VIOLÊNCIA E MORTE NA ESCOLA

Um adolescente mata a professora e fere quatro pessoas.

A primeira pergunta é: de quem é a culpa? Da escola? Da família? Do governo?

A segunda: como resolver o problema?

E, a terceira: o que explica a vontade de matar?

A culpa-Existe responsabilidade da escola, da família e da sociedade, gerando um sentimento difuso de culpa, de mal-estar no mundo em que vivemos.

Mas, antes de cobrar, é preciso conhecer as circunstâncias, avaliar as condições dos atores envolvidos, para responder ao desafio. Eles dispunham de condições, conhecimento, poder e dinheiro, para enfrentar o problema?

Olhando com mais detalhe a história observa-se, apesar dos poucos recursos disponíveis na rede escolar, as instituições envolvidas no acontecimento procuraram encontrar uma solução para as condutas violentas do estudante. A escola ofereceu, para o jovem de 13 anos e para a sua família, o apoio de especialistas.

O  ritmo burocrático, lento, da transferência de informações, de uma escola da prefeitura para uma outra, do estado, acrescido de dificuldades na comunicação com a família do estudante, demonstram os limites de atuação das escolas em casos como este. O tema em questão diz respeito à saúde pública e exige, para a sua solução, a presença de especialistas, psiquiatras, psicólogos e pedagogos especializados, profissionais que a escola não dispõe em seus quadros.

Convém observar que o programa, com esta finalidade, não estava mais em funcionamento. Foi necessário a morte de uma professora para o tema ganhar visibilidade. A violência nas escolas é problema antigo, agravado com a pandemia de covid.

A família do jovem foi procurada, mas não respondeu às solicitações, demonstrando incapacidade de participar na busca por uma solução. Num país como o Brasil, devemos imaginar serem muitas as famílias sem condições de evitar os descaminhos de seus filhos, deixando para a escola a solução dos problemas. Não se trata de julgar, mas de compreender a raiz do problema e propor soluções.

Os professores no Brasil estão sozinhos. Eles também precisam de apoio. Não encontram parceria no Estado e enfrentam a indiferença da sociedade. Salários baixos e poucos recursos para as escolas contribuem para o agravamento da violência, problema potencializado pelas redes sociais. O único acolhimento existente, em muitas comunidades, é oferecido por instituições religiosas às famílias.

Qual é o contexto do crime?

O Estado brasileiro viveu uma epidemia com consequências extremamente difíceis para as crianças e os jovens em idade escolar. Em termos de morte por covid, por milhão de habitantes, o Brasil ocupa o 17º lugar. A Itália, com uma grande população de idosos, está em 22º lugar e, a Argentina, país vizinho do Brasil, em 26º. Tiramos nota baixa em relação à covid. Convém não tirar nota baixa de novo, na saúde mental dos adolescentes.

O que fazer?

Com os alunos e professores trancados em casa, sem condições para a sua sobrevivência física e mental, a violência nas escolas aumentou muito. Os estudos realizados sobre o tema, já há algum tempo, alertam as instituições responsáveis para o problema. Acontece que não existe escuta para os professores. A violência, a prática de automutilação e os suicídios de jovens tem aumentado e os estudos demonstrado a gravidade da situação.

Por que ninguém escuta a fala dos professores e a dor dos estudantes?

Embora retoricamente se valorize os professores, na verdade, na nossa sociedade, o que se escuta, alto e bom som, é a conta bancária. A fome é a prova dos nove. Demorou para se escutar o grito.

Observem: O tema mais debatido na área da educação é o baixo rendimento escolar em exatas, comprovado nas avaliações, de matemática e física. De forma recorrente se menciona a falta de professores nestas disciplinas.

Sim, é verdade eles faltam, e, fazem falta.

Por quê?

Porque vão trabalhar onde podem ganhar mais. É evidente.

Com foco nos números, a escola tenta ensinar para os jovens a importância, no projeto de vida, da independência financeira, do planejamento, da definição realista dos objetivos escolhidos.

Na contrapartida, é bem menor a preocupação com o desempenho dos alunos nas áreas de filosofia e literatura. Os pais perguntam: Ele foi bem em matemática? Se a nota foi baixa em filosofia o consolo é: mas ele foi bem em matemática.

Embora eu concorde que é importante compreender o sistema financeiro, responsável pela dependência das pessoas, em razão das dívidas (e não a sua independência do sistema financeiro), observo também a alta do número de suicídios de jovens. É necessário estar vivo, ter comido alguma coisa e dispor de saúde mental para ter sentido aprender matemática ou qualquer outra coisa.

Níveis altos de angústia, de violência e mal-estar na civilização impedem qualquer aprendizado. Jogam o jovem no mundo da violência, do crime e das drogas, acentuam o uso da internet.

Como solucionar o problema com poucos recursos?

Dei muitas voltas, afinal sou historiadora. Lembrei da Revolução Constitucionalista de 1932, do ouro arrecado e, lembrei das joias. Sim, das joias, doadas gentilmente pela Arábia Saudita cuja soma alcança 18 milhões! Em época de ajuste fiscal, o Brasil poderia iniciar uma grande campanha em favor da saúde mental dos Jovens brasileiros. “Doe joias para o bem da juventude brasileira”. O mote inicial da campanha seria aquele utilizado em tempos de guerra: as joias da coroa, ofertadas em leilão, à serviço da nação brasileira. Como o Brasil é uma república democrática, não tem nem rei nem rainha, mas possui joias, embora não tenha como usá-las. Afinal, o Estado é uma instituição abstrata!

Fica aqui uma pequena sugestão, para não dizerem que levanto problemas para os quais não apresento solução, ou seja, dinheiro para pagar a conta. Poderia dar outras sugestões como por exemplo a taxação das grandes fortunas…. Prefiro as joias, para começar.

A frequência acentuada de problemas de violência entre os jovens exige a intervenção rápida por parte de psiquiatras, pedagogos e da polícia. Exige planejamento, investigação, e envolvimento afetivo, necessidades que pressupõem grande quantidade do vil metal. Exige a constituição de uma ampla política em âmbito nacional, estadual e municipal voltada para a saúde mental das crianças e adolescentes. Os brasileirinhos estão doentes, consumindo em quantidade pelo celular, o vírus da violência, grande parte deles produzidos nos Estados Unidos.

Telma Vinha, pesquisadora da violência, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), refere-se à inexistência de políticas públicas com consequências trágicas. Diz ela numa frase verdadeira e dura:

“Vai acontecer de novo, só não se sabe onde”.

A solução: individual e em grupo

Para apagar a fogueira da violência verbal e física, esparramada pelas escolas brasileiras, são necessárias medidas de curto e de longo prazo. A curto prazo a sugestão é cada escola incorporar no seu quadro de funcionários especialistas capazes de minimizar os conflitos internos (escola/família). Já os conflitos externos cabem ao Estado construir políticas mais amplas, em âmbito nacional, evitando a aquisição de armas e propondo atividades culturais e esportivas, em substituição aos clubes de tiro, em moda na atualidade.

Com relação aos estudantes, o combate à violência na escola envolve uma dimensão grupal. As dinâmicas de grupo entre alunos e professores, se acompanhadas por especialistas, permitem aos adolescentes trabalharem suas angústias, encontrar as raízes de comportamentos autodestrutivos (que atingem grande número de adolescentes), lidar com os erros, com a incapacidade de conviver com a diferença, e, especialmente, com a pulsão de morte, tema em eclosão entre os jovens.

Com relação a cada um dos estudantes, é necessário ter consciência do tamanho (imenso) do sofrimento. Ele envolve a ausência de sentido da própria vida e da vida do Outro. Dor manipulada pela rede, por comunidades que pregam a violência, a automutilação e o suicídio por meio de jogos e estímulos aos crimes, condutas machistas e defesa de práticas autoritárias e antidemocráticas. Só um caminho para diminuir o problema: o combate ao anonimato, a regulação e a responsabilização das redes.

A educação na longa duração-A educação é projeto de longa duração. Ele só se encerra com a morte. Mas existem momentos formativos, especialmente na adolescência, quando o jovem aprende a arte de viver em sociedade. É difícil. Este exercício, de convívio com o Outro, depende da escola e, muito, da comunidade na qual o jovem está inserido. Depende das amizades, de um desenvolvimento cultural solidário entre amigos, da descoberta complexa, de uma razão humanizada.

Aprender a viver não é uma matéria fácil. É bem mais simples a matemática, somar ou a subtrair. Um pouco mais difícil é aprender a dividir e multiplicar, mas a tabuada ajuda. Mesmo os juros, com o auxílio do professor é possível treinar e aplicar o conhecimento nos problemas caseiros e nos pequenos negócios.

Agora, tente explicar a angústia humana, a autossabotagem, ou mesmo, um simples mal humor. Ensine conviver com o fracasso, com os erros, se colocar no lugar do Outro. Explique o que é amar, como calibrar as emoções, discriminar os limites, tênues, entre bem e o mal, lidar com emoções fortes, com a vontade de destruição do Outro e do mundo. Elucide como ter consciência física e psíquica do que é lícito e do que é ilícito, as razões do crime e do castigo, do resgate, incansável, do sentimento de humanidade, em dias de cansaço com os seres humanos.

Quais são os instrumentos ofertados pela sociedade, pelas instituições públicas, para que se aprender a lidar com as emoções, com a violência, com o ódio?

O zoom?

Como separar a realidade, da fantasia, a razão humanizada, da tecnologia?

Como criar a harmonia em um sujeito crítico aos ideais da civilização na qual ele vive e discorda?

