MARÇO DE 2018: 100 ANOS DO PAI DO CORDEL, LEANDRO GOMES DE BARROS

No dia 4 de março de 2018, o calendário nos contará dos 100 anos de morte do Pai do Cordel Brasileiro, considerado o "primeiro sem segundo". Seu nome é Leandro Gomes de Barros, paraibano, nascido no sertão, na cidade de Pombal, no sítio Melancia. Sua passagem pela Terra se dará, como ícone da poesia brasileira, na cidade do Recife e seu embarque para o rio da eternidade acontecerá nesse mesmo torrão.

Não nos resta dúvidas desse feito leandrino. Porque o cordel não é apenas uma forma fixa da poesia universal, além da única forma poética genuinamente brasileira. O cordel é também um sistema literário, na concepção de Antonio Candido, nosso crítico e teórico da literatura mais respeitado, aquele que nos apresenta a literatura como um direito essencial da humanidade.

É esse sistema que nos mostrará a verdadeira face do criador do cordel brasileiro: a presença de um autor, de um editor, de um vendedor e de um leitor, visto que Leandro foi insistente nessas práticas, lendo e corrigindo seus próprios folhetos e opinando sobre outros. A codificação cordelística, a sistematização de sua produção, a observação na confecção gráfica dos folhetos, a estratégia de vendas e a atuação social como principal poeta de bancada de sua geração, transformaram-no, nos tempos em que não se chamava o cordel de cordel, em personificação da própria poesia do povo.

Leandro dialoga em sua importância com os fundadores da poesia nacional: conversa com os cronistas, quando se lança sobre as delícias e mazelas da terra; afina-se com Gregório de Matos em sua crítica de costumes e pena ferina na descrição da cidade do Recife; conluia-se com Gonçalves Dias, ao buscar liricamente a descrição telúrica de sua gente; abraça-se a Castro Alves na forma e na técnica; envereda por elementos dos estilos de época de nossa literatura.

Leandro desenvolveu o cordel brasileiro quando as correntes literárias nacionais eram regidas pelas diretrizes do Realismo, do Naturalismo e do Parnasianismo. E deles herdará vários elementos constitutivos. Do Realismo abraçará os temas e a reflexão sobre as turbulências sociais, as denúncias, os costumes, a notícia, as paródias, todos os embates entre as classes. Do Naturalismo trará o debate das ideias, a discussão entre personagens que simbolizam o aparecimento das novas tendências nacionais (temas religiosos, discussões esotéricas, observação cotidiana pautada pelo debate e pelas pelejas, sinais do fim do mundo, profecias).

O cordel leandrino, como a literatura brasileira da época, ambientará suas histórias sobre o tema regional, sobre a terra, sobre o sertão e seus viventes, mas também sobre a transição de uma vida rural para um tempo de fundação da urbanidade. Nota-se, nele, o aparecimento dos romances, mas também o vasto material de crítica aos costumes. 

O Parnasianismo ofertará ao cordel de Leandro sua forma fixa, a observação do verso de métrica perfeita, mas o poeta, o gênio, optará pelo verso de sete sílabas, o verso do povo, o verso da respiração.

O chamamento é para que não se deixe apagar, nem sofregar, a chama cordelística. Para que a unidade seja regida para o fortalecimento da causa, mesmo com as diferenças latentes no corpo. As vaidades serão virtudes quando servirem para melhorar as obras e serão venenosas quando ferramentas para a própria destruição do cordel. O debate é e será sempre uma pauta. O deboche será sempre uma fenda. Como se disse há anos: poetas cordelísticos de todo o Brasil a hora é agora. Uni-vos!
Nenhum comentário

← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário