COMO SEVERINO VIROU SIVUCA

Texto: Silvia Bessa, para o Diario de Pernambuco *

Na família de Severino, tinha lavradores, artesãos que curtiam couro para selar cavalos e uma turma grande de sapateiros. Música não se ouvia, até porque nem eletricidade havia. Por vezes, passava na beira da casa, lá em Itabaiana, na Paraíba, um sanfoneiro itinerante. Foi aí que Severino, um menino albino, viu aos nove anos uma sanfona. Aprendeu rápido. Aos 15 anos, veio ao Recife, meca de artistas em meados da década de 1940, destinado a bater à porta da Rádio Clube, a pioneira, sintonizada com o prefixo PRA-8. “Quero falar com seu PRA-8”, disse. Ainda era Severino.

“Eu fui lá numa quarta-feira. Na frente da rádio, havia uma salinha com um balcão e uma mesa de telefone com a telefonista que recebia recado. Era uma senhora meio gordinha, dona Eliodeth. Ela estava brincando com um gatinho. Pensei que ela fosse a dona do rádio porque no interior tem aquelas quitandas, bodegas com senhoras que ficavam na porta, esperando as pessoas pra comprar e geralmente fazendo crochê, brincando com gato. Eu cheguei e disse: “A senhora é a dona do rádio?”. Não era. Dona Eliodeth o encaminhou para a autoridade responsável: “Isso é com seu Nelson”. Severino queria tocar no show de calouros.

Seu Nelson era o maestro Nelson Ferreira - diretor musical da Rádio Clube, compositor, pianista, violinista e regente pernambucano respeitadíssimo, que logo propôs a Severino: “Quer tocar uma coisinha para mim?”. O rapazote estava com a sanfona debaixo do braço e começou um frevo chamado Mexe com tudo, de Levinho Ferreira.

O maestro ficou impressionado com a habilidade do jovem albino. “Ô, Antônio Maria!” - disse, referindo-se ao jornalista, compositor e grande cronista brasileiro - “vem ouvir uma coisa. Venha ver esse menino que chegou de Itabaiana”.

Severino ganhou muito mais que uma vaga no show de calouros. Depois que tocou Tico-tico no fubá a mil por hora, conquistou um programa inteirinho no dia seguinte. Quem fez a narrativa foi o próprio rapaz, mais de cinquenta anos depois, em entrevista concedida ao site http://gafieiras.com.br.

A incumbência de escrever o programa ficou com Antônio Maria. Nesse tempo, fazia-se três músicas e se tocava ao vivo, dentro de um quarto de hora, conta Severino no longo depoimento. Foi aí que Severino, em 1945, trocaria um nome próprio por apelido curto. “Seu nome, rapaz?”, perguntaram-lhe. Ele respondeu: Severino Dias de Oliveira. “Nelson Ferreira chegou junto a mim e disse: ‘Nós temos aqui um problema que precisamos resolver. O seu nome é nome de firma comercial de interior. Vamos simplificar. Que tal Sivuca?’ Eu disse: ‘Está bom, maestro, está bom’. A partir desse momento, eu passei a ser chamado de Sivuca”.

Uma semana depois, estreou na Festa da Mocidade, em Recife. “Aguardem, Sivuca!” , anunciava o locutor. “Mas eu havia esquecido que nome ele tinha me dado”.

Sivuca é um nome na história da música brasileira. Multi-instrumentista, ficou consagrado no mercado internacional pela habilidade única com o acordeon, que ele explicou ser a sanfona, apenas afrancesada. A sanfona, instrumento que ganha vida nas festas juninas no Nordeste.

Severino morreu em 2006, aos 76 anos, sendo Sivuca, como quis Nelson Ferreira e como propagou a Rádio Clube, emissora que o lançou para a fama.
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OUVINTE DE RÁDIO APESAR DA TECNOLOGIA CONTINUA ENVIANDO CARTAS PARA OS COMUNICADORES

Com as novas tecnologias que surgem a cada dia as cartas escritas à mão por uma pessoa podem resistir ao tempo tecnológico? A resposta é Sim. As cartas estão mais atuais do que se imagina. 

A prova disto é que em Petrolina, Pernambuco, a comunicadora Mayra Amariz do Programa Forró do Povo,  O Malhadão, transmitido na Rádio Grande Rio Am, recebe cartas dos ouvintes.

Mayra avalia, que isto se deve, certamente, ao respeito e modo de comunicar que seu pai Carlos Augusto, já falecido, deixou para os ouvintes. Carlos Augusto foi radialista, em 1962 um dos pioneiros da fundação da Rádio Emissora Rural e criador da Jecana do Capim-Corrida de Jegues, considerado uma  das principais audiências do Rádio na região do Vale do São Francisco.

"No programa usamos todos os recursos da tecnologia, mas a carta continua chegando no endereço da rádio. Isto até nos surpreende, emociona, pois significa que o ouvinte quer ser ouvido", explica Maira.

A carta foi bastante usado quando os  moradores, ouvintes de Rádio de regiões isoladas do Brasil, por exemplo, utilizam esse instrumento como um meio de comunicação onde a internet e a luz elétrica não chegaram e o rádio à pilha polarizava o poder de comunicação.

Atualmente, a modernidade presente na maioria das Rádios, usam internet, Ipads, wireless, notebooks, tablets e celulares com acesso à internet onde se buscam todos os tipos de informações instantâneas e para surpresa de muitos, a carta continua sendo o registro  do poder da comunicação feita pelos ouvintes.

O rádio está presente na vida pessoal do ouvinte, nos afazeres domésticos, no trabalho sem a necessidade de parar o que se está fazendo, pois a recepção é feita de uma maneira integral. Possui o poder de entreter, envolver e informar. 

O jornalista e pesquisador Ney Vital, avalia que  no Brasil, ainda hoje, existem comunidades que carecem de tecnologias para se comunicar. "Vivemos em sociedades complexas, que privilegiam a cultura do ver e o excesso de imagens, percebemos que o rádio participa da recuperação da sensorialidade dos corpos e ao enviar uma carta o ouvinte  representa o respeito da necessidade de se resgatar, valorizar a importância da cultura do ouvir e ser escutado".

Essa recepção é bastante importante nos dias atuais, já que o uso de comunicações mais sofisticadas como e-mails, mensagens de celular e redes sociais são vistos na cidade como indispensáveis, mas as cartas continuam fundamentais para a comunicação. 
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QUANDO O VERDE DOS TEUS ZÓIO SE ESPAIÁ NA PRANTAÇÃO

*Texto: Rangel Alves da Costa-Poço Redondo-Sergipe.

Luiz Gonzaga é bom demais de ouvir de qualquer jeito e a todo instante. Basta ecoar a sanfona do rei do baião e surgir aquele vozeirão primoroso, forte, ritmado, e então tudo se torna numa festa só. Não obstante a junção da sanfona e da voz, formando a mais plangente e autêntica musicalidade nordestina, ainda há em Luiz Gonzaga a plenitude da poesia.

Seja de sua autoria, coautoria ou de outros compositores, principalmente Humberto Teixeira, Zé Dantas, Onildo Almeida, Zé Marcolino, João Silva, Nélson Valença, João e Janduhy Finizola, dentre outros, na música de Luiz Gonzaga há uma poesia que vai muito além da cantoria tipicamente nordestina, ainda que esta também seja marcada pela beleza dos versos. Com o Rei do Baião, contudo, os versos são construídos como se para serem lidos e não cantados. Como consequência, muitas canções se assemelham a recitais melodiosos.

No Velho e Eterno Lua a canção não é somente para ouvir, mas, e acima de tudo, para viajar nos seus versos, nas suas estrofes tomadas de um sentimentalismo lírico tamanho que faz o bardo ajoelhar-se em comoção. Sim, a partir de coisas simples, tudo nascido para falar sobre a terra, sobre o homem, sobre os amores sertanejos e as lidas e sofrimentos do dia a dia. Após esse mote, após a primeira leva de inspiração, então uma asa branca começa a voar além das alturas, um forró de pé-de-serra se transforma em belo canto de saudade, um olhar para o céu numa noite junina logo se torna em celebração do amor. E o jiló? 

Quanta beleza nos versos de “Qui nem jiló”: “Se a gente lembra só por lembrar, o amor que a gente um dia perdeu, saudade inté que assim é bom pro cabra se convencer que é feliz sem saber, pois não sofreu. Porém se a gente vive a sonhar com alguém que se deseja rever, saudade, entonce aí é ruim, eu tiro isso por mim que vivo doido a sofrer. Ai quem me dera voltar pros braços do meu xodó saudade assim faz roer e amarga qui nem jiló...”.
 Esta canção de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira possui alguns dos versos mais bonitos do cancioneiro brasileiro. Disso não se pode duvidar ante a estrofe dizendo que “Se a gente lembra só por lembrar, o amor que a gente um dia perdeu, saudade inté que assim é bom pro cabra se convencer que é feliz sem saber, pois não sofreu...”.

Contudo, nada igual a uns poucos versos contidos numa estrofe da obra-prima que é Asa Branca: “Quando o verde dos teus zóio se espaiá na prantação...”. Mas antes de comentar, vejam mais isto, observem que maravilha e digam se é verdadeira poesia ou não? “Até mesmo a asa branca bateu asas do sertão, entonce eu disse adeus Rosinha, guarda contigo meu coração. E hoje longe muitas léguas, numa triste solidão, espero a chuva cair de novo pra eu vortá pro meu sertão. Quando o verde dos teus zóio se espaiá na prantação eu te asseguro não chore não viu, que eu vortarei viu, meu coração...”.

Irretocável é a letra de Asa Branca, porém, como dito, apenas em poucas palavras e a composição já se irradia de encantamento. Uma simples frase, mas tudo, inegavelmente tudo: “Quando o verde dos teus zóio se espaiá na prantação...”. Este quando o verde dos teus zóio se espaiá na prantação contém tamanha significação e simbologia que em nenhum outro momento musical brasileiro conseguiu alcançar. 

A ele somente comparado, a meu ver, aos versos contidos em Cafezal em Flor (composição de Luiz Carlos Paraná e sucesso na voz de Cascatinha e Inhana): “Era florada, lindo véu de branca renda se estendeu sobre a fazenda, igual a um manto nupcial, e de mãos dadas fomos juntos pela estrada toda branca e perfumada, pela flor do cafezal... Passa-se a noite vem o sol ardente bruto, morre a flor e nasce o fruto no lugar de cada flor. Passa-se o tempo em que a vida é todo encanto, morre o amor e nasce o pranto, fruto amargo de uma dor...”.

Citei mais versos de a Flor do Cafezal, é verdade. Contudo, não significa que apenas a frase citada de Asa Branca não seja ainda de maior profundidade. E assim por que este “Quando o verde dos teus zóio se espaiá na prantação...”, quer dizer quando a terra voltar a brotar, quer significar quando os pendões do milharal chamarem o retorno do amor distante, quer dizer que quando a esperança renascer dias melhores surgirão aos amores distantes, quer significar que da terra brotando e florescendo também o amor sendo fortalecido nos corações.

Se eu disser, pois, que quando o verde dos teus olhos se espalhar na plantação, eu também estarei dizendo que quando os campos novamente florirem eu voltarei. Eu voltarei viu, meu coração.

Fonte: Rangel Alves da Costa. Advogado e Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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CENTRO CULTURAL MATINGUEIROS TERÁ NESTE SÁBADO (30), O FORRÓ DE SILAS FRANÇA, NO RALA BUCHO

O Centro Cultural Matingueiros, realiza no próximo sábado (30), a partir das 21hs, durante o Projeto Forró Criativo., o Rala Bucho com o cantor e sanfoneiro Silas França.

Silas França, tem 22 anos, acordeonista, ele integra uma nova geração de músicos. Nascido em Juazeiro, Bahia a música teve início muito cedo em sua vida."O meu pai Professor, e Pastor, também músico amador...me colocou gosto, desde cedo na arte. Antes de falar eu já solfejava", conta Silas.

Virtuoso e estudioso, dedicado e inspirado, Silas é capaz de com a mesma firmeza ter no repertório o melhor da música brasileira, jazz e forró. Apaixonado por música ele de forma autodidata, no início tocou violão, gaita de boca e outros instrumentos. "O Acordeon veio para derrubar tudo o que conhecia, entre os 13 e 14 anos de idade, para uma melhor comunicação musical também aderi ao forró, a música tradicional nordestina".

Silas revela que a  inspiração nos palcos e por onde anda se apresentando e fazendo palestras é em Luiz Gonzaga,  Sivuca, Oswaldinho do acordeon, Chiquinho do acordeon, Waldonys, mas de especial do Grande Dominguinhos.

Uma de suas grandes referências está no juazeirense João Gilberto. "Foi um grande amigo da minha família (Meu Avô e seus irmãos e irmãs) e para mim o que existe de mais "Brasil" para o mundo. Novos baianos, Dominguinhos, Armando Macedo, Luiz Gonzaga, Toninho ferragutti, Alexandro Kramer (Bêbe)...dentre vários mestres"

O músico aponta que gosta das possibilidades que a sanfona propõe. "É um instrumento riquíssimo e no meu caso é fácil se encontrar com as várias línguas dele. Minha família é de origem Italiana, isto me incentivou a pesquisa maior para com o instrumento, e junto as minhas referencias me encontro no mesmo contexto de pluralidade instrumental", finaliza Silas.

A sanfona é o principal instrumento das festas populares do mundo. Fascina pela sua sonoridade, pela diversidade de modelos e gêneros, mas seu encanto transcende o poder da música, porque desperta um afeto misterioso. 

Talvez pelo fato de ficar junto ao coração do sanfoneiro, ou, quem sabe, por ser um instrumento que é abraçado ao se tocar. Ou ainda, por ser um instrumento que respira. O fato é que a sanfona une as pessoas e é amada por todos os povos.

Silas é um exemplo e distribui o prazer de tocar na vida de viajante, qual os mestres Luiz Gonzaga e Dominguinhos.

O Forró Rala Bucho acontece no Centro Cultural Matingueiros, localizado na Rua José Rabelo Padilha, 821, na Petrolina Antiga.

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JOÃO GUIMARÃES ROSA UM COLECIONADOR DE PALAVRAS, ESCREVIA COM SAUDADE DO SERTÃO

"Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia"...

"Sou só um sertanejo, nessas altas ideias navego mal. Sou muito pobre coitado. Inveja minha pura é de uns conforme o senhor, com toda leitura e suma doutoração. Não é que esteja analfabeto. Soletrei, anos e meio, meante cartilha, memória e palmatória”.

A genialidade e as vivências de João Guimarães Rosa nos sertões do norte de Minas Gerais fizeram surgir preciosidades da literatura brasileira, como os trechos acima de Grande Sertão: Veredas, romance do autor, publicado em 1956. Ontem (27) foi celebrado 110 anos do nascimento de Guimarães Rosa que reproduziu a essência do sertanejo e eternizou o sertão em suas obras. Também escreveu o livro de contos Sagarana e o ciclo novelesco Corpo de Baile.

Contista, novelista, romancista e diplomata, Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo (MG) em 27 de junho de 1908, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ) em 19 de novembro de 1967. É um dos autores mais estudados e Grande Sertão: Veredas um dos livros mais importantes da literatura brasileira.

O Instituto de Estudos Brasileiros, da Universidade de São Paulo, possui um banco de dados bibliográficos dedicado exclusivamente a Rosa, com quase 5 mil registros.

“É um dos maiores artistas da palavra do país, leitor de dicionários, um colecionador de palavras e expressões, um estudioso de línguas”, define o professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), Gustavo de Castro e Silva, que faz um estudo biográfico aprofundado de Guimarães Rosa, para montar o perfil e uma linha do tempo da vida do autor.