Onde se aprende lidar com a nossa condição humana, com as ambiguidades cotidianas mediadas pela tecnologia e pela Inteligência Artificial?

Quais são os instrumentos que a escola e a sociedade contemporânea podem oferecer para o jovem superar suas dificuldades?

Existe solução?

O primeiro passo para responder este imenso desafio contemporâneo é reconhecer que, dele, só temos indícios. Observando detalhes é possível constatar a importância do campo das linguagens e dos diferentes letramentos no uso das novas tecnologias. Explico. Cada adolescente ao pegar um celular se defronta com palavras, imagens e sons, com determinados tipos de letramento. A sua maneira de ser no mundo tem como modelo a tela do celular.

A educação em diversos países europeus, como França, Alemanha, Espanha, Portugal, Dinamarca, Finlândia, entre outros, valoriza a leitura e a vida cultural. A literatura é o instrumento básico para o jovem iniciar uma conversa consigo mesmo. Ela permite reconhecer a dor, o mal-estar no mundo, a angústia fruto da ausência de sentido na vida e a pulsão de morte, própria do ser humano.

Machado de Assis, ao expor a mesquinhez de Brás Cubas, demonstra a existência, em todos nós, de condutas tacanhas. Ao detalhar a insegurança de Bentinho (em relação a Capitu) repete o trajeto reflexivo, para um drama afetivo, os ciúmes. Primo Levi, ao se defrontar com a miséria humana, no seu limite, da animalização e eliminação do Outro, incita o jovem a descobrir como é difícil e delicada a vida, produzida como um empreendimento ético. Não é fácil gerir a si mesmo. Temas que merecem investimento nas escolas e, especialmente, nas Universidades.

Frequentemente, nos píncaros do saber, prevalece o esquecimento de humanizar o conhecimento.

O que nós, professores, podemos oferecer para diminuir a dor no enfrentamento desse imenso desafio?

Refletir junto com os jovens a angústia própria da nossa frágil existência, o sentido efêmero das coisas, redimensionar com os alunos os seus sonhos, seus projetos de vida, fazer ver as pequenas delicadezas da vida, compor músicas, dramatizar histórias, ler junto, conversar. Levar a frente um esforço para conter o instinto de morte e a violência própria do sujeito contra si mesmo e contra os Outros.

Pode ser utopia?

Talvez.

Guimaraes Rosa oferece gotas de um remédio precioso:

“Felicidade se acha nas horinhas de descuido”.

Por Janice Theodoro da Silva, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP

Nenhum comentário

LUIZ DO HUMAYTÁ LANÇA PROJETO VIAJANDO PELA MÚSICA

O cantor, poeta e compositor Luiz do Humaytá apresenta no mês de abril o Projeto Viajando com a Música. O trabalho que agora se encontra em todas as plataformas digitais traz 6 músicas, cinco de autoria de Luiz do Humaytá e uma do cantor e compositor Alexandre Pé de Serra.

"Criei o Projeto "Viajando Pela Música", no qual eu vou fazer shows e conhecer novos lugares. A intenção é visitar os locais que tenham valor cultural, por exemplo terra de poetas, sítios históricos, locais com tradições de festas populares, romarias", diz o poeta.

 A primeira etapa escolhida foi denominada Rota da Poesia, passa por Iguaracy, terra de Maciel Melo; Carnaíba, terra de Zé Dantas, grande parceiro de Luiz Gonzaga e compositor de Riacho do Navio, por exemplo; São José do Egito, conhecida como terra de poetas e também Afogados da Ingazeira, todas no estado do Pernambuco.

Luiz  revela que as próximas etapas, a serem agendadas ainda, estarão a Rota do Conselheiro, Canudos, Euclides da Cunha, Monte Santos e Uauá; em Minas Gerais, faremos a Rota da Inconfidência, Ouro Preto, São João Del Rey e Tiradentes.

No Ceará, Crato, Barbalha e Juazeiro do Norte estão também para serem visitados no Projeto Viajando pela Música

COMEMORAÇÕES: O cantor e compositor Luiz do Humaytá completou, em junho de 2021, 10 anos de vida profissional na música. Iniciou sua trajetória em 2011, ao criar a banda Forró Avulso em Salvador. Com essa banda, tocou na noite soteropolitana por 5 anos e também fez apresentações em outros estados, como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Em 2016, iniciou carreira solo e se mudou para o sertão baiano, onde mora atualmente.

No segundo semestre de 2021, o poeta lançou o oitavo CD da carreira, o álbum Boemia Cult, em que interpreta grandes sucessos já consagrados da música romântica, além de alguns bregas clássicos.

O poeta, que mora na Fazenda Humaytá em Curaçá da Bahia, tem o nome de batismo de Luiz Carlos Forbrig. Quando foi para o sertão, passou a ser chamado de Luiz do Humaytá, contemplando, assim, esta peculiaridade, típica do sertanejo, de incorporar um adjetivo de identificação aos nomes.

O cantador é natural de Jabuticaba Velha, distrito de Palmeira das Missões, no interior do Rio Grande do Sul. Com os pais Anoly e Guilhermina, aprendeu a veia musical: a mãe era puxadeira dos cantos religiosos na igreja católica e o pai, tocador de gaita de boca.

DISCOGRAFIA

2012 ‡ Acústico

2014 ‡ Pé de Chão

2015 ‡ Luiz do Humaytá Canta Músicas Gaúchas

2016 ‡ Luiz do Humaytá e Forró Avulso – 5 Anos de Estrada

2017 ‡ Luiz do Humaytá Avulso

2019 ‡ Decanto o Sertão

2020 ‡ Luiz do Humaytá ao Vivo

2021 ‡ Boemia Cult

2022- Clipe  "Vou me embora pro Sertão".

2023 EP O tempo e o sertão

71 98869-4488 74 99914-8813 Luiz do Humaytá luizdohumayta@gmail.com

Nenhum comentário

RÁDIO NACIONAL É TEMA DE EXPOSIÇÃO NO MUSEU DA IMAGEM E DO SOM

Conhecida como "a mais querida do Brasil", a Rádio Nacional marcou definitivamente a Era de Ouro do Rádio. Desde 1972, seu acervo constitui uma das coleções mais extensas e valiosas do Museu da Imagem e do Som (MIS) com suas radionovelas e programas de auditório.

Com curadoria de Ana Paula Rocha, a exposição Nossas Sensações Não São Nossas visita as décadas de 40 e 50, período escolhido para mostrar a influência da Rádio Nacional na representação social, seus compositores, intérpretes, astros e estrelas do carnaval, o universo sonoro da época e seus reflexos na atualidade.

Ao destacar a importância dessa folia na história da radio transmissão e a riqueza do acervo do museu, a exposição apresenta reflexões sobre as particularidades e contradições sociais e de gênero nas canções da atualidade, segundo afirmou Ana, em entrevista à Rádio Nacional.

"Desafiando as normas da época, esses artistas vêm à tona hoje, na Lapa, em 2023, para que o público se lembre das histórias, conheça, ouça, veja e sinta como a arte de ontem segue trazendo inspiração para os nossos tempos, especialmente na região da Lapa, que abriga a mostra, e que tem grande importância no circuito artístico da cidade, devido à herança cultural do território, espaço pelo qual eles muito transitaram."

A exposição mostra o Rio de Janeiro do início do século 20, vinte anos atrás, após a abolição do trabalho escravo no Brasil, período em que os artistas negros eram frequentemente classificados como artistas "populares" ou "primitivos". É o caso de Heitor dos Prazeres e seu parceiro de infância e profissão João da Baiana, membro da Orquestra Brasileira do programa Um Milhão de Melodias, da Rádio Nacional, que circulava pela Cidade Nova, Praça Onze, espaços de governo, e de outros intelectuais.

A exposição Nossas Sensações Não São Nossas é composta por itens do acervo do MIS, com destaque para memórias das produções de João da Baiana e Heitor dos Prazeres, além de fotos e artigos que remontam ao carnaval e à Rádio Nacional, especialmente de artistas como Clementina de Jesus, Elizeth Cardoso, Pixinguinha, Sinhô, Ismael Silva, Aracy de Almeida, Orlando Silva e Zé Keti.

A mostra destaca que os artistas populares trouxeram reflexões e aspectos a respeito dos carnavais de seu tempo, mesmo que muitas vezes invisibilizados por artistas brancos com maior projeção. Em outras vezes, ditando novos padrões sonoros e estéticos de fontes e experiências comuns: a rua, a festa, a boemia, o racismo e a perseguição policial.

O carnaval, festa popular oriunda da população negra, está presente na exposição, resgatando a memória das sonoridades carnavalescas, que ecoam pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro até os dias de hoje e que têm, com as transmissões do rádio e seus personagens, uma "inegável relação", segundo Ana Paula Rocha.

"São homens e mulheres, todos negros, que tiveram a coragem de criar arte, fazer carnaval, e de levar reflexões e felicidade para um Brasil extremamente racista e hostil. Muitas vezes, eles foram perseguidos por isso, evidenciando não só alegrias, mas práticas de exclusão em suas músicas. Já os artistas de hoje vêm para dialogar com essas obras, demonstrando muitas vezes ressonância entre essa produção e as suas próprias, fazem ecoar imagens, sons e a mesma luta nos tempos atuais".

DIALÁGO COM O PRESENTE-A nova cena contemporânea se faz representar por Jefferson Medeiros com o  trabalho inédito Viramundo, e o artista Ramo, que apresenta a série Ausar e duas telas inéditas, Sete Coroas e Kushita. Os artistas André Vargas, Mulambö e Uberê Guelé também têm obras na mostra. O fotógrafo Guga Ferreira expõe obras inéditas da série Ponto Riscado, mostrando festas de terreiros de religiões de matriz africana, da zona oeste do Rio de Janeiro.

