EM MEMÓRIA DE AFONSO CONSELHEIRO

No final da tarde do dia 22 de abril de 2021, recebi a notícia do falecimento do meu grande amigo Afonso Conselheiro, cujo nome de batismo era José Afonso da Cunha Martins. Em tempos de fake News, imediatamente telefonei para o seu celular e, de fato, ele havia se encantado como luz de uma estrela. Como não pude me despedir pessoalmente, escrevo essas mal traçadas linhas em memória desse artista, natural do distrito de Patamuté, município de Curaçá (BA), que, como poucos, soube defender a história e a cultura dos sertões nordestinos.

Por meio de outro artista, Gildemar Sena, de Uauá (BA), conheci Afonso Conselheiro na Romaria do Centenário de Canudos, em 1997. Vestido com o chambre azul, a personificação de Antônio Conselheiro destacava-se da multidão, entre as atividades religiosas e profanas desenvolvidas pela paróquia de Canudos. Desde então, sua personalidade cativante atraía inúmeras pessoas nas romarias, nas celebrações dos mártires de Canudos e outros movimentos culturais, que partilhavam de suas ideias em prol da cultura dos sertões, tanto com relação à história da Guerra de Canudos, quanto da música de Luiz Gonzaga.

Ao longo dos setenta e três anos de vida, sua sensibilidade artística contribuiu na organização de diversas manifestações culturais na região de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), motivando homenagens póstumas de diversos artistas, professores, jornalistas e grupos de teatro. Atuando como ator, encenou inúmeras peças de teatro amador e profissional, destacando-se sua participação na novela global “Senhora do Destino”. Mas foi nas romarias de Canudos que ele encarnou seu principal personagem, Antônio Conselheiro, transformando seu próprio nome em Afonso Conselheiro. Tal como o líder maior dos sertões, que carrega em torno de si toda uma simbologia de resistência e heroísmo, o personagem denunciava o poder injusto e violento das classes dominantes no Brasil. O imaginário profético e visionário de Conselheiro definiu a montagem do personagem nas romarias e nas peças de teatro encenadas por Afonso, ao longo das últimas décadas. Nesse sentido, ele contribuiu, decisivamente, para a desconstrução da imagem euclidiana do “gnóstico bronco” e ensandecido, recuperando a tradição oral sertaneja que mencionava um homem “manso de palavra e bom de coração”.

A possibilidade da disseminação dessa memória “instituinte”, baseada no igualitarismo da experiência social liderada por Antônio Conselheiro, significa, no tempo presente, a alternativa à ordem coronelística, ainda hoje vigente na região. Inserida na tradição de movimentos de ruptura radical com o sistema de dominação, como o de Palmares, no período colonial, e a Cabanagem, no Brasil império, Canudos é parte da rebeldia popular no Brasil.

A preocupação com a memória e a história da região se estendeu também para a sua tentativa de tombamento do açude da Fazenda Boa Esperança, localizada no interior de Curaçá, norte da Bahia, por parte do poder público. Construída por escravos, a barragem encontrava-se deteriorada pelo tempo e precisava de reparos para a preservação desse patrimônio histórico. Além de trazer a presença, nem sempre conhecida, da participação social dos negros escravos e alforriados nos sertões de Canudos, o abaixo assinado da comunidade demonstra consciência histórica de sua importância para a região. Infelizmente, essa foi mais uma batalha perdida em defesa do patrimônio histórico dos sertões.

Cônscio da importância da preservação da natureza, o artesão Afonso Conselheiro transformava o lixo em arte, confeccionado, a partir das latas de cerveja, material decorativo, como abajures e cortinas, ou canecas com imagens relacionadas aos sertões nordestinos, como a memória de Luiz Gonzaga, ou a clubes de futebol, essa paixão nacional. A arte em lata contribuía para a redução da poluição ambiental, gerando, ao mesmo tempo, uma fonte de renda a mais para o salário tão minguado da aposentadoria do INSS. 

Na companhia do seu papagaio, Afonso nos recepcionava em sua casa no centro de Juazeiro, às margens do rio São Francisco, contando essas e outras histórias vividas ou a ele contadas pela tradição oral dos sertões nordestinos. Sua partida no dia em que se convencionou chamar “descobrimento” do Brasil, talvez fosse melhor dizer que foi invadida pelos europeus, como bem interpelou o líder guarani Marçal Tupã-i, é reveladora do chamamento para que o Brasil redescubra o sertão.

Sob os acordes gonzagueanos da resistência conselheirista, despeço-me do meu amigo não com um lamento de uma triste partida, mas com um poema de Mário Quintana, Inscrição para um Portão de Cemitério:

Na mesma pedra se encontram,

Conforme o povo traduz,

Quando se nasce – uma estrela,

Quando se morre – uma cruz.

Mas quantos que aqui repousam 

Hão de emendar-nos assim:

“Ponham-me a cruz por princípio,

E a luz da estrela no fim”.

* Professor doutor Antônio Fernando de Araújo Sá-Departamento de História-Universidade Federal de Sergipe

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CANTOR E COMPOSITOR NASCIDO EM SENHOR DO BONFIM TEM MÚSICA CLASSIFICADA NO FESTIVAL NACIONAL DA CANÇÃO, MINAS GERAIS

Foram duas noites cheias de talentos e muita música brasileira, assim foi o Festival Nacional da Canção, edição especial Minas Gerais. Foram apresentadas 20 músicas, de forma on-line, pelo youtube e facebook do festival. A edição Minas Gerais apresentou um cenário 100% virtual, com uma tecnologia inovadora entre os festivais de música no Brasil

Com a proposta de homenagear os 300 anos de Minas Gerais, edição especial do Festival Nacional da Canção (Fenac) foi realizada em 23 e 24 de abril.

Detalhe: A canção “Meu Rio, Êh”, parceria de Wir Caetano com o músico baiano, nascido em Senhor do Bonfim,  JOSÉ BATISTA DA SILVA SOBRINHO, conhecido por Zecrinha, foi uma das 20 classificadas no tradicional “Festival Nacional da Canção” (Fenac), do Sul de Minas.

A cantora Norma de Jesus foi a intérprete do trabalho, acompanhada por Dan Soares (violão e arranjo), ambos muito conhecidos na cena musical. Foram 614 inscrições na edição deste ano.

“A classificação de ‘Meu Rio, Êh’ é um bom exemplo de que, como disse recentemente a cantora paulista Mônica Salmaso, música é arte do encontro”, diz Wir Caetano. E explica: “a interpretação da Norma é lindíssima, e ficou muito bom o arranjo do Dan Soares” (integrante da banda Dandá, ao lado da mulher, Nadja Furtado, diretora-presidente da Fundação Casa de Cultura de João Monlevade).

O compositor diz que a forma como foi criada essa canção também é uma “arte do encontro”. “O Zecrinha, que vive entre Senhor do Bonfim, nos sertões e a capital Salvador (BA), me enviou a música com um vocalize (canto sem palavras, só com sons vocálicos) e me pediu para fazer a letra. Respondi que não precisava letrar, porque já estava linda aquela música praiana, que fazia pensar em água”, conta ele. 

Mesmo achando que a música “falava por si”, Wir Caetano fez a letra “procurando reproduzir nos finais dos versos os mesmos sons do canto original do Zecrinha”.

“Parece que o encontro de sílabas e notas nessa canção de homenagem a Oxum, orixá das águas doces, feminina, foi um casamento feliz”, avalia. Confira a canção através do link, https://youtu.be/mxIJkISb8w4

HISTÓRIA: José Batista da Silva Sobrinho, nasceu em Senhor do Bonfim, Estado da Bahia, em 02/02/51. É conhecido no meio artístico, Zecrinha Batista. Influenciado pela música de raíz, cresceu ouvindo Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino, Beatles, Bach, Mozart, Beethoven, Tom Jobim, Nelson Gonçalves, João Gilberto, Orlando Dias, Marinês entre outros. 

Ele conta que com a mistura "Nâo houve indigestão, houve, sim, um tremendo estalo"! Percebeu que respirava e transpirava normalmente rock, chula, xaxado, baião, xote, côco, afoxé e outros gingados. Uma mistura de sanfona, flauta, pífano, zabumbas, triângulo, pandeiro, viola, agogô.

Por isto foi despertando em si o seu senso musical. Sua primeira apresentação como instrumentista aconteceu em festival estudantil de sua cidade no ano de 1965. Ponto de partida para sua formação de diversos conjuntos de bailes.

Já como guitarrista, tocou em diversos grupos até 1973. Ganhando festivais regionais, dedicou-se a compor músicas e a se apresentar em casas noturnas de shows. Em 1974 foi morar no Rio de Janeiro e mais tarde, participou na cidade de Osasco, em São Paulo, do festival regional. Retornou a Salvador em 1976, onde radicou-se até 1982.

Depois, numa volta ao Rio de Janeiro, passou dois anos tocando nas noites cariocas. Voltou para Salvador em 1984, participando do extinto Projeto Pixinguinha, como instrumentista na banda de Alcyvando Luz, ao lado de estrelas como Elizete Cardoso, Maria Alcina, Ataulfo Alves Júnior e Moreira da Silva. Em 1993 apresentou-se com o show Bicho da Seda na programação paralela do Festival de Inverno de Ouro Preto (MG).

Na discografia inclui dois LPs (Cavaleiro Azul, em 1986; e Bicho da Seda, em 1992) e quatro CDs (Janela de Trem, em 1997, Tecendo Cantos, em 2002, Aurora Instrumental, em 2003, e Coletânea, em 2004). Nos últimos anos, produziu os CDs de vários novos intérpretes de suas músicas, a exemplo de Binha Campello (Pensando em Você), Glória da Paz (Palavras Medidas) e Vanni (À Flor da Pele).