Segundo o professor, era um homem muito voltado para a família e para o trabalho, que não gostava de ter a vida social exposta. Um mineiro quieto por natureza e introvertido. Amigo de Juscelino Kubitschek, Guimarães Rosa assinou muitos passaportes de judeus durante a segunda guerra mundial, para virem ao Brasil, enquanto era cônsul em Hamburgo, na Alemanha, de 1938 a 1942. “Foi um homem muito sensível”, disse o professor.

Castro e Silva conta que Grande Sertão: Veredas foi escrito de “supetão”, em apenas sete meses. “Ele foi um desdobramento de Corpo de Baile, era um conto desse livro e aí o conto foi crescendo e virou Grande Sertão: Veredas”, contou.

A narrativa é marcada por neologismos e regionalismos. “Ele inaugura um tipo de liberdade poética na literatura brasileira. Quando ele está na França, na Alemanha, ele não esquece Minas Gerais. A saudade de Minas Gerais é crucial para sua elevação, ele escrevia com saudade do sertão”, disse o professor.

Inspirada na obra de Guimarães Rosa, a Agência de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Vale do Rio Urucuia desenvolve desde 2014 o projeto O Caminho do Sertão, que promove um mergulho socioambiental e literário no universo do escritor e no cerrado sertanejo.

Este ano, 57 pessoas foram selecionadas para a caminhada de 186 quilômetros pelos vales dos rios Urucuia e Carinhanha, entre os dias 7 e 15 de julho. A jornada, que começa em Sagarana (MG), percorre parte do caminho realizado pelo personagem Riobaldo e seu bando, figura central do livro Grande Sertão: Veredas, passando pelo platô Liso do Sussuarão, na Serra das Araras, e terminando em Chapada Gaúcha (MG).

O projeto Caminho do Sertão é colaborativo e conta com patrocínio da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, várias parcerias e uma campanha de financiamento coletivo, para quem quiser contribuir.
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POETA ZÉ MARCOLINO: SAUDADE IMPRUDENTE NUMA SALA DE REBOCO O MOVIMENTO CULTURAL DOS SERTÕES

"Quem, morrendo, deixa escrito um verso belo deixou mais ricos os céus e a terra e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e gente". A frase de Fernando Pessoa traduz o sentimento que Zé Marcolino vive.

Zé Marcolino nasceu no dia 28 de junho de 1930. Portante se vivo (fisicamente) fosse, o Poeta completaria hoje 88 anos. No mistério do universo e das Leis da Natureza o poeta é Luz.

Pela sua importância na história da música brasileira, o Poeta Zé Marcolino, merecia mais de atenção das entidades culturais. Detalhe: os responsáveis pelo setor cultural de Juazeiro e Petrolina, em geral a falta de uma Política Cultural que deveria ser matriz de desenvolvimento no Brasil, principalmente no Nordeste,  esqueceram nos últimos 31 anos desde que Zé Marcolino "partiu para o sertão da eternidade" de valorizar os frutos produzidos pelo compositor. Zé Marcolino morou nos anos 70 em Juazeiro, onde foi comerciante. Juazeiro e Petrolina tem uma dívida com a memória de José Marcolino.

No dia 20 de setembro de 1987 a voz de José Marcolino Alves  silenciava por ocasião da morte causada de acidente de carro próximo a São José do Egito, Pernambuco. Em Sumé, na Paraíba, Zé Marcolino Venceu os obstáculos da vida simples e quando teve oportunidade mostrou ao então Rei do Baião Luiz Gonzaga, uma centena de baiões, forró e xotes, sambas de melhor qualidade.

No LP Ô Véio Macho, de 1962, Luiz Gonzaga interpretou as composições de José Marcolino: Sertão de aço, Serrote agudo, Pássaro carão, Matuto Aperriado, A Dança do Nicodemos e No Piancó. Luiz Gonzaga gravou Numa Sala de reboco, considerada uma das mais belas poesias, letras de Zé Marcolino.

A história conta que Zé Marcolino participou da turnê de divulgação do LP Veio Macho, viajando de Sul a Norte do País com Luiz Gonzaga, no entanto, a saudade da família e suas raízes sertanejas foram mais fortes. Depois de um show no Crato, Ceará,  ele tomou um ônibus até Campina Grande e de lá foi para Sumé, de onde fretou um táxi para a Prata, onde morava.

Com o sucesso de suas canções cantadas por vários artistas (Quinteto Violado, Assisão, Genival Lacerda, Ivan Ferraz, Dominguinhos, Fagner, Jorge de Altinho, Elba Ramalho, Mastruz com Leite e tantos outros nomes da música brasileira), é atualmente Zé Marcolino um dos mais talentosos compositores da música brasileira de todos os tempos.

Somente em 1983, produzido pelos integrantes do Quinteto Violado, Zé Marcolino lançou seu primeiro e único, hoje fora de catálogo, LP Sala de Reboco (pela Chantecler). Um disco que está merecendo uma reedição em CD, assim como também seu único livro, necessita uma reedição. No citado disco Véio Macho, com seis músicas de Marcolino, ele toca gongue. No LP A Triste Partida, Luiz Gonzaga gravou Cacimba Nova, Maribondo, Numa Sala de Reboco e Cantiga de Vem-vem.

Zé Marcolino morou em Juazeiro da Bahia e ficou até 1976, quando foi para Serra Talhada, Pernambuco. Inteligente, bem-humorado, observador,  Zé Marcolino tinha os versos nas veias como a caatinga do Sertão. Zé Marcolino casou com Maria do Carmo Alves no dia 30 de janeiro de 1951 com quem teve os filhos Maria de Fátima, José Anastácio, Maria Lúcia, José Ubirajara, José Walter, José Paulo e José Itagiba. Zé Paulo reside atualmente em Petrolina.
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AS PARÁBOLAS DE JESUS E A CASA ESPÍRITA SERÃO TEMAS DE ENCONTRO EM PETROLINA

Petrolina vai acolher os espíritas do Sertão de Pernambuco e demais localidades do Nordeste durante o INTECEPE 2018- Íntegração dos Centros Espíritas de Pernambuco. 

O tema do encontro será As parábolas de Jesus e a Casa Espírita. O evento contará com diversas oficinas. 

O encontro será nos dias 30 de junho e 1º de julho no Centro Espírita Deus, Cristo e Caridade, localizado na Praça Cabrobó, bairro Vila Eduardo.
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LIBERDADE SERÁ O TEMA DO 28º FESTIVAL DE INVERNO DE GARANHUNS

Um viva à liberdade! É com esse tema que o 28º Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), que acontece de 19 a 28 de julho, homenageia o mais importante dos valores da condição humana: a liberdade. 

A programação completa, que será anunciada na próxima quinta-feira (28), vai refletir em todos os polos o compromisso do Governo de Pernambuco com a promoção das liberdades artística, estética, política, religiosa e de expressão, como um marco de enfrentamento dos preconceitos, da intolerância e da afirmação do Estado democrático de direito.

“Nesses tempos em que a regressão civilizatória do neoliberalismo tenta impor o pensamento conservador e moralista ao aparelho de Estado, aos meios de comunicação e à cultura atacando a livre manifestação artística, estimulando a intolerância, promovendo a perseguição política e absurdos como boicotes punições a mostras, filmes e a outras obras de arte, estamos garantindo que o FIG será novamente um território livre para fruição da nossa diversidade, da liberdade criativa e de todas as vivências artísticas e culturais, expressão da nossa própria identidade como povo”, defende Marcelino Granja, Secretário Estadual de Cultura.

O Festival de Inverno de Garanhuns é uma realização do Governo de Pernambuco (Secult e Fundarpe), em parceria com a Prefeitura de Garanhuns, o SESC-PE, SEBRAE, Conservatório Pernambucano de Música, Virtuosi e a Cepe Editora. Todas as informações oficiais sobre o Festival são divulgadas primeiramente no site: www.cultura.pe.gov.br/fig2018. Acompanhe!