A curadora enfatiza que a mostra traz pessoas, costumes, estéticas e sons que ecoaram antes de nós, que muitas vezes foram amplamente perseguidas e criminalizadas, e que propuseram questões que ainda podem ser identificados e, principalmente, ouvidos hoje, "essa é a proposta da exposição que explora a relação entre arte contemporânea, música e o carnaval através dos tempos".

“A relação entre arte contemporânea, música e carnaval é algo que vem sendo paulatinamente consolidado. Também entre os novos artistas, a temática da festa de rua, seja o próprio carnaval, passando pelas folias, o maracatu ou os bailes funk, ganha uma relevância nas formas como eles vêm se expressando. Assim, é inevitável unir essas temporalidades”, explicou Ana Paula, que já atuou como colaboradora no acervo da Discoteca do MIS.

Além disso, no acervo musical da exposição, o público poderá conferir depoimentos concedidos à Rádio Nacional, especialmente de artistas como Clementina de Jesus, Elizeth Cardoso e Pixinguinha.

Serviço-Visitação: até 5 de maio de 2023

Local: Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS-RJ)

Endereço: Rua Visconde de Maranguape 15, Lapa

Horários: De segunda a sexta, das 10h às 17h

Entrada gratuita

Nenhum comentário

EDUCAÇÃO MIDIÁTICA É CAMINHO CONTRA DESINFORMAÇÃO, DIZEM ESPECIALISTAS

Sete em cada dez jovens de até 15 anos no Brasil não distinguem fatos de opiniões, segundo pesquisa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Para reverter esse cenário, especialistas apostam na educação midiática como resposta para reconhecer fakes news, discursos de ódio e também produzir e compartilhar mensagens com responsabilidade. Na avaliação deles, a manutenção da democracia também depende de uma sociedade bem informada.  

A educação midiática é um conjunto de habilidades para analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático em todos os seus formatos.

Para a presidente do Instituto Palavra Aberta, Patricia Blanco, esse tipo de formação é importante para todos os cidadãos. O instituto coordena o Educamídia, programa de capacitação de professores e engajamento da sociedade no processo de educação midiática.

"Na medida que o cidadão, o jovem, passa a saber reconhecer a informação, saber o propósito daquela informação que chega até ele, saber reconhecer a fonte,  o porquê que aquela informação chegou até ele, saber fazer uma busca, saber verificar de onde veio aquela informação, adquirindo as competências para saber produzir conteúdo - de modo que ele se aproprie da tecnologia para melhorar sua autoinstrução, melhorar o seu protagonismo -, ele vai participar melhor da sociedade", avalia.

Patrícia defende que a educação voltada para formar pessoas com pensamento crítico e aptas a consumir, analisar e produzir conteúdos e informações deve ser uma política pública de educação.

A estudante Milena Teles, 23 anos, afirma que consegue reconhecer quando uma desinformação surge nas redes sociais. “Aparecem mensagens muito absurdas que você sabe de cara que é uma fake news como: o limão cura a covid ou tomar um chá todo dia em jejum vai curar ou prevenir o câncer. Coisas muito absurdas sempre serão mentiras”, afirma.

A análise, entretanto, nem sempre está ao alcance de crianças e jovens. "Para pessoa adulta já é difícil, às vezes, sem ter uma prática, sem ter uma orientação de checagem de fato, saber quando uma informação é verdadeira ou falsa, se é rumor, boato ou se ela corresponde a um fato que está sendo noticiado, imagina para crianças e adolescentes", avalia a pesquisadora do Sou_Ciência  da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Jade Percassi.

TEMAS NAS ESCOLAS-Segundo o secretário de Políticas Digitais, João Brant, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – documento que define os conteúdos de aprendizagem essencial dos alunos - prevê a educação midiática como  um tema transversal e eletivo nas escolas. Por isso, segundo ele, o momento é de produzir conteúdos e formar professores.

“Apostamos na educação midiática tanto do ponto de vista formal como informal, tanto em parceria com o MEC, na articulação com as secretarias de educação, quanto em relação a atividades de promoção de cursos, oficinas, conteúdos mais rápidos como chave para enfrentamento do problema no país”, afirma.

Segundo Patricia Blanco, secretarias de educação de diversos estados  já abriram espaço tanto para a formação de professores como para a inclusão da temática em seus currículos.

A presidente do Palavra Aberta cita como exemplo o estado de São Paulo,  que fez uma revisão do currículo e incluiu  dentro da disciplina de Tecnologia e Inovação todo o conceito de educação midiática. Segundo ela, todos os alunos de ensino fundamental 2 e ensino médio têm, há um ano, acesso a esse tipo conteúdo. Outros estados estão implantando o tema de forma transversal como Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Goiás e Ceará. 

Segundo ela, a perspectiva é que, nos próximos anos, o tema se torne recorrente e que a formação faça diferença na vida dos alunos.

FORMAÇÃO-Para o secretário de Políticas Digitais, João Brant, a formação digital deve ser ainda mais abrangente. Ele ressalta que existem os nativos digitais que lidam muito bem com as tecnologias. “Mas, não necessariamente, com todos os instrumentos e repertórios para interpretar e identificar a desinformação, identificar fake news e perceber os problemas que circulam nas redes”.

Os conteúdos digitais, entretanto, também têm sido consumidos por uma população mais velha, em idade adulta ou idosa, que acaba sendo mais suscetível à desinformação e às fake news, segundo Brant.

Maria Helena Weber, do Observatório da Comunicação Pública, também defende que a formação digital deva ocorrer em qualquer momento da vida escolar.  “É preciso que se tenha referência, se possa estudar, se possa ter acesso a uma discussão a um debate do que significa a comunicação digital hoje, as redes sociais hoje e para isso é preciso oferecer instrumentos para que as pessoas não sejam tão vulneráveis.”

O Supremo Tribunal Federal retoma nesta terça-feira (28) uma audiência sobre o Marco Civil da Internet. O debate deveria ter ocorrido em 2020 e foi suspenso por causa da pandemia de covid-19.

No mês passado, especialistas e governos discutiram soluções regulatórias para a atual crise de desinformação em ambiente online, em Paris, durante a conferência global Por Uma Internet Confiável, realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). (Agencia Brasil)

Nenhum comentário

LIDERANÇAS LUTAM PELA REPARAÇÃO DOS OBJETOS SAGRADOS PARA O CANDOMBLÉ

A luta pela reparação histórica de objetos de religiões de matriz africana deve entrar em uma nova fase. Os itens que integravam o chamado Museu da Magia Negra foram apreendidos pela polícia fluminense, entre 1890 e 1946. Na semana passada, uma determinação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) mudou o nome da coleção para Acervo Nosso Sagrado.

Um dia antes, na segunda-feira (20), o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania Sílvio Almeida assinou um convênio de pesquisa sobre objetos sagrados, no Museu da República, na zona sul do Rio.

Em entrevista à Agência Brasil, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro babalaô Ivanir dos Santos disse que é preciso avançar ainda mais. Para ele, as pesquisas precisam identificar os personagens envolvidos durante as apreensões desses objetos. Para ele, é necessário saber quem são as pessoas que sofreram com a violência de terem seus objetos danificados, desrespeitados e apreendidos pela polícia da época, em situações que caracterizaram racismo e preconceito.

“Foi dado um passo importante na medida em que foi feito um acordo [convênio] sobre os processos sofridos pelos sacerdotes. Esse é um dado novo. As pessoas conhecem as peças apreendidas usadas como provas, que estavam no Museu da Magia e agora tem uma nova configuração. Outra coisa, quem eram essas pessoas que sofreram estes processos? Onde foram presos, porque foram presos? São perguntas que precisam [ser respondidas]. Que destino tiveram? Foram condenados? Agora acho que vão surgir quem são estes personagens. Quem eram esses sacerdotes e sacerdotisas que foram presos?”, questiona.

Para a Mãe Meninazinha de Oxum, do terreiro Ilê Omolu Oxum, a identificação desses objetos será difícil porque a apreensão deles – classificada por ela como roubo –, ocorreu em vários terreiros na mesma época.

“Então é difícil hoje a gente identificar de qual Ilê era determinado assentamento [objeto]. Acho que nem precisa isso. Basta identificar que era de candomblé ou da umbanda. Não precisa dizer se foi da minha casa ou da sua. Qualquer casa que foi invadida pela polícia para pegar o Sagrado era minha, porque eu sou de candomblé. A dor é nossa é minha também”, disse Mãe Meninazinha em entrevista à Agência Brasil.

A yalorixá disse que o caminho ainda é longo apesar das conquistas, como o convênio de pesquisa, a mudança do nome do acervo, além da localização da coleção que saiu das dependências da Polícia Civil e hoje está no Museu da República. 

“Temos muita estrada para caminhar em prol desse Sagrado, em prol da nossa religião. Nós vamos conquistar o lugar que o Sagrado merece estar, como Sagrado e não uma simples coisa que está no Museu da República, onde já deveria estar há muito tempo.”

Para a mãe de santo, a permanência do acervo por tanto tempo no Museu da Polícia Civil representa falta de respeito, já que os objetos sagrados estavam sob a guarda justamente de quem teria perpetrado crimes contra as religiões de matrizes africanas – seja do candomblé ou da umbanda.

“Nossos ancestrais, sim, minha avó, e outras da época dela, sofreram por conta desse Sagrado estar nas mãos da Polícia”, lamentou Mãe Meninazinha de Oxum.

O diretor do Museu da República, Mário Chagas, contou à Agência Brasil sobre a legislação vigente à época da apreensão dos objetos sagrados.

“As batidas policiais aconteciam com base no Código Penal de 1890, que criminalizava os praticantes das religiões de matriz afro-brasileira, ainda que a Constituição de 1891, a primeira da República, garantisse o estado laico. Ou seja: era uma contradição. O código penal criminalizava e a Constituição garantia o estado laico. Então a prática da perseguição era inconstitucional e ainda assim foi feita. As coisas eram tão loucas que as batidas policiais aconteciam durante as cerimônias religiosas”.

O acervo, que ficou sob a responsabilidade da Polícia Civil do Rio de Janeiro sem os devidos cuidados de conservação, foi tombado em 1938, pelo então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Segundo o Iphan, dos 523 objetos da coleção, o instituto tombou 126 e todos estão, desde 2020, sob a guarda do Museu da República, em uma gestão compartilhada com lideranças religiosas.

O presidente do IPHAN, Leandro Grass, conta que o material foi registrado pelo SPHAN no chamado livro do Tombo, como Coleção Magia Negra: “por óbvio uma terminologia bem preconceituosa e desprovida de sentido, porque é um termo pejorativo para designar e para fazer referências às matrizes africanas religiosas. Ao longo de todos esses anos esse material ficou no Museu da Polícia Civil.”

Grass considera que a mudança no nome da coleção, formalizada por retificação no Livro de Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico representa uma reparação histórica.

“Vem, primeiro, em uma lógica de ruptura de terminologia pejorativa a respeito dos símbolos de matriz africana. Em segundo, vem no sentido de contemplar o desejo da sociedade civil e, em terceiro, trazer para este acervo e esse material um olhar de respeito, de consideração, porque este material foi apreendido em ações que tinham, como base, uma legislação fundada em tornar crime, os rituais ditos profanos que, na verdade, eram de matriz africana. Simbolicamente é muito importante.”

O longo processo de reparação contou com a participação de lideranças do candomblé e da umbanda do Rio de Janeiro que fizeram esta construção até a criação do Movimento Liberte o Nosso Sagrado, tendo à frente a Mãe Meninazinha de Oxum.

Mãe Meninazinha de Oxum iniciou o movimento Liberte o Nosso Sagrado, para recuperar objetos religiosos apreendidos ilegalmente pela Polícia Civil do Rio ao longo de meio século - Tânia Rêgo/Agência Brasil

“Eu não gosto de dizer que fui eu, mas o primeiro passo foi dado por Mãe Meninazinha, mas graças a Deus tivemos nossos irmãos do candomblé e da umbanda e juntos chegamos onde estamos”.

O diretor do Museu da República conta que quando o acervo chegou ao espaço cultural precisou passar por uma quarentena para avaliar se estavam com algum tipo de fungo. Depois houve um trabalho de conservação e de documentação, que ainda está sendo feito.

“Alguns, nós estamos conseguindo identificar [a quem pertencia] por conta de material de imprensa, o nome do pai de santo, a casa de onde era. Estamos chegando a estes detalhes, graças a uma pesquisa junto aos inquéritos policiais e ao material de imprensa, mas nem tudo a gente sabe de onde veio”, disse Mario Chagas.

O material deve ficar acessível ao público em setembro, quando deverá ser realizada uma exposição. Para a Mãe Meninazinha de Oxum, quando o público tiver acesso, mais uma etapa da reparação histórica estará cumprida.

“A população vai conhecer esse lado negativo da história do Brasil. Para eles [policiais] na época não tinha valor, mas graças a Deus ainda temos liberdade para cultuar nossos orixás”, disse, acrescentando que travou uma luta intensa sem medo. “É porque eu sou leonina”, disse sorrindo, ao se referir a seu signo no zodíaco. (Fonte: Agencia Brasil)

Nenhum comentário

A SANFONA DE DOMINGUINHOS E LUIZ GONZAGA

A sanfona é mesmo meu pulmão, meu coração, meu estômago, minhas vísceras. Quando ela se abre, é minha respiração que vai junto. Quando se fecha, é meu suspiro.

A sanfona sabe de todas as minhas saudades, revira todas as minhas lembranças, desce ao poço profundo do meu passado e traz-me milhões de presentes. É, a sanfona é a rainha do meu salão de miudezas.

A sanfona é a lâmpada a clarear meu terreiro, é o sol a festejar os meus dias. Quando chove, a sanfona é meu abrigo. À noite escura, é ela a lua escondida por trás da escuridão. Meus ouvidos são a passarela por onde ela desfila soberana. Minha pele sofre quando a escuta bem baixinho nos agudos suaves.

Meus olhos se fecham, enquanto meu peito vibra nas prolongadas notas graves. Me desculpe, Luz Deus, mas meus santos todos tocam sanfona, sem piedade. Tem dois santos no altar-mor de minha catedral: São Luiz Gonzaga do Nascimento e São Dominguinhos. Essa da foto pertence ao segundo, já que o primeiro é primeiro mesmo. (Texto Professor doutor Aderaldo Luciano)

Nenhum comentário

O SENHOR DE ESCRAVOS EM NÓS: O VINHO AMARGO DA HISTÓRIA PÁTRIA

Há um senhor de escravos habitando a subjetividade de muitos brasileiros. Há um desejo de escravização do outro, do considerado inferior, transmitido pela educação de gerações, no país que foi o último a abolir o vergonhoso comércio de carne humana, cujas elites intelectuais produziram uma visão idealizada e adocicada do martírio cotidiano de milhões de homens e mulheres pretos. 

Habita nosso inconsciente coletivo a fantasia senhorial do poder desabrido e sem peias sobre o corpo do outro, a vontade de servidão e de serviço sem limites daqueles considerados diferentes, fracos, subumanos. 

Uma boa parcela dos brasileiros que se consideram brancos e, por isso, superiores, acalentam sonhos, muitas vezes não explicitados, de ter a sua disposição um outro em quem possa descarregar suas frustrações, seus ressentimentos, suas raivas, seus ódios. Alguém de pele escura, de pele parda a sua disposição para descarregar as suas pulsões de morte, a sua agressividade, os seus desejos destrutivos.

Quando Gilberto Freyre, um dos intelectuais que edulcoraram a escravidão e que tinha por ela uma indisfarçável nostalgia, utiliza o par de categorias psicanalíticas sadismo e masoquismo para pensar as relações entre senhores e escravizados, ele acerta, por um lado, ao descrever o desejo sádico dos senhores e senhoras, que gozavam infligindo humilhação, dor e sofrimento públicos a seus escravizados e erra ao atribuir a eles o desejo masoquista, como se eles se submetessem a sevícia dos senhores e senhoras de forma voluntaria e disso retirassem prazer. 

DURVAL MUNIZ DE ALBUQUERQUE JR Professor da UFPE e UFRN. Autor do livro “A Invenção do Nordeste”. Análises históricas e questões regionais. Escreve às terças no Diário do Nordeste

Nenhum comentário

HORA DO PLANETA: NO BRASIL, MONUMENTOS E PRÉDIOS PÚBLICOS DEVEM APAGAR AS LUZES NESTE SÁBADO

Na noite de 25 de março, às 20h30, luzes serão apagadas em diversos pontos do país, para chamar a atenção da sociedade sobre a crise climática. O apagão faz parte da Hora do Planeta, evento promovido anualmente pela organização ambientalista não-governamental WWF.

A proposta é que indivíduos, grupos e empresas apaguem as luzes por 60 minutos, para pensar em como cuidar do planeta. Limpar a praia, plantar uma árvore, se engajar em movimentos comunitários ou simplesmente reunir os amigos no momento de desligar a energia elétrica são maneiras de aderir ao movimento.

Segundo a WWF, qualquer pessoa, em qualquer lugar, pode participar da mobilização. Apoiadores em mais de 190 países e territórios participam do evento, que acontece no Brasil desde 2009.

De acordo com Giselli Cavalcanti, analista de engajamento do WWF-Brasil, a Hora do Planeta tem mais de 400 eventos programados pelo país, tanto virtuais quanto presenciais. Este ano, a WWF-Brasil ofereceu um mapa de visibilidade dessas ações, que podem ser consultadas no site da instituição. “O objetivo é que, em um esforço global, a gente consiga fazer a nossa parte, mas também cobrar medidas urgentes dos governos e das lideranças para barrar a crise climática e reverter a queda da biodiversidade”, afirma Cavalcanti.

Tradicionais parceiros da WWF, os escoteiros têm diversas atividades programadas para a Hora do Planeta, tais como vigílias, debates e observação de estrelas. Bruno Souza, diretor do Grupo Escoteiro José de Anchieta (GEJA), em Brasília, explica que os escoteiros já trabalham sobre um conjunto de ações associadas aos objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU) e que as atividades programadas para o dia 25 fazem parte dessas ações.

“O GEJA participa da Hora do Planeta desde que ela começou no Brasil, então todo ano a gente faz ações desse tipo e, principalmente, orienta os nossos jovens sobre a responsabilidade de cada um na questão da preservação do meio ambiente”, diz.

Para Giselli Cavalcanti, a participação dos escoteiros na Hora do Planeta tem um impacto significativo. “Essas crianças e esses jovens estão se engajando com a pauta ambiental, estão levando essa discussão para outros espaços também, seja nas escolas, nas comunidades, nas famílias”, explica. Cavalcanti destaca ainda o envolvimento crescente das empresas, que têm participado da mobilização com palestras, workshops e apoio a projetos de cuidado ambiental, além de reverem suas formas de atuação.

No Brasil, monumentos e prédios públicos em diversas cidades devem apagar suas luzes às 20h30 deste sábado, como forma de adesão ao movimento. Enquanto isso, na Mongólia, acontecerá um desfile de moda sustentável com estilistas locais, apresentando roupas recicladas e redesenhadas. Já o WWF-Letônia sediará seu tradicional concerto da Hora do Planeta para parceiros e apoiadores. Essas e outras ações fazem parte dos esforços da instituição "para que a década termine com mais natureza e biodiversidade do que quando começou", a fim de evitar danos irreversíveis ao planeta.

A bióloga Nurit Bensusan, especialista em biodiversidade e pesquisadora do Programa de Política e Direito do Instituto Socioambiental (ISA), questiona a efetividade dessas ações. Para ela, a Hora do Planeta seria mais um apaziguamento de consciência que uma proposta de transformação.

“Cada pessoa individualmente poderia fazer muito mais, se posicionando contra uma economia que despeja seus impactos socioambientais nos outros agentes da sociedade. Cada um de nós poderia contribuir para tornar essa economia inaceitável, mas a gente não faz isso”, destaca.

Bensusan citou o relatório lançado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) na última segunda-feira (20). O documento alerta que a temperatura média mundial subiu 1,1 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais – uma consequência direta de mais de um século de queima de combustíveis fósseis, bem como do uso desordenado e insustentável de energia e do solo.


O relatório também aponta que os desastres naturais relacionados ao clima atingem sobretudo as pessoas econômica e socialmente mais vulneráveis. “É muito difícil a gente analisar a crise climática separada do colonialismo, do racismo, da discriminação, do preconceito e das desigualdades”, complementa.


De acordo com a bióloga, para transformar o cenário atual, apenas mudanças na rotina não são suficientes. Para ela, uma espécie de “fé’ na tecnologia nos faz crer que os danos socioambientais causados pelo clima são contornáveis, o que levaria a um adiamento de soluções efetivas. “O que funcionaria seria uma conscientização radical das pessoas”, defende. Já para Giselli Cavalcanti, a Hora do Planeta aumenta a conscientização e a mobilização dos diferentes setores da sociedade na causa ambiental, o que pode ser considerado um dos efeitos positivos da campanha.

Nenhum comentário

QUIOSQUE DA UMBUZADA SERÁ INAUGURADO NESTE SÁBADO (25)

As famílias agricultoras do distrito de Massaroca, em Juazeiro, vão contar com um espaço de comercialização dos produtos de 24 famílias que integram a Cooperativa Agropecuária Familiar de Massaroca e Região (Coofama).

O “Quiosque da Umbuzada” será inauguradono próximo sábado (25) e possibilitará à população local, visitantes e às pessoas que trafegam pela BR 407, uma diversidade de itens agroecológicos. “Os ovos, as galinhas caipiras, os doces e as geleias são alguns produtos que a gente vai colocar no quiosque. Vai ajudar na comercialização dos produtos, agregando valor”, destaca a secretária da Coofama, Ana Lúcia Silva.

“Pra mim que sou um produtor de ave de postura, vai ser mais um ponto de apoio. Nosso gargalo era o escoamento de nossos produtos e com esse quiosque vai ser muito bom, vou ter onde vender. Só tenho a agradecer, é mais uma conquista”, também celebra o cooperado Rogério Serafim.

A construção desse quiosque é resultado das ações de assessoria técnica desenvolvidas com as famílias agricultoras, o que evidencia a importância das políticas públicas de Ater para a melhoria da qualidade de vida no campo, principalmente no fomento de espaços que possibilitam e potencializam o escoamento do excedente da produção. “Era um sonho da Cooperativa ter um lugar para comercializar os nossos produtos dentro do distrito. E aí, quando chega a assessoria técnica do Irpaa, junto com o projeto Pró-Semiárido, através da CAR e o Fida, a gente vê esse sonho se realizando”, ressalta Ana Lúcia.

A programação festiva de inauguração começará às 7h com a realização da feira mensal de produtos agroecológicos no distrito e, ao longo da manhã, vai contar com a abertura do Quiosque e a degustação de alimentos, com destaque para a umbuzada. Também acontecerão apresentações culturais do músico Ildemar Voz e Violão e das bandas Xerim de Xiqueiro e Novo Swing.

Essas ações de assessoria técnica junto às famílias agricultoras, à Coofama e de fomento para a construção do espaço, são viabilizadas através do projeto Pró-Semiárido, que é executado pelo Irpaa. O projeto é uma realização do Governo do Estado da Bahia, através da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), órgão da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), com recursos via acordo de empréstimo com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida).

O Quiosque da Umbuzada recebe também o apoio de diversas entidades, como a Central de Cooperativas da Caatinga (Central da Caatinga).

(FONTE: Foto e cards: Divulgação/Coofama)

Nenhum comentário

NA TERRA DE LUIZ GONZAGA, A TERAPIA HOLÍSTICA DÁ O RITMO NA BUSCA DO CORPO E MENTE SAUDÁVEL

O caminho que liga Exu, Pernambuco ao Crato-Ceará é a via das escolhas, das encruzilhadas, da fé,  do trabalho, dons e saberes. As paisagens agem e ardem em eco.  Quais mãos trabalharam na confecção desse origami?

Nesta terça-feira, dia 21 de março, teve início um novo ciclo de todo planeta, o Sol em sua trajetória pelo zodíaco cruza a Linha do Equador Terrestre, e assinala o equinócio de outono no hemisfério sul, e o equinócio da primavera no hemisfério norte e marca a sua saída do signo de Peixes, o último do Zodíaco, para a entrada no de Áries, o primeiro. 

Os raios do Sol incidem nos hemisférios Norte e Sul de forma igual e o dia e a noite se equilibram, tendo 12 horas cada, daí o nome “equinócio”.

Este momento de harmonia da Natureza marca o início do Ano Novo Zodiacal, e é como se fosse um réveillon astrológico, ideal para começar uma nova fase.

Em Exu, não é só o ritmo e a harmonia de  Luiz Gonzaga que ecoam provocando saberes. Um dos exemplos de dedicação é o trabalho de Alvenir Peixoto. Ela é mãe e avó, filha de  Pedro Tenório de Alencar e Amélia Peixoto de Alencar.

Nasceu de batismo Alvenir Peixoto Tenório. Atualmente tem 62 anos, há 4 anos fechou um ciclo de  40 anos como educadora.  

"Nesse tempo, há  23 anos,  transmutei para Terapeuta Holística Integrativa, e  há 10 anos me fiz Artesã.  Arrisco-me  na poesia e  na contração de histórias", revela Alvenir, ressaltando que nasceu em um lar sertanejo, cujos valores foram transmitidos no cotidiano de maneira prática nas rodas de conversas motivadas por seu pai o seu avô materno.

"Honro a minha ancestralidade, honro meus pais pois sou parte do que recebi deles", diz Alvenir.

Esse ano Alvenir completa 30 anos de Práticas Integrativas Complementares e há 23 anos exerce, com honra, a missão  de auxiliar na saúde,  bem estar e felicidades  das pessoas como terapeuta.

Com Formação em Holística de Base, pela UNIPAZ-Recife , Alvernir é Reikiana,  shiatsuterapeuta, Psicopedagoga Clínica,  trabalha com Radiestesia, Cromoterapia,  Pêndulo,  Terapia Angelical,  Fitoterapia e audição terapêutica. 

Alvenir destaca os saberes. "Inserido na minha prática,  o conhecimento ancestral das meisinhas, (fitoterapia), dos escaldas pés, dos banhos de ervas,  de argilas fortalecem os saberes da nossa caatinga, da energia do sertanejo tão  elucidado na vasta obra de Luiz Gonzaga, nosso eterno  Rei do Baião".

De acordo com a terapeuta, os Saberes da Caatinga une benzedeiras(os), parteiras(os) e  raizeiras ( os) em prol da vida, da saúde  e do bem estar de todos que compartilham essa região, assim como a Chapada Nacional do Araripe  um cinturão de energia  que abraça a todos com sua generosa  riqueza energética e espiritual.

"Exu  tem como essência na sua formação a união dos povos tradicionais,  os índios Ançus,  os afro descendentes e o povo que veio de  Freixerio de Sotelo. Os Saberes espirituais estão presentes na formação de um povo. Acredito que não seja diferente de nossa Exu".

Ligia Peixoto Lino Araújo é filha de Alvenir. Apaixonada pela natureza e os elementos essenciais de quem busca qualidade de vida.  Todos os dias ela vai trabalhar na Budega, espaço e nome apropriado para uma das empresas pioneiras em vendas de itens para quem busca saúde para a mente e corpo.

No Brasil, em consonância com as recomendações da Organização Mundial da Saúde M, foi aprovada, desde 2006, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC), contemplando, entre outras, diretrizes e responsabilidades institucionais para implantação/adequação de ações e serviços de medicina tradicional chinesa/acupuntura, homeopatia, plantas medicinais e fitoterapia, além de instituir observatórios em saúde para o termalismo social/crenoterapia e para a medicina antroposófica no Sistema Único de Saúde (SUS).

A utilização da natureza para fins terapêuticos é tão antiga quanto a civilização humana e, por muito tempo, produtos minerais, de plantas e animais foram fundamentais para a área da saúde. Historicamente, as plantas medicinais são importantes como fitoterápicos e na descoberta de novos fármacos, estando no reino vegetal a maior contribuição de medicamentos.