Aconteceu que Zecrinha nasceu nordestino,  norte da Bahia, onde cresceu feito árvore de raízes profundas, abriu os olhos e a boca para o mundo e na sequência, realiza-se, feito pedra rolante, bruxo discreto, autodidata trabalhando com presteza as suas composições.

Em 2013, iniciou o seu disco intitulado `` Água Filtrada´´ com 13 faixas, composições próprias, incluindo Rosa Amarela, Maneca, Zeca de Oselina e Novela das seis.

Zecrinha também gravou os CDs, Perfil de Cantos, Aió de Bugigangas, Água Filtrada e em 2018, Ararinha Azul.

Algumas das músicas Zecrinha compôs em parceria com nomes como Nilton Freitas, Manuca Almeida, João Energia, Kaka Bahia, Cardan Dantas, Marcio Salgado, Gilberto Lima, Lúcia Prisco, Miguel Araujo, Mário Jambeiro, Neto Bala e Waldizio.

Várias das composições foram gravadas por outros cantores, exemplo, Ubiratan Ferraz, Wilson Aragão, Nilton Freitas, Claudio Barris, Renan Mendes, Débora, Glória da Paz, Binha Campello, Zeu Lobo, Vanni, Miguel Araujo, Eliude, Welligton Miranda, Cicinho de Assis, Marcus Canudos, Farias, Xisto, Clarissa Torres, entre outros.

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SEMINÁRIO INTERNACIONAL COMEMORA DIA MUNDIAL DA LIBERDADE DE IMPRENSA

O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, comemorado no dia 3 de maio, contará neste ano com um seminário internacional de dois dias organizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e diversas entidades envolvidas na defesa da causa. O evento terá painéis nos dias 3 e 4 de maio, das 16h às 17h30. 

O tema de 2021, “Informação como bem público”, destaca o papel essencial do jornalismo livre e independente na produção de notícias. Chama a atenção também sobre a importância da informação verificada de interesse público, e alerta sobre a necessidade de se garantir a segurança dos jornalistas. Outro ponto central do seminário será a polarização e a liberdade de imprensa.

Entre os convidados, estão o ministro e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso (TSE); Flavia Lima, ombudsman da Folha de S. Paulo; Marlova Noleto, representante da UNESCO no Brasil; Guilherme Canela, chefe global de liberdade de expressão da entidade, e Amanda Ripley, jornalista e autora de High Conflict: Why We Get Trapped and How We Get Out.

Neste ano, a data coincide com o 30º aniversário da Declaração de Windhoek para o Desenvolvimento de uma Imprensa Livre, Independente e Pluralística, documento que afirma o compromisso da comunidade internacional com a liberdade de imprensa.

As discussões durante os encontros virtuais serão pautadas sobre medidas para garantir a viabilidade dos veículos de comunicação, incluindo a segurança dos jornalistas e sustentabilidade econômica; mecanismos para garantir a transparência das empresas de internet; e incentivos à chamada educação midiática e informacional, que permitam às pessoas reconhecer e valorizar, bem como defender e exigir, o jornalismo como uma parte vital da informação como um bem público.

Os dois webinars vão contar com tradução simultânea e transmissão pelos canais da UNESCO no Brasil e entidades parceiras. A iniciativa tem o apoio da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação Nacional de Jornais (ANJ), Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER), Associação de jornalistas de educação (Jeduca), Instituto Palavra Aberta, Folha de S. Paulo, Embaixada e Consulados dos Estados Unidos no Brasil.

Programação: 3 de maio: INFORMAÇÃO COMO BEM PÚBLICO  16h – 17h30 – horário de Brasília

Abertura: Patricia Blanco (Instituto Palavra Aberta) | Participantes: Ministro Luís Roberto Barroso (TSE), Flavia Lima (Folha de S. Paulo), Flávio Lara Resende (ABERT), Marlova Noleto (UNESCO) | Moderador: Marcelo Rech (ANJ)

4 de maio: POLARIZAÇÃO E LIBERDADE DE IMPRENSA | 16h – 17h30 – horário de Brasília | Português e Inglês – com tradução simultânea

Abertura: Representante da Embaixada e Consulados dos Estados Unidos no Brasil (a confirmar) | Participantes: Amanda Ripley (Palestrante Internacional), Guilherme Canelas (UNESCO), Aline Midlej (GloboNews) | Moderador: Guilherme Amado (ABRAJI)

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TRINTA ANOS APÓS MORTE, A VOZ DE GONZAGUINHA CONTINUA ECOANDO FORTE

Há exatos 30 anos, um acidente de carro no Paraná levou a vida de Gonzaguinha, autor e intérprete de alguns dos maiores sucessos da música brasileira. Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, era um homem de hábitos simples, avesso a estrelismos. Inteligente, dono de uma personalidade forte. Poeta, compositor.

Artista de poucas parcerias, Gonzaguinha geralmente escrevia letra e música sozinho.

No início de sua carreira, nos anos 1970, Gonzaguinha era perseguido pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) por criar músicas de protesto ao regime militar. Com isso teve muitas de suas composições censuradas. 

Entre as criações mais marcantes deste período está “Comportamento Geral”, de 1972. A letra, que permanece atual, revela desigualdades sociais e, a partir de forte ironia, demonstra o processo de submissão de muitos em benefício de poucos. No ano em que a morte do compositor completa 30 anos, o Instituto Claro fez uma análise de sua icônica canção.

“Ela não é necessariamente uma crítica política, mas também é uma baita crítica social em relação à estruturação da sociedade, porque fala do dia a dia do brasileiro, da questão do trabalhador”, afirma o jornalista cultural Pedro Henrique Pinheiro. 

A atualidade da música é comprovada por dezenas de gravações recentes de Elza Soares, Ney Matogrosso, Liniker, Xênia França, entre outros. Pinheiro destaca a versão do rapper Criolo, em edição do Prêmio da Música Brasileira, de 2016.

“Eu lembro que gerou muita aclamação na época, por ele dar um corte no eu lírico que o Gonzaguinha criou, falando que ‘não tá certo’. Eu acho que essa agressividade que ele colocou foi bem importante, até para as pessoas que talvez não entendessem a letra, terem uma nova visão sobre aquilo. No final das contas, é uma música que consegue ter um sentido amplo para as minorias”.

O filho de Gonzaguinha, Daniel Gonzaga diz que o pai dá voz às classes populares em versos irônicos, como “você deve lutar pela xepa da feira e dizer que está recompensado”. 

“É uma música que eu considero muito a cara do Gonzaga, porque o Gonzaga é um autor muito cotidiano. E ele conseguiu perceber naquele momento o que nós estamos percebendo hoje, que o Brasil não muda. Não muda suas esferas de poder, não muda em termos das suas ‘castas’, dos diálogos das suas oligarquias com suas classes menos abastadas”, diz.

Para a família, atemporalidade, originalidade, autenticidade e o talento justificam quando se diz que Gonzaguinha contina vivo. “Ele criou canções poderosas, algumas cheias de cobranças para dias melhores pra todo mundo. E nunca se distanciou das necessidades do povo. Era verdadeiro em tudo e por isso as pessoas cantam e amam tudo o que fez”, avalia Louise Martins, a Lelete, viúva de Gonzaguinha.

“São um retrato dos dias atuais. Parece que Gonzaga acabou de fazer”.

Daniel Gonzaga, músico, acredita que fatores múltiplos explicam por que o pai está mais vivo do que nunca. “Ele era um compositor de mão cheia; aliás, um dos mais importante da sua geração. Sua obra é eterna, vigente”, frisa. Responsável pela Moleque Editora, Daniel destaca a ação “técnica” de tentar desvinculá-lo de esquerda ou direita. 

“Não há um artista tão democrático como ele, mas não significa que possa ser chamado de isento. Quem o conheceu sabe de suas convicções, o que defendia. É bacana perceber que, após quase 30 anos de sua morte, Gonzaguinha é mais presente do que muitos artistas que ainda estão aí”.

Ele acentua o perfil contemporâneo do trabalho de Gonzaguinha e diz ser impossível dissociá-lo da política. “Todas essas questões de esperança, de dias melhores, tudo está ali nas músicas dele. Você vê temas sociais, a luta por melhores condições de vida, recorrentes na vida do brasileiro e na obra dele”.

O cantor e compositor de música brasileira, Daniel Gonzaga é dono de uma forte personalidade e estilo que aparecem em suas composições e interpretações. Filho de Gonzaguinha e neto de Luis Gonzaga, sempre esteve envolvido com música. Hoje, sem se preocupar nem um pouco com o poder do monopólio dos meios de comunicação, que não valoriza a boa música brasileira, ele segue com a carreira e sendo um dos frutos de Gonzaguinha.

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VEM VER O VENTO QUE É O VERSO DAS POETAS DO PAJEÚ

– Vamo?:

Se eu pudesse não via

um canário na prisão

É de cortar coração

quando ele canta mêo dia

Quando é de noite ele chia

sentindo o cheiro das pranta

Tempera sua garganta

canta sem tá com vontade

E pra matar a saudade

um passarin preso canta (Severina Branca, maio de 2019, em Mundo Novo)

Severina Branca (1945) nasceu pra explicar que o feminino de poeta só pode ser poesia. Com essa resposta como princípio, saímos em maio de 2019, acompanhadas de outras perguntas: O que faz do Pajeú um território tão associado à prática da poesia? Por que existe uma ode a ela no cotidiano? Como uma comunidade aprende a defender o valor de se ensinar poesia? Quando foi que a poesia surgiu no imaginário da população? Desde quando a poesia mora na rotina desta região? Como nascem tantos poetas em uma mesma geografia? São poetas as mães que gestam na barriga os poetas? Onde estão as poetas deste território marcado pela poesia? Com esse mapa de perguntas, iniciamos a trajetória do projeto As poetas do Pajeú, que vem se desenvolvendo ao longo dos últimos três anos.

QUEM PROCURA, ACHA: Nas livrarias, nas publicações, antologias e coletâneas de literatura pernambucana, nas mesas de glosas, na boca das pessoas, quando pedimos referências de poetas do Sertão do Pajeú: quase não encontramos mulheres. Dizemos que nossa inquietação nasce ao notar a escassez da presença, para dizer que sentíamos mesmo muita falta das poetas no palco da palavra do Pajeú.

A partir disso é que organizamos uma busca por rádio, carros de som, intervenções públicas com faixas, batendo na porta das casas das pessoas, conversando com professoras, no supermercado, por telefone, e-mail, no Instagram, no Facebook, no WhatsApp, de carro, percorrendo comunidades rurais e 17 cidades, além de outras ativações de uma equipe de cinco mulheres em imersão, com a contribuição de tantas outras, nessa busca.

Nosso ímpeto em empreender uma iniciativa que desse maior visibilidade às mulheres poetas do Sertão do Pajeú, considerando produções dos últimos 100 anos, configura, de fato, uma pesquisa audaciosa, que está em andamento ainda e que esperamos que continue para além dessa ação. Consideramos fundamental questionar o lugar ocupado pelas poetas no cenário do Sertão do Pajeú, assim como compreender a realidade social, as diferentes gerações, a diversidade de enunciações, de características temáticas, formais e o desenvolvimento da poesia nas modalidades falada ou escrita, por exemplo.

O projeto, que propõe uma fissura na suposta harmonia estabelecida no uso da nomenclatura poetisa frente ao vocábulo poeta, encara o ruído em experimentar diante da tradição como um traço inerente à natureza de nossa proposta. Reivindicando uma reestruturação da linguagem, uma reconfiguração do imaginário e do olhar, vivemos e registramos um sertão plural, verde, líquido, narrado por mulheres.

Dessa forma, contrapomos um sistema histórico e socialmente organizado que tende a inferiorizar e invisibilizar as mulheres através da narrativa de um sertão masculino, seco, árduo. Com o entendimento que a pesquisa possibilita não só a criação de uma narrativa focada na produção das poetas da região, mas também uma reflexão analítica que pretende confluir na palavra poeta, como termo que comporta a existência e produção poética das pessoas, sem enquadrá-las em binarismos, atitude que pode provocar debates, transformação e reordenação das estruturas de convivência.

Como se pode notar, no processo de pesquisa, houve cuidado para reunir estratégias de entrecruzamentos, encontros, contatos para podermos aprender sobre a poesia do Pajeú, reverberar esse patrimônio cultural e produzir conhecimento a partir dele com uma equipe formada exclusivamente por mulheres. A metodologia de investigação permitiu traçar dois caminhos para encontrar a poesia feita por mulheres no Pajeú, atentas à multiplicidade de manifestações do fazer poético: debruçamo-nos sobre material bibliográfico e transitamos tanto pelas cidades mais conhecidas como por estradinhas de terra de povoados de difícil acesso para encontrar vivências plurais.

Essa imersão no cotidiano do Pajeú nos presenteou com momentos de franca beleza, como escutar as irmãs do Sítio Serrinha – Maria de Lourdes, Maria Valderisa e Ana Maria – declamarem versos passados de geração em geração na família, escutar os poemas enquanto juntas debulhávamos feijão verde e víamos a feitura do queijo coalho. Registrar Jéssica Caitano, cantando junto ao pandeiro, na Cachoeira do Pinga, no sertão verde e fértil, nos alimentou com paisagens, situações, experiências poéticas,para além do Triunfo dos versos.

Da geração mais antiga de mulheres da zona rural de São José do Egito, fomos para a comunidade quilombola de Brejo de Dentro, em Carnaíba, ler e ouvir a jovem Beatriz Eduarda, que na sombra de um cajueiro também compartilhou seus afazeres e desejos de poeta, conectados às pisadas e ao ritmo do coco cultivados pelo pai, José Josinaldo, que fez questão de dançar e cantar um pouco de sua arte.

Vento de ventilador

Que não vence a maresia

Moleque dentro da rede

Fazendo “estripulia”

Gavião voando solto

Ou brigando com galinha

O matuto do sertão,

Feijão, arroz e farinha

A festa de fim de ano,

Conversa do dia a dia

A mãe, o pai, a criança,

Avó, cunhada e tia

Os “bebo” no meio da rua

Desafiando a polícia,

A melancia na rama,

Macaxeira com linguiça,

A pega de boi no mato

E reunião de família

Isso tudo e um pouco mais

É que faz a poesia!!! (Isso tudo e um pouco mais é que faz a poesia, Beatriz Eduarda, 2004)

Atravessamentos típicos do Pajeú, região que se conecta pelo rio, onde há um diálogo e interação intersemiótica entre as artes, o que podemos ver de forma bem potente nas rimas do rap-coco-cibernético de Jéssica Caitano, no teatro de Odília Nunes, nas canções e nos poemas que marcam as apresentações de As Severinas, banda composta por Isabelly Moreira, Marília Correia e Monique D’Angelo, por exemplo.

Essa efervescência artística que encontramos no Pajeú configura-se a partir da heterogeneidade que marca a relação particular de cada um dos 17 municípios pajeuzeiros com a experiência poética. Há inegavelmente um maior quantitativo de poetas em cidades como São José do Egito, Tabira e Afogados da Ingazeira, por exemplo; no entanto, houve um cuidado na organização do acervo de poemas em ter acesso às poetas de cidades que possuem um menor quantitativo populacional e também apresentam um número mais reduzido de poetas encontradas, como Flores, Solidão e Brejinho.

Configurou-se, portanto, como um dos objetivos do projeto trazer além de nomes já consolidados, como o de Bia Marinho e o de Beatriz Passos, os de poetas ainda pouco conhecidas dentro do território do Pajeú, ou até mesmo que nunca foram publicadas, ou recitadas, já que nesse contexto cultural a prática de oralizar publicamente a poesia é bem mais recorrente quando comparada à de publicar. Se, por um lado, o registro escrito permite essa possibilidade de apreensão do poema de outrora, por outro, o contato aprofundado com a poesia do Pajeú nos fez pensar que pode ser limitada a experiência de, algumas vezes, ler os versos em um livro ou em uma tela de computador, já que há um destaque à presença do corpo na construção de sentidos do fazer poético sertanejo, que delineia uma poesia pensada para um público que escuta, não apenas lê.

QUEM NÃO LÊ, LEMBRA: Antes de ser letra, a poesia do Pajeú é voz, distante de uma composição ou leitura silenciosa, ela chama a música até mesmo na arte de declamar, com um propósito de partilha, encontro público. Constatamos que as marcas da oralidade estão tanto nos poemas escritos quanto nos falados, seja através da rima, do ritmo, da escolha vocabular que remete à fala na modalidade escrita, seja a partir da entonação, da cadência, da ênfase sonora, das pausas marcando som e silêncio, nos gestos, na dramatização de uma poeta performando seu poema na modalidade falada da língua. Dessa forma, a oralidade é uma das características constitutivas da poesia do Pajeú.

Nesse sentido, trata-se de uma experiência absolutamente distinta escutar, por exemplo, Severina Branca dizer seus poemas e de uma forma única performar, com musicalidade e trabalho de voz específicos, agregando sentido ao oralizar as composições. Há uma vivência de corpo, de voz, de olhar, de boca e de ouvidos que exercitam a poesia ora memorizando para compartilhar ora escutando com atenção, revelando-se uma prática comunitária da habilidade poética. Como Severina, outras poetas da geração antiga, Rafaelzinha e Luzia Batista, por exemplo, configuram-se como artistas na tradição oral, cultivam essa poesia que pode ser percebida através da memória como artifício, ao produzir e reproduzir os versos sem apoio da escrita e com elaboração poética de excelência.

No entanto, a técnica de criar e registrar apenas na memória também está atravessada pela possibilidade do esquecimento, já que se trata de um material vivo e mutável que abrange o processo lacunoso da recordação, podendo promover adaptações, o que expõe ainda mais camadas da construção do conhecimento e da cultura com base na língua em sua modalidade falada. Nessa trama, demonstra-se a importância de incentivar agentes e trabalhos da memória cultural, ou seja, desenvolver empreendimentos que se respaldam em registrar em diversas mídias a produção oral para que ela permaneça ecoando nas gerações futuras. O projeto As poetas do Pajeú se alinha e fomenta essa perspectiva.

As poetas da poesia falada serviram-se das peculiaridades da modalidade da língua que dominavam e desenvolveram poesia, disseram e cantaram seus poemas, no caso de Severina Branca e Luzia Batista continuam reverberando seu fazer poético. Ao escutar os relatos das mulheres com mais idade, evidenciam-se as dificuldades da cultura patriarcal que fazia com que elas abandonassem as vivências artísticas por conta do casamento ou dos filhos, como nos testemunhou D. Luzia. Por isso, provavelmente, há um número limitado de registros em mídias escritas ou audiovisuais das poetas não letradas, já que seria mais curto o tempo que desfrutavam como poetas. Ademais, constata-se, ontem e hoje, o preconceito que acaba subvalorizando e tratando com demérito essas valiosas contribuições artísticas da oralidade.

Em relação a essa situação, essas produções culturais que vêm de uma contínua reverberação a partir do contato entre as gerações enquanto manifestação oral estão recebendo possibilidades de registro em artefatos da memória cultural, tanto através de iniciativas audiovisuais quanto de publicações literárias.

