PROCISSÃO DAS SANFONAS ACONTECE NESTA QUARTA-FEIRA (02)

Nordestinos de todo o Brasil vão celebrar o legado de sua identidade e tradições. É que 2 de agosto é o Dia da Cultura Nordestina. A data foi escolhida em homenagem ao músico brasileiro Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que faleceu nesse mesmo dia, em 1989. Símbolo da cultura do Nordeste, nascido no município de Exu, no Pernambuco, Gonzaga é um dos grandes porta-vozes, não só por ter tocado melodias da região e cantado letras descrevendo os costumes do sertanejo, mas também por sempre trajar o chapéu e o gibão de couro, peças de referência na vestimenta tradicional.

Dentre as dezenas de festejos em vários estados do país que celebram o Dia da Cultura Nordestina, um deles leva, há muitos anos, a música do Rei do Baião para as ruas de Teresina, capital do Piauí.

Na próxima quarta-feira, dia 2, a já tradicional Procissão das Sanfonas volta às ruas de Teresina, completando 15 anos de desfile musical pela capital do Piauí. Este ano, o evento irá homenagear a rainha e o rei do baião, celebrando o centenário de Carmélia Alves e 34 anos de saudade de Luíz Gonzaga.

A concentração será às 15h em frente à Catedral de Nossa Senhora das Dores, na Praça Saraiva, onde será celebrada uma missa, com a bênção das sanfonas. O percurso segue pelo calçadão da Rua Simplício Mendes, no centro comercial, até chegar ao Museu do Piauí, na Praça da Bandeira, onde há uma apresentação dos músicos que estão participando da procissão.

A procissão das sanfonas é mais que um tributo a Luiz Gonzaga. É também uma forma de preservar nossas raízes musicais, com a exaltação de um instrumento tão significativo para o povo nordestino. Em uma época de cultura e músicas descartáveis, é bom saber que a força da sanfona permanece viva entre nós.

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MISSA VAQUEIRO DE SERRITA: QUASE SEM ABOIOS E A GANÂNCIA DO CAPITALISMO SELVAGEM QUE DESTROI A CULTURA



O cantor, sanfoneiro, o Rei do Baião, Luiz Gonzaga moldou um imaginário do Nordeste na música, mas também tinha um projeto de Nordeste. E ele próprio fazia questão de executá-lo. Na sua adorada Exu, Chapada do Araripe construiu o primeiro posto de gasolina e um complexo turístico com pousada e museu – o Parque Aza Branca. Acreditando na educação, pagava ônibus para levar os estudantes para a faculdade na vizinha Crato, no Ceará. Quando o primo vaqueiro Raimundo Jacó, nascido e criado na Fazenda Araripe, foi assassinado e o crime ficou impune, em 1954, Gonzaga cantou uma das suas canções mais bonitas:,A morte do vaqueiro. Mas não ficou só nisso.

Em 1971, o então pároco de Serrita, padre João Câncio, o procurou e, juntos, deram forma à Missa do Vaqueiro no Sítio Lajes, onde Jacó trabalhou e foi encontrado morto, a 35 quilômetros do centro da cidade, no caminho para Exu. Câncio era um padre progressista, cheio de ideias, que incorporava a cultura da região nas suas missas. Nas mãos do “padre vaqueiro” e de Gonzagão, a missa era não só uma homenagem a Jacó, mas um grito contra as injustiças e impunidades contra o povo mais pobre, em meio a tantas brigas sangrentas por terras e poder político no Sertão.

O que se desenvolveu ao longo dos anos 1970 e 80 é um mosaico da iconografia sertaneja: a figura do vaqueiro trajado de couro, o cortejo a cavalo, o altar com as peças de couro no ofertório. Ainda havia as músicas especialmente compostas para a ocasião por Janduhy Finizola, os poemas e repentes de Pedro Bandeira, também um dos fundadores da missa, os lindos e quase infinitos aboios. Tudo envolvido na liturgia católica, na comunhão do religioso com o sagrado gonzagueano.

À missa, foram se incorporando shows de artistas do forró pé de serra. Foi, por muito tempo, uma festa e uma celebração para os vaqueiros, suas famílias e os aficionados pela ideia do Nordeste vivo, resiliente, festeiro e justo de Gonzaga e seus seguidores.

ANO 2023-O comentário em Serrita é sobre a maior Missa do Vaqueiro já vista. É número para todo lado: 500 vaqueiros no cortejo, mais de 400 mil pessoas nos quatro dias de eventos. E o show de Gusttavo Lima o maior já visto por ali, um público de 120 mil pessoas, mais de 3h de congestionamento para sair do Parque João Câncio, no Sítio Lajes. “Foi um exagero, uma coisa nunca vista por aqui”, diz o vaqueiro Mário Artur, que participa da Missa do Vaqueiro desde a primeira edição.

O prefeito de Serrita, Aleudo Benedito (MDB), na madrugada de quarta para quinta-feira, ele teve um trunfo: foi chamado ao palco por Gusttavo Lima, e, ao lado da primeira dama, discursou para o público. “A prefeitura agradece seu show. Você está realizando um sonho de muitos serritenses, obrigado por tudo, por ter adotado a cultura do vaqueiro, nossa história”, falou no microfone.

Havia, no entanto, uma liminar que proibia que o prefeito subisse ao palco, usando a Missa do Vaqueiro com possíveis fins políticos. Há uma briga judicial ao redor do evento deste ano: de um lado, a Fundação Padre João Câncio, que por 22 anos fez a produção da festa, do outro, a prefeitura de Serrita, que conta com o apoio do Governo do Estado e da Diocese de Salgueiro.

No cerne da questão, a descaracterização da Missa do Vaqueiro de um evento tradicional sertanejo, com o vaqueiro como protagonista, para um mega festival de música, no estilo da gigantesca ExpoCrato. E um gasto vultoso, que ultrapassa os R$ 3 milhões, em um cidade com apenas 18,2 mil habitantes e 54,5% da população vivendo com menos de um salário mínimo por mês.

Os shows no palco principal se encerraram na noite de sábado. A Marco Zero esteve na Missa do Vaqueiro no domingo pela manhã. Muitos quilômetros antes do Sítio Lajes começa a movimentação intensa de carros, ônibus e caminhões carregando gente e animais. Nos acostamentos, homens, mulheres e crianças seguem montados em seus cavalos.

Recém-chegado à diocese de Salgueiro – da qual a paróquia de Serrita faz parte – o bispo Dom José Vicente já começou a celebração se desculpando. Era a primeira vez dele ali, mas ia precisar fazer uma missa enxuta pois, sem se aperceber das longas distâncias do Sertão, havia marcado um compromisso em Araripina – que fica a 178 quilômetros de Serrita – às 16h.

Logo depois, cometeu uma gafe: chamou Francisco Assis Domingos de filho de Raimundo Jacó. Não é: Assis Vaqueiro, como é conhecido, estava no palco representando os vaqueiros, mas não é parente do primo de Gonzagão. Único filho ainda vivo de Raimundo Jacó, Vicente Jacó não compareceu à missa deste ano.

Na missa, os vaqueiros não pegaram o microfone – apenas um, para uma rápida leitura bíblica. O tradicional coral de aboios mal foi ouvido. A diocese não quis que músicas originais, compostas para a missa por Janduhy Finizola, fossem executadas. “Não será permitida a ‘Toada de Gado’ e o ato a que se destina”, diz mensagem da diocese enviada para Helena Câncio – que se casou com João Câncio nos anos 1980, quando ele abandonou a batina, e comanda a fundação que leva o nome do marido.

Desde o ano 2000, ela estava à frente da organização da Missa do Vaqueiro. Com as exigências do novo bispo, ela desistiu de participar da missa neste ano. Outra mudança drástica estabelecida pela paróquia de Serrita e a diocese foi no ofertório: “Os vaqueiros poderão depositar indumentárias e apetrechos próprios dos vaqueiros, contudo, em silêncio e sem manifestação. Não serão lidos textos”, diz outra mensagem da diocese enviada para Helena.

