboratório apontou que esses municípios apresentam uma série de vulnerabilidades nas áreas em processo de desertificação que incluem vulnerabilidade climática ocorrendo sobretudo pela frequência de secas intensas e pelos atuais impactos do processo de mudança climática, vulnerabilidade à desertificação, processo crescente e irreversível, aumentado pelas intensas secas e pelo manejo inadequado dos recursos naturais e vulnerabilidade ecológica. 

“Nesse último aspecto, a Caatinga enfrenta o risco de atingir um ponto de não retorno, ou seja, a degradação da vegetação e as secas extremas podem causar danos fisiológicos a ponto de a vegetação perder sua capacidade de se auto recuperar”, destacou o coordenador do LAPIS, Humberto Barbosa.

Além disso, outros pontos vulneráveis também são apontados no processo de desertificação, incluindo vulnerabilidade institucional que é vista pelo LAPIS como a falta de capacidade institucional dos pequenos municípios para enfrentar problemas ambientais complexos, vulnerabilidade socioeconômica e vulnerabilidade do conhecimento. “Em termos socioeconômicos, como a agricultura familiar de baixa escala é desmantelada durante as secas, a população perde sua principal fonte de subsistência e sobre a vulnerabilidade de conhecimento existe ainda a limitação no acesso a informações técnico-científicas qualificadas, o que impede uma melhor gestão dos recursos naturais e a obtenção de renda, a partir do aproveitamento sustentável da bioeconomia da Caatinga”, acrescentou Barbosa.

Todo esse processo tem uma ligação direta com a ocorrência do aumento dos eventos climáticos extremos na bacia do Rio São Francisco. Ainda segundo dados do Laboratório, o Semiárido é a região do Brasil mais afetada pelo aumento dos eventos climáticos extremos. Modelos climáticos indicam que haverá redução de cerca de 40% nas chuvas na região, ainda neste século.

“As grandes secas que afetaram o rio São Francisco estiveram historicamente mais concentradas na região do Baixo São Francisco. No entanto, de acordo com a pesquisa do Lapis, há sinais de condições crescentes de seca nas demais áreas da bacia, como é o caso do Alto e Médio São Francisco. Desse modo, a avaliação dos impactos de eventos intensos de seca, na bacia do rio São Francisco, é fundamental para desenvolver estratégias adequadas de adaptação e mitigação”, concluiu Barbosa. (Ascom CHBSF *Texto: Juciana Cavalcante *Foto: Edson Oliveira)

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DEFESA CIVIL DE JUAZEIRO REFORÇA ALERTA PARA BAIXA UMIDADE DO AR NA CIDADE

A Defesa Civil de Juazeiro informa que recebeu novos alertas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) alertando para baixa umidade do ar na cidade. Segundo o Inmet, esta semana a umidade do ar deve variar entre 30% e 20% na cidade, sendo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda, como índice ideal, 60%.

Sem expectativa de chuvas para este período, o ar seco deve continuar, o que além de exigir cuidados com a saúde, aumenta os riscos de incêndio em áreas de vegetação mais seca.

A orientação das autoridades de saúde é que as pessoas evitem fazer exercícios físicos ao ar livre até às 16h. Dentro de casa, também é importante manter alguns cuidados, como umidificar o ambiente com vaporizadores, bacias de água ou toalhas molhadas. Além disso, é preciso aumentar o consumo de líquidos e, sempre que possível, permanecer em locais protegidos do sol.

O coordenador da Defesa Civil em Juazeiro, Ramiro Cordeiro, alerta que o tempo seco também favorece a ocorrência de incêndios florestais, por isso, a orientação é evitar acender fogo ou realizar qualquer tipo de queimada, contribuindo assim para aumentar a segurança durante o período de estiagem. Em caso de emergências, o contato da Defesa Civil é (74) 99931-2210.

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IMAGINE UMA CIDADE EM QUE OS PÁSSAROS SUMIRAM, VÍTIMAS DO USO EXCESSIVO DE AGROTÓXICOS

"O ser humano é parte da natureza, e sua guerra contra a natureza é inevitavelmente uma guerra contra si mesmo." A citação é de Rachel Carson, a bióloga e conservacionista americana que causou comoção em seu país ao publicar seu famoso livro Primavera Silenciosa em 1962. O trabalho começa com um convite: imagine uma cidade em que os pássaros sumiram, vítimas do uso excessivo de compostos químicos como agrotóxicos.

Carson não era contra a aplicação seletiva de agrotóxicos e inseticidas, mas era contra seu uso indiscriminado, comum em uma época marcada por uma fé cega no poder da ciência.

A obra teve tanta repercussão que foi uma das catalisadoras do movimento ambientalista nos EUA. Carson não só escrevia com precisão científica como também comunicava com beleza poética o que chamava de "tecido intrincado da vida", no qual tudo está interligado e do qual todos fazemos parte.

Sessenta anos depois da publicação de Primavera Silenciosa, quão preocupante é a atual proliferação de compostos químicos? E qual seria a mensagem de um livro como o de Carson hoje?

A BBC News Mundo (serviço de notícias em espanhol da BBC) conversou com Joan Grimalt, professor de Química Ambiental do Conselho Superior de Pesquisa Científica da Espanha e integrante do Painel Intergovernamental de Poluição Química (IPCP). O IPCP é um grupo de cientistas que reivindica a criação de um organismo internacional para monitorar agrotóxicos.

BBC: Rachel Carson alertou sobre "a contaminação do ar, da terra e do mar com materiais perigosos e até letais". Esta mensagem é relevante na atualidade?

Joan Grimalt: Sim, com certeza. É verdade que o uso em alguns lugares não é mais permitido. Mas, em geral, o uso de compostos químicos aumentou e o despejo desses compostos no meio ambiente também aumentou.

Existem atualmente cerca de 350 mil compostos fabricados pela indústria. Na época de Carson, eu diria que esse número não passava de 30 mil.

BBC: Em seu livro, Carson falou especialmente de um composto, o DDT.

Grimalt: O DDT foi importante. Mas o problema é que muitos compostos foram criados. Outro problema é a sua ampla utilização, que é o que gerou mais problemas ainda.

O DDT já era conhecido desde o final do século 19. Mas na década de 1940 havia um médico, Paul Müller, que propôs usar o DDT para eliminar os mosquitos do gênero Anopheles (mosquito-prego) que transmitem a malária.

E isso levou à disseminação do DDT em todo o mundo. Deve-se lembrar que isso rendeu o Prêmio Nobel de Medicina a Paul Müller, porque esse composto eliminou o mosquito Anopheles em praticamente todos os lugares, exceto nas zonas tropicais, e a incidência de malária caiu drasticamente.

E também é preciso dizer que desde 2005 a Organização Mundial da Saúde recomenda o uso do DDT para combater o mosquito Anopheles em lugares onde a malária ainda é endêmica.

Às vezes o que acontece é que uma coisa não é branca nem preta; depende do uso que se dá a ela.

Uma menina é pulverizada com DDT na Alemanha em 1945 como parte de um programa para matar piolhos, um dos insetos que podem transmitir o tifo

BBC: Quais foram impactos negativos do DDT?

Grimalt: Concretamente, um primeiro efeito foi que nas aves expostas ao DDT, as cascas dos ovos ficaram muito mais finas e, por isso, durante a incubação, muitas ninhadas foram perdidas porque os ovos não aguentavam o peso dos adultos que os chocavam. Isso resultou no desaparecimento de muitos pássaros.

O DDT quase extinguiu a águia-americana, por exemplo, a águia símbolo dos Estados Unidos, e muitas outras espécies. Além disso, se observou que em humanos o DDT também causava problemas. Há imagens onde você pode ver soldados dos Estados Unidos de cuecas sendo pulverizados com DDT (para matar pulgas e piolhos), porque se acreditava que o DDT não os afetava. Não sabemos como esses soldados estão agora. O DDT é neurotóxico e dentro das células dos organismos, incluindo os humanos, as células que mais se reproduzem são as células nervosas, por isso o dano causado ao sistema neurológico é mais permanente.

BBC: Você poderia nos dar alguns exemplos de compostos que são usados ??hoje e são especialmente preocupantes para você? Fala-se muito sobre os produtos químicos "forever chemicals" ou compostos "eternos" (fluorosurfactantes).

Grimalt: Ao falar de compostos ou contaminantes químicos, devemos diferenciar aqueles que possuem importantes propriedades de estabilidade química. Estes seriam o que se chama de produtos químicos eternos, que são compostos persistentes.

A persistência existe por causa de dois fatores. Primeiro, porque quimicamente as moléculas são muito estáveis. No meio ambiente não há muitas reações que conseguem degradá-las, e a atividade dos organismos, sejam eles bactérias ou organismos superiores, as degrada muito pouco.

A outra propriedade que esses compostos costumam apresentar é serem hidrofóbicos, o que significa que se dissolvem mais em matéria orgânica do que em água. Por isso eles tendem a se acumular em organismos vivos, o que é chamado de bioacumulação. Toda vez que hum corpo bebe ou come algo que os contém, ele os acumula e não os excreta, porque nosso sistema de excreção mais normal é a urina, e eles não são solúveis na urina.

Além disso, na medida em que vamos subindo na cadeia alimentar, os organismos superiores se acumulam cada vez mais porque comem coisas que também continham esses compostos. Isso é o que é chamado de biomagnificação. Mamíferos marinhos, por exemplo, focas, baleias, acumulam mais [compostos] do que peixes. E os peixes que são predadores de outros peixes acumulam mais do que peixes que comem algas e zooplâncton.

BBC: Você pode nos dar um exemplo desses compostos persistentes?

Grimalt: Isso está no DDT. Todos nós carregamos DDT e seus metabólitos em nosso sangue. Mas um composto que me preocupa muito é o mercúrio. Alguns tipos de carvão têm um certo nível de mercúrio e quando grandes quantidades desse carvão são queimadas, isso solta o mercúrio na atmosfera. A partir daí, isso passa para a água e também vai se acumulando em organismos.

Outra fonte de mercúrio é o fato de que em reservas tropicais, tanto na América quanto na África, há pessoas que se dedicam a procurar ouro, e são pessoas muito pobres com técnicas muito primitivas. Uma delas é amalgamar ouro com mercúrio.

BBC: Você pode nos lembrar de quão tóxico é o mercúrio?

Grimalt: Ele é neurotóxico nessas concentrações de que estamos falando, porque afeta tudo — o fígado, os rins. Também leva a deformidades nas crianças quando as mães grávidas são expostas.

Infelizmente, na Baía de Minamata, no Japão, isso foi perfeitamente documentado, porque havia uma indústria que despejava derivados de mercúrio no rio, e esses derivados entravam na cadeia alimentar e nos peixes que os habitantes locais comiam, e isso foi um desastre.

BBC: Quais outras substâncias o preocupam? Muito se fala sobre os microplásticos, que em estudos recentes foram detectados até na placenta humana.

Grimalt: Os microplásticos também são importantes, mas ainda não sabemos quais efeitos eles têm. Mas cuidado, o plástico é uma invenção da humanidade que provou ser muito útil.

O plástico é inerte e a priori não tem nenhum efeito negativo. Se isso acontecesse, estaríamos acabados, porque embalamos comida em plástico e colocamos remédios em nossas veias com tubos de plástico e nada acontece.

Isso não significa dizer que estamos usando de forma correta o plástico.

É preciso investigar quais são os efeitos dos microplásticos na saúde. Mas não é preciso esperar pesquisas para tratar adequadamente os resíduos e as águas urbanas. Já podemos retirar muito plástico do meio ambiente. Por outro lado, com o mercúrio, quando você já o descartou, não existe mais remédio.

BBC: Antes da entrevista, você me disse que "estamos todos participando de uma experiência química global". Por quê?

Grimalt: Digo isso porque estamos jogando muitos compostos no meio ambiente e alguns deles não voltam para nós. Mas a maioria deles sim, e colocamos tudo isso dentro do nosso corpo.

Em outras palavras, pensar que podemos ter uma saúde perfeita quando estamos cercados por água poluída, ar poluído e solo ou alimentos contaminados é uma bobagem.

BBC: E existem possíveis interações desses compostos entre si que ainda são desconhecidas?

Grimalt: Estamos falando de 350 mil compostos. Ainda há muitas coisas para entendermos.

Os compostos persistentes, uma vez ingeridos, como eu disse, permanecem dentro do corpo e começam a fazer efeito. E no caso daqueles que não são persistentes e o corpo os elimina principalmente na urina, se depois que os eliminamos voltamos a comer algo com eles, então estamos sendo sempre expostos.

BBC: Você pode nos dar um exemplo desses compostos não persistentes aos quais podemos estar sendo permanentemente expostos?

Grimalt: Por exemplo, os pesticidas que são usados ??na agricultura em pequenas doses e que voltamos a comer. Ou os bisfenóis que são aditivos plásticos. Existem muitos tipos de plástico que possuem muitos aditivos para modificar as propriedades do polímero ou dar cor. Se esses microplásticos são ingeridos, todos os compostos vão para dentro de nosso corpo.

Se olharmos para os resíduos plásticos em uma praia que não foi limpa, há plásticos de todas as cores e isso já revela que são plásticos diferentes com propriedades diferentes.

BBC: E quem regula todos esses 350 mil compostos? Existe uma organização internacional?

Grimalt: No nível internacional não existe nada. É por isso que nós do mundo científico, os membros do Painel Intergovernamental de Poluição Química, publicamos uma carta na revista Science solicitando um painel internacional para monitorar e aconselhar sobre compostos e resíduos químicos para reduzir a exposição a esses compostos.

BBC: A regulação dos milhares de compostos é feita por cada país?

Grimalt: No nível europeu, existem leis diferentes, como por exemplo o REACH [Registration, Evaluation, Authorisation and Restriction of Chemicals, uma lei da Comunidade Europeia de 2006], mas isso é apenas na Europa. Nos EUA, existe a Agência de Proteção Ambiental (EPA), que também é um órgão de referência em toda essa questão. Mas em muitos outros países, nada é feito. Não existe nada.

Além disso, outra coisa que eu pessoalmente acho uma vergonha é que muitos países desenvolvidos enviam resíduos para países subdesenvolvidos. Já se pode imaginar que o que acontece é que esses resíduos são despejados no meio ambiente ou tratados de forma totalmente inadequada.

Além disso, parte desses resíduos e dos compostos que contidos neles retornarão ao meio ambiente, serão distribuídos por todo o planeta e, portanto, também é do interesse de todos que esse tipo de coisa não aconteça.

BBC: Existem produtos que são proibidos em alguns países europeus, mas são vendidos na América Latina, como os pesticidas chamados neonicotinoides.

Grimalt: O que se tem feito muito é imitar as plantas, que, por não conseguirem se mexer, travam uma guerra química contra os insetos.

O tabaco produz nicotina não para os humanos fumarem, mas para matar insetos, para se defenderem. A nicotina foi tomada e suas moléculas modificadas para produzir derivados de nicotina ainda mais fortes para matar insetos. Com os neonicotinoides, existe a questão de saber se eles estão matando, por exemplo, abelhas.

BBC: Com essa enorme quantidade de compostos no meio ambiente, o que nós consumidores podemos fazer?

Grimalt: No nível do consumidor, certamente podemos fazer coisas. Uma delas é tentar minimizar o uso de plásticos, por exemplo, ir ao mercado com uma cesta ou embrulhar produtos em papel.

Os consumidores também podem reciclar ao máximo, o que facilita a gestão dos resíduos de forma menos poluente.

BBC: E para tentar proteger a saúde?

Grimalt: Nesse caso, é mais difícil de se dizer. Obviamente existem produtos ecológicos ou orgânicos que foram cultivados sem agrotóxicos. Isso também é positivo, mas sinceramente ainda acho que isso precisa ser mais estudado.

BBC: Por quê?

Grimalt: Para verificar se realmente existe um benefício para o consumidor. Se meu vizinho está usando agrotóxicos, não sei até que ponto meus produtos estão contaminados ou não. É importante deixar claro que isso é positivo. Não quero dizer que não é bom. Mas deveria ser mais estudado.

Atualmente existem cerca de 350 mil compostos químicos produzidos pela indústria. Na época de Carson havia cerca de 30 mil

BBC: Voltando agora ao livro de Rachel Carson. Ela alertou que pássaros e outras espécies corriam risco. Mas agora temos a crise do clima e da biodiversidade, com um milhão de espécies em perigo de extinção, segundo a ONU. Qual seria a mensagem de um livro como Primavera Silenciosa hoje?

Grimalt: Primavera Silenciosa foi um sucesso em parte porque os pesticidas que poderiam afetar mais as aves foram alterados. O DDT foi proibido em muitos países e onde ele ainda é usado para combater o mosquito Anopheles, isso é feito para proteger as pessoas. Ele não pode mais ser usado na agricultura.

Agora estamos discutindo outras coisas preocupantes, sobre uma grande diminuição da população de insetos em muitos lugares. E muitos desses insetos são polinizadores. Eles são necessários para as plantações, para que as plantas se reproduzam. O fato de haver muito menos insetos é preocupante. Eu diria que devemos passar da preocupação com os pássaros para a preocupação com os insetos, especialmente aqueles que vão de flor em flor — os voadores. E isso tem muito a ver com o uso de agrotóxicos.

BBC: É o que você estava falando sobre as abelhas...

Grimalt: As abelhas e todos. Lembro que quando pegava meu carro há vinte anos aqui na Catalunha ficava com a janela do carro cheia de insetos mortos. Hoje em dia há bem menos. Isso é uma observação pessoal. Mas se você ler artigos publicados em revistas científicas onde o nível de insetos em muitas áreas florestais foi monitorado, verá que houve uma queda.

BBC: Antes de terminar, eu queria perguntar sobre a figura de Carson. Ela escreveu seu livro quando lutava contra um câncer que tirou sua vida dois anos depois. Para você, pessoalmente, o que significa a figura de Carson?

Grimalt: Acho que Carson foi uma daquelas pessoas que tem uma visão que vai além do dia a dia de todos nós aqui no planeta. Ela percebeu o perigo do uso indiscriminado de agrotóxicos em geral e especificamente do DDT, quando todos estavam convencidos de que o DDT era uma coisa muito boa.

Em grande parte, o movimento ambientalista começou a partir da repercussão do livro de Carson, porque ela sugeriu que um dia poderá haver silêncio na primavera porque teremos matado todos os pássaros.

Naquela época, parecia que a natureza era imensamente poderosa diante da atividade humana. Mais tarde foi visto que não é bem assim. Agora somos muitos, temos muita atividade e o que estamos vendo é que a natureza é como se fosse um jardim, que se não cuidarmos, acabaremos destruindo.

Talvez, graças a Carson, muitas espécies de pássaros foram salvas. E o trabalho não acabou, porque temos que nos preocupar com insetos voadores.

BBC: Você fala de Carson como uma visionária. Você também destacaria sua grande determinação? Porque ela foi constantemente alvo de representantes da indústria de agrotóxicos.

Grimalt: Claro que sim. O mais fácil é tentar destruir a pessoa em vez de discutir as ideias que ela traz e ver se estão corretas ou não. Carson foi uma mulher super corajosa porque enfrentou todo status quo dos EUA. Por trás da fabricação de pesticidas e inseticidas, há muitos interesses econômicos. Muitas empresas se viram ameaçadas e pagaram a outras pessoas para que a atacassem.

E, além disso, ela sofreu com tudo isso quando estava com câncer, o que torna tudo muito mais doloroso e difícil. Porque estar bem de saúde não é o mesmo que estar muito doente e morrendo — na época, o câncer era praticamente uma sentença de morte — e ela tinha que se defender e continuar mantendo suas ideias. Eu acho que nesse sentido Carson é uma figura de referência mundial.

BBC: Você recomenda a leitura de Primavera Silenciosa para as novas gerações?

Grimalt: Claro que sim. Foi a primeira vez em que se disse que podemos causar um impacto irreversível na natureza.

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