Por exemplo, D. Luzia Batista, que fez sucesso em sua juventude nos anos 1970 e 1980, nos improvisos das cantorias, mas só aos 66 anos publicou seu primeiro livro, a partir da iniciativa de Isabelly Moreira e Vinícius Gregório de organizar sua produção poética. Também no que se refere às poetas da escrita, há o livro póstumo de Clene Valadares que está no prelo, editado por sua filha Anaíra Mahin.

Empreendimentos como esses se assemelham aos anseios do projeto As poetas do Pajeú, pois permitem uma política da memória contra o apagamento, o esquecimento de poetas que ainda não obtiveram o devido reconhecimento público e podem não ter registros de sua poesia em mídias da recordação. Diante dessa constatação, o projeto pretende disponibilizar o acesso ao acervo construído durante a pesquisa a partir de um arquivo rizomático, em uma pluralidade de mídias – poemas escritos, em áudios e em vídeos – exatamente por entender o caráter plural do Pajeú.

Nessa trilha, precisamos enfatizar outra camada da poesia do Pajeú que está relacionada a uma poesia da oralidade: as mesas de glosas e as cantorias. Populares e prestigiosos são esses encontros de poetas, redutos tradicionalmente pouco ocupados pelas mulheres. Ainda assim, na antiga geração, Anita Catota e Luzia Batista fizeram sucesso nesse cenário.

Por outro lado, a nova geração de mulheres que desenvolve o improviso nas mesas de glosas já conjuga a espontaneidade dos versos articulados em poucos minutos e com motes compartilhados com a experiência da escrita, sobretudo, em coletâneas regionais e nacionais, como é o caso de Francisca Araújo, Dayane Rocha, Elenilda Amaral, Erivoneide Amaral e Milene Augusto.

Observamos que o desejo pelo exercício da poesia elaborada em uma comunicação poética engendrada no “aqui e agora”, no improviso e na fala, não está associado intimamente a ser ou não letrada, senão a uma mais complexa tradição poética compartilhada através da experiência oral e de partilha pública da comunidade. Traços esses que podemos encontrar como ecos em manifestações poéticas que acontecem em diferentes países e culturas, através das batalhas de improviso do rap e do slam, por exemplo.

EM TODO CANTO HÁ UM MUNDO NOVO

Quis fugir do conforto do meu ninho,

Engasguei no silêncio dos meus lábios,

Pois só vi, nas lonjuras do caminho,

Passos tolos buscando rumos sábios.

Voltei sem explicar essa magia...

Pois só sei contemplar a Poesia

Sendo ela que em tudo me completa,

Entre tantas razões, por ser perfeita...

E, pra tentar desvendar do que foi feita,

Sonhos às vezes, meu Deus, que sou Poeta! (Trecho de poema de Francisca Araújo, 1995)

Quando pensamos o local e o global, os desdobramentos se multiplicam em distintas gradações e caminhos. Assim, podemos notar uma articulação da tradição poética da região com novas formas de produzir, divulgar, apreender poesia, conjugando as características locais com perspectivas nacionais e globais do cenário literário, dissolvendo barreiras, promovendo contatos e se espalhando pelo mundo.

Atualmente, essa característica parece estar mais evidente, embora poetas como Clene Valadares já apresentassem traços rizomáticos e multiculturais, ao produzir poemas em inglês sobre experiências em diversos países. Junto a ela e mantendo a poesia como tradição de família – outra característica do Pajeú –, a sua filha Anaíra Mahin também explora a subjetividade em relação a um território familiar, marcando o encontro entre mãe e filha através de uma casa-ruína e de um país no desamparo.

Na minha casa brotou uma mata

Os espíritos de ferrão defendem a ruína

Por toda parte há estilhaço

Como se a casa estivesse nas entranhas

me habita uma borboleta de madeira com cheiro de chuva

Ouço dentro o som da panela que ampara essa goteira antiga

Ouço a louça frágil

como uma guerra que findou

sem socorro

Com os olhos secos

a vista traga mormaço

O vento cisca as telhas

Esfrego as janelas

A casa assim é palavra ao avesso (Anaíra Mahin, 1986)

Como evidenciamos na pesquisa e podemos ver nesta reflexão crítica, a produção das poetas do Pajeú está fortemente ligada às práticas da tradição oral, seja na poesia de bancada (das poetas que não improvisam), seja na das mesas de glosas, ambas poetas costumam dizer, declamar, performar seus poemas. Há uma variedade formal, ainda que se cultivem muito as formas fixas, com versos e estrofes metrificados, a presença do soneto se destaca, nesse sentido, junto aos poemas de verso livre, mais exercitados pela nova geração quando comparada com as gerações anteriores.

Quanto às temáticas, as poetas meditam sobre um universo complexo, sobre uma infinidade de assuntos, por exemplo: a própria vida, no sentido filosófico de poemas ontológicos de Carmen Pedrosa, Dulce Lima e Maria Cinthia Pio; a paisagem e o território na poesia de Elenilda Amaral, Verônica Sobral e Rafaelzinha; as particularidades da mulher nos poemas de gozo e maternidade de Dayane Rocha; a sociedade e a política nos versos de Celeste Vidal e Maria Samara; a metalinguagem presente na poesia de Thaynnara Queiroz. Essas constituem um pequeno panorama para citar alguns nomes do amplo universo poético das mulheres do sertão do Pajeú, que também tratam de amor, desilusão e saudade, dentre tantos outros aspectos da existência.

I

Quando é de manhãzinha

No tempo da trovoada

Canta alegre a passarada

Lá nas matas da serrinha

Vê-se logo a andorinha

Voando sem direção

Quando vê preparação

Muito cedo se levanta

Toda passarada canta

Quando chove no Sertão

II

Nem bem amanhece o dia

O xexeú se acorda cedo

Canta lá no arvoredo

Sua linda melodia

O concriz com alegria

Também faz sua canção

O bacurau pelo chão

Pulando de planta em planta

Toda passarada canta

Quando chove no Sertão

III

Canta o “galo-de-campina”

Canário e salta-caminho

Canta todo passarinho

Quando vê uma neblina

Todo pássaro faz buzina

Quando a chuva cai no chão

Lá na lagoa o carão

Prepara sua garganta

Toda passarada canta

Quando chove no sertão

IV

A jaçanã na lagoa

Vai logo se sacudindo

Quando a chuva vai caindo

Ela acha ser uma boa

Toda passarada voa

Causando admiração

Até mesmo o mergulhão

Dentro d’água se levanta

Toda passarada canta

Quando chove no Sertão (Efigência Sampaio de Lima Bezerra, 1935-1999)

*TEXTO MARIANA DE MATOS, ROSE LIMA, THAYS ALBUQUERQUE E UILMA QUEIROZ-REVISTA CONTINENTE 2018

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CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DA BAHIA REALIZA NESTA QUINTA (29) EVENTO PARA CELEBRAR OS 100 ANOS DE PAULO FREIRE

Com o tema ‘Paulo Freire e formação política: uma experiência coletiva’, o Conselho Estadual de Educação da Bahia (CEE-BA) realiza, nesta quinta-feira, 29 de abril, mais um evento em celebração ao Centenário de Paulo Freire. O Círculo de Cultura será transmitido pelo canal CEEBahia no YouTube, a partir das 19h, e terá a participação do professor Dr. Sérgio Coelho Borges Farias (UFBA) como convidado e do vice-presidente do CEE, Roberto Gondim, como mediador do encontro.

Sérgio Farias – Cursou Mestrado em Educação na Universidade Federal da Bahia – UFBA e Doutorado em Artes na Universidade de São Paulo. Especializou-se em Política e Administração Cultural, em curso promovido pela OEA, no Brasil e no Equador (1982). Realizou estágio Pós-Doutoral na área de Performance, Teatro e Oralidade, na Universidade de Paris Ouest - Nanterre/La Défense (2001). É Professor Titular na Área de Didática e Metodologia do Ensino na UFBA, foi Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, docente, orientador e coordenador nos Programas de Pós-Graduação em Educação e em Artes Cênicas. É ator e diretor teatral, tendo participado em mais de 30 espetáculos produzidos em São Paulo e em Salvador. Participou da criação e foi Diretor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Foi Assessor para as áreas de Arte e Cultura da Reitoria da Universidade Federal do Oeste da Bahia. Fonte: ASCOM/CEE-BA

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INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE CITA REPATRIAÇÃO DAS ARARINHAS AZUIS PARA COMEMORAR O DIA NACIONAL DA CAATINGA

Hoje, dia 28, se comemora o Dia Nacional da Caatinga, único bioma 100% brasileiro e um dos biomas mais povoados (são mais de 20 milhões de brasileiros vivendo nos 850 mil km²) que representam cerca de 11% do território nacional, abrangendo todos os estados do Nordeste e do norte de Minas Gerais. 

Nos últimos anos, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) ampliou o número de unidades de conservação federais neste bioma e comemora a repatriação de 52 exemplares de ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), que retornaram ao seu lar, a caatinga baiana, em março dE 2020. Essa ave estava extinta na natureza e é endêmica da região.

A diversidade, a riqueza de espécies e o número de endemismos da Caatinga foram, por muito tempo, considerados baixos. Entretanto, pesquisas recentes demonstram o contrário. São registradas para o bioma, até o momento, 3.200 espécies de plantas, 371 de peixes, 224 de répteis, 98 de anfíbios, 183 de mamíferos e 548 de aves. 

A Caatinga é o lar da ave com maior risco de extinção no Brasil, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), e de outra espécie ameaçada, a arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari). Outras aves endêmicas identificadas pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave), do ICMBio, na Paraíba, são o soldadinho-do-araripe, beija-flor-de-gravata-vermelha, bico-virado-da-caatinga, tem-farinha-aí, zabelê. Na lista de animais endêmicos, há também o sapo-cururu, asa-branca, cotia, gambá, preá, veado-catingueiro, tatu-peba e o sagüi-do-nordeste, entre outros.

Para ampliar a conservação da biodiversidade da Caatinga, há dois anos o ICMBio criou três unidades de conservação federais: a Área de Proteção Ambiental (APA) Boqueirão da Onça, o Parque Nacional Boqueirão da Onça e o Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha-Azul, todas na Bahia. A criação da APA e do Parque Boqueirão da Onça, que juntas têm quase 9.000 km², foi fundamental na proteção das onças-pintadas. No Brasil, a onça-pintada vive em diversos biomas, mas é na Mata Atlântica e na Caatinga que a espécie está mais ameaçada, sendo considerada criticamente em perigo de extinção.

Extintas da natureza, 52 exemplares de ararinha-azul retornaram ao seu lar em março deste ano: a caatinga baiana. As aves vieram da Alemanha, por meio da organização não-governamental alemã Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP) que, em parceria com o Governo Federal, trouxe as aves para o Brasil. Elas estão no Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha-Azul, unidade de conservação federal criada em 2018 especialmente para recebê-las, antes de serem soltas na natureza.

O ICMBio tem outra unidade que protege o bioma, como a Estação Ecológica (Esec) Raso da Catarina (BA), que abriga uma área significativamente conservada do bioma Caatinga. E é nesta região do Raso da Catarina e no Boqueirão da Onça que vive outra espécie endêmica da caatinga: a arara-azul-de-lear. A espécie é categorizada como Em Perigo de extinção e está contemplada no Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves da Caatinga, coordenado pelo Cemave. Um censo, realizado em 2018 pelo Cemave e instituições parceiras, apontou que nesta região vivem 1.700 arara-azul-lear.

BIOMA: A área da Caatinga é de 844.453 Km² (IBGE, 2004) e a totalidade de seus limites encontra-se dentro do território brasileiro, ou seja, seu patrimônio biológico não é encontrado em nenhuma outra região do mundo. Faz limite com outros três biomas do país, a Amazônia, a Mata Atlântica e o Cerrado. De todos os estados em que ocorre a Caatinga, o Ceará é o que possui maior parte do seu território formado por esse bioma.

A região se caracteriza por apresentar clima tropical semiárido, com chuvas inferiores a 750mm anuais na maior parte do domínio e temperatura média anual em torno de 26°C. 

“As Caatingas são espaços de resiliência, poucas regiões vivem stress hídricos tão permanentes, mas as formas de vida que ali residem se relacionam com a abundância e a escassez de uma forma equilibrada, harmônica e de fruição, vivendo cada dia cada estação como se fosse única”, argumenta o analista ambiental do Cemave, em Cabedelo, na Paraíba, Elivan Souza, que vive o dia a dia na caatinga. (FONTE: ICMIBio)

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SER (TÃO) CAATINGA: CORES E SABORES DA RESISTÊNCIA

A Caatinga, bioma do sertão do país, é o único bioma exclusivamente brasileiro, e se estende por todo interior do Nordeste oriental, ocupando 18,3% do território do nordeste brasileiro, também presente nas regiões do extremo Norte do estado de Minas Gerais e Sul do Maranhão e Piauí. Esse verdadeiro patrimônio biológico e cultural é o tema do Programa Comida de Verdade na próxima quarta-feira (28).

Como não pode ser encontrado em nenhum outro lugar do planeta, a Caatinga tem como identidade ser genuinamente brasileira e é marcada não só pelo clima semiárido, mas também pela cultura sertaneja e um espírito de trabalho e partilha que vão além dos biomas e da biodiversidade, subvertendo a imagem de que a caatinga é só seca ou deserto. “[A Caatinga] é rica culturalmente e tem um potencial turístico enorme, mas também que ainda é visto com muito preconceito diante do senso comum e da mídia”, afirma Aline, uma das apresentadoras do próximo Comida de Verdade.

Para ela, estar no Comida de Verdade é falar dos frutos da Caatinga e adentrar na cozinha do povo sertanejo e “puxar um tambor”. “Participar do programa Comida de Verdade é adentrar na cozinha do povo, do sujeito brasileiro de todos os cantos “desses Brasis”. E nesse programa em particular, especial da Caatinga, é adentrar na cozinha dos sertanejos que estão localizados nos territórios do bioma Caatinga, que se alimentam, se nutrem, mas também se espelham na resistência das plantas e dos animais para a sua existência nesse território”.

O Programa desta semana também traz o Plano Nacional “Plantar árvores, produzir alimento saudáveis” do MST e comenta como a campanha está inserida na realidade da Caatinga, com agroflorestas e quintais produtivos de árvores simbólicas como o Umbu, considerada árvore da vida que guarda água.

“A culinária popular, tradicional desses Brasis é muito diversa. E a Caatinga tem tudo a ver porque comida de verdade fala de gente simples, de comida feita de forma tradicional e simples, com os nutrientes que a gente tem no quintal, que a gente tem no lote, nas áreas de reserva, do Umbuzeiro”, lembra Aline.

O programa também está repleto de informação e cultura com dicas de saúde e alimentação, como as feiras que abastecem os municípios menores da Caatinga. A cultura do cangaço ocupa a parte do visual, a partir da estética do programa que traz o cordel, Aboio, Xilogravuras e Repente para alegrar o final da tarde de quarta.

“Comida de verdade também tem tudo a ver com a Caatinga porque estamos falando de comida resistente, de comida popular, de comida para nutrir o corpo, mas também nutrir a alma, nutrir a luta em defesa da Reforma Agrária Popular. E, em particular nesse período de pandemia, também nutrir e oxigenar a vontade de ter um Brasil justo e igualitário, com comida tanto no campo como também na cidade”, conclui Aline.

Serviço: Quer entender mais sobre a Caatinga e porque ela têm tudo a ver com o Programa Comida de Verdade?

Então não esquece: é quarta-feira (28/04), às 19h00, nas redes sociais do MST e outros parceiros.

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CARIRI-A NAÇÃO DAS UTOPIAS *TEXTO DO CINEASTA ROSEMBERG CARIRY

O texto do cineasta e pesquisador cultural, Rosemberg Cariry, intitulado “CARIRI – A Nação das Utopias”, traz um pouco da parte mitológica dos índios Kariri. Por meio de uma narrativa simples, Rosemberg apresenta uma fração de como era as crenças e os mitos dos nativos que viviam na Chapada do Araripe, antes do extermínio colonizador europeu. Veja a seguir um fragmento desse importante texto construído principalmente pelo relato de história oral da resistência dos índios Kariri.

A região do Cariri cearense é um oásis, o verde coração do semi-árido nordestino. Apesar de ser uma terra de farturas e de portentos, sua história revela a tragédia do processo civilizatório sertanejo no destino de um povo - os Cariri (Kariri ou Quiriri) - que se fundiu na carne e na alma dos seus inimigos: fazendeiros, criadores de gados, agricultores e vaqueiros oriundos de Sergipe, de Pernambuco e da Bahia. Ao Cariri cearense, centro geográfico com eqüidistância para as principais capitais do Nordeste, desde meados do século XVII até os dias de hoje, continuam a chegar multidões sertanejas, em um fluxo constante, atraídas pela fertilidade e pela sagração do território como espaço mítico.

As narrativas míticas indígenas, dispersas em livros, poemas e contos populares, encontram-se fragmentadas e mescladas com narrativas religiosas judaico-cristãs e com as afro-brasileiras. Os mistérios iniciáticos dos mitos originais, como a escultura de um símbolo que tomba, fragmentaram-se em mil pedaços, deixando que se perdessem as chaves dos seus selos. Revisitar essas narrativas e tentar organizá-las em um “corpus” (dar-lhes uma coerência) é tarefa das mais difíceis, só possível através da psicologia profunda e do estudo dos arquétipos.

A narrativa popular, pelo mistério da arte, mergulha nas sombras e revela os arquétipos. Vale a pena enfrentar os perigos de uma jornada através do caleidoscópio de fragmentos míticos e arquetípicos do inconsciente coletivo em busca do mito original. Afirma a tradição que o Cariri era o território mítico de Badzé – o deus do fumo e civilizador do mundo. No princípio era a Trindade: Badzé era o Grande- Pai, Poditã era o filho maior e Warakidzã (senhor do sonho), o filho menor. Os dois irmãos habitavam a constelação de Órion. Badzé enviou Poditã, o seu filho preferido, para a terra Cariri e esse ensinou aos índios a reconhecer os frutos, a caçar animais, a fazer farinha de mandioca, a preparar utensílios de uso cotidiano, a dançar, a cantar e a fazer os rituais de pajelanças. 

Os índios viviam felizes, mas tinham apenas uma Única-Mulher, a Deusa-Mãe, princípio primevo do cosmo de onde se originaram todas as coisas. Eles desejavam mais... desejavam possuir muitas mulheres que pudessem preparar os alimentos que colhiam e caçavam e que gostassem de se deitar com eles nas redes para afugentar o frio da noite. Para satisfazer os desejos dos Cariri, Poditã orientou-os para que eles, quando fossem catar piolhos na Única-Mulher, ferissem a sua cabeça com um espinho mágico e a matassem. 

Depois, eles deveriam cortar o corpo da Única-Mulher em tantos pedaços quanto fossem os homens e cada homem deveria envolver o seu pedaço da mulher com capuchos de algodão. Os índios fizeram tudo, conforme as orientações de Poditã, e depois foram para a caça. Quando regressaram, viram admirados que, na aldeia, havia muitas mulheres. Elas alimentavam o fogo e tinham preparado uma grande quantidade de bebidas e comidas. Saciadas a fome e a sede, os índios e as índias sussurucaram em suas redes. Tiveram muitos curumins (crianças) e ficaram felizes, pois a Única-Mulher tinha se transformado na Iara – a Mãe das Águas (o feminino cósmico, inumano), o que assegurava a fertilidade da terra, possibilitando grande abundância de caças e de frutas.

Por tudo isso, os índios viviam felizes e agradecidos, dançando e cantando em honra de Poditã. Com ciúmes do irmão, Warakidzã desceu à terra Cariri, transformou as crianças índias em porcos-espinhos (o embrutecimento do espírito, o futuro negado), fazendo com que elas subissem num gigantesco pé de árvore (a árvore do bem e do mal?). 

Não satisfeito, pediu às formigas azuis para que roessem o tronco da árvore, derrubando-a por terra e deixando as crianças-porco-espinho para sempre encantadas no céu. A terra Cariri ficou um eterno “hoje”, sem amanhã. Depois de muitas tentativas inúteis de por a enorme árvore em pé, impossibilitados de subirem até os céus, os índios disseram a Poditã que estavam muito tristes e que queriam de volta a alegria das suas crianças (o seu futuro). 

Poditã ensinou então aos pajés que, invocando a proteção de Badzé, fumassem seus cachimbos com ervas mágicas e tomassem o vinho da jurema preta para ter visões proféticas, entrando, assim, em contato com o mundo dos encantados. Contente com a visita dos espíritos dos pajés e com as ofertas de fumo, Badzé castigou Warakidzã, desencantou as crianças-porco-espinho em curumins e as devolveu ao Paraíso da terra Cariri que voltou também a ter um amanhã.

O LAGO ENCANTADO: Os índios Cariri diziam provir de um “lago encantado”, provavelmente do Tocantins ou do Amazonas (ref. Capistrano de Abreu). O factual é que, habitantes do litoral nordestino, os Cariri foram sendo, pouco a pouco, empurrados para os sertões pelos Tupi, seus inimigos, e, posteriormente, pelos invasores europeus. Reza a tradição que eram de uma bravura e ferocidade estupendas, e como símbolo e troféu dos seus feitos épicos se ornamentavam com dentes de tubarão. 

O mito das águas tinha uma importância fundamental no sistema de crenças dos Cariri. A Deusa-Mãe, o espírito cósmico fecundante (a Única-Mulher), adquiriu, na cosmogonia Cariri, a simbologia da água representada pela Mãe d’Água – serpente sagrada que dorme nas profundezas da terra e guarda os segredos da vida e da morte.

NOTÍCIAS DA MÃE D'ÁGUA: Até algumas décadas atrás, a Mãe d’Água ainda habitava as fontes do sopé da Chapada do Araripe. Dona Amélia da Luanda, uma cabocla de 92 anos de idade, que mora próximo à “Nascente Batateiras”, no Crato, conta que na década de 20, seus irmãos chegaram a ver a Mãe d’Água (a Única-Mulher – o feminino inumano) e, por pouco, não morreram. Eles foram hipnotizados e atraídos pela insuportável beleza da Mulher-Serpente que flutuava na superfície das águas. Sua cabeleira de milhões de fios luminosos e verdes se ramificavam pela terra, como raízes. 

Os gritos da mãe verdadeira (o feminino humano) que, pressentindo o perigo, buscava os filhos na floresta, salvou-os de última hora. Não há quem possa ver, face a face, a Deusa-Mãe sem se dissolver nas suas profundezas. Dona Amélia da Luanda não informa se, depois de tão extraordinária “visão”, seus irmãos ainda ficaram “normais”. Com certeza não, possivelmente ou enlouqueceram ou viraram “iluminados” e saíram, pelos sertões afora, a profetizar os segredos do fim do mundo. 

A construção da usina hidroelétrica na “Nascente da Batateiras”, em 1939, terminou afastando a Mãe d’Água para as profundezas da terra. Como resquício dessa presença mágica da Mãe d’Água na “Nascente da Batateiras”, Dona Amélia da Luanda ainda aponta outros acontecimentos prodigiosos: em algumas noites, quando a lua está cheia (força feminina da fertilidade), ouvem-se as flautas e os zabumbas dos “caboclinhos” tocando dentro da floresta do Araripe. Esses “caboclinhos” são os curumins desencantados, festejando o regresso ao Paraíso Cariri.

O CARIRI VAI VIRAR MAR: As tribos Cariri, alocados na Missão do Miranda, guardaram codificados, na sua sensibilidade, intuição e memória, a evocação da “lagoa encantada” – lugar mítico das suas origens. Para eles todo o vale do Cariri era um mar subterrâneo. Debaixo da terra dormia a Serpente d’Água, cujo imenso caudal era represado pela “Pedra da Batateiras”, ao sopé da chapada do Araripe. 

Precisamente, onde hoje está situada a Matriz do Crato, erigida sob a invocação de N.S. do Belo Amor, era a cama da baleia ( na simbologia cristã : o peixe que guia a arca nas águas do dilúvio) Os pajés Cariri profetizavam que a “Pedra da Batateiras” iria rolar, todo o vale do Cariri seria inundado e as águas, em fúria, devorariam os homens maus que tinham roubado a terra e escravizado os índios. Quando as águas baixassem, a terra voltaria a ser fértil e livre e os Cariri voltariam para repovoar o “Paraíso”.

Não se sabe em que momento surgiu a lenda da “Pedra da Batateiras”, mas é possível que tenha surgido com o aldeamento dos índios Cariri na Missão do Miranda (1740 – 1750). É certo que, por volta de 1779, na mesma época em que eram despojados mais uma vez das suas terras, por decisão de José César de Meneses, governador de Pernambuco, os caboclos-cariri atribuíam a profecia de que “o Cariri iria virar mar” ao frei Vital Frescarolo, missionário apostólico capuchinho. 

Em um momento de crise, de dissolução da cultura e do sentido de “comunidade”, os caboclos-cariri buscavam, assim, uma “autoridade” exterior para dar à lenda foros de verdade sagrada e manter a coesão do grupo. Irineu Pinheiro registra que, em 1803, o frei Vital aldeou, nos sertões de Pernambuco, tribos da grande Nação Cariri.

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LIVRO RESGATA HISTÓRIA DOS ÍNDIOS KARIRI E O PROCESSO IDENTITÁRIO DOS POVOS ORIGINAIS DA REGIÃO

O Professor do Departamento de Direito da Universidade Regional do Cariri (URCA), doutor José Patrício Pereira Melo, lançou este mês, um dos primeiros e mais completos trabalhos relacionados aos índios kariri, povos originários da região sul do Ceará, e reúne informações importantes, com dados e análises, voltados ao fortalecimento da identidade dos povos Cariri Poço Dantas, em Crato.

O trabalho de pesquisa, que resultou na tese de doutorado do Professor Patrício Melo, foi realizado entre os anos de 2014 e 2020, na área de Direito, pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em decorrência de projeto realizado com apoio da Fundação Cearense de Apoio Pesquisa (FUNCAP) e Governo do Estado do Ceará.

O trabalho envolve resultados de uma pesquisa teórica e empírica, tendo como referência o Direito Socioambiental, além das áreas relacionadas ao Direito Constitucional, Direito Ambiental e os Direitos Sociais, positivados na Constituição. 

Segundo o autor, o trabalho vai além de um estudo apenas jurídico, e reúne um amplo relato historiográfico, além de descritivo do Cariri. A memória é reavivada dentro de um contexto de vivência dos ancestrais da região e dos que resistem. Isso inclui uma ampla explanação sobre o Geoparque Araripe Mundial da Unesco, além dos Kariri do passado e daqueles que resistem no território e buscam o fortalecimento da sua identidade.

Com uma ampla pesquisa, o Professor Patrício Melo afirma que os autores que referenciam o trabalho identificam no processo histórico, social e jurídico dos grupos étnicos submetidos à colonização, um dos maiores etnocídios da história, protagonizado pelos espanhóis e portugueses no século XVI. O que permitiu uma análise mais crítica e dialética, além de evidenciar a relação entre as diversas culturas e natureza.

A partir dos resultados das análises, percebeu-se que as sociedades originais sofreram grandes ataques, passando pela destruição da organização social, além do modo de produção coletiva, com consequências na convivência com a natureza, a cultura e a religiosidade.

O processo que se deu no Cariri ocorreu no final do século XVIII, quando os Cariri foram aldeados e em seguida expulsos da Missão do Miranda. A identidade dos índios Cariri do Sítio Poço Dantas, passa a ser desnudada, com isso, em sua história transcrita sob o enfoque do direito positivo.

O autor trabalha com uma análise ampla, abordando o modelo de colonização e eurocentrismo, o que faz com que os latino-americanos tenham o direito de agir para superar a cultura eurocêntrica, diretamente associada ao processo de desenvolvimento moderno, cujo progresso está submetido, exclusivamente, ao modo de produção capitalista.

Algumas questões passam a ser avaliadas, a partir de contextos diferenciados e levam a alguns pontos, como o da identidade Cariri, e o processo de etnogênese e da territorialização a que foram submetidos. Além disso, a invocação da sua memória coletiva à ancestralidade Kariri e a autoafirmação da identidade como característica predominante no processo de identificação. 

Outros pontos estão relacionados à compreensão e consciência social, além do pertencimento étnico do denominado índio Cariri. Isso tem a ver com a comprovação dos traços culturais ainda presentes nos Cariri, que reproduzem a cultura dos povos.

A pesquisa evidencia a grande contribuição que poderá ser dada a partir de todo o processo de identificação. Entre esses direitos atribuídos, em face do reconhecimento pelo Estado, ainda não iniciado, mas necessários para compor o devido processo legal junto à Fundação Nacional do Índio (FUNAI)/Ministério da Justiça.

Outros aspectos importantes dentro desse processo, está a terra indígena do aldeamento da Missão do Miranda, cuja doação aos índios Cariú e etnias agregadas, todas da nação Cariri, foi-lhes retirada em 1780 pelo Estado. O autor fortalece a discussão voltada ao direito e acesso às políticas públicas indigenistas, além do direito à autodeterminação.

Segundo o professor Patrício Melo, o livro envolve uma experiência revolucionária de autodeterminação dos Purépecha de Cherán no México, o que representa uma imersão na história e cultura mexicana, além dos ensinamentos para os povos indígenas da América Latina.

O debate é amplo em torno do Direito, envolvendo a proteção jurídica dos povos indígenas. As informações levantadas envolvem os estudos voltados à área do sítio Poço Dantas. Um dos pontos que chama a atenção no trabalho é a quantidade de índios autodeclarados na região, a partir do censo de 2010, com dados obtidos pelo Ipece. O que já demonstra uma diferença em relação ao Estado do Ceará. São 760 pessoas autodeclaradas índios na Região Metropolitana do Cariri.

É importante destacar que o autor faz uma diferenciação entre a descrição dos kariri do Brasil, e os Cariri do Cariri, para a descrição dos remanescentes. A partir do século XVIII, os índios chegaram a ser expulsos da missão do Miranda, em Crato. A resistência no século XXI à identidade Kariri passa a ser enfocada.

Quem são os índios Cariri: Os índios Cariri do Cariri descendem de um processo de uma mistura étnica, que teve a sua ligação mais recente nos séculos XVIII e XIX, desde os aldeamentos missionários que foram submetidos. 

Esses mesmos índios já eram resultantes de uma mistura de várias etnias que foram aldeados na missão dos Cariris Novo em Missão Nova, que é a atual Missão Velha. Posteriormente, Missão do Miranda, atual cidade do Crato. Os índios do Poço Dantas são descendentes do processo de aldeamento registrado no Cariri, ocorrido de forma semelhante em outras regiões do Nordeste. (Fonte: Site Urca)

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LICURI PRODUZIDO NA BAHIA É DESTAQUE NO IX WORKSHOP POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO DA CAATINGA

O evento, que segue até esta quarta-feira (28), tem como objetivo trazer o conhecimento e o uso de plantas medicinais do bioma Caatinga, em especial, o licuri, e contemplar a diversidade cultural, por meio do conhecimento tradicional, incentivar o saber científico e as possibilidades de práticas integrativas ao público geral.

A iniciativa é do NBioCaat e conta com o apoio do Instituto Nacional do Semiárido (INSA), da Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (Coopes), com sede em Capim Grosso/BA, da Social Economia Verde – Ecolume, do Comitê Estadual da Reserva das Biosfera de Pernambuco e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), da Universidade Federal do Rio de Grande do Sul (UFRGS), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

De acordo com José Tosato, coordenador de Pesquisa Inovação e Extensão Tecnológica (Cepex), vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), é imensa a tarefa de popularizar as ciências, os conhecimentos e as sabedorias das populações tradicionais, que, quando se juntam com o ensino, a pesquisa e a extensão formais, resultam em grandes avanços para a sociedade.

"Tecnologia e inovação precisam beneficiar quem mais precisa e ser úteis para a distribuição de renda, para tornar as pessoas mais felizes, com qualidade de vida. Quando pesquisadores e pesquisadoras trabalham junto com as comunidades e devolvem o conhecimento produzido para beneficiá-las diretamente, estamos cumprindo os objetivos mais nobre desse processo", ressaltou Tosato.

A coordenadora do NBioCaat, Marcia Vanuza da Silva, destacou que a pesquisa tem como protagonistas as comunidades tradicionais e suas organizações que, aliadas ao Núcleo, mostram todo esse potencial da Caatinga: "A gente faz esse trabalho para que retorne a essa população. Nesta IX edição, a gente traz, para o conhecimento de todos, esse, que a gente acha que é o ouro ainda (des)conhecido da Caatinga, o licuri. Esperamos que todos conheçam toda a potencialidade dessa planta endêmica da Caatinga, tão resiliente". Ela conta que além do licuri, pelo NBioCaat já foram catalogadas mais de 80 plantas inéditas, exclusivamente do Bioma Caatinga, com potencial alimentar, fitoterápico, ou para cosméticos.

 Francelma Silva, presidente da Coopes, reforçou que o workshop permite a possibilidade de abrir ainda mais as mentes sobre as potencialidades desse bioma: "Que a gente possa valorizar cada vez mais a nossa Caatinga e a nossa cultura".

Durante o evento, os/as participantes têm a possibilidade de conhecer o resultado de pesquisas já publicadas, que mostram as propriedades do licuri para diversas finalidades, que já eram conhecidas, em geral, por comunidades tradicionais, mas que passaram a ser comprovadas, cientificamente, após longo processo de escuta dessas comunidades e de estudos e testes acadêmicos.

PROGRAMAÇÃO: O evento conta com a apresentação da Coopes: Colhendo o Ouro (des)conhecido da Caatinga, das ações públicas destinadas à bioeconomia, do sistema produtivo do licuri, com a inovação sustentável para a bioeconomia do Nordeste e da segurança de usar o óleo de licuri. Durante o evento, o público pôde conferir também uma palestra sobre Soberania Alimentar na Caatinga e sobre Viveiros Educativos e sua importância no combate às mudanças climáticas na Caatinga, entre outros temas.

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MANUELA D'ÁVILA PARTICIPA DA QUINTA SEMANA DE JORNALISMO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI

O curso de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri (UFCA) promove a Quinta Semana de Jornalismo. O lançamento será no dia 29 de abril às 18h30, com aula virtual da jornalista e ex-candidata à vice-presidente da República, Manuela D’Ávila, com transmissão ao vivo pela plataforma Google Meet. O tema será Fake News.

Durante o evento, Manuela d’Ávila vai contar como lidou com correntes de produção e distribuição de notícias falsas a seu respeito. A experiência acabou se tornando tema de seu último livro “E se fosse você? Sobrevivendo às redes de ódio e fake news”, lançado em 2020. Após a apresentação da palestra sobre Fake News, a jornalista concederá uma entrevista coletiva para alunos do curso de Jornalismo da UFCA, que poderá ser acompanhada por todos os participantes da aula aberta.

As inscrições são gratuitas e devem ser realizadas até as 18h do dia 28 de abril de 2021. Para se inscrever, preencha o formulário on-line (Link para uma nova página). No dia da aula, o link será disponibilizado para os inscritos. O evento contará com certificação de 4 horas.

Todos os eventos organizados pelo curso de Jornalismo da UFCA são gratuitos e nenhum dos nossos convidados cobra cachê. Manuela D’Ávila participará do lançamento da Quinta Semana de Jornalismo do Cariri de forma voluntária.

Sobre Manuela d’Ávila: Mestre em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Manuela Pinto Vieira d’Ávila possui graduação em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Além de jornalista e escritora (possui três livros publicados), após alguns mandatos no Legislativo, como vereadora de Porto Alegre, deputada federal e deputada estadual no Rio Grande do Sul, foi pré-candidata à presidência da República pelo PCdoB e candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad nas eleições de 2018. Sua última disputa eleitoral foi em 2020 para a Prefeitura de Porto Alegre.

A penalização do uso de aplicativos de mensagem para distribuição de desinformação, boatos e mentiras como se fossem informações reais com o intuito de prejudicar pessoas ou grupos está no centro do debate envolvendo a criação da Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, em tramitação no Congresso Nacional. As Fake News serão um dos assuntos discutidos na Quinta Semana do Jornalismo, que será realizada de 27 de setembro a 1º de outubro de 2021, com o tema: “Jornalismo em confronto: atuação profissional na pandemia de Covid-19 no Brasil”. A programação do evento será divulgada na próxima quinta-feira logo após a apresentação de Manuela d’Ávila.

Mais informações ou dúvidas

E-mail: semanadojornalismoufca@gmail.com

Instagram: @jornalismo_ufca

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ARARINHA TITA VAI ALÇAR NOVOS VOOS EM 2021 A PARTIR DO DIA NACIONAL DA CAATINGA

A Tita, ararinha azul mais simpática do Vale do São Francisco, vai alçar novos voos em 2021. O anúncio das próximas ações será feito on-line, mostrando que a personagem também está conectada e atenta aos cuidados impostos pela pandemia do coronavírus. Uma live está marcada para às 19h do dia 28 de abril, Dia Nacional da Caatinga, habitat das irmãs da Tita, as ararinhas azuis. 

Esta ação dá sequência ao projeto "Tita e os Mistérios do Velho Chico", que conta com apoio do Ministério do Turismo e da Secretaria Especial de Cultura do Governo Federal, através da lei de incentivo com patrocínio da Bayer, multinacional de saúde e nutrição que completa 125 anos de atuação no Brasil.

"Estamos muito felizes com o sucesso deste projeto e com o apoio da Bayer, a partir de uma parceria que construímos ao longo dos meses. A iniciativa começou com a produção de um clipe animado, depois foi ampliada com a distribuição de livros infantis para crianças e adolescentes de escolas públicas da região. Agora, buscamos atrair a atenção do público infantil e levar a mensagem da Tita para a sociedade de maneira leve e lúdica", conta o ambientalista Victor Flores, criador da Tita.

Retada que é, Tita não costuma guardar segredo e por isso a primeira novidade que será detalhada durante a live é a produção de um curta-metragem tendo a ararinha azul como protagonista. O filme está sendo produzido pela Viu Cine com a assinatura do diretor Eduardo Padrão, que também dirige o projeto infantil Mundo Bita.

Ainda sobre a programação, Tita e seu criador trazem as últimas novidades do Plano de Ação Nacional da Ararinha Azul e do Refúgio da Ararinha em Curaçá, no sertão baiano, uma grande força-tarefa a fim de oferecer condições ideais para o retorno da Cyanopsitta Spixii, nome científico da Ararinha Azul, ave exclusiva do bioma Caatinga. Representantes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Organização não-governamental alemã Association for Conservation of Threatened Parrots e.V. (ACTP) já confirmaram presença na Live. 

Por fim, vão ser anunciadas novidades sobre os produtos literários da Tita. Além do já anunciado livro infantil, ainda não lançado oficialmente por causa da pandemia do coronavírus, outras três publicações devem chegar ao mercado este ano. Todas as novidades vão ser detalhadas durante a live que será transmitida pelo Canal Victor Flores no YouTube. 

Reponsabilidade social: O projeto reforça o comprometimento da Bayer com os princípios de desenvolvimento sustentável e com suas responsabilidades sociais e éticas como empresa cidadã.

"A empresa investe em projetos sociais, especialmente nas comunidades em que está inserida, voltados à educação, cultura e sustentabilidade, aliando o conhecimento à diversão, direitos básicos de toda criança e todo adolescente. Desenvolvemos um trabalho focado em gerar valor e contribuir para o desenvolvimento local", conclui Edson Kemper, líder da área de Crop Science na unidade de Petrolina.

Live com Victor Flores – Dia Nacional da Caatinga | Participação especial da Tita

Data: 28 de Abril

Horário: 19h

Canal no Youtube: Victor Flores


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NO MÊS DO LIVRO, AGRICULTOR E ESCRITOR BERTOLINO ALVES, COLECIONA OBRAS SOBRE SUA COMUNIDADE

Há quarenta quilômetros de Juazeiro, mas precisamente no distrito de Conchas/ Maniçoba, vive o agricultor e escritor Bertolino Alves Nascimento, autor de quatro obras que retratam o cotidiano de sua comunidade.

Seu Bertolino, que por força maior, não pôde finalizar seus estudos se auto descobriu  cedo no exercício da  leitura e escrita, mas a iniciativa de escrever sobre a história, cultura, tradições e a economia do local, partiu de um convite feito por um grupo de irmãs da igreja católica para participar de um evento educativo em que um dos convidados seria o intelectual Paulo Freire.

"Neste dia eu estava grato pelo convite e muito empolgado porque veria uma pessoa que na época eu já o considerava o gênio em educação. Fiquei atento ao que ele falava, e lembro-me como hoje da fala que me marcou profundamente, ele dizia que até hoje somente a classe dominante escrevia, e de forma distorcida, nossa história. Fiquei refletindo sobre essa fala e me perguntei se realmente seria possível um oprimido contar  através da escrita a história de sua gente".  Exclamou o agricultor.

Sempre ligado aos acontecimentos da comunidade, o agricultor sentiu que estava na hora de registrar a história, cultura, religião e a economia da comunidade.  Com a ajuda de moradores mais antigos, ele coletou informações e escreveu sua primeira obra intitulada 'Nasce uma comunidade'. No livro, o agricultor descreve sobre o atraso do local e as dificuldades de sua gente sofrida.

Em sua paixão pela escrita, o agricultor se engajou no nascimento de mais um livro, este por nome 'Maniçoba, sua gente e sua cultura'.  Na obra, o escritor relata os 25 anos da chegada do progresso por meio do Perímetro Irrigado.

Já ciente de seu papel social, e do impacto que a leitura pode fazer na vida de um indivíduo, seu Bertolino produziu mais dois livros, o 'Reminiscências' e o 'São Gonçalo do Mulungu'.  As obras abordam o verdadeiro cenário de fé, a força, determinação e solidariedade do povo local.

Assim como todo amante da escrita e leitura e sempre preocupado com o bem estar coletivo, o agricultor tem suas queixas dos órgãos públicos em conhecer trabalhos capazes de desenvolver intelectualmente e culturalmente uma sociedade.

"O poder público fecha os olhos para desenvolver ações que tragam benefícios para comunidade, creio que um dia esse eco vai ecoar mais forte e, por fim, chamar a atenção das pessoas capazes de transformar nosso cenário".  Pontuou o escritor.  

Hoje, com 74 anos, e sempre na esperança de dias melhores, seu Bertolino segue pensando como Paulo Freire, acreditando que a educação muda às pessoas, e que as pessoas podem mudar o mundo por meio dela.

Por: Maiara Santos/ Jornalista

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EDIMILSON EUFRÁSIO: "UM NEORROMÂNTICO PÓS-MODERNO

O poeta e escritor Edimilson Eufrásio, paulista de Americana/SP, segue lançando e divulgando Brasil afora sua mais recente obra “Para toda a vida!” 

“Para toda a vida”, publicado em São Paulo, em 2018, traz reflexões que vão ao encontro do pensamento cristão, fé que o autor já mostrou em Lágrimas de Poeta. Ele acredita em tudo que os teólogos do medievo escreveram sobre a tradição cristã, que Deus existe, que Deus é amor, que só há salvação por intermédio dos ensinamentos de Jesus.

O autor acredita que o importante é tudo aquilo que se possa levar consigo a uma possível continuação da vida após a morte: “É uma bagagem de amor, de fé, de conhecimento, de solidariedade, de generosidade, de ensinamentos, isso tudo que você vai levar consigo e ninguém poderá tirar de você.” (EUFRÁSIO, 2018, p. 23).

Eduardo Jablonski, Mestre em Literatura Brasileira (UFRGS), define o poeta e escritor Edimilson Eufrásio como um neorromântico Pós-moderno e exemplificou: “usar a expressão ‘lágrimas’ é coisa de poeta romântico ou, no caso, neorromântico, porque estamos no começo do século XXI. O lado positivo é que os autores daquela escola cultivavam a liberdade criadora, e por essa razão Hegel (2000) os definiu como o ápice da cultura”.

Para Jablonski, a possível comprovação de que Edimilson Eufrásio seria um neorromântico é que defende a inspiração, o que era uma das características desses autores. “Há escritores que acreditam na inspiração como uma espécie de despejamento da alma.  Existem formas diferentes de se chamar ao mesmo objetivo, que é proporcionar ao leitor que atinja o sublime ao ler um texto”. 

O crítico gaúcho disse mais: “Edimilson Eufrásio se desnuda através da palavra. Seus pensamentos e crenças aparecem numa reflexão, num verso, numa imagem e o leitor vai se dando conta de que ser humano está ali, representado em texto”. Sua poesia assemelha-se a um bate-papo com o leitor, mas sempre em outro patamar, porque ele não apenas conversa, faz mais do que isso: filosofa e dá lições de vida”, analisou Jablonski. 

A literatura de Edimilson Eufrásio é puro sentimento. Quando percebe que as sensações transbordam de dentro de si, ele necessita colocá-las no papel ou num arquivo de computador. Provavelmente seja dessa forma o seu processo criativo. Edimilson Eufrásio é um poeta ou cronista, dependendo de como sua produção está disposta, porém, de tanto escrever acerca do amor e suas mais variadas nuances, é como se perambulasse pelo ensaios, porém um ensaio mais livre, como fazia Montaigne (1996). 

Mas tudo se baseia na inspiração e no sentimento. Trata-se de um caminho pedregoso e difícil de trilhar. Rilke (Rainer Maria) já ensinou que não deveríamos percorrer os grandes temas, porque todos os maiores já haviam escrito a respeito. No entanto, o escritor de Americana, cidade do interior de São Paulo, não se importa e vai adiante, construindo todas as suas reflexões em nome do amor.

A característica principal da poética de Edimilson Eufrásio, como ele próprio revelou num texto metalinguístico, é cultivar a inspiração e escrever em forma de desabafo, talvez sem revisar depois, como vários poetas fazem. Mas, às vezes, alguns versos se aproximam dos autores que têm por hábito reescrever os seus poemas. 

Em Para toda a vida, vemos um autor compartilhando sua busca sempre constante com o lado humano de cada um de nós a partir dele mesmo, suas reflexões, visão de mundo, dado que somos eternos aprendizes sendo preciso tempo para compreender, que “só o amor dá alforria, enche o mundo de alegria, faz a vida ter mais graça.” (A. CARVALHO, Canto d’Algibeira).  É comum encontrarmos no trabalho de Edimilson mensagens de viva esperança, solidariedade, fraternidade, tão necessárias para a atualidade, ferramentas importantes à nossa construção humana. A poesia e a boa literatura são a mais pura arte e como tal nos eleva, vivifica. 

Edimilson Eufrásio, poeta e escritor, tem 51 anos, natural de Americana/SP.  Membro Titular da Academia Jahuense de Letras – AJL/SP; Membro Titular da Academia de Letras e Artes de Praia Grande -ALAPG/SP; Membro Representante no Estado de São Paulo do Clube Literário de Gravataí/RS – CLG.

É autor das obras "Lágrimas de Poeta", "Regressando Além das Letras", "Uma vez Poeta, eternamente Poeta", " Para toda a vida !" e dezenas de antologias no Brasil e Portugal.

Mais de Edimilson Eufrásio:

 http://edimilsoneufrasio.com.br/

 https://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=10090

Por Aldy Carvalho, poeta e cantador, a partir de release e textos do autor

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