Ainda que tolhida, houve emoção na missa, principalmente para quem estava ali pela primeira vez. Do altar, se via um mar de vaqueiros e vaqueiras trajados de couro. Velhos, moços, meninas. Chocalhos ressoavam no ar nas respostas ao rito.

O mais bonito mesmo foi a hora do ofertório, certamente por ser a única com alguma participação dos vaqueiros e vaqueiras. Sem sair da sela dos cavalos, eles cruzam o palco e fazem das suas peças de couro uma oferta ao altar. Com os aboios dos vaqueiros e os repentes deve ser muito mais emocionante. Mesmo assim, é um momento intenso, com perneira, gibão, alforje, colete, chapéu, chicote, luvas, botas e outras peças sendo montadas uma a uma no altar.

Ao final da missa, que durou menos de duas horas, o bispo Dom José Vicente relembrou o tão importante e inadiável compromisso em Araripina para avisar que não tiraria fotos com os fiéis. Estava apressado.

Ficou a dúvida: algo deveria ser mais importante para um bispo da diocese de Salgueiro do que a Missa do Vaqueiro, a mais famosa do sertão?

LEGADO-No mesmo ano em que Gonzagão morreu, faleceu também João Câncio. A Missa do Vaqueiro ficava órfã em 1989 – Pedro Bandeira não se envolvia tanto na produção. Ao longo de 53 anos, o evento teve algumas organizadoras. A Fundação Quinteto Violado foi a responsável de 1976 a 1983. “Depois outra fundação tomou conta. Neste ano, o prefeito convidou o Quinteto e ficamos muito felizes”, contou o vocalista Marcelo Melo. A última vez do grupo no evento havia sido em 2014.

Na época em que o Quinteto Violado organizava a festa, não havia estrada com asfalto, nem energia elétrica no Sítio Lajes. Tinha que levar gerador. Apesar de dizer que não quer se envolver na polêmica entre a Fundação e a prefeitura, Marcelo considera que há uma descaracterização do evento.

“É uma festa que tem a ver com o grito de justiça do vaqueiro e por melhores condições de trabalho. Sempre batalhamos nesse caminho. Mas esses shows não têm nada a ver com a nossa realidade. Agora, tem a mídia que domina sobre a juventude e quer esse tipo de música, mas que não tem identidade cultural com a região. O importante é a emoção, a identificação cultural. A festa é para o vaqueiro”, diz.

Quando o Quinteto Violado parou de produzir a festa, o padre João Câncio assumiu tudo. Mas houve um afastamento quando ele se casou e, por conta das represálias da Igreja Católica, deixou o Nordeste. Quando faleceu, a missa também ficou por 11 anos sem uma produção. Nesses hiatos, foi a paróquia de Serrita quem assumiu, junto com a prefeitura, a Missa do Vaqueiro. Desde 2000 a Fundação João Câncio fazia quase tudo, privilegiando artistas regionais, do forró pé de serra.

O imbróglio entre a Fundação e a prefeitura de Serrita começou ano passado quando Aleudo Benedito tomou para si a organização da festa, com apoio do Governo do Estado e da paróquia, conduzida por um sacerdote de perfil conservador. Teve show de Wesley Safadão nos dias de festa pagã, mas quem organizou a missa em si foi a Fundação, com o então bispo Dom Magnus Henrique Lopes, que abraçava a causa do vaqueiro – ele foi transferido neste ano para a diocese do Crato (CE).

Em 2023, o prefeito foi mais longe. Tentou mudar o nome das festividades de Missa do Vaqueiro para “Festa do Jacó”. Como não tem a maioria da Câmara de Vereadores, não conseguiu. Mas montou uma área vip em frente e ao lado do imenso palco dos shows – coisa digna do carnaval no Marco Zero – com cobrança de ingressos. E não foi só Gusttavo Lima quem veio: teve show de Nattan – estouradíssimo no Brasil, com mais de 30 shows no mês de junho –, Simone, ex-dupla de Simaria e que está com tudo nos eventos do governo Raquel Lyra, Xand Avião, Priscilla Sena, entre outros.

A Fundação, então, entrou na Justiça questionando a cessão da prefeitura para explorar comercialmente o Parque Estadual João Câncio, como é chamado hoje o Sítio Lajes.

Na pequena cidade, há uma propagação imensa de boatos, difamando ambas as partes. Quase sempre, os boatos envolvem desvios de verbas públicas para festa. Uma das causas de boatos contra a Fundação é o não pagamento de muitos dos fornecedores da festa de 2019.

Helena Câncio afirma que não recebeu os R$ 500 mil então prometidos pela Empetur naquele ano. “Esse dinheiro era para fazer absolutamente tudo. Da limpeza do parque até a produção de shows. Desde 2015, o projeto vinha sofrendo com glosas (faturamentos recusados) de valores relativamente altos. Mas sempre comprovamos por A mais B os investimentos da Empetur, que na verdade nem davam para cobrir tudo. Em 2019, o Governo do Estado não pagou um real e estamos devendo”, lamenta.

Na missa, em entrevista à MZ, o prefeito Aleudo Benedito afirmou que a festa deste ano teve um custo total de mais de R$ 3 milhões e que desde o ano passado a Empetur triplicou o investimento na festa, passando para R$ 1,5 milhão. A prefeitura bancou os outros 50%, segundo ele. “Fizemos tudo sem jamais prejudicar o erário público do município, mantendo as contas e nossas obrigações em dia”, garantiu. “As atrações foram pagas uma parte pelo município e outra parte pela Empetur”, disse. No dia seguinte à festa, ele anunciou nas redes sociais o pagamento de 50% do 13º salário dos servidores da prefeitura.

A Marco Zero entrou em contato com a Empetur para saber o motivo das contas de 2019 da Fundação João Câncio não terem sido aceitas e também quanto foi investido na Missa do Vaqueiro deste ano. Assim que chegar a resposta, esta matéria será atualizada.

Sobre as críticas à descaracterização da Missa do Vaqueiro, o prefeito afirma que o público deu a resposta. “São opiniões contrárias a tudo isso que vivenciamos. A nossa gestão está transformando e dando uma roupagem nova aqui para toda estrutura desse evento. E o que aconteceu este ano? Colocamos o maior público. Buscamos recursos junto ao Governo do Estado, ao Governo Federal e agora Serrita já está incluída no calendário de eventos nacionais”, afirmou.

Como se nota, há novamente uma tentativa de tensionar as mudanças na festa para a disputa entre tradição e modernidade, tão comum ultimamente nas festas tradicionais nordestinas – vide o São João de Caruaru. É como se no Nordeste tudo tivesse que ceder às poderosas e irresistíveis forças populares do sertanejo, mantendo apenas um tiquinho de sua essência. Vale lembrar que recentemente um levantamento feito com Google Trends e YouTube mostrou que Pernambuco é o estado com o menor interesse em música sertaneja, com apenas 15% das buscas.

(E aqui a repórter abre um parênteses: uma boa forma de “modernizar” a Missa do Vaqueiro seria fiscalizar os maus tratos contra os animais. Sol a pino, e dois imensos bois Nelores, visivelmente extenuados, eram usados para que as pessoas tirassem fotos em cima deles. Um dos bois tinha uma argola no nariz e nela colocaram uma corda que o prendia a uma estaca. Exausto, o boi se deitou no chão e ficou com o focinho levantado, pois a corda era muito curta para que pudesse abaixar a cabeça. Uma maldade.)

Há dúvidas se é mesmo a afinidade com o gosto do público o que leva uma prefeitura de 18,2 mil habitantes no Sertão a gastar tanto na contratação de sertanejos como Gusttavo Lima e Simone. O Ministério Público solicitou da prefeitura de Serrita o fornecimento de vários documentos, incluindo planilha de todos os gastos com a festividade.

O MPPE afirma que serviços públicos básicos essenciais estão sendo postergados por alegação de incapacidade financeira do município de Serrita. Há diversos procedimentos extrajudiciais instaurados na Promotoria de Justiça de Serrita envolvendo demandas relacionadas à prefeitura. “Há, ainda, ações civis públicas ajuizadas perante o Poder Judiciário contra o município de Serrita para garantir tratamentos de saúde, fornecimento de leite, além de serviços de fisioterapia, fonoaudiologia e psicologia à população que necessita”, diz nota do MPPE.

O Ministério Público também recomendou que a prefeitura faça a atualização imediata de seu portal de transparência, divulgando informações sobre licitações e contratações públicas, em conformidade com a Lei de Acesso à Informação.

Ao ser questionada pela Marco Zero sobre a descaracterização da Missa do Vaqueiro, a governadora Raquel Lyra, disse que não tem participado das discussões. “Nosso propósito como governo é garantir que o evento possa acontecer. E a gente espera que haja sempre conciliação entre todos os atores envolvidos, que são super importantes na manutenção desta tradição, que são o poder público, o terceiro setor, a família do padre João Câncio, de Raimundo Jacó. Que possam estar todos juntos ano que vem e essas brigas sejam superadas”.

A reportagem é de Maria Carolina Santos-jornalista da UFPE A Marco Zero

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ALEMBERG QUINDINS PARTICIPA DO PROGRAMA NAS ASAS DA ASA BRANCA-VIVA LUIZ GONZAGA NESTE DOMINGO (30)

Domingo, 30 de julho no Programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga e seus Amigos, apresentado às 8hs, NA RÁDIO CIDADE FM 95.7, o ouvinte terá a oportunidade de escutar novamente a entrevista, a prosa do Café Cultural com Alemberg Quindins. 

Você vai saber o motivo do Estado de Espírito do vento/cariri que sopra com saudade do Mar. Patativa do Assaré. Luiz Gonzaga e Padre Cícero, arqueologia e gestão cultural são temas da conversa.

Alemberg diz que a Chapada do Araripe tem uma influência nesse território desde o período cretáceo. Em torno dela, de um lado tem Luiz Gonzaga, a Pedra do Reino, de Ariano Suassuna e a Missa do Vaqueiro, Padre Cícero, Patativa do Assaré, Espedito Seleiro, toda uma cultura. O Cariri é um oásis em pleno sertão. É o solo cultural por conta de toda essa força que vem da geologia, da paleontologia, da cultura. Você vai entender a importância do contexto da Chapada do Araripe para o mundo.

O Memorial do Homem Kariri teve sua origem a partir das pesquisas de mitologia e etnomusicologia dos pesquisadores, músicos e produtores culturais: Alemberg Quindins e Rosiane Limaverde. 

Atualmente, a Casa Grande se consolida como ponto de memória da ancestralidade, da mitologia e da arqueologia do cariri cearense, utilizando-se da arte como ferramenta capaz de proporcionar uma imersão mais consciente destes assuntos.

Francisco Alemberg de Souza Lima, o Alemberg Quindins, é um dos criadores da Fundação Casa Grande-Memorial do Homem Kariri em 1992 com o intuito de valorizar a história do povo da região, o Vale do Cariri, e ser um centro de memória.

Em conversa com o BLOG NEY VITAL e que no dia 30 de julho, será retransmitido no programa NAS ASAS DA ASA BRANCA-VIVA LUIZ GONZAGA E SEUS AMIGOS, na Rádio FM 95.7, Alemberg explica que a Chapada do Araripe é uma confluência de quatro Estados: Ceará, Pernambuco, Piauí e Paraíba.

"Um resumo do Nordeste. A Chapada do Araripe tem uma influência nesse território desde o período cretáceo. Em torno dela, de um lado você tem Luiz Gonzaga, a Pedra do Reino, de Ariano Suassuna e a Missa do Vaqueiro, por exemplo; de outro, do lado de cá, temos Padre Cícero, Patativa do Assaré, Espedito Seleiro, toda uma cultura".

Ainda de acordo com Alemberg a Chapada do Araripe é um platô central. "Aqui, era o único lugar onde Lampião se ajoelhava e deixava as armas na porta. Território sagrado. Portanto, o Cariri é um oásis em pleno sertão. É o solo cultural do Ceará por conta de toda essa força que vem da geologia, da paleontologia, da cultura. É onde você entende a importância do contexto da Chapada do Araripe para o mundo. Nosso manancial é esse: a cultura. A maioria dos mestres da cultura popular estão aqui. E, da forma como acontece em solo caririense, essa reunião de tanta coisa, não vamos encontrar em nenhum outro lugar do Estado".

A Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, é uma instituição sem fins lucrativos, de utilidade pública federal. O local se tornou espaço de vivência em gestão cultural para crianças e jovens do sertão e tem como objetivos constantes no seu estatuto, pesquisar, preservar, coletar, juntar em acervo, comunicar, exibir, para fins científicos, de estudo e recreação, a cultura material e imaterial do Homem Kariri e de seu ambiente".

"Nós resgatamos a cultura local nas áreas de arqueologia, mitologia, artes e comunicação", conta Alemberg. Os alunos mantêm um canal de TV, de rádio, uma editora de gibis e um museu que conta com um rico acervo de 2.600 HQs e 1.600 títulos de clássicos do cinema. A ideia é desenvolver a capacidade de liderança das crianças a partir dos laboratórios de produção.

Arte, cultura, música e TV. Essas são apenas algumas das atividades oferecidas pela Fundação Casa Grande, em Nova Olinda, Cariri do Ceará Francisco Alemberg Quindins, músico e educador social da ONG que forma cidadãos e os transformam em protagonistas da própria história neste período de isolamento social tem participado de lives, transmissões ao vivo que tem contribuindo ainda mais para a divulgação do trabalho desenvolvido com as crianças.

No próximo mês de dezembro a Fundação vai completar 30 anos, o espaço guarda algumas artes indígenas dos primeiros habitantes da região; possui uma rádio; dispõe de uma editora de gibis, com um acervo com mais de 3 mil títulos; tem ainda um teatro; e uma banda de lata, que encanta quem visita a fundação.

Para registrar tanta coisa boa, a fundação conta com um canal virtual, a TV Casa Grande, cujo objetivo é dar voz, mostrar a arte dos moradores da região e documentar a cultura local.

O sucesso da fundação rendeu a ela o título de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e muita visibilidade para cidade de Nova Olinda, que recebe, por ano, mais de 50 mil visitantes.

Alemberg Quindins é investigador do CEAACP, Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Patrimônio da Universidade de Coimbra e, por inerência, Membro do Conselho Científico desta unidade de investigação. que é avaliada e financiada pela Fundação da Ciência e Tecnologia (FCT) do Ministério da Ciência e Ensino Superior de Portugal.

Há vários anos a Fundação Casa Grande é parceira do CEAACP e Alemberg Quindins era colaborador. Agora, transitou em estatuto, o que acontece por reconhecido mérito e por categoria universitária dado o seu Doutoramento Honoris Causa, passando a integrar o grupo de pesquisa em Arqueologia Cidadã e Inclusiva do Centro.


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AGRICULTURA FAMILIAR É OITAVA MAIOR PRODUTORA DE ALIMENTOS DO MUNDO

Se todos os agricultores familiares do Brasil formassem um país, seria o oitavo maior produtor de alimentos do mundo. O dado está no Anuário Estatístico da Agricultura Familiar 2023, divulgado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

O documento tem o objetivo de mostrar a participação da agricultura familiar no total da produção agrícola brasileira. Os números são baseados em pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A divulgação do anuário acontece na semana em que se comemora o Dia Internacional da Agricultura Familiar, dia 25 de julho, uma data criada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO/ONU).

O anuário da Contag aponta que a agricultura familiar brasileira é a principal responsável pelo abastecimento do mercado interno, com produtos saudáveis e manejo sustentável dos recursos ambientais.

As propriedades de agricultura familiar somam 3,9 milhões no país, representando 77% de todos os estabelecimentos agrícolas. Já em área ocupada, são 23% do total, o equivalente a 80,8 milhões de hectares. Para se ter uma ideia, isso é quase toda a área do estado do Mato Grosso.

Essas propriedades são responsáveis por 23% do valor bruto da produção agropecuária do país e por 67% das ocupações no campo. São 10,1 milhões de trabalhadores na atividade. Desses, 46,6% estão no Nordeste. Em seguida aparecem o Sudeste (16,5%), Sul (16%), Norte (15,4%) e Centro-Oeste (5,5%).

Na agricultura familiar, tanto a produção de alimentos quanto a gestão da propriedade ficam, predominantemente, a cargo da família.

O presidente da Contag, Aristides Santos, defende que conhecer os números da agricultura familiar é uma forma de desenvolver a atividade. “Além de conhecer e mostrar a importância estratégica do segmento a toda sociedade, reunir esses dados em um anuário também visa contribuir com o debate sobre o papel da agricultura familiar para o desenvolvimento do país. E a busca por valorização e reconhecimentos dos sujeitos que a compõem e suas entidades representativas”, disse.

Além da produção de alimentos em si, outra contribuição das propriedades familiares é funcionar com um “motor” para a economia. De acordo com a Contag, a agricultura familiar responde por 40% da renda da população economicamente ativa de 90% dos municípios com até 20 mil habitantes, que representam 68% do total do país. Ou seja, faz o dinheiro circular nas pequenas cidades do campo, gerando um efeito multiplicador de emprego e mais renda.

Incentivo-No dia 28 de junho, o governo lançou o Plano Safra da Agricultura Familiar 2023/2024, com R$ 71,6 bilhões destinados ao crédito rural no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O valor é 34% superior ao anunciado na safra passada e o maior da série histórica.

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PROFESSOR JORGE GALEGO LANÇA LIVRO CACHAÇA CAUSOS E ACASOS

O livro “Cachaça – Causos e Acasos” foi lançada no mês passado na Câmara de Vereadores de Uauá - BA, nordeste baiano. Uma obra literária escrita pelo empreendedor, “jornalista” e “professor” Jorge Galego. A publicação em parceria com a Editora Ases da Literatura está disponível em vários sites parceiros (Amazon, Um Livro, Estante Virtual, Extra, Shoptime e outros).

O autor afirma está muito feliz por realizar mais este sonho, pois publicou a grande reportagem “Cachaça – Ardente Sabor de uma Cultura” (2014) e o livro de poesias “Bêbado de Amor” (2016). “Esta obra agora, além de belíssima, com uma capa e diagramação de qualidade impressionante, ela une poesia à prosa. É uma sequência de um trabalho de cerca de uma década de lapidação e reflexões”, enfatiza o autor.

É um livro de causos “cachaçais” com narrativas apresentando vários contextos da vida sociocultural do município fictício de Pirajá, norte da Bahia, Brasil. Acontecimentos envolvendo diversos tipos de cachaceiros e cachaceiras. Destaque para os causos “Ah, se o umbuzeiro falasse!” , “O conselho da santa ao cachaceiro Coló” e as histórias dos capítulos: “Cachaceiras  arretadas”,  “Cachaceiros homo machos” e “Cachaceiras homo fêmeas”. Cada história mais impressionante do que a outra, onde prosa e poesia unem-se para melhor demonstrar a vida na imaginária cidade do semiárido brasileiro.

Jorge Galego te convida para participar do encontro de lançamento. “Será um momento cultural inesquecível, sem contar à aula que darei junto com os convidados presentes. Para mim uma pessoa a mais disposta a compreender os usos culturais da cachaça pelo povo brasileiro já vale a pena o esforço destes anos de batalha “cachaçal” em meio a tantos riscos e consequências. Contudo, não há como negar a presença das representações culturais da cachaça na música, religiosidade, humor e letras ou versos vivenciados de norte a sul do Brasil, em especial no semiárido da Bahia”, conclui Jorge Galego.

Mais informações pelo telefone (74) 99972-0187, e-mail: jorgeboibravo@hotmail.com ou Instagram @jorgegalegoemprosa.

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BODOCÓ E A SONORIDADE DA CULTURA BRASILEIRA GONZAGUEANA

Cada arte emociona o ser humano de maneira diferente! Literatura, pintura e escultura nos prendem por um viés racional, já a música nos fisga pelo lado emocional. Ao ouvir música penetramos no mundo das emoções, viajamos sem fronteiras.

Visitei Bodocó, Pernambuco e abracei amigos/irmaos. O homem que pesquisa é um lutador. Desbravador. Deve vestir a roupa do destemor e despir os pés para adentrar os caminhos, sentindo o chão que pisa...há anos eu precisava sentir a poeira dos caminhos de Bodocó. 

Bodocó. Desde menino a palavra Bodocó zumbe nos meus ouvidos. Na cidade, o sentimento invadia meus pensamentos, alma de menino cantador/jornalista: "Nas quebradas caem as folhas fazendo a decoração. Chora o vento quando passa nas galhas do aveloz. Chora o sapo sem lagoa todos em uma só voz. Chora toda a natureza na esperança, na incerteza de Jesus olhar pra nós...Nos cafundó de Bodocó, de Bodocó, de Bodocó. Nos cafundó de Bodocó, de Bodocó, de Bodocó"... 

Na companhia do amigo Flávio Leandro/Cissa/Emanuel, Jurandy da Feira, Miguel Alves Filho...Dorinha, no Rancho Febo, tive a felicidade de apreciar a sonoridade da palavra Bodocó...no violão o poeta cantador Flávio Leandro ecoa Chuva: "O choro do céu é pureza imenso escoar de beleza nas terras do meu Bodocó/em tom de verde realeza envia um rio de certeza para o sertanejo tão só"...

Neste mês de Julho é aniversário do poeta Miguel Alves Filho.

A cidade é mencionada na canção "Coroné Antônio Bento", que integra o primeiro LP de Tim Maia, de 1970. A música conta a história do casamento da filha de um "coronel", que dispensa o sanfoneiro e chama um músico do Rio de Janeiro para animar a festa. A canção é de autoria de Luis Wanderley e João do Vale.

A cidade também consta na música Pau de Arara (Guio de Moraes)..."Quando eu vim do sertão, seu moço, do meu Bodocó, a malota era um saco e o cadeado era um nó, só trazia a coragem e a cara, viajando num pau de arara, eu penei, mas aqui cheguei".

E uma das mais belas ja citadas aqui: Nos Cafundó de Bodocó, de Jurandy da Feira.  "Nas caatingas do meu chão se esconde a sorte cega/Não se vê e nem se pega por acaso ou precisão/ Mas eu sei que ela existe pois foi velha companheira do famoso Lampião".

Na musica Respeita Januário, Luiz Gonzaga solta a voz também usando a sonoridade da palavra Bodocó...

Também ouvi atentamente o relato de Flávio Leandro quando mostrava uma análise, diálogo/pesquisa, a gênese de nossas raízes. Flávio aproxima nossos ancestrais ao termo, a cultura árabe. Lembrei que Elomar, em sua cantiga O Violeiro, canta “Deus fez os homens e os bichos tudo fôrro...”. De forria para fôrro, de fôrro para forró, celebração da liberdade, da quebra do jugo e dos grilhões. 

E  aqui registro, o magistral Emanuel, o Manu, advogado, filho de Flávio/Cissa, na batida do Pandeiro. Ritmo e talento. Sorriso e simplicidade do tamanho do mundo chamado Bodocó

Miguel Filho me levou a caminhar na história de Bodocó. Pedra Claranã. Capela São Vicente de Paulo e histórias que envolvem Bodocó e a família de Luiz Gonzaga.

Miguel Filho é o típico sertanejo. Humildade franciscana. Compositor da safra das palavras de qualidade.  Miguel é compositor parceiro de Flávio Leandro, nas músicas Utopia Sertaneja, uma das mais belas da literatura brasileira; e de Fuxico. Miguel tem músicas gravadas também com o Quinteto Violado, Pedras de Atiradeira e Experiências.

E assim a sonoridade Bodocó ganhou ainda mais beleza e sentido. Compreendi que existem palavras que são portas/janelas servem para revelar mundos e situações. Bodocó és encantamento de um sol e lua do mês de julho. 

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DOMINGUINHOS: HÁ DEZ ANOS NÃO SE OUVE MAIS O SOM DA SANFONA SENTIDA

Com a rapidez de um trem da Great Western, o tempo passou e, no próximo domingo (23), faremos memória à passagem do músico, cantor e compositor José Domingos de Moraes, o Dominguinhos. O artista, que morreu aos 72 anos, lutou por mais de seis anos contra um câncer de pulmão, mas não resistiu às complicações infecciosas e cardíacas.

Nascido em Garanhuns, no Agreste pernambucano, Dominguinhos conheceu Luiz Gonzaga ainda criança e, aos 13 anos, quando já estava no Rio de Janeiro, recebeu do Rei do Baião sua primeira sanfona, a mesmo que o consagrou, três anos mais tarde, como herdeiro de sua obra.

Quando a notícia da morte de Dominguinhos estampou os principais noticiários do país, naquela penúltima terça-feira do mês de julho de 2023, um clima de suspense pairou no ar. O sanfoneiro que, assumidamente, era um verdadeiro adorador de sua terra natal, inclusive isso ficou registrado em gravações de entrevistas concedidas às rádios pernambucanas, tinha o desejo de ser sepultado em Garanhuns.  A decisão da ex-companheira Guadalupe e sua filha Liv Moraes contrariou o desejo explícito, programando o sepultamento do cantor em um cemitério privado da capital pernambucana.

Menos de um mês depois da morte de Dominguinhos, o filho mais velho do sanfoneiro, Mauro Moraes, moveu uma ação na Justiça pedindo que o corpo do músico fosse transferido para Garanhuns. O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) autorizou a transferência do corpo à cidade natal do artista. A decisão foi da juíza Andréa Duarte Gomes, atendendo ao pedido do filho do músico, Mauro José de Moraes, in memorian. A sentença saiu numa quinta-feira, 29 de agosto, mas foi divulgada somente na sexta (30).

Finalmente, em 26 de setembro do mesmo ano, os restos mortais do saudoso “Nenem”, como era apelidado por sua mãe, foram sepultados no Cemitério São Miguel, em Garanhuns. Sob forte comoção e aplausos de familiares e amigos, Dominguinhos pode, enfim, ter sua última morada definitiva.

No ano de 2002, Dominguinhos foi o vencedor do Grammy Latino com o CD Chegando de Mansinho. Em 2008, foi o grande homenageado da 19ª edição do Prêmio da Música Brasileira, antigo Prêmio Sharp, numa noite de pura reverência concedida por outros artistas nacionalmente consagrados como Gilberto Gil, Genival Lacerda, Jorge de Altinho, Flávio José, Elba Ramalho, Vanessa da Mata, Nana Caymmi e outros tantos.  Ao longo da carreira, fez parcerias de sucesso com músicos como Gilberto Gil, Chico Buarque, Anastácia e Djavan.Com sua maior parceira musical, Anastácia, compôs grandes sucessos como Tenho sede, Eu só quero um xodó, Contrato de separação, Sanfona sentida, Toque pife e Triunfo.

E como se nem imaginássemos, o tempo passou e há dez anos que não ouvimos mais o som de sua sanfona, à qual Dominguinhos sempre teve extrema dedicação. Uma característica que poucos conhecem dele, um excelente instrumentista, que, por muitas vezes, declarou ter muito mais apreço em tocar, produzir arranjos e compor as melodias de inúmeras canções do que até mesmo cantar. Além disso, era um grande apreciador de valsas e passava horas com sua sanfona a tocar, apreciando o ritmo.

Para nós, fãs e apreciadores de sua obra, nos resta a memória extremamente viva do que foi e o que é Dominguinhos para a música popular brasileira. Que possamos perpetuar seu legado fazendo com que as gerações futuras ouçam, consumam e reflitam em toda a obra do mestre Dominguinhos. Que os artistas mais contemporâneos possam beber na fonte que é José Domingos e deem continuidade. Viva Dominguinhos, viva a sua obra!

*Charles Andrade-Jornalista e pesquisador musical

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SILVERIO PESSOA SOLICITA EXONERAÇÃO DO CARGO DE SECRETÁRIO DE CULTURA DE PERNAMBUCO

Silvério Pessoa não está mais à frente da Secretaria de Cultura do Estado. Em comunicado divulgado à imprensa nesta quinta-feira (20),  o ex-gestor da pasta afirmou que se despede do cargo "com o sentimento de dever cumprido e a certeza de ter dado voz a quem muitas vezes está à margem do processo".

Em entrevista exclusiva concedida à Folha de Pernambuco no início da atual gestão do Governo do Estado, Silvério afirmou ter recebido com surpresa a Secretaria. "Foi um mix de surpresa e de desafio, mas ao mesmo tempo de muita leveza", comentou, à época.

Sete meses após assumir a pasta na Cultura, Silvério deixa o cargo exatamente na véspera do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG 2023), com início nesta sexta-feira (21) na cidade agrestina.

Em nota a governadora Raquel Lyra, agradeceu pelos serviços prestados por Silvério, enquanto esteve à frente da Secretaria de Cultura de Pernambuco:

“Agradeço a Silvério pela dedicação à frente da Secretaria de Cultura e por todo o trabalho de escuta e    execução de ações estruturadoras para o setor, incentivando diversas linguagens e expressões culturais e valorizando os nossos artistas”.

Confira a carta assinada por Silvério à governadora Raquel Lyra, entregando o cargo na secretaria:

Governadora Raquel Lyra,Hoje as minhas primeiras palavras são de despedida e gratidão.

Agradeço a confiança pelo convite para o honrado cargo de secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, posição que com dedicação ocupei nos últimos meses. Como em todos os ciclos da vida, no entanto, chegou o momento de encerrar essa jornada: sem dúvidas, tempo de aprender, tempo de semear as bases de uma política cultural mais múltipla e democrática no nosso Estado.

Despeço-me do cargo com o sentimento de dever cumprido e a certeza de ter dado voz a quem muitas vezes está à margem do processo, valorizando nossos artistas e suas mais variadas expressões e linguagens inseridas também nas culturas das periferias em todo o Estado.

Estruturar e fomentar a política cultural de um Estado tão rico e diverso como Pernambuco não é tarefa simples, mas tenho a convicção que contribui com o processo. Nesse período, trazer à tona o debate sobre a pedagogia da cultura e a multiculturalidade e riqueza da cultura periférica, através do “Fala, Periferia”, que lançamos em abril, são exemplos de ações estruturadoras que por certo renderão bons frutos.

Implantamos com a Secretaria de Educação o projeto de alfabetização dos mestres e mestras da Zona da Mata e promovemos muitas escutas através do “Secult de Andada”, percorrendo quase 1.500 km visitando e me reunindo com aqueles que têm dificuldades em obter acesso ou qualquer tipo de apoio.

Estruturamos a execução da Lei Paulo Gustavo e fomos o primeiro estado do Nordeste e um dos primeiros estados do Brasil a ter o plano de ação aprovado e os recursos liberados.

O olhar para as diferenças e particularidades de cada linguagem esteve presente no nosso cotidiano, refletindo a construção das ações de uma política cultural forte e pulsante, marcada pela valorização dos artistas pernambucanos.

Premissas que também marcam a organização do 31º Festival de Inverno de Garanhuns, que se inicia nesta sexta-feira (21), com a presença dos nossos talentos, acompanhados de tantos outros nomes da cena artística e cultural do nosso país.

Decidi dedicar meu tempo agora para minha carreira e, também para a docência, pois como artista e professor sinto falta dos palcos e da sala de aula.

Agradeço ao time da Secretaria, que esteve junto comigo nesta jornada, desejando muito sucesso e novas conquistas para os que seguem na missão de mudar Pernambuco.

Por fim, agora como artista e pernambucano, seguirei na torcida e sempre à disposição, em outros palcos, em defesa da nossa cultura.

Silvério Pessoa.

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RIO SÃO FRANCISCO ESTÁ SENDO INVADIDO POR ESPÉCIES DE PEIXES QUE NÃO SÃO NATIVOS DO VELHO CHICO, ALERTA PESQUISADOR

O rio São Francisco está sendo invadido por espécies de peixes que não são nativos do Velho Chico. Isto está sendo constatado principalmente no baixo curso do rio. Segundo o professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e coordenador da Expedição Científica do Baixo São Francisco, Emerson Soares, os tucunarés, apaiaris e tilápias, que são ciclídeos, se adaptaram muito bem à região. 

“Além de serem prolíficos, com grande voracidade, e predadores, tem a questão do aumento da salinidade, devido a retenção de água para geração de energia elétrica e irrigação. Também há as espécies costeiras que adentram nas águas interiores que competem com os organismos nativos de água doce por alimento. Estas são desfavorecidas pela mudança de qualidade de água. Dentre as espécies de peixes costeiras que adentram no continente, citamos camurupim, robalos, tainhas, baiacus e xaréus, por exemplo”, explicou.

Soares acrescentou que o novo perigo são espécies exóticas oriundas da Ásia, trazidas por aquicultores para cultivos intensivos na região e, que por algum problema como enchentes ou rompimento de tanques escavados com fuga de espaços confinados, acabam indo parar no rio, tais como o panga ou o camarão da Malásia.

Para o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Maciel Oliveira, o Comitê vê estes estudos com grande preocupação. “Essas espécies invasoras trazem enormes prejuízos, a exemplo do tucunaré, que é da região Norte do país, e que aqui já se encontra há muito tempo. Existem outras espécies que também estão sendo citadas, como o panga. Entretanto, a nossa maior preocupação é com relação ao mexilhão dourado que pode trazer enormes prejuízos econômicos, socioambientais e para a população ribeirinha. Iremos cobrar das autoridades competentes um plano de ação e monitoramento que seja efetivo para o combate ao mexilhão dourado aqui na região do Baixo São Francisco e em toda a extensão da bacia”.

O pesquisador da UFAL complementa que as espécies invasoras podem causar desequilíbrio ecológico, com o aumento da predação de espécies nativas, bem como vão competir por alimento e por espaço com organismos locais, e que podem transmitir parasitoses e enfermidades à população. “O mexilhão dourado é outra espécie perigosa, que se alastra e ocupa o ambiente rapidamente e traz problemas para bombas e estações de abastecimento dos municípios, o que acarreta em um aumento dos custos de tratamento da água”, pontuou Emerson Soares.

É importante ressaltar que medidas importantes precisam ser tomadas para minimizar o dano ao rio São Francisco, e o professor da UFAL citou que o aumento da fiscalização, uma legislação mais rígida contra espécies exóticas, ordenamento da atividade aquícola (medidas de controle e de prevenção de fugas de peixes de piscicultura), a promoção de ações para captura e retirada destas espécies da região, como pesca e extração das espécies exóticas do ambiente, promoção de políticas de incentivo ao uso destas espécies na cadeia produtiva, tais como produção de farinha de peixe, uso de casca do mexilhão para fabricar tijolos e cobogós na construção civil, uso destes organismos como biofertilizantes, produção de adubos, a produção de silagem, a promoção de torneios de pesca controlada e esportiva com vistas a soltar as espécies nativas e capturar peixes exóticos, são bons exemplos para a busca da diminuição das espécies invasoras na região do Baixo São Francisco.

A Expedição Científica, por exemplo, tem trazido muitas informações sobre estas espécies, já que tem monitorado o aparecimento delas e correlacionou com as mudanças da qualidade de água e no ambiente. Também tem estudado de que forma esses organismos vêm aparecendo na região e como têm se proliferado.

Pescador há mais de 30 anos, Rodrigo Vieira, de Neópolis (SE), relatou que algumas espécies invasoras estão prejudicando bastante o trabalho dos ribeirinhos, pescadores e outros moradores da região do Baixo São Francisco que indiretamente sobrevivem do que ele oferece. 

“Quando entramos no rio para pescar temos grandes prejuízos porque, inclusive, aparecem siris que danificam as redes, mexilhões que acabam atrapalhando o trabalho de todos os profissionais. Porém, o tucunaré que é considerado uma espécie invasora pelos cientistas e demais pesquisadores acabou trazendo benefícios para nós, pois é fácil de pescar, bem como é vendável, circula bem economicamente”, finalizou. (CHBSF)

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PADRE CÍCERO A CAMINHO DOS 90 ANOS ENCANTAMENTO

 “O nome do padre Cícero / ninguém jamais manchará, / porque a fé dos romeiros / viva permanecerá, / pois nos corações dos seus / foi ele um santo de Deus / é e pra sempre será.” Tema de incontáveis folhetos de cordel espalhados pelas feiras sertão afora.

Quem já ouviu falar dos preceitos ecológicos do Padre Cicero, muitos o seguem como exemplo de fé e religiosidade, mas poucos sabem que ele foi um dos primeiros defensores do meio ambiente, do bioma caatinga.


Cícero Romão Batista nasceu em Crato, Ceará no dia 24 de março de 1844. Foi ordenado no dia 30 de novembro de 1870. Celebrou a sua primeira missa em Juazeiro em 1871. No dia 11 de abril de 1872 fixou residência em Juazeiro. Padre Cícero faleceu no dia 20 de julho de 1934, na cidade de Juazeiro.


A jornalista Camila Holanda escreveu que nas entranhas do Cariri do Ceará foi emergido uma versatilidade de ícones que, entrelaçados povoam o imaginário cultural que habita a região.


Nas terras do Ceará ouvi uma das mais belas histórias. Resumo: o teatrólogo, pesquisador cultural Oswaldo Barroso, ressalta um dos mais valiosos símbolos, a vigorosa força mítica e religiosa. Oswaldo, cidadão honorário de Juazeiro do Norte, diz que a primeira vez que esteve no Cariri foi nos anos 70 e a experiência fez com que suas crenças e certezas de ateu fossem desconstruídas e reconstruídas com bases nos sentimentos das novas experiências e epifanias vividas.


"Desde o início, não acreditava em nada de Deus. Mas quando fiz a primeira viagem ao Horto do Juazeiro do Norte, foi que eu compreendi o que era Deus. Isso mudou minha vida completamente", revelou Oswaldo.


Um outra narrativa importante encontrei na mitologia dos Indios Kariris. Nela a região é tratada como sagrada, centro do mundo, onde no final dos tempos, vai abrir um portal que ligará o Cariri  para a dimensão do divino.


A estátua do Padre Cícero encontra-se no topo da Colina. Muitos romeiros percorrem a Trilha do Santo Sepulcro. A pé eles percorrem às 14 estações trajeto marcado por frases e conselhos ambientais do Padre Cícero, que já alertava naquela época para os muitos desequilíbrios ambientais e impactos da agressão humana na natureza.


Padre Cicero descreveu os preceitos ecológicos:

1) Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau;
2) Não toque fogo no roçado nem na caatinga;
3) Não cace mais e deixe os bichos viverem;
4) Não crie o Boi e nem o bode solto; faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer;
5) Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água de chuva;
6) Não plante em serra a cima, nem faça roçado em ladeira que seja muito em pé; deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e não se perca sua riqueza;
7) Represe os riachos de 100 em 100 metros, ainda que seja com pedra solta;
8) Plante cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer, ate que o sertão todo seja uma mata só;
9) Aprenda tirar proveito das plantas da caatinga a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem ajudar a conviver com a seca;
10) Se o sertanejo obedecer a estes preceitos a seca vai aos poucos se acabando o gado melhorando e o povo terá sempre o que comer, mas se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só.

Rezemos com Fé! . Os sorrisos são a alegria da alma.
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MINISTRA DA CULTURA GANHA LIVRO LUIZ GONZAGA 110 ANOS DO NASCIMENTO E É CONVIDADA PARA VISITAR EXU

A trajetória épica de um dos maiores ícones da cultura brasileira ganhou ainda mais forma com o lançamento do livro Luiz Gonzaga: 110 anos do nascimento, do autor paraibano Paulo Vanderley. O livro chegou até as mãos do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva e na última quinta-feira (13) também da Ministra da Cultura Margareth Menezes.

"Voltando de Brasília com o coração carregado de boas memórias e o peito repleto de esperança. Fomos recebidos pela Ministra da Cultura, Margareth Menezes, na sede do ministério da cultura, acompanhado por Fabiano Piúba, Secretário de Formação Cultural, Livro e Leitura do Minc. Foi um momento emocionante e significativo, pois podemos apresentar pessoalmente, junto com o diretor da Editora Viu Cine, Ulisses Brandão, nosso livro:  "Luiz Gonzaga: 110 anos do Nascimento", escreveu Paulo Vanderley em suas redes sociais.

De acordo com Paulo Vanderley, o livro é escrito em primeira pessoa, com o próprio Rei do Baião contando sua história, a partir de uma intensa pesquisa em acervos de entrevistas. O projeto também está em formato de áudio, narrado pelo próprio biografado a partir desse material. 

"Dessa forma, o público consegue ter acesso ao conteúdo de parceiros musicais e os herdeiros de Seu Luiz Gonzaga no forró em diversas plataformas".

Paulo Vanderley é pesquisador, criador e mantenedor do mais completo site de Luiz Gonzaga no Brasil www.luizluagonzaga.com.br

De acordo com Paulo, durante o encontro, ele teve a oportunidade de compartilhar com a Ministra Margareth Menezes a importância de preservar e valorizar nossa rica cultura popular, representada brilhantemente por artistas como Luiz Gonzaga e muitos outros que continuam esse legado no Nordeste. 

"A propósito, convidei a ministra para conhecer a cidade de Exu, berço do Rei do Baião e fonte inspiradora  de suas criações. Viva Seu Luiz Gonzaga", finalizou Paulo Vanderley.

Exu é a terra onde nasceu Luiz Gonzaga e a mulher revolucionária Barbara de Alencar.

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ACERCO DO RÁDIO É UM DOS PRINCIPAIS DESTAQUES NA EXPOCRATO 2023

Há 100 anos, o rádio como conhecemos hoje tinha as primeiras ondas sonoras transmitidas no Brasil, e Roquette Pinto, nome importante para a radiodifusão brasileira, previa o sucesso deste meio de comunicação. Porém, a ação de comunicar a partir do som nasceu em solo brasileiro ainda em 1899, com o inventor do rádio, o Padre Roberto Landell de Moura.

Um pedaço desta paixão pelo Rádio pode ser admirado no Festival Expocrato 2023 que teve início no domingo (9) e segue até o dia 16 de julho no Crato, município do Cariri cearense. Trata-se da Exposição, acervo pessoal,  do radialista e Jornalista Antonio Vicelmo proporcionando aos visitantes do evento uma "visão dos aparelhos radiofônicos".

Na exposição é possível encontrar Rádios da década de 40 e 50 e lógico os mais modernos, sintonia em FM. Encontramos o ABC A Voz de Ouro, Transglobe, Semp,  Caravelle, Motoradio, Philco 8 faixas.

O jornalista, radialista e escritor, Antônio Vicelmo do Nascimento, ganhou recentemente a Medalha do MéritoBárbara de Alencar, a mais alta honraria concedida pelo poder público municipal cratense, às pessoas que prestaram relevantes serviços ao Município.

Com mais de cinco décadas de atuação na imprensa, Vicelmo é também advogado e poeta, sendo um dos grandes divulgadores da cultura brasileira, cearense e nordestina, destacando de forma relevante o Município do Crato, através de sua atuação como comunicador.

Por mais de três décadas trabalhou como repórter do Jornal Diário do Nordeste, além de ter atuado na TV Verdes Mares, também do Sistema, tendo sido correspondente através da sucursal do jornal, instalada na rua Tristão Gonçalves, em Crato. 

Ele inspirou a criação do caderno Regional do DN, pela ampla valorização da cultura regional e das riquezas do Cariri. Recentemente publicou a sua biografia, com o título "E Era Só… 50 anos de jornalismo",relatando a sua trajetória profissional.

Vicelmo é também um dos jornalistas que durante todos os anos de atuação em sua trajetória profissional, deu voz aos movimentos sociais da região, além dos grupos de tradição cultural, expandido a divulgação desses grupos.

Filho de Vicente Anselmo do Nascimento e Maria Do Carmo Simplício, Antônio Vicelmo do Nascimento nasceu em 10 de janeiro de 1942, em Brejo Santo, na região do cariri cearense. 

O jornalista e radialista e é casado com a bióloga Marisa Maria Rolim do Nascimento, com quem teve quatro filhos: Paulo Ernesto Arrais do Nascimento, João Ricardo Arrais, Marcos Eduardo Arrais e Pedro Henrique Arraes, falecido. Iniciou sua vida profissional como radialista na Rádio Araripe do Crato. Trabalhou na Ceará Rádio Clube, rádio Verdes Mares, TV Ceará e TV Verdes Mares. Foi editor do matutino Pré-nove e um dos fundadores do jornal Diário do Nordeste, o qual participou da cobertura de entrega dos documentos solicitando a reabilitação do Padre Cícero, no 

Atualmente trabalha na Rádio SomZoom Sat 

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SEVERINA BRANCA: O SILÊNCIO DA NOITE É QUE TEM SIDO TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS

Com chão de poesia e terra batida sobre versos e tragos líricos, uma região nos rincões do sertão entre Pernambuco e Paraíba exala sentimento rimado. “Diz a lenda que quem bebe da água do Rio Pajeú vira poeta”, dizem. É a onipresença da poesia nas cidades de Ouro Velho e Prata, na Paraíba, e em São José do Egito, em Pernambuco, que mostra o documentário O Silêncio da Noite É que Tem Sido Testemunha das Minhas Amarguras, de Petrôneo Lorena.

Em tempos de tantas tragédias, um filme como este chega a ser um bálsamo para os corações machucados ou endurecidos pelas incontáveis tragédias que o país vem passando nos últimos tempos. Afinal, não é todo dia que se tem notícia de uma cidade onde a vida exala poesia popular. E isso não é apenas modo de falar: nas ruas, feiras, casas, nos mercados e em cada bar da região, o sentimento brota em forma de verso falado ou cantado.

“Aqui é o eixo, aqui é o terreno e quando você nasce numa aldeia, você vive, voa e espaceia, mas sempre dá retorno à sua aldeia. Aqui, o Pajeú, foi um foco de poesia, é chão de poesia. As plantas aqui é [sic] poeta, até a terra tem o cheiro da poesia e aqui é um micróbio pesado. Aí não tem como se desgarrar. Esse nome não pode ser perdido. São José do Egito é valoroso”, declara o poeta João Badalo em uma das muitas mesas de bar que servem de cenário para o filme.

O longo verso que dá nome ao filme faz alusão a uma das figuras centrais da cidade de São José do Egito: Severina Branca, a “Eleonor Rigby do Nordeste”, foi quem deu o mote ao poema de Didi Patriota. Musa e prostituta, poetisa e boêmia, Severina encantava os poetas da região e e era tema frequente dos versos falados e cantados por lá. “O título refere-se também à dor e à alegria de ser poeta; da cumplicidade da madrugada na criação desses versos num sertão conservador e da utilidade social que a poesia traz a essas pessoas”, declara o diretor Petrônio Lorena.

Hoje uma senhora com o corpo marcado pelas agruras da vida, Severina guarda na memória cada estrofe feita pelos homens que marcaram sua existência. E, mesmo durona e debochada, se emociona ao ouvir os versos de Patriota:

“Quando moça fui muito desejada

Das mulheres julguei a mais feliz

Mas o tempo cruel, velho juiz

Sentencia qualquer sonho de fada

A beleza foi sendo apagada

Cada um foi falso às suas juras

E eu peço a Deus lá nas alturas

Que me mostre na vida algum sentido

Que o silêncio da noite é quem tem sido

Testemunha das minhas amarguras”

Tão emblemática para a poesia daquelas bandas, Severina Branca é descrita – com imensa ternura poética em uma locução em off – como uma mulher à frente de seu tempo: “Severina Branca é uma figura gêmea, clonada com Eleanor Rigby. Enquanto Eleonor foi nascer em Liverpool, perto de John Lennon, Severina Branca nasceu em São José do Egito e teve o mesmo dinâmico modo de ser, como uma rapariga maravilhosamente liberta, linda, uma mulher autêntica, totalmente fora de preconceitos. Todos os prefeitos novos daquela terra do Pajeú passaram suas inocências pro coração de Severina Branca. É das que levam cachorro cheio de rabugem, arrastando e tomando cana pelos bares de todos os cantos. Eu sei que Severina fez um mote: ‘O Silêncio da noite é que tem sido testemunha das minhas amarguras’.”

Muito além de “apenas” musa, Severina também é autora de muitos versos, como o que relembra quando foi ignorada por um antigo grande amor. Ao declamar as linhas abaixo em um bar cheio de poetas, toma uma dose de cachaça e exclama saudosa: “Eita, nossa vida de prazer!”

“Pedi esmola a Abraãozinho

Este não me deu ouvido

Quem outrora me adorava

Não ouve mais meu gemido

Passa por mim torce a cara

Fingindo desconhecido”

Não é à toa que o ato de memorizar é chamado de “saber de coeur”, do francês, saber com o coração. É exatamente isso que os moradores de São José do Egito fazem: quem não faz verso, conhece de coeur as rimas dos grandes poetas e glosadores locais e declama nos bares, nas casas, nas festas, em todo e qualquer lugar. Tudo na região é motivo para dizer poesia, como afirma o jovem Antônio Marinho: “Nas rodas de conversa de São José sempre sai uma história de repente. Você vai engraxar o sapato aqui em São José e o engraxate lhe diz uma poesia. Aí você diz uma coisa pra brincar com ele e ele diz ‘Oxente, tá feito a poesia de não sei de quem’ e aí conta uma história e diz um verso. Se fala de tudo também, de futebol, de putaria, mas a poesia está sempre presente, é impressionante”.

Os amores, desamores e as amarguras da vida na região tem virado versos há várias gerações. Debochadas ou rebuscadas, magoadas ou matreiras, felizes ou deprimidas, as rimas dos poetas e poetizas daqueles rincões vem se transformando com o passar do tempo, mas a tradição da poesia oral se mantém acesa e, mesmo renovada, continua reverenciando os antigos trovadores.

O Silêncio da Noite É que Tem Sido Testemunha das Minhas Amarguras é o segundo longa-metragem de Petrônio e foi finalista entre os dez melhores filmes da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2016. É uma ode ao sentimento genuíno, à riqueza da cultura popular, mas, acima de tudo, uma celebração da cultura e do povo nordestino. De tão leve, seus 78 minutos voam como a pomba símbolo do hino sertanejo, Asa Branca, composta pela dupla Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.

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MEUS AVOS MARIA E SEVERINO, RITA E ANTONIO

"Nos últimos anos, a Avó estava se dando muito mal com o próprio corpo. Seu corpo de Ararinha cansada negava-se a segui-la.

- Ainda bem que a mente viaja sem passagem - dizia.

Eu estava longe...eu tinha viajado!

A Avó sentia que tinha chegado a hora de morrer. Antes de morrer, quis visitar a minha casa com corpo e tudo. Chegou de avião. Viajou entre as nuvens, entre as ondas, convencida que estava indo de barco; e quando o avião atravessou uma tempestade, achou que estava numa carruagem, aos pulos, sobre a estrada de pedras.

Ficou em casa um mês. No meio da noite despertava e queria jogar xadrez ou brigava com meu avô, que tinha morrido há quarenta anos...

No final, disse: - Agora já posso morrer. E regressou. Visitou a família toda, casa por casa, parente por parente, para que todos vissem que tinha regressado muito bem e que a viagem não tinha culpa. E então, uma semana depois de ter chegado, deitou-se e morreu...

Ás vezes, a Avó vem me Ver nos sonhos. Eu caminho na beira de um Rio e ela é peixe que me acompanha deslizando suave, suave, pelas águas".

Nós tínhamos a intimidade de parentes
de amigos noturnos
De fim de madrugada.
Nós éramos dois versos
Dividindo em duas pátrias:
O pajeú e o pampa,
E dentro
Da tristeza que me espanta
Pela chama da morte que arde,
Se faz sombra teu nome
Na cruz que ilumina a tarde.

Fonte: O Livro dos Abraços-Eduardo Galeano.

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O SILÊNCIO DA NOITE É QUE TEM SIDO TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS

“Tá tudo bem, sim, eu não entendo muito dessas coisas não, mas por mim tá tudo bom”, dizia Severina Branca por telefone à Continente no final da noite de uma sexta, pouco antes de ela e o diretor Petrônio Lorena acompanharem a exibição de O silêncio da noite é que tem sido testemunha das minhas amarguras em São José do Egito. Antes de estrear no Recife, onde está em cartaz no Cinema do Museu, em Casa Forte, o documentário circulou pelo interior de Pernambuco: Arcoverde, Belo Jardim, Triunfo, a Serra Talhada natural do cineasta e Caruaru.

Severina é musa, estrela, protagonista e uma das poetas retratadas por Petrônio. A frase extensa que dá título a este que é o segundo longa dele, aliás, veio dela. “E tem a ver com aquele momento de contemplação da madrugada, quando a cantoria já terminou e os poetas, indo para casa, começam a pensar naqueles versos e em como eles fazem sentido”, conta o diretor. O silêncio da noite é que tem sido testemunha das minhas amarguras deve ser visto por todos aqueles que adoram poesia e cantoria e, também, por quem se interessa por narrativas documentais que fogem dos esquemas convencionais.

“A linha cronológica do filme é como se fosse um único sábado: começa com a feira e termina de madrugada”, explica Petrônio, que começou a viajar pelos sertões da Paraíba e de Pernambuco ainda em 2010. Foram sete viagens ao todo, as primeiras delas “sem grana nenhuma” e tampouco sem equipamento, pois o diretor queria pegar intimidade “e confiança” com aquelas figuras que viria a retratar. Jorge Filó, Bia e Antônio Marinho (filha e neto de Lourival Batista, o Louro do Pajeú), Graça Nascimento e Rildo de Deus, entre outros, são registrados em instantes preciosos e numa linguagem ora rebelde, ora transcendental. Um filme de Petrônio, afinal, não poderia ter uma composição imagética banal.

E tudo isso tem a ver, também, com a matéria principal sobre a qual ele se debruça: a criação. De onde surgem os versos, os motes, as glosas? De onde vem a chama que inspira os poetas e cantadores? Entre um gole e outro de cerveja, entre uma visita e outra a bares ou cabarés, entre festividades e conversas na porta de casa, O silêncio da noite… descortina essa vida de quem se encarrega de repassar arte, conhecimentos e cultura pela oralidade. E respeita o tempo e o espaço daquelas pessoas retratadas – aliás, forja uma nova relação de tempo-espaço, um tempo dilatado, como se as horas demorassem a passar enquanto poetas declamam suas rimas.

Distribuído pela Inquieta Cinema, o documentário foi exibido pela primeira na 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, ainda em outubro de 2016. Questões relativas a orçamento protelaram a estreia, só ocorrida agora nos idos de março. “Mas sabia que acho até bom esse tempo todo?”, revela Petrônio Lorena, “porque o filme amadureceu e criou uma expectativa em todas as pessoas que nele aparecem, uma ansiedade mesmo, que acho até legal”. O silêncio da noite é que tem sido testemunha das minhas amarguras é contra a pressa que rege os tempos atuais, é contra as necessidades de rótulos e contra as normas que decretam que o Sertão e tudo que dele deriva estão mortos. Se esse não for um motivo atraente para a ida ao cinema, que o sejam os versos de Severina que denominam o filme – afinal, nesta longa noite que tem anestesiado o Brasil desde 2016, é o silêncio quem tem sido testemunha das nossas amarguras.

LUCIANA VERAS é repórter especial da Continente e crítica de cinema.

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