Nenhum comentário

ESPIRITUALIDADE, ECOLOGIA, SUSTENTABILIDADE E O CUIDADO COM A MÃE TERRA SÃO TEMAS EM DISCUSSÃO NO VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL PADRE CÍCERO

O VI Simpósio Internacional Padre Cícero e I Simpósio Internacional de Religiões e Espiritualidades prossegue até o dia 23 de março.

Aberto oficialmente na noite deste domingo, 19, no auditório Beata Maria de Araújo, na Universidade Federal do Cariri (UFCA), o VI Simpósio Internacional Padre Cícero e I Simpósio Internacional de Religiões e Espiritualidades: Pluralismo Religioso e Cosmovisões no Nordeste. Juazeiro do Norte e o Cariri se tornam o epicentro dos debates sobre religiosidades e o Padre Cícero, com a presença de dezenas de estudiosos do Padre Cícero e das religiões de vários países. Os eventos de abertura contaram com apresentações culturais, a exemplo do Coco do Frei Damião, com a Mestra Marinês.

O simpósio está sendo realizado por meio de diversas parcerias, entre elas a UFCA e a Unileão. São homenageados grandes nomes que contribuíram ao longo dos anos para a pesquisa, o fortalecimento da historicidade em torno da religiosidade e do Padre Cícero, a exemplo da irmã Annette Dumoulin, religiosa da Congregação de Nossa Senhora (Cônegas de Santo Agostinho), que faleceu em 21 de maio de 2021, além dos pesquisadores Daniel Walker, Raimundo Araújo e Geraldo Barbosa, também falecidos.

O coordenador geral do evento, Océlio Teixeira de Souza, destacou os nomes que estão sendo homenageados e que contribuíram com a realização dos simpósios, ao longo das suas edições. Ele fez um breve retrospecto de todas as edições realizadas e as temáticas trabalhadas. A URCA chega a 6ª edição, com a ampliação dos debates e discussões.

Na programação do Simpósio, estão sendo tratados sete eixos temáticos, incluindo: EIXO 1 – Padre Cícero, Romarias e Catolicismos no Nordeste;

EIXO 2 – Protestantes e Evangélicos; EIXO 3 – Religiões Afro-Diaspóricas e Afro-Brasileiras; EIXO 4 – Cosmovisões Indígenas e a Luta pela Terra; EIXO 5 – Doutrinas Científico-Religiosas e Novas Espiritualidades; EIXO 6 – Espaço Público, Religião e Política e EIXO 7 – Espiritualidade, Ecologia e o Cuidado com a Mãe Terra.

Nenhum comentário

DIOCESE PUBLICA NOTA EM DEFESA DE COMUNIDADES ATINGIDAS POR MINERADORA

Após visita realizada no último sábado (18), a comunidades atingidas por uma empresa de mineração no interior de Sento Sé, o Bispo da Diocese de Juazeiro, Dom Beto Breis, publicou uma nota em defesa dos moradores.

Na nota, Dom Beto disse que foi às comunidades a fim de “escutar os gritos e as reivindicações dos que sofrem com os efeitos e impactos da presença da Empresa Tombador Iron Mineração Ltda. E com os temores do que poderá surgir ainda mais. Tal Empresa desde 2021 atua na extração e produção de granulado e finos de hematita (minério de ferro) de alto teor (67% Fe) numa pequena serra (Serra da Bicuda) distante 22 quilômetros da sede do município. Se São José sentiu-se impelido pelos sonhos que lhe indicavam as pro-vocações de Deus, são aqui os ‘pesadelos’ enfrentados por tantas famílias de 12 comunidades que nos interpelam e desafiam”.

Na visita, Dom Beto estava acompanho “por quem já apoia a luta e a resistências desses moradores: membros da Comissão Pastoral da Terra (CPT), pesquisadores/ professores da Fiocruz e da UNIVASF (Universidade Federal do Vale do São Francisco), Padre Claudimiro (vigário da Paróquia) e o seminarista Danilo”.

Segundo o bispo, “Importa ecoar seus gritos e lamúrias, pois não faltam os que lhe são indiferentes ou impõe ameaças de retaliações porque não permanecem calados e isolados. Fica evidente que as chagas profundas e extensas abertas por ocasião da construção da Barragem de Sobradinho permanecem dolorosas e são reabertas com força diante de outros empreendimentos em nome do ‘Desenvolvimento’ que exclui o respeito com a vida humana e o cuidado com a Criação”.

Confira o texto na íntegra 

ESCUTAR E CON-SENTIR

 + Dom Beto Breis, OFM

Bispo Diocesano de Juazeiro

No dia 18 de março, Véspera da Festa de São José, Padroeiro da Paróquia e do município

de Sento Sé, visitamos comunidades dessa extensa rede de comunidades para escutar os

gritos e as reivindicações dos que sofrem com os efeitos e impactos da presença da

Empresa Tombador Iron Mineração Ltda. E com os temores do que poderá surgir ainda

mais. Tal Empresa desde 2021 atua na extração e produção de granulado e finos de

hematita (minério de ferro) de alto teor (67% Fe) numa pequena serra (Serra da Bicuda)

distante 22 quilômetros da sede do município. Se São José sentiu-se impelido pelos

sonhos que lhe indicavam as pro-vocações de Deus, são aqui os “pesadelos” enfrentados

por tantas famílias de 12 comunidades que nos interpelam e desafiam. Fomos

acompanhados por quem já apoia a luta e a resistências desses moradores: membros da

Comissão Pastoral da Terra (CPT), pesquisadores/ professores da Fiocruz e da UNIVASF

(Universidade Federal do Vale do São Francisco), Padre Claudimiro (vigário da Paróquia)

e o seminarista Danilo.

Registro a seguir algumas falas, sinalizando entre aspas as que consegui anotar com

literalidade. Importa ecoar seus gritos e lamúrias, pois não faltam os que lhe são

indiferentes ou impõe ameaças de retaliações porque não permanecem calados e isolados.

Fica evidente que as chagas profundas e extensas abertas por ocasião da construção da

Barragem de Sobradinho permanecem dolorosas e são reabertas com força diante de

outros empreendimentos em nome do “Desenvolvimento” que exclui o respeito com a

vida humana e o cuidado com a Criação.

Infelizmente essa realidade não é isolada e única. Comunidades como Angico dos Dias,

em Campo Alegre de Lourdes, sofrem há anos com os desmandos da Mineradora Galvani.

E a CBPM1

já festeja os passos para uma Província Mineral que abrangerá grande parte

do território de nossa Diocese de Juazeiro. A propósito, temos informações de que o

Estado da Bahia se destaca na oportuna flexibilização das leis ambientais.

As frases e citações seguirão a ordem das exposições, sendo um primeiro grupo aquelas

acolhidas pela manhã, na Comunidade de Pascoal/Limoeiro, e, a seguir, aquelas na

Comunidade do Tombador (à tarde).

1 A Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) é a empresa de pesquisa e desenvolvimento do Estado

da Bahia, indutora destes processos no setor mineral do estado. Sua atuação é centrada na ampliação e

aprimoramento do conhecimento geológico do território baiano, na identificação e pesquisa de seus

recursos minerais e no fomento ao seu aproveitamento, atraindo, para este fim, a iniciativa privada.

Fundada em 18 de dezembro de 1972, a CBPM é reconhecidamente uma das mais dinâmicas empresas

no cenário da pesquisa mineral no Brasil. O acervo de dados e informações geológicas, geradas e

difundidas por ela ao longo da sua trajetória, contribuiu para tornar a Bahia um dos estados brasileiros

mais bem estudados e conhecidos geologicamente, pondo em destaque a grande diversidade de seus

ambientes geológicos, ricos em depósitos minerais.

(fonte: http://www.cbpm.ba.gov.br/institucional/missao-visao-valores/)

Do 2

PASCOAL/LIMOEIRO

 Sentimento de medo. “Parecia um boato” (a chegada da empresa mineradora), mas

o que “nossos pais passaram na época da construção da Barragem enfrentamos agora”.

“Tenho o sentimento de que somos invisíveis”. Estradas sem estruturas para caminhões

bitrens, que muitas vezes passam em comboio.

 “Moramos aqui há tantos anos e chegam se achando donos. Parece que os

inoportunos somos nós.... Não estou feliz no que é meu.... Nos documentos deles aqui

não tem ninguém. É o que somos para eles: ninguém”

 O líder da comunidade Ademir (falecido em 2015) já alertava os moradores

prevendo dores e sofrimentos “tapando as variantes”.

 Há indícios de que estão construindo uma barragem de rejeitos. Brumadinho e

Mariana servem de alerta para nós.

 “Prefiro acreditar no poder da união do povo. Meus pais perderam tudo com a

barragem. Não vamos desistir, pois eu quero viver aqui... Fé em Deus e no poder da luta

do povo. A gente quer ser feliz aqui”.

 “Daqui não saio” (idosa octogenária)

 “A gente vivia sossegado (pescando, tirando casca de angico…), mas hoje o

desassossego é grande”. Tenho um filho de oito anos: “queria que ele tivesse o sossego

que eu tive quando era criança...” (...) Os motoristas dos caminhões não nos respeitam.

 “Essa indignação minha vem desde quando era criança. Tinha oito anos na época

da construção da Barragem. A água do rio estava podre devido a tantas plantas e animais

mortos”. Água era inapropriada para consumo. Devia-se esperar alguém com canoa para

pegar agua corrente no meio do rio. “Mamãe fervia a água, mas tão grande era a sede que

a gente bebia a água assim mesmo, morna.”. Gosto horrível. “Chega hoje uma

mineradora…”. (...) “Onde Deus está? Porque tanta injustiça, tanta coisa errada? Até já

pedi perdão a Deus por isso. ”

 “Nossa luta não começou agora. No início ninguém acreditava”. Poucos se uniam.

Agora 90% da população acordou ...”A comunidade desperta agora”.

 “Sinto-me estranho na minha própria casa”. Sem segurança para ir de moto a

Sento Sé.

 “Muitos se acomodam diante das dificuldades e da força dessa Empresa. E o

desenvolvimento prometido não chega: “cadê os empregos? ”. Somos descartados. “Nada

do que foi prometido aconteceu de fato”. “A gente se fortalece com o apoio de quem não

é daqui”. “O povo da cidade julga e não acredita nas causas das comunidades. Dizem que

é ‘politicagem’”.

 “Estão nos expulsando” a partir do momento em que as famílias perdem os bichos

que criam e o que produzem” (por exemplo, acerolas).

 “A cada dia a indignação cresce mais. ” Pessoas da comunidade são manipuladas e

desconstruir não é fácil.

 Nos doze (12) dias (de manifestação) “ninguém veio” (Prefeita, vereadores...). “As

autoridades quando acordarão? ” “Também outras comunidades não acordaram ainda. ”

Do 3

“Não dá mais para aguentar”: poeira e explosões somos nós que enfrentamos. “Eles

(Mineradora) se acham donos”.

TOMBADOR

 Há quase 50 anos “a Chesf fez promessas, mas enganou e iludiu. Pessoas ficaram

sem casas... “Não somos animais, merecemos respeito”. (...) Hoje não temos mais

alegria”.

“Fomos surpreendidos pela gestão municipal, que não ouve as comunidades”.

 “Corremos o risco de morrer de silicose”

2=A estrada piorou muito depois que

chegou a Empresa” (lama ou poeira)

 Tomaram posse das nossas terras. “Pobres não têm vez, dizem as pessoas... Não

somos nada”

3-Medo dos rejeitos, que poderão “estrondar” no São Francisco. Montes altos de

terras surgidos recentemente indicam que tem barragem sendo feita. Pó de pedra nas

casas.... Estão desmatando. Por outro lado, “nenhum do povoado foi empregado... Para

nós, só prejuízo”.

 “Tenho medo de ter que sair daqui. Minha mãe morreu esperando indenização

da Chesf”. Quase meio século depois da Barragem de Sobradinho a maioria das pessoas

já morreu. A relocação das famílias é um trauma. Hoje chegam outros modelos de

desenvolvimento prontos. “Não respeitam as terras dos nossos antepassados”.

4-“Se alguém tira a vida do outro vai preso. E essas mineradoras? ”. A Empresa

Tombador Iron está em expansão.

5- “Jesus está no meio de nós. Ele está do lado dos pobres.

 Eles dizem que aqui não mora ninguém. Mas a gente produz, faz troca de

sementes...

 As manifestações que paralisaram a estrada foram 178 horas de um movimento

ordeiro, pacífico. Mas nenhuma autoridade apareceu. “Mas a luta não está perdida”.

 “Lembro-me da época da construção da Barragem, pois era criança: animais mortos

nas águas; nos colocaram na caatinga sem morada”. Barracas de lona preta.6

 “A Chesf jogou nós igual a porcos. Bolos de barro e lonas de galé”

Juazeiro, 20 de março de 2023

Nenhum comentário

BAHIA: RIO SALITRE, SECA E AMEAÇA SOBREVIVÊNCIA DE COMUNIDADES RURAIS

Cidadãos de comunidades próximas ao Rio Salitre, na região do Campo Formoso (407 km de Salvador), estão enfrentando dificuldades com a desertificação do rio.

No povoado da Lagoa Branca, os peixes endêmicos da região, como curimatá, mandi, dourado e piau-verdadeiro, não existem mais. Isso porque o trecho do rio, vizinho da localidade, secou.

A desertificação de Campo Formoso, atinge uma área de 80 km² onde residem centenas de famílias quilombolas, pequenos agricultores e comunidades tradicionais de fundo de pasto.

A degradação ambiental é marcada por solos improdutivos que obrigaram moradores a migrar. E o afluente do São Francisco não é o único exemplo do fenômeno. É o que aponta a reportagem da Folha de São Paulo.

Segundo a publicação, estudos apontam que ao menos seis comunidades rurais do chamado sertão do São Francisco estão com segurança hídrica e alimentar ameaçadas pela desertificação severa.

Uma das possíveis causas da seca do rio é a construção de 35 barragens na bacia hidrográfica do Médio Salitre. Outros indicativos para o dano a existência do rio é o desmatamento da caatinga, sobrepastoreio e agricultura irrigada incompatível com os limites naturais do bioma, dizem os pesquisadores.

"Em Campo Formoso, a desertificação cárstica é um fenômeno jovem, mas perigoso", explica Jémison Santos, professor da Uefs (Universidade Estadual de Feira de Santana).

O termo vem de "carste", um dano considerado irreversível que ocorre quando os ecossistemas tornam-se espécies de paisagens rochosas e desoladas. Um dos exemplos mais conhecidos no mundo são os desertos de Guangxi, na China.

"Funciona como uma espiral descendente. Um problema puxa outro e perde-se o controle do processo com a biota cada vez mais vulnerável", completa Santos, que estuda o carste na Bahia. No estado, há 289 áreas suscetíveis à desertificação.De acordo com dados do Sistema de Monitoramento e Alerta para a Cobertura Vegetal da Caatinga (Sima), da Universidade Federal de Alagoas, cerca de 13% da região Nordeste já está transformada em deserto.

O PAN-Brasil (Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca), principal iniciativa de enfrentamento da desertificação que o país já teve, está paralisado há 13 anos.

Procurado pela reportagem da Folha, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima informou que um novo plano será lançado em 2023. Segundo a pasta, ele incluirá ações relacionadas à agricultura resiliente ao clima, à agroecologia e à convivência com o semiárido.

"O problema é regional, mas o impacto é nacional. Se não resolver, vai piorar muito. O plano vai precisar ser repactuado", indica o pesquisador José Roberto de Lima, ex-coordenador do PAN-Brasil, no MMA.

Outra característica que se tornou presente na paisagem da região de Campo Formoso são as voçorocas, buracos que chegam a cinco metros de profundidade.

"Minha mãe comprou o sítio na década de 1990 e já tinha voçoroca, mas o problema só piorou. Depois, veio a algaroba. Sonho em ver o Salitre correr de novo, mas, antes de tudo, sonho em acabar com a algaroba", diz Joselina Pimentel, presidente da associação quilombola local. Foram mapeadas 734 linhas erosivas, entre sulcos, voçorocas e ravinas. (Folha S.Paulo)

Nenhum comentário

COMPOSITOR FERNANDO FILIZOLA MORRE AOS 76 ANOS. MÚSICO ERA UM DOS FUNDADORES DO QUINTETO VIOLADO

O músico e compositor Fernando Filizola, de 76 anos, morreu, na noite de domingo (19), em um hospital de Natal. Ele foi um dos fundadores do Quinteto Violado, grupo pernambucano formado em 1970 que apresentava temas do folclore nordestino.

Segundo companheiros do Quinteto Violado, Fernando Filizola estava internado dede a semana passada para se submeter a uma cirurgia no pulmão. Durante o procedimento, teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu.

O velório e enterro do compositor estão marcados para esta segunda (20), no Cemitério Morada da Paz, na cidade de Parnamirim (RN).

Nascido em Limoeiro, no Agreste de Pernambuco, Filzola foi o compositor de “Palavra acesa”, música que fez parte da trilha sonora da novela “Renascer”, da TV Globo (veja vídeo abaixo).

O músico deixou dois filhos e três netos. Nas redes sociais, Dudu Alves, integrante do Quinteto Violado, falou sobre a morte do companheiro de banda.

“Partiu o gênio da música e fica a sua obra. Obrigado pela sua contribuição na música e como pessoa. Meus sentimentos para a família”, escreveu.

Fernando Filizola participou do início do Quinteto Violado, banda com mais de 50 anos de história. Ele permaneceu no grupo de 1971 até 1984. "Foi um grande músico, que deu uma contribuição muito grande ao Quinteto", diz Marcelo Melo, outro membro-fundador.

Além deles, integravam o grupo Generino Luna (flauta), Luciano Pimentel (bateria), e Toinho Alves (contrabaixo). Fernando ficou conhecido como guitarrista do grupo da jovem guarda The Silver Jets, também formado por Reginaldo Rossi.

"Ele tinha uma técnica muito grande com guitarra, era muito musical. Também tinha uma ligação muito forte com a obra de Gonzaga. Começou a desafiar o trabalho com a viola, de fraseados, bem típicos da região Nordeste. Além disso, era bom em cena, aboiava".

Após a saída do Quinteto, Fernando foi morar no Rio de Grande do Norte, onde tentou uma carreira solo. Também mantinha outras atividades artísticas, como pintura e desenho. Ele também é compositor de músicas como "Palavra Acesa", que foi tema da novela Renascer (1993), "Mundão" e "Uma Noite de Festa Comigo."

Nenhum comentário

EXPOSIÇÃO ELAS EM FOCO PRESTA HOMENAGEM A PROFESSORA E ENGENHEIRA AGRONÔMA JANINE CRUZ

As profissionais da Engenharia, Agronomia e Geociências que estão conquistando seus espaços no mercado de trabalho, foram as grandes homenageadas do Comitê Mulher Pernambuco do Crea-PE, na segunda edição da exposição fotográfica “Elas em Foco”. 

A iniciativa, que retrata 20 mulheres, é mais uma ação do Crea-PE para celebrar o Dia Internacional da Mulher. A exposição foi inaugurada no hall do Conselho, onde permanece até o dia 31 de março.

Janine Souza da Cruz é professora do Cetep-SSF-Centro Territorial de Educação Profissional do Sertão do São Francisco. Engenheira Agronoma graduada na Universidade do Estado da Bahia, Campus III Juazeiro. É engenheira do trabalho e segurança e cursa especialização em Gestão do Agronegócio.

O presidente do Crea-PE, Adriano Lucena, abriu a exposição lembrando da importância da participação da mulher em todos os espaços. “A mulher tem que estar onde ela quiser”, afirmou Lucena, que também preside o Comitê Mulher Pernambuco. A coordenadora adjunta do Comitê, Giane Camara, ressaltou a importância de evidenciar as mulheres, em espaços como o Crea-PE.

As homenageadas destacaram a importância da iniciativa do Crea-PE e o orgulho de serem indicadas para participar da exposição. As profissionais representaram entidades de classe ligadas ao Sistema Confea/Crea, instituições de ensino e colaboradoras do Conselho. “É um momento para celebrar nossas vitórias, em uma das profissões consideradas mais masculinas”, afirmou a engenheira agrônoma Ceres Duarte Guedes Cabral de Almeida, representante da UFRPE.

Para marcar a homenagem do Crea-PE às profissionais retratadas na exposição fotográfica “Elas em Foco”, as participantes receberam certificados e brindes alusivos ao Dia Internacional da Mulher. O evento, que está na segunda edição, retratou 20 mulheres, seis a mais que na primeira mostra, que aconteceu em 2022. 

A primeira a receber o certificado foi a engenheira agrônoma Liliana de Almeida Ramos, profissional do Sistema Crea/Confea que representou as servidoras do Crea-PE.

 “Eu me sinto muito honrada em representar o grupo de funcionárias da casa, que se dedica aos normativos do Crea-PE”, afirmou. A engenheira de Pesca Magda Simone Leite Pereira agradeceu pelo espaço aberto pelo Crea-PE com a exposição e ressaltou que as mulheres devem ocupar todos os espaços também por merecimento.

Para a engenheira ambiental Carmem Carneiro, representante da AEAMBS, a homenagem do Conselho às profissionais da Engenharia, Agronomia e Geociências está em sintonia com a ODS 5 da Organização das Nações Unidas (ONU), que trata da importância da igualdade de gênero. 

As mulheres retratadas na exposição foram indicadas por entidades que têm representação no Conselho, instituições de ensino e pelo Crea-PE. A exposição fotográfica “Elas em Foco” ficará no hall do Conselho até o dia 31 de março.

Confira a lista das homenageadas:

Márcia Cristina de Souza Matos Carneiro (ABECA), Sheila Cavalcanti Pereira (ABENC), Carmem Carneiro Lima (AEAMBS), Magda Simone Leite Pereira Cruz (AEP-PE), Giane Maria de Lira (AESGA), Andrea Florêncio da Silva (AESPE), Lucila Ester Prado Borges (AGP), Olímpia Cássia de Sá Araújo (ANBEM), Janaína Teixeira da Silva (APEEF) Janine Souza da Cruz (ASSEA), Danusa Correia de Araújo (TESLA), Liliana de Almeida Ramos (CREA-PE), Isabelle M. J. Meunier (CTP), Priscilla Ferreira Martinelli (IBAPE), Cláudia Fernanda da Fonsêca Oliveira (MÚTUA-PE), Silvania Maria da Silva (SENGE), Macirleide Duarte dos Santos Moura (UFPE), Ceres Duarte Guedes Cabral de Almeida (UFRPE), Micaella Raíssa Falcão de Moura (UNICAP) e Maria da Conceição Justino de Andrade (UPE).

Nenhum comentário

A POLUIÇÃO LUMINOSA DAS GRANDES CIDADES AFETA, E MUITO, A OBSERVAÇÃO ASTRONÔMICA

A observação astronômica é uma tradição humana muito antiga, que remonta a cerca de 3 mil anos. Civilizações antigas, como os babilônios, assírios e egípcios,  já tinham um vasto conhecimento astronômico por conta dessa observação. Não apenas a possibilidade de maior conhecimento sobre o cosmos foi possível por meio dessa prática, como os calendários, mapas e relógios eram pautados pelos astros. Também é graças à orientação das estrelas, da Lua e do Sol que a navegação surgiu e que a época da melhor colheita e plantio era conhecida.

Ocorre, contudo, que a observação astronômica vem sendo prejudicada nas últimas décadas. Por conta da iluminação das ruas, prédios, casas, entre outros, as cidades sofrem hoje não apenas com a poluição atmosférica, como também com a luminosa. Estudos revelam que, de 2011 a 2021, a poluição luminosa aumentou 9,6% ao ano. Isso muda completamente a aparência do céu noturno. 

“A poluição luminosa é a incapacidade de ver o céu noturno como ele é naturalmente por causa da iluminação artificial das cidades, das casas e das ruas. Isso é bem comum na vida moderna, mas é algo que, se a gente for pensar na história da humanidade, é muito recente. Não tem mais do que um século, talvez menos que isso, na maioria dos lugares”, explica Roberto Dell’Aglio Dias da Costa, professor do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. 

A pior forma de poluição luminosa é o skyglow, que são fótons emitidos, principalmente, por luzes da rua, entre outras fontes humanas de luz. É marcado pelo aumento da luz aparente no céu escuro e pode ser visto como um domo luminoso sobre as cidades, quando observado de longe. O que acontece é que esses fótons acabam se dispersando para a atmosfera. Os satélites e o lixo espacial em órbita também contribuem para a poluição luminosa, dificultando a observação astronômica das estrelas. 

As emissões de luz detectadas pelos satélites aumentaram de 1992 a 2017 em pelo menos 49%. Porém, esse número pode estar errado. Isso porque a medição da poluição atmosférica é feita a partir de um satélite chamado Visible Infrared Imaging Radiometer Suite (VIIRS), que não capta as frequências de luz azul, emitidas pelas luzes LED.

Para se ter uma ideia, o mercado global de LED cresceu de 1% em 2011 para 47% em 2019. Isso significa que a maioria das lâmpadas hoje são de LED, especialmente aquelas de rua. Assim, grande parte da poluição luminosa está sendo “subnotificada”.

O skyglow pode ser afetado pelo aparecimento de novas fontes de luz em um país, mais do que a troca de uma lâmpada por outra. O que mais impacta é o tanto de luz que acaba dispersando dos postes, ou da iluminação das casas e estabelecimentos que, ao invés de ser bem direcionada ao solo, por exemplo, acaba indo diretamente para o céu. 

Diferentemente de como acontecia em um passado remoto, hoje a observação astronômica não se refere exatamente à observação a olho nu, ou muito menos a alguém observando por um telescópio por horas a fio. Nos observatórios, imagens são capturadas a partir de intervalos de tempo de exposição às luzes dos astros. “O nosso olho não tem uma regulagem de tempo de exposição, então ele não serve para observações astronômicas profissionais modernas. Já serviu imensamente até meados do século 19; até a invenção da fotografia, em torno de 1840, todas as observações astronômicas eram feitas a olho nu. Porém, isso é passado, isso é história. Agora, os observatórios profissionais precisam de registradores de imagem, porque a maior parte da informação que vem de um alvo astronômico não vem na forma de uma imagem, você tem que decompor a luz nos seus componentes e observar o que se chama de espectro da luz”, explica Dell’Aglio.

Por isso, a observação astronômica fica comprometida: qualquer interferência de luz que não seja das estrelas e astros interfere na qualidade do espectro de luz a ser observado e estudado pelos astrônomos. Até mesmo a luz refletida em partículas de poeira das cidades pode interferir nessa observação. Esse é o motivo pelo qual os observatórios são construídos afastados das cidades. 

“A astronomia óptica depende, sim, de ter céus muito escuros, o mais escuro possível. Por isso, os observatórios astronômicos profissionais são sempre instalados em locais afastados da atividade humana, normalmente montanhas ou desertos, lugares mais retirados. Cada vez mais a poluição ótica [luminosa] começa a ser problema mesmo nos grandes observatórios astronômicos profissionais”, diz o professor. 

Além de prejudicar a astronomia, a poluição luminosa tem efeitos negativos sobre a vida humana e animal. Ela confunde o tempo circadiano, afeta a produção de melatonina, os padrões de migração – tartarugas, pássaros e insetos são atraídos pela luz, o que faz com que migrem fora do tempo certo ou se arrisquem em áreas iluminadas não naturalmente, mas artificialmente, podendo levá-los à morte. Também, os ecossistemas marinhos estão sendo alterados pela poluição.

Atualmente, mais de 80% da população é afetada pela poluição luminosa. Porém, algumas iniciativas estão tomando fôlego para melhorar isso. Em alguns lugares, como no Chile, Estados Unidos Continental e Havaí, já existem iniciativas para diminuir a iluminação perto dos observatórios. Reservas de céu escuro, assim como cidades que são adaptadas para isso – com o uso de iluminação pública adequada – também existem.

Uma das soluções, lembrada pelo professor, é a instalação de postes de luz que iluminem apenas a rua, não dispersando para o céu, e com pouca sobreposição de feixes de luz. Utilizar menos iluminação à noite também seria bom para diminuir a poluição luminosa. “Ter céu escuro não é só uma questão de fazer pesquisas de astronomia. Ter o céu escuro é poder acompanhar os ciclos naturais, o que faz parte da cultura, faz parte da educação, faz parte dessa nossa civilidade”, diz Dell’Aglio. 

Nenhum comentário

← Postagens mais recentes Postagens mais antigas → Página inicial