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SERÃO NECESSÁRIOS R$ 30 BILHÕES PARA REVITALIZAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO

Com o volume cada vez mais reduzido e sofrendo todo tipo de degradação, o Rio São Francisco cobra o preço das sucessivas promessas de socorro não cumpridas. R$ 30,8 bilhões é o volume de recursos necessários para combater a agonia e salvar o Velho Chico, aponta estudo técnico que começou a ser elaborado em 2014 e só foi finalizado no início do mês. 

O documento preconiza ações de revitalização a serem executadas até 2025 em toda a bacia do chamado Rio da Unidade Nacional, que nasce na Serra da Canastra, no Centro-Oeste de Minas Gerais, e percorre 2,8 mil quilômetros até desaguar no Oceano Atlântico, atingindo uma população de 18 milhões de pessoas, moradoras de 505 municípios de seis estados (MG, BA, GO, SE, PE e AL) e do Distrito Federal.

Elaborado e coordenado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), o estudo, ao qual o Estado de Minas teve acesso durante simpósio sobre o tema realizado em Aracaju (SE), entre os dias 3 e 6 deste mês, define como uma das metas a utilização de 80% dos recursos financeiros em preservação do manancial. O desmatamento é apontado como uma das principais causas da degradação ambiental.

Segundo o presidente do CBHS, Anivaldo de Miranda Pinto, o Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Rio São Francisco 2016/2025 (PRH-SF) diagnostica todas as “ações concretas” que deverão ser executadas para que a bacia seja recuperada, envolvendo a União, estados, municípios, organizações não governamentais e outras fontes de financiamentos, mas não detalha o desembolso que caberá a cada parte.

“Serão necessários R$ 30,8 bilhões para que, de fato, possamos falar em revitalização absoluta da Bacia do Rio São Francisco e seus afluentes”, resumiu.

Ele frisa que promessas de revitalização “não saíram do papel”, enquanto o manancial vem sendo sufocado pelo desmatamento acelerado, retirada de matas ciliares, assoreamento, lançamento de esgotos e outras formas de poluição. Apenas recentemente, lembra, o governo federal anunciou “uma medida prática, que destina recursos para revitalizar o São Francisco”, ainda assim, “de forma indireta”, por meio de um programa de conversão de multas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em projetos com essa finalidade.

Miranda Pinto critica ainda o que chama de “maquiagem nos orçamentos”. E explica: “Entendemos que revitalização da bacia é sinônimo de recuperação hidroambiental. Às vezes, o governo cita investimentos em estradas e construção de escolas como revitalização do Rio são Francisco. Não temos nada contra construir escolas ou estradas, mas isso não tem nada a ver com revitalização do rio. Revitalização se resume em ações que aumentem a quantidade de água e melhorem sua qualidade”, ponderou.

E é justamente para aumentar a vazão e melhorar a qualidade da água tanto dos afluentes quanto da calha principal do São Francisco que se destinariam os R$ 30,8 bilhões previstos no PRH-SF. Entre as ações mais prementes, Miranda Pinto citou saneamento básico, implantação de redes de monitoramento, estudo hidrológico, combate à erosão, recuperação de nascentes, programas de recomposição florestal e educação ambiental.

 “Foi criado um grupo de trabalho para detalhar cada eixo do plano de recursos hídricos, visando a ações concretas, que vão desde a segurança de barragens até novas metodologias de convivência com o clima semiárido”, destacou o presidente do CBHSH.

fonte: Estado de Minas-Jornal

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ARARINHA AZUL GANHARÁ CENTRO DE REINTRODUÇÃO DA ESPÉCIE NO MUNICÍPIO DE CURAÇA, BAHIA

O ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, assinou em Bruxelas, na Bélgica, memorando de entendimento com organizações conservacionistas da Bélgica (Pairi Daiza Foundation) e da Alemanha (Association for the Conservation of Threatened Parrots) para trazer ao Brasil 50 ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii), espécie que só ocorre no país. 

A previsão é que os animais estejam em território nacional no primeiro trimestre de 2019. “A assinatura desse documento é um marco histórico da luta pela preservação das espécies”, afirmou Duarte.  

 “Eu nasci exatamente na mesma região onde existia a ararinha. Eu vi a última em liberdade, e estar aqui, e ver, tantos anos depois, uma ararinha é uma emoção especial. Por obra do destino, me transformei em ministro do Meio Ambiente do Brasil e estou aqui para realizar o sonho de ambientalistas, não só do Brasil, mas do mundo: trabalhar na reintrodução do animal no seu habitat natural e permitir que ele volte a voar em casa”, disse o ministro. 

Para a ministra de Energia, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Bélgica, Marie Christine Marghem, o encontro possibilitou uma compreensão de que existe uma relação próxima do povo brasileiro com a biodiversidade.

 “Tivemos uma troca muito rica, e isso foi importante para iniciarmos uma relação mais estreita com o Brasil, tanto na proteção da biodiversidade, como em outros setores”, avaliou Marghem.  

Durante a inauguração, o presidente da Fundação Pairi Daiza, Eric Domb, informou que será construído um viveiro para reprodução e reintrodução das ararinhas no Brasil. 

No dia 28 de junho, Edson Duarte participará da inauguração do Centro de Preparação para Reprodução e Reintrodução da Ararinha-Azul em Berlim, na Alemanha, criado especialmente para preparar as ararinhas-azuis para o retorno ao Brasil. 

Para que os animais sejam recebidos no país, a ACTP e o Pairi Daiza irão construir também um centro de reintrodução da espécie no município de Curaçá (BA). A parceria entre instituições privadas nacionais e internacionais e o governo brasileiro tem viabilizado diversas ações previstas no Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação da Ararinha-azul, que tem como objetivo o aumento da população manejada em cativeiro e a recuperação e a conservação do habitat de ocorrência da espécie. 

Esses esforços já possibilitaram que a população de ararinhas passasse de 79 indivíduos, em 2012, para 158 em 2018. Com isso, a meta mínima para o ano 2021, de 150 indivíduos, já foi ultrapassada.

Para garantir a reintrodução e preservação da espécie, no Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano, 5 de junho, o governo brasileiro criou o Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha-azul, no município de Curaçá, e a Área de Proteção Ambiental da Ararinha-azul, em Juazeiro (BA)  O objetivo dessa iniciativa, além de proteger o bioma Caatinga, é promover a adoção de práticas agrícolas compatíveis com a reintrodução e a manutenção da espécie na natureza. 

O Refúgio da Ararinha-azul tem 29,2 mil hectares e a Área de Proteção, possui 90,6 mil hectares. As unidades vão compor um mosaico de UCs para conciliar a conservação de remanescentes de Caatinga, o único bioma exclusivamente brasileiro, com o Programa de Reintrodução da Ararinha-azul na natureza, que prevê a soltura dos primeiros exemplares a partir de 2021.

Essas unidades também irão incentivar políticas para a melhoria da qualidade de vida da população local, além de estimular atividades que gerem emprego e renda para a comunidade por meio de projetos de produção sustentável, turismo, conservação e pesquisa. 

A ararinha-azul é uma espécie endêmica da Caatinga e considerada uma das espécies de aves mais ameaçadas do mundo. Em 2000, a espécie foi classificada como Extinta na Natureza (EW), restando apenas indivíduos em cativeiro.

O declínio da espécie foi atribuído a dois fatores principais: a destruição em larga escala do seu habitat e a captura para comércio ilegal nas últimas décadas. Atualmente, existem 11 ararinhas em território brasileiro. 

Fonte: Ascom MMA
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É SÃO JOÃO A NOITE É DE SÃO JOÃO

VIVA LUIZ GONZAGA, JACKSON DO PANDEIRO, SIVUCA, TRIO NORDESTINO E TODOS QUE FAZEM O FORRÓ VERDADEIRO.

FELIZ SÃO JOÃO E ACENDA A FOGUEIRA DA PAZ NO SEU CORAÇÃO.
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SANFONEIRO DE LUZ DOMINGUINHOS SEMPRE FIEL Á SANFONA E A LUIZ GONZAGA

Na mais tenra infância, José Domingos de Morais, o Dominguinhos, já tocava sua sanfona tão bem que, num sábado, sua mãe se aprontou, colocou o instrumento num saco, pegou o menino e ia saindo quando o pai perguntou: “Onde cê vai, Mariinha” e ela respondeu: “Vou ali”. “Ali” era a feira, explicou o músico ao GLOBO, em 23 de fevereiro de 1973.

-Quando chegamos, ela tirou a sanfoninha de dentro do saco e disse: “Agora pode tocar”. Botamos o chapéu no chão e choveu tanta prata de um cruzado (cruzeiro) e quinhentos réis, que encheu o chapéu. — contou o sanfoneiro na ocasião.

O chapéu de couro cru de boiadeiro permaneceu para sempre na vida do menino, que, por mais de 60 anos continuou ganhando a vida da mesma forma: tocando sua sanfona para quem quisesse ouvi-la. Os palcos, entretanto, se tornaram muito maiores.

Nascido em 12 de fevereiro de 1941, logo cedo Dominguinhos começou a experimentar o instrumento do pai, seu Francisco, o Chicão, um dos melhores tocadores e afinadores de sanfona de Garanhuns, no interior de Pernambuco, a 230 quilômetros do Recife. Depois do sucesso na primeira apresentação, ele passou a tocar sempre que podia. Então, Dominguinhos teve um momento de sorte: Luiz Gonzaga, o rei do baião, viu uma apresentação sua em 1949, quando ele se apresentava em frente a um hotel da cidade.

— Tocamos, e no final o seu Luiz Gonzaga nos deu o endereço dele aqui no Rio e também 300 mil réis. Ora, a gente que vivia naquele tempo com quinhentos réis, um cruzado (cruzeiro), dez tostões, quase morremos de alegria com tanto dinheiro. Sabe, nós passamos muito tempo comendo daquele dinheiro. Foi uma coisa louca — afirmou o músico, que, no entanto, não pôde por muito tempo ir atrás do ídolo no Rio.

Em 1954, ele chegou a Nilópolis, na Baixada Fluminense, para morar com o pai e o irmão. O jovem músico lavou roupas, fez entregas em uma tinturaria, até que um dia decidiu ir ao endereço de Luiz Gonzaga e de lá, como o próprio Dominguinhos costumava dizer, não saiu mais. Era o início de uma parceria que iria durar até o fim da vida de Gonzagão, e que fez dele o mentor de Dominguinhos, que seria considerado seu sucessor musical. Gonzaga até sugeriu a mudança do nome artístico de seu protegido, que até então se apresentava como “Neném”:

— Ele me disse: “Rapaz, esse negócio de Neném é apelido que veio de casa, você já está crescido, que tal mudar para Dominguinhos?” — afirmou ao GLOBO em 14 de agosto de 2010.

Aos 16 anos, o recém nomeado Dominguinhos já acompanhava Luiz Gonzaga em shows e gravações. Um pouco depois, ele conseguiu um emprego na Rádio Nacional, onde tocou com nomes como Jackson do Pandeiro, Marinês, Genival Lacerda, Trio Nordestino, Jorge Veiga, Ciro Monteiro e outros. Em 1960, o menino do forró e do baião entraria na MPB, e um pouco mais tarde, em 1965, conheceu Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Chico Buarque.

— Em 1972, compus com Anastácia “Eu só quero um xodó”. Gil ficou maluco pela música. Então, fui tocar na banda da Gal e do Gil, ele aprendeu o “Xodó” e tudo floriu — contou em entrevista de 21 de setembro de 2000, sobre o maior sucesso de sua carreira, composto com a parceira e mulher na época.

No mesmo ano, o empresário dos baianos, Guilherme Araújo, o convidou para fazer parte das apresentações de Gal e Gil no Festival de Midem, em Cannes, na França.

— O povo todo endoidou com o nosso ritmo e nossa espontaneidade. Não foi como os outros artistas que vieram com show montado, como o Isaac Hayes. — afirmou Dominguinhos na época.

O impacto do espetáculo em sua carreira foi imenso e ficou registrado em crítica de Sérgio Cabral, publicada no GLOBO em 25 de junho de 1976: “Se outro mérito não tivesse o chamado grupo baiano, o de ter tornado o sanfoneiro Dominguinhos um nome conhecido nacionalmente já contaria muitos pontos a seu favor”.

Em 2002, ele venceu o Grammy Latino de melhor álbum local, com o CD “Chegando de mansinho”. Em 2007, ganhou o Prêmio TIM na categoria de melhor cantor regional. No ano seguinte, esse mesmo prêmio o homenageou, numa cerimônia que teve convidados como Nana Caymmi, Elba Ramalho, Gilberto Gil, Zezé di Carmago & Luciano, Ivete Sangalo e Vanessa da Mata. Em 2010, Dominguinhos ganhou o Prêmio Shell de Música pelo conjunto da carreira.

Na sanfona e voz de Domiguinhos, a cantora Elba Ramalho (“De volta pro aconchego”), em entrevista ao GLOBO, em 20 de março de 2005, disse sobre o amigo com quem lançara um disco:

— Ele é um dos maiores músicos do mundo, e não sou eu que digo isso, é Gil, Lenine, Chico, toda a música brasileira acha isso. Mas acho que há um descuido em relação à obra dele, que é um grande sanfoneiro, é um grande cantor, mas também é um grande compositor. Talvez seja um preconceito contra a música nordestina, de não reconhecer num sanfoneiro um grande compositor.

Dominguinhos faleceu, aos 72 anos, em 23 de julho de 2013, devido a complicações infecciosas e cardíacas, depois de passar meses internado no Hospital Síro-Libanês, em São Paulo, por complicações decorrentes de um câncer no pulmão, descoberto em 2006. 

Alguns dos maiores nomes da música brasileira, como Chico Buarque, Moraes Moreira, Elba Ramalho e Wagner Tiso divulgaram notas lamentando a morte do artista. No dia 25 de julho, O GLOBO publicou um artigo assinado pelo cantor e compositor Chico César chamado “É forró no céu, comandado por Gonzagão”, sobre a vida e a história de Dominguinhos. Na mesma edição, Moraes Moreira, o cantor, escreveu um poema especialmente para O GLOBO, chamado “Outrora foi o Gonzaga, agora vai Dominguinhos”.

Fonte: *Augusto Decker*
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PROFESSOR JOSÉ URBANO: NORDESTE, UMA NAÇÃO E OS SEUS VALORES

Fechando o primeiro semestre do ano, entramos no processo de execução do ciclo junino.  E discorrer sobre esse período, é mergulhar no que temos de melhor na grandiosa nação nordestina.  União de nove estados, abrangendo litoral, agreste e sertão, somos uma região geográfica convivendo com cruéis períodos de secas, mas também com um ecossistema próprio, na beleza rudimentar da caatinga e no encanto das águas quilométricas do belo rio São Francisco, que nasce mineiro-sulista e tem a sua foz na alagoana nordestina cidade de Penedo. 

Descrever o mês de junho é altamente desafiador, quando ele nos abre um panorama cultural que o nordeste tem, o Brasil conhece e o mundo reverencia. Afinal de contas, esse povo festeiro e valente, é o dono das terras onde nasceu o próprio país, em 1500, a partir da aventura marítima dos portugueses, em busca do “novo mundo”.  

Foi do encontro com os Cariris, nação indígena ainda presente em partes do território, que desenhamos a identidade de brasilidade.  A exaltação nordestina nos deu nomes do quilate dos religiosos Antonio Conselheiro, Padres Ibiapina e Cícero Romão, este último misto de sacerdote e político, personagens da grandeza musical de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, Alceu Valença e Raul Seixas, Elba Ramalho e Marinês, Jorge de  Altinho e Fagner, Belchior e Trio Nordestino, entre tantos outros. 

 A literatura de Castro Alves e Jorge Amado, José Condé e Nelson Barbalho, o humor de Ludugero e Otrope, Chico Anysio e Renato Aragão.  É do nordeste, o paraibano Assis Chateaubriand, o mega empresário das comunicações brasileiras, que nos trouxe o primeiro canal de TV, em 1950, e fundou o “Diários Associados”. 

É sergipano João Carlos Paes Mendonça, gigante do comércio varejista nacional.  A poesia cearense e matuta de Patativa do Assaré, em contraste com a guerrilha rural do pernambucano  Virgulino Lampião e sua baiana Maria Bonita. Quem por aqui aportou, se apaixonou de imediato, que o diga Maurício de Nassau, o conde de origem alemã e administrador apaixonado por nossa gente. 

 Nas lutas sociais, cruzamos os atos heroicos de Frei Caneca e seu sonho republicano, e a luta por liberdade a partir de Zumbi dos Palmares.  As mãos iluminadas do mestre Vitalino, e a voz libertadora de Joaquim Nabuco, a missão de paz de Dom Hélder, e alegria televisiva de Abelardo Barbosa, o saudoso Chacrinha, ícone da TV brasileira. 

A trajetória política de Miguel Arraes, a ruptura institucional do marechal Deodoro da Fonseca, a grandeza cordelística de Leandro Gomes de Barros, fonte inspiradora  da magnífica obra literária e  teatral de Ariano Suassuna.  E a veia criadora de Chico Science, pai do manguebeat, inserido no panorama musical do nível de Maria Betânia, Caetano Veloso e Gilberto Gil, e o pai da bossa nova, João Gilberto. 

 Na educação, temos Paulo Freire, o maior filósofo da educação brasileira, o folclorista potiguar Luiz da Câmara Cascudo, o samba de Bezerra da Silva e Alcione...é muita gente boa, filhos e filhas dessa encantadora região do Brasil.  Problemas sociais? Temos muitos, é verdade, mas são menores do que a capacidade de nos tornarmos um povo batalhador, criativo, empreendedor entre a fábrica e a feira, a roça e o shopping, a charrete e o avião, a lamparina e o led.  

O que dizer do nosso tão original dialeto?  As vaquejadas que remontam lutas medievais na Europa, e os jangadeiros na sua luta incessante na grandeza do Oceano Atlântico.  A cana de açúcar e a produção do ouro branco, adoçando as mesas mundo a fora, junto com o cacau baiano e seus cafezais. 

 Esse é um pequeno ensaio do nordeste, que celebra a sua religiosidade e tradições culturais no ciclo junino, no colorido da decoração, no calor da fogueira, nos movimentos de suas danças, na beleza de sua poesia, e na musicalidade sanfonada por Sivuca e Dominguinhos, moradores da eternidade.  A emoção nos une, famosos ou anônimos, formando uma só voz: Olha Pro Céu Meu Amor, é São João, é Nordeste.  Abram as porteiras do coração, deixa a cultura passar.  Viva a nossa gente, viva o povo nordestino.

Fonte: Professor José UrbanoHistoriador
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LUIZ ROSA, APRENDEU TOCAR SANFONA QUANDO SE APOSENTOU E DIZ QUE LUIZ GONZAGA TOCA A ALMA DO POVO

‘’Sanfona Brasileira toca a alma da gente’’. A frase de Dominguinhos, um sanfoneiro que deixou saudades nos meios musicais, principalmente do caboclo do sertão, permanecerá viva na mente de todos por muito tempo. É o que promete o aposentado Luiz Rosa, sanfoneiro e proprietário da Casa dos Artistas em Petrolina, Pernambuco.

Luiz Joaquim Rosa nasceu em Floresta, Pernabuco. Apaixonado pela origem de agricultor e pela região sempre ouviu a voz e os baiões de Luiz Gonzaga. Despertou que tinha vocação para ser tocador de sanfona. "Fiquei aposentado e resolvi aos 60 anos aprender tocar sanfona. Hoje já faço forró é so chamar que junto com a sanfona, zabumba e triangulo, a animação está garantida", diz Luiz Rosa.

Detalhe:  Luiz Rosa se tornou professor de aula de sanfona. "Nós sanfoneiros fazemos uma roda e vamos ensinando os acordes, e o principal incentivo é quando temos crianças e jovens interessadas na arte da sanfona". Na casa dos artista o aprendiz não paga."O objetivo é manter principalmente para os mais jovens a tradição de tocar sanfona e valorizar Luiz Gonzaga, Dominginhos", ressalta Luiz Rosa.

Na casa dos artista já existe mais de 80 sanfonas. "Na verdade é uma coleção de sanfona. Temos até uma sanfona de 8 baixos, a origem de todo forró brasileiro, a famosa sanfona pé de bode", conclui Luiz Rosa. 

Nas gravações realizadas em Exu, durante os festejos dos 70 anos da música Asa Branca, Luiz Rosa foi um dos sanfoneiros em destaque do documentário. Ele também participou do Clisertão 2018=Congresso de Literatura, Leitura e Linguagens do Sertão

Os interessados podem se inscrever e agendar as aulas na Casa dos Artistas, das 7h30 às 14h e das 14h às 16h30, que fica na Rua Engenheiro Valmir Bezerra, centro de Petrolina,  fone watsap 87996085740.


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CONCURSO SARAU POÉTICO, A PROMESSA DO BARÃO DE EXU, 150 ANOS DE HISTÓRIA, ACONTECE NESTA QUINTA-FEIRA 21, EM EXU

Este ano a igreja de São João Batista do Araripe comemora 150 anos. A Budega Cultural Vale do Ançu, realiza o concurso “Sarau poético, com o tema "a promessa do Barão de Exu, 150 anos de história". 

A divulgação do resultado e a cerimônia de premiação acontecerá em um evento público a ser realizado no dia 21 de junho de 2018, a partir das 21 horas, nos festejos da igreja de São João Batista, no povoado do Araripe no municipio de Exu.

O Concurso tem o objetivo de comemorar o aniversário de 130 anos de Fernando Pessoa e os 150 anos da igreja São João Batista do Araripe, que foi construída por Gualter Martiniano de Alencar Araripe (O Barão de Exu), como pagamento a uma promessa feita a São João Batista por salvar seu povo de uma epidemia de cólera que invadiu principalmente o nordeste brasileiro, tendo atacado o Crato, Ceará de 1862 a 1864.

Serão premiadas com um certificado comemorativo todas as poesias selecionadas, e mais premiação em dinheiro para as três poesias finalistas do concurso.
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PROFESSOR URBANO, JORGE DE ALTINHO E CARUARU, A CAPITAL DO FORRÓ

Caruaru. Capital do forró, da poesia. Denominação criada pela extraordinária poesia e melodia de Jorge de Altinho - o olindense mais matuto de Pernambuco - gigante da nossa musicalidade, e que de quebra fez a bela canção Juazeiro – Petrolina, Capital do Forró está inserida no repertório daqueles forrós que se tornaram imortais, e tem inúmeras razões para isso. Gravada pelo Trio Nordestino, no ano de 1980, fase na qual o excelente grupo vendia 1 milhão de discos a cada lançamento, a capital do agreste ganhou uma homenagem perpétua e inigualável.

Do ponto de vista de construção poética, Capital do Forró é um texto que fez o marketing da cultura caruaruense de um modo que nunca foi superada. Musicalmente, Caruaru pode ser representada por 4 canções extraordinárias, respectivamente: Feira de Caruaru, de Onildo Almeida, Capital do Agreste, de Nelson Barbalho, Caruaru Azul Palavra de Carlos Fernando e Capital do Forró, de Jorge de Altinho. 

Essas canções banham de poesias a terra de Vitalino. E o povão adora, sempre alguém sabe cantar ao menos um trechinho de uma delas. A minha preferida? Não tenho, as quatro acima estão lado a lado no meu arquivo de memória.

Desde o início dos anos 80, “Capital do Forró” emplacou e não saiu mais das playlists de rádios do nordeste. Quem nunca foi, já ouviu falar / se você for vai gostar / quem já foi volta sempre lá / pra dançar forró no arraiá....é uma construção textual fantástica, na altura do slogan “de tudo que há no mundo, nela tem pra vender” destaque na música da feira.

 A parte que sempre lembro quando retorno das minhas viagens, geralmente a noite: “bonito pra você ver, nas noites de são João, quem vem pra Caruaru, de longe vê o clarão”... e vê mesmo, dezenas de quilômetros em qualquer direção, pelas rodovias que nos trazem ao agreste, as noites estão iluminadas pela energia do povo caruaruense.

Nessa esteira de sucessos regionais, surgiram compositores que impulsionaram a música regional. De saudosa memória e que tive a honra de conhecer pessoalmente, Juarez Santiago, maestro Camarão, Bau dos 8 baixos, Ezequias Rodrigues e tantos outros merecedores da nossa reverência. 

Não satisfeito com a homenagem musical, Jorge teve um novo sopro de poesia Gonzaguena e fez Juazeiro – Petrolina, no mesmo molde poético, leve, bonito, pleno de bom gosto. Essa canção é uma narrativa, que descreve a região do rio São Francisco que une Pernambuco e Bahia a partir das duas cidades belas. Pernambuco decantado em prosa, verso, poesia e forró de qualidade

Não é possível separar o forró de sua poesia - seja urbana ou matuta - pois quando se toca e altera essa fórmula sagrada, o próprio gênero musical perde o seu valor, e a maior prova disso é que não se eterniza na mente e coração dos nordestinos, gente de muita sensibilidade, de uma cordialidade sui generis.

 Olha pro céu amor/vê como ele está lindo...eis a grandeza musical que alcança voos infinitos na seara poética, subindo como um balão, nas asas da Asa Branca. É danado de bom!

Fonte: Professor Urbano Silva-historiador
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LIVRO DE THEREZA OLDAM COMEMORA OS 150 ANOS DE HISTÓRIA DA IGREJA SÃO JOÃO DO ARARIPE, EM EXU PERNAMBUCO

A história de fé da Igreja de São João do Araripe, no município de Exú, no Sertão pernambucano, é contada pela primeira vez no livro “Igreja de São João Batista do Araripe, Exu-Pernambuco – Sesquicentenário (1868/2018)”, de Thereza Oldam de Alencar. 

A obra, que será lançada na própria igreja no dia 23 de junho, véspera de São João, ao final da nona noite do novenário, remonta a trajetória do Barão de Exú, bisavô da autora, que construiu a igreja como pagamento de uma promessa ao santo, e relembra as tradições e festejos até os dias atuais. Aos 87 anos, Thereza escreveu o livro à mão, durante quatro anos de pesquisas e entrevistas.

“Fui juntando peças e ouvindo a voz da tradição. Entrevistei octogenários que guardavam importantes informações e fui vendo se formar, diante de mim, uma linda história de amor e fé. Foram quatro anos de pesquisa e peleja, andando, trabalhando e trabalhando. E, também, me baseei em o que minha mãe – nora do Coronel João Carlos, criado pelo Barão – escreveu”, conta Thereza.

A história começa com a chegada dos Alencar, vindos de Portugal, ainda no século XVII, e chega ao Barão de Exú,Gualter Martiniano de Alencar Araripe, nas fazendas Araripe e Caiçara. Com o “caos de dor” trazido pela epidemia de cólera no Crato, vizinho a Exu, entre 1862 e 1864, o Barão fez uma promessa a São João, para que a doença não se alastrasse por seu povo. 

Com a graça alcançada, o fazendeiro iniciou a construção da igreja, inaugurada na véspera do Dia de São João em 1868. Em seu testamento, deixou expresso que seus descendentes cuidassem da igreja.

Os 150 anos do Arararipe também se entrelaçam com a vida de outro conhecido morador de Exu: Luiz Gonzaga. A bisavó do Rei do Baião se abrigou na Fazenda Caiçara, também do Barão, durante a peste de cólera. Foi na igreja que os pais de Gonzagão, Januário e Santana, se casaram. Gonzaga eternizou os 100 anos da igreja na canção “Meu Araripe”. Foi Thereza, a autora do livro, quem escreveu, inclusive, a apresentação do disco “São João do Araripe”, em 1968.

“Meu sonho é que a história dessa igreja seja disseminada por todos. Pelos devotos, pela nossa família, por Exu, por Pernambuco, pelo Brasil. É uma história simples e verdadeira e não pode ser esquecida. É um santuário de fé, patrimônio histórico e cultural do povo de Exu. Não é só um prédio bonito. Sua argamassa é feita de amor e fé”, conclui a autora.

Dividido em 12 capítulos, “Igreja de São João Batista do Araripe, Exu-PE – Sesquicentenário (1868/2018)” faz um passeio detalhados sobre esses 150 anos, misturando a história dos Alencar, dos Gonzaga, do município de Exu e do povoado do Araripe. Sua última parte, intitulada “Memorial Idílico do Araripe”, conta com depoimentos de 33 personalidades da região ou que têm uma relação de carinho com o lugar. Entre eles, o jornalista Francisco José e Dominique Dreyfus, biógrafa francesa de Luiz Gonzaga.

O livro tem prefácio escrito pelo advogado Dario Peixoto, filho de Thereza, e orelha da capa escrita pelo ator e humorista piauiense João Claudio Moreno. A contracapa tem autoria do marido da autora, Francisco Givaldo Peixoto de Carvalho, também escritor. E a orelha da contracapa, com perfil biográfico da autora, foi escrito pelo poeta e escritor cearense José Peixoto Júnior.

Thereza Oldam de Alencar é mestra em Educação Básica, formada pelo Colégio Santa Tereza de Jesus, no Crato (CE), e doutora em Letras pela Faculdade de Formação de Professores de Petrolina (PE). Em 2011, publicou seu primeiro livro “Exu – Três séculos de história”. Condensou, ainda, em livros, memórias de seu pai, Antholiano Ayres Peixoto de Alencar, e de sua mãe, Maria Geralda de Alencar.

Fonte: Digital ComunicaçãoExecutiva -Recife-PE
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TODO O NORDESTE LASTIMA, FRAQUEJA, RÓI, DESANIMA, TENDO NO PEITO UMA CHAGA ESCULHAMBARAM O SÃO JOÃO

E o que vejo no São João 
É esse golpe gritando
Golpeiam o corpo e a alma
E a vida vão golpeando
Golpeiam no coração
Golpeiam na tradição
O golpe é quem nos estraga
E apaga todo lampejo
Procuro luz e não vejo. 
Valei-me, Luiz Gonzaga!!!

Campina Grande cedeu!
Vencida, Caruaru.
Mas a resistência é firme
Na cidade do Exu
Todo o Nordeste lastima,
Fraqueja, rói, desanima,
Tendo no peito uma chaga.
Esculhambaram o São João,
Fizeram trato com o Cão.
Valei-me, Luiz Gonzaga!

Essa turma do dinheiro
Quer acabar com o São João 
Joga água na fogueira
Mijando no foguetão
Prefeito tome cuidado
Que o povo tá revoltado
E vai cassar sua vaga.
Veja aí esses meninos
Valentes, fortes, ferinos
Louvando Luiz Gonzaga!

Fonte: Aderaldo Luciano-Professor. Doutor em Ciência da Literatura
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FILME PEDRO LUCAS, O MENINO QUE FEZ UM MUSEU, SERÁ EXIBIDO NO FESTIVAL DE CINEMA DE OURO PRETO

Em 2013, Pedro Lucas Feitosa, então com 8 anos, voltou encantado de uma visita que fizera ao Museu do Gonzagão, em Exu, Pernambuco. Ao voltar para a sua casa, no Crato (Cariri cearense), Pedro Lucas já sabia como dar vazão à admiração que nutre por Luiz Gonzaga: ele criaria um museu dedicado ao Rei do Baião, na casa em que sua falecida bisavó morava, vizinha à dele.

Três anos depois, o espaço na rua Rua Alto da Antena, no distrito de Dom Quintino, reúne cerca de 100 objetos que recriam a época em que Gonzagão viveu. Pedro Lucas guia as visitas no local, contando a história de cada objeto do museu, função que divide com o primo, Caio Éverton, de 8 anos. Além de vinis do artista, o museu exibe sanfonas, ferramentas de trabalho e utensílios, partes do universo cantado por Luiz Gonzaga. 

Esta história virou filme e ganhou a Europa, foi exibido nos Festivais Internacionais, em Londres e Italia. Agora a história de Pedro Lucas será exibido na Mostra de Cinema de Outro Preto, Minas Gerais.

Com 20 anos de jornalismo, sete deles dedicados à cobertura internacional, Sérgio Utsch prefere dizer que é um contador de histórias. Mesmo em situações difíceis, como guerras, atentados e crise de refugiados, o correspondente mineiro sempre busca abordagens humanas, tentando explicar, como ele mesmo destaca, um pouco das complexidades de uma determinada cultura.

É com esse olhar do contador de histórias que Utsch se aventurou no cinema, estreando como diretor no curta-metragem “O Menino que Fez um Museu”, um dos destaques da programação da Mostra de Cinema de Tiradentes e que também será exibido na 13º Mostra de Cinema de Ouro Preto, Minas Gerais, nesta segunda, dia 18, na Sessão Cine-Escola. 

A oportunidade surgiu quando chegou em suas mãos um vídeo de um garoto cearense de 10 anos que criou um museu dedicado ao músico Luiz Gonzaga.

“Pedro Lucas é também um contador de histórias. É ele quem conduz o filme com seu jeito divertido na maneira como narra a história dele, do museu e dos personagens de Dom Quintino, distrito de Crato, Ceará. Somos apresentados, por exemplo, a Dona Rita, cujo marido escreveu na porta de casa ‘Rita, não ponha as roupas no varal’. Apesar do aviso, ela continua botando as roupas”, registra o jornalista.

Utsch admite que fez o filme pensando em festivais internacionais, receoso de que a abordagem doce e esperançosa pudesse soar exagerada pelos brasileiros. Em Londres, onde mora atualmente, ele exibiu o filme na embaixada do país.

“O Brasil é muito bombardeado lá fora. Não somos esse inferno todo. Há muitos problemas, mas não dessa forma como os próprios brasileiros pintam o país, sempre se colocando para baixo. Meu filme busca dar uma quebrada nisso”, salienta Utsch.

No interior do Ceará, um menino então com 10 anos transforma uma casa de barro no primeiro museu de sua cidade. O documentário mostra a história de Pedro Lucas, um pequeno brasileiro orgulhoso de suas origens e muito sensível em relação aos problemas do Nordeste. 

O Museu Luiz Gonzaga, além de uma homenagem ao cantor, é uma viagem pela comunidade, pela cultura nordestina e pelos sentimentos de Pedro Lucas. O filme foi gravado em 2016 e finalizado em 2017 por uma equipe de profissionais brasileiros e britânicos em Londres. É resultado de uma tentativa de mostrar um Brasil desconhecido pelo mundo e por muitos brasileiros.

Fonte: Paulo Henrique Silva-O Dia
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SEU BILINO, UM TOCADOR DE SANFONA DE 8 BAIXOS

Andar pelos sertões sempre me proporciona encontros! Novos conhecimentos. Entre Exu e Serrita encontrei "Mestre Bilino". Antônio Felizardo Alves, bom proseador e afinador de sanfona de 8 Baixos.

Seu Bilino começou a tocar ainda era menino, em 1958, quando seu pai comprou uma sanfona de 8 Baixos pra ele. Naquela época os forrozeiros tocavam nos casamentos, nos aniversários, diz Seu Bilino. “Ele comprou uma sanfona pra eu tocar pra ganhar um dinheirinho. Nessa época o povo tocava a noite toda”, conta ele, que veio de uma família de  músicos.

Seu Bilino diz que não é tocador profissional, que sua profissão mesmo é afinar sanfona: “Meu ramo mesmo é ser afinador de acordeon, quando o fole se acaba eu também recupero”, diz ele.

Mas é com maestria que ele pega o instrumento e desliza os dedos, puxando o fole. Depois ele mesmo reconhece sua sabedoria: “Tem uma música que eu fiz que eu botei o nome Avessinho, um chorinho.

É um forró tão bom de dançar que quando eu tou tocando ele todo mundo pega o ritmo, quer dançar. O finado Dominguinhos quando tava vivo foi tocar na rádio em São Paulo, aí um senhor me chamou pra tocar nessa rádio e eu fui tocar mais Zé Onório, que era um tocador de 8 Baixos de São Paulo. Aí ele fez assim – porque eu falei de Exu – ‘esse caba de Exu é bom”, conta.

Bilino teve dois mestres, um foi seu pai, que lhe ensinou duas coisas, uma é que “a música é pra ser tocada com carinho e amor, bem feliz”. A outra é que tem músicas que devem ser guardadas pra momentos especiais. “Meu pai dizia ‘Num toque essa música atoa não. Toque num momento especial, que você fica feliz e eu também fico”, ensina.

O outro mestre de Bilino foi Severino Januário, irmão de Luiz Gonzaga.  “Eu tocava com Severino Januário, eu considero ele meu mestre. Eu toco as músicas dele, tem gente que até chora. Hoje eu tou tocando as letras dele por causa dele. É um xote tão bom de dançar que todo mundo arrupeia os cabelos”, brinca Bilino.

Ele só fica triste com a falta de reconhecimento do seu mestre “Severino dos 8 Baixos  num era mostrado na televisão. Eu fiquei desgostoso, o homem tocava um 8 Baixos daquele jeito e num era mostrado. Eu fiquei meio triste, andei um tempo sem tocar”, conta o tocador que também não tem a atenção dos holofotes, apesar de seu talento merecido.

O vínculo com a família de Luiz Gonzaga começou desde cedo, Seu Bilino conta que seu pai só afinava o instrumento com Januário: “Ele trazia o 8 Baixos dele porque ele era mestre, aí quando a sanfona dele quebrava.  Ele vinha pra aqui”. E, Bilino, criança, vinha dentro de um caçoá, de Serrita, sua cidade, para Exu.

Hoje, assim como grande parte dos nordestinos, Bilino tem veneração por Mestre Lua: “Pro futuro ele vai ser nosso santo dos músicos, o santo dos sanfoneiros. Vai ser que nem o Padre Cícero, que nem Damião. Asa Branca é como se fosse um hino, como se fosse uma reza”, profetiza ele. “Ele é uma raiz do Sertão que a gente não pode abandonar”, afirma o sanfoneiro.

Consciente de que está cada vez mais raro achar pelas bandas do Araripe um tocador de 8 Baixos, “Daqui a uns 50, 100 anos quem tocar 8 Baixos vai ser chefe majoritário do mundo inteiro”, Bilino sente prazer quando consegue passar seu conhecimento a alguém “A coisa que eu acho mais feliz no mundo é eu dar aula pra uma criança, de 8 Baixos, porque de acordeon tá cheio já de tocador”

“Eu num posso abandonar essa carreira até o fim da minha vida”, diz com veemência. “Eu tou feliz desse jeito, porque dinheiro num é tudo na vida não. Eu sou um cara da roça, do mato, eu tenho um sitiozinho que eu plantei, tem 16 pés de coco. As filhas vem do meio do mundo passear. Eu acho bom estar no meio da terra aqui escutando Gonzaga tocar, chega um amigo, conversa comigo, chega outro”, conta o humilde tocador do fole típico do Sertão que hoje se tornou preciosidade.

Fonte: www.cultura.pe.gov.br/canal/mergulhe/um-modesto-tocador-de-8-baixos-2
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