CAPTAÇÃO DE ÁGUA DO RIO SÃO FRANCISCO TODA QUARTA-FEIRA SERÁ PRORROGADO ATÉ ABRIL DE 2018

O superintendente de Recursos Hídricos da ANA, Joaquim Gondim, anunciou a prorrogação da resolução que instituiu o Dia do Rio, através do qual suspende a captação de água no Velho Chico nas quartas-feiras. “A resolução será publicada ainda essa semana no Diário Oficial da União e deverá prorrogar o Dia do Rio até o final de abril do próximo ano”, anunciou Gondim. “Além disso, nos próximos dias também iremos publicar no Diário a resolução que estabelece o novo modelo de gestão das águas do São Francisco”, completou Gondim.

A prorrogação tem o objetivo de preservar os estoques de água nos reservatórios da Bacia do Rio São Francisco, a captação em corpos d’água superficiais perenes de domínio da União no manancial estão suspensas todas as quartas-feiras. A resolução é da Agência Nacional de Águas, em articulação com os estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, o Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco e usuários.

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POLIBIO ALVES, PARAIBANO DE CUBA, por Aderaldo Luciano

Morando na mesma cidade e convivendo com amigos em comum, nunca pude abraçar Políbio Alves, o poeta que aguçou meus sentidos a partir de 1982. Voltava de Sergipe para visitar minha mãe e ao mesmo tempo fugir ao alistamento militar obrigatório no Tiro de Guerra. Era a cidade de Propriá, lavada pelo Rio São Francisco, visitada pelo calor, em cujas mesas o peixe surubim, malhado como uma rês, bigodudo como um vilão do cinema, fazia vez. Nasci e sustentei-me na vida em Areia, espinhaço da Borborema, brejo frio e chuvoso, ventanias e canaviais.

O mês de fevereiro acelerava-se e havia a expectativa do famoso Festival de Artes. Desde os 10 anos que minhas visitas às bibliotecas, meu desempenho no Colégio Estadual, minha irreverência, um violão desesperado e um certo ar de contraventor criaram uma certa distância entre nós, eu e a mesmice da terra. Até que veio o Festival e ganhei de algum figurão a complacência de alguns livros, entre eles a antologia Carro de Boi, coordenada por Juca Pontes. Já pude testemunhar o valor dessa antologia para nós, os meninos desnorteados fingindo sermos poetas numa terra árida de poesia e diálogo.

Nós achávamos que éramos a nova safra, mas quão distante estávamos disso. Entre as páginas 33 e 48 do Carro de Boi situava-se a Passagem Branca, a seleta dedicada a Políbio pelo coordenador. Imprensava-se entre Jomar Souto e o próprio Juca. Só esse título já destruía toda minha pretensão, "Passagem Branca". Quantos minutos passei pensando no porquê desse título para uma seleção de poemas. Ainda agora, quando fui reler os poemas, fiquei a imaginar meu próprio imaginar naqueles dias. O "Santo Ofício" de Políbio é mesmo o remexer nas feridas do poeta. Naquele dia, fui lendo até o Triedro. Daí não passei. Naquele dia:

Na sexta-feira santa,
o poeta deliberou
o inventário do tempo.

Na sexta-feira-santa,
o poeta de Cruz das Armas
reuniu os companheiros
de farra, armou o bote.

Na sexta-feira santa
o poeta fechou os olhos,
acionou do gatilho
sua última palavra.

Às vezes fico rindo dos teóricos que se metem a decifrar o poema e a determinar o que o poeta quis dizer ou não. Lançam-se às teorias, às facções, às mais interessantes e improváveis possibilidades. No meu tempo de graduação, segurando na mão dos meus orientadores, eu observaria a repetição "Na sexta-feira santa/ o poeta..."; coletaria os verbos "deliberou", "reuniu", "armou", "fechou", "acionou". Mas, senhores, sempre fui um péssimo aluno, incapaz de interpretar o tarô poético, vivo pela emoção, pelo arrepio, pelo grito irmão, pelo despenhadeiro da dúvida, pelo universo da canção. De que me importa saber o que o poeta quis dizer. O que importa é que o poeta disse, com o dedo em riste, a cara ao tapa, a voz ao vento e a bala (palavra?) ao ouvido.

Não vem ao caso. O caso, estou contando. Naquele dia parei no Triedro, mas antes demorei-me em Teia. Porque alguns termos e temas e palavras (sememas? semantemas? sei lá o que) dialogavam com outros de Triedro. Fui alertado para a possibilidade de a obra de qualquer artista dialogar com ela mesma numa coisa chamada auto-referenciação. E a Teia reforçava o Triedro, numa encruzilhada pesada que pensei tratar-se da tentativa de suicídio. Isso naquele tempo de 34 anos atrás, em minha baixa puberdade. Eu era um detetive cuja única virtude era saber escrever o nome. Mas era assim que estava escrito:

É um corre-corre,
risco&confisco,
jogo-de-vida, um porre.

É um tiro certeiro,
uma rixa, uma teima,
lesão clara, não queima.

É uma queda, um baque,
uma fera, um ataque,
ultra-refrega, uma guerra.

Sem saber, eu era um protótipo de Mario Conde, pequeno e ínfimo, pois quando viro para a página 42 tem lá um poema chamado Repasse. Se a morte era preparada em Teia e o saque da arma em Triedro, agora o poeta dizia que eu o julgava como sendo um matador de aluguel de si mesmo. Todavia, meus amigos, tudo isso é apenas uma homenagem e uma alegria, um agradecimento e um lampejo, um muito obrigado ao poeta que encantou-me um dia e que, nesse tempo de tantas desilusões, ofertou para nós La Habana Vieja: Olhos de Ver. E Políbio Alves nem sabe que agora o leio com outros olhos e outros saberes, mas com a mesma emoção.
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VALDI GERALDO, O NEGUINHO DO FORRÓ, EXU, ALEGRIA E BELEZA DO SERTÃO

Sempre é bom lembrar: o grande celeiro de Luiz Gonzaga foi, até o final da carreira, o Nordeste. A cada viagem que fazia pela região descobria um compositor. Em Caruaru, foram Onildo Almeida e Janduhy Finizola; em Sumé, Paraíba, José Marcolino; em Pesqueira, Nelson Valença. Campina Grande, Rosil Cavalcanti.

E em Exu, na sua terra, valdi Geraldo, o Neguinho do Forró é músico, compositor de quem Luiz Gonzaga gravou a música "Nessa Estrada da Vida" em 1984 no disco, Long Play, Danado de Bom. Neguinho do Forró é um desses talentosos compositores que contribuiram com o reinado de Luiz Gonzaga. 

Valdi é compositor do sucesso da música Nessa Estrada Vida, em parceria com Aparecido José. Ao ouvir a música Luiz Gonzaga teve paixão de primeira, tarimbado, o Lua, sabia quando estava diante de uma riqueza musical, viu que melodia, ritmo e harmonia são frutos do seu Reinado. Gravou. Hoje é uma das músicas mais interpretadas no cancioneiro brasileiro. Recebeu regravações de Dominguinhos, Jorge de Altinho, Waldonis, fiéis discípulos do Rei do Baião.

Com a morte de Luiz Gonzaga, em agosto de 1989, foi também em Valdi Geraldo que o Gonzaguinha, o poeta da resistência, que por centenas de vezes caminhou nas estradas, visitando lugares e construindo sonhos no pé da serra do Araripe pensando em concretizar o projeto do Parque Asa Branca. 

Desde 1999, quando conheci, Valdi Geraldo em Exu, tenho o maior respeito e admiração por este artista. Homem de Bem. Alma de cantador. Ele, não vive comercialmente da música, é funcionário do Ministério da Saúde. Em 2012 lançou um CD, Alegria e Beleza do Sertão, uma das composições mais belas da música brasileira, que se junta a larva criativa do poeta, diga-se, um dos mais humildes, ou seja, sabe tratar o povo mais simples, assim como tanto pedia Luiz Gonzaga.

Valdi Geraldo está marcado para a eternidade e o Brasil poderia ainda em Vida ser mais grato pela trajetória desse cantor e compositor. Caruaru, Pernambuco, através do pesquisador Luiz Ferreira souberam valorizar o artista e ele, em 2014, recebeu o título troféu Orgulho de Caruaru.

Luiz Gonzaga é citado por todos os compositores como um mestre na arte de sanfonizar as canções. Sanfonizar é um termo criado pelo próprio Luiz Gonzaga. O pesquisador José Teles, afirma que a maioria dos seus parceiros de Luiz Gonzaga não escondem que cederam parceria para o Rei do Baião, porém, geralmente, suavizam a revelação com um argumento: ninguém interpretaria a composição igual a ele. Ou ressaltam o talento de Gonzagão para “sanfonizar” as composições – ou seja, como usava seus dons de arranjador para enriquecê-las.

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LUAS DE LUIZ GONZAGA, O REI TAMBÉM GRAVOU VALSAS, CHOROS, FREVO E MARACATUS

Nem só de animados baiões, xotes e xaxados viveu o reinado de Luiz Gonzaga. Quem diria, viveu Gonzagão de valsas, choros e maracatus. Pois é, Mestre Lua compôs em outros ritmos e gravou esse material entre os anos 1940 e 1950. Boa parte desse repertório está no CD Luas do Gonzaga, produzido pelo pesquisador, compositor, cantor e violonista Gereba Barreto, que descobriu essas canções em dezembro de 1985 quando comemorava os 73 anos de Luiz Gonzaga com seus amigos Gilberto Gil, Gonzaguinha, Dominguinhos, Marinês e outros, em Exu.

As músicas eram instrumentais mas ganharam letras de vários compositores com participação de cantores de renome como Gilberto Gil, Lirinha, Lenine e Margareth Menezes, Dominguinhos, Zeca Baleiro, Jair Rodrigues, Elba Ramalho, Jorge Vercillo, Flavio Venturini, Maciel Melo, Santanna e Adelmario Coelho, Ná Ozzetti, Jussara Silveira, Raimundo Fagner, além da Sinfonieta dos Devotos de Nossa Sra. Dos Prazeres e outros grandes músicos de vários Estados do país.

O projeto era também um sonho de Gonzagão, que certa vez confessou a Gereba Barreto, sentir-se desconfortável com o rótulo de ser apenas forrozeiro. A ligação entre Gereba Barreto e Mestre Lua é antiga, como descreve o produtor: “Primeiro fui fã, depois para minha completa realização, tornei-me amigo e, melhor, tenho orgulho de ter possibilitado grandes realizações em sua vida como, por exemplo, tocar pela primeira vez em 1974, para uma platéia nobre de mais de cinco mil pessoas na Concha Acústica do Teatro Castro Alves (Salvador). É bom lembrar que antes disso ele só se apresentava pela periferia de Salvador. Também proporcionei a ele seu maior público com nosso trio Carnaforró, em 1986, com 1 milhão de pessoas nos três dias do carnaval baiano inaugurando o Circuito Barra-Ondina”

Não foi um projeto fácil de ser concluído. Consumiu em torno de cinco anos entre encontrar as editoras das obras e achar o letrista adequado a cada música, para que o casamento desse certo. E deu. Entre as novas parcerias de Gonzagão estão a de Gilberto Gil no choro Treze de Dezembro (gravação inédita), Verônica (com Lirinha), Marieta (Fernando Brant), Mara (Zeca Baleiro), Luar do Nordeste (J. Velloso), Lygia (Abel Silva), Passeando em Paris (Bené Fonteles), Numa Serenata (Carlos Pitta), Pisa de Mansinho (Xico Bizerra), Sanfona Dourada (Maciel Melo) e Wanda (Tuzé de Abreu). Gereba Barreto também compôs a Suíte Lua Gonzaga, que contém fragmentos de músicas suas e do Mestre Lua, além de Sete Luas do Gonzaga (Ronaldo Bastos) e Galope Além do Mar (Capinan).

Gereba Barreto  é onsiderado músico de grande versatilidade, nasceu em Monte Santo, Bahia e tem uma lista considerável de bons serviços prestados à música brasileira. Com seu grupo Bendegó lançou cinco discos. Muitos intérpretes gravaram suas composições, entre eles, Elizeth Cardoso, Beth Carvalho, Raimundo Fagner, Amelinha, o argentino Leon Gieco e o guitarrista alemão Folkan Crieg.

Produziu arranjos para Caetano Veloso (Canto do Povo de um lugar do disco Jóia -1975) e em mais de quarenta discos. Seu primeiro disco solo foi Te Esperei (1985). A seguir vieram Cantando com a Platéia - Tom Zé e Gereba “Cantando com a Platéia” (1990), Gereba convida (1993) com as participações de 13 vozes femininas como Cássia Eller, Ná Ozzetti, Vânia Bastos, Cida Moreira e outras. 

Serenata na Umes - Gereba convida (1996), coletânea de 6 CDs gravados ao vivo com com Silvio Caldas, Arrigo Barnabé entre outros, Canudos (1997), Forró da Baronesa (2000) pela CPC-umes. Sertão 2002) e Canções que vem do Sol (2002 pela Paulus Music e “Dom Quixote xote xote” pela Por do Som (2004) .
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‘QUEM COMPREENDE MAL A ARTE, COMPREENDE MAL A SI MESMO’ – FREUD

"De que adianta falar de motivos, às vezes basta um só, às vezes nem juntando todos." [José Saramago]

Quase 90% dos brasileiros não vão aos museus, dizia uma pesquisa em 2010. Os índices melhoram um pouco em 2017, mas não muito (81% não frequentam museus, 92% preferem a tevê e outras mídias). O que nos leva a questionar a relação do brasileiro com a Arte, com este conhecimento tão importante para a compreensão do que somos, não só como brasileiros, mas como seres humanos.

As polêmicas envolvendo as quatro obras do “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, em Porto Alegre em meados deste 2017, ou mesmo a acusação descabida de pedofilia dentro do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), revelam não só uma incompreensão da Arte, mas uma incompreensão do que somos como sujeitos históricos, pois ao censurarmos a Arte, limitamos nossas capacidades cognitivas e de revisão/revolução da História.

Obra “Las Meninas”, de Diego Velázquez, em 1656 (Crédito: Diego Velázquez/Domínio Público)

Há uma lapidar pintura de Diego Velázquez que parece nos revelar o poder da arte, sua potencialidade e sua capacidade de nos dar motivos para reflexão além da vida comum, das discussões comezinhas, dos argumentos rasos que circulam nas mídias sociais ou na grande mídia.

A pintura é conhecida como “As Meninas” e fora terminada em 1656, em pleno Barroco espanhol. Nesse maravilhoso quadro barroco há muito o que aprender, e um dos aprendizados, um de seus motivos, é: a assertiva de que a arte é pura provocação à alma. Se a alma é pequena, não há olhos para a Arte, pois ela não se revela.

O quadro é uma incitação à inteligência, uma convocação para espíritos livres. Os traços e cores em contraste típicos do Barroco mostram o culto dos  opostos, o jogo antitético, em que a luz e o branco das crianças brincam com o escuro e preto das vestimentas dos adultos. A mãos e a testa iluminadas do pintor-personagem do quadro revelam que a iluminação está no fazer (mãos, na sensibilidade) e na razão (testa, cabeça). Mas o centro da tela não é a menina, a infanta, a princesa, filha do Rei Felipe IV. O centro do quadro está fora dele: está nos olhos do espectador. Velázquez foi genial ao pintar este quadro, pois o centro  é o paradoxo que ele nos coloca. O paradoxo da reflexão do papel da arte naquele que a lê. Assim a Arte se nos revela (paradoxo central e maior).

O centro de tudo, portanto, é o leitor dialógico, que dialoga e interage, e não o mero espectador de tevê que apenas recebe passivamente o conteúdo mastigado (sem sequer aprofundar a reflexão). A arte nos cobra dialogismo, a tevê nos dá conformismo.

Ler Arte, é compreender a si mesmo. Freud explica

Um primeiro exemplo de que arte é provocação ao espírito encontramos em Sigmund Freud, que era um grande analista de arte. Gostava e gastava tempo lendo Sir Conan Doyle, por exemplo, autor de Sherlock Holmes. E muito do que Freud usou na “Interpretação dos Sonhos” (1905) ou para formular o conceito do “Complexo de Édipo” foi retirado da Literatura, portanto, da Arte. Está em Freud a frase psicanalítica mais contundente que se possa ler sobre o que é a Arte: “Quem compreende mal a arte, compreende mal a si mesmo”. 

A sentença é acachapante, pois mostra que compreender vai muito da curiosidade do leitor de um livro, da argúcia do espectador de uma tela, da coragem da plateia de teatro, ou da reflexão de quem assiste um filme, ou na opinião de quem vê tevê, ou interage em redes sociais. Já que Arte só o é aos olhos de quem lê com vivacidade.

Um segundo exemplo, está em um dos mais cruciais pensadores do século XX, Michel Foucault, que no primeiro capítulo do livro “As palavras e as coisas” (1966) analisa a pintura de Diego Velázquez. E ao analisar, Foucault nos dá duas sentenças primorosas:

1) “Olhamos um quadro de onde o pintor nos contempla”, esta sentença lapidar de Foucault, nos mostra que o ponto de fuga do quadro está fora dele. O quadro de Velázquez quebra a “quarta parede” – termo usado no teatro, para chamar o espectador para a interação com a peça. A quebra da “quarta parede” em uma pintura é mais sutil para o leitor desatento. Talvez ele nunca note que as figuras centrais do quadro estão no espelho ao fundo da tela de Velázquez. São as silhuetas de um casal, provavelmente o rei e rainha da Espanha.

O rei e a rainha estão fora do plano do quadro, estão no lugar do contemplador da tela. Estão fora da peça, estão fora da tela. Ou seja, o rei e a rainha são os olhos do espectador (ou “Expectador”, pois está externo à tela), do leitor, daquele que sabe ler a vida na arte e arte na vida. Por isso, olhamos um quadro em que o pintor nos contempla, pois ele nos incita a pensar. E existe contemplação maior na arte quando ela nos incita a pensar, a sentir e a viver outros planos? Não há, porque Arte é reflexão e lucidez atemporal.

2) “O pintor só dirige seu olhar para nós na medida que nos encontramos no lugar de seu motivo”, esta outra sentença do pensador francês, a qual mostra que o quadro está nos chamando para o diálogo, para o DIALOGISMO, já que é a tela que nos olha. Já que é ela que ganha vida em nossos vivos olhares. Porque um objeto sem a curiosidade, a coragem investigativa ou a reflexão do leitor não é uma obra de arte, mas apenas um objeto inanimado.

Sabemos que brasileiros leem pouco. É apenas a décima atividade em uma lista de lazeres. Preferimos ficar na TV, na Internet, no WhatsApp, no Instagram e no Facebook, antes de ler um livro ou visitar um museu. Ou seja, não se pode esperar muito do brasileiro que só assiste TV como crítico de arte. Por isso é importante não nos perdermos em motivos toscos, mesquinhos, morais, superficiais e rasos, como quer qualquer grupelho incitador de ódio e ignorância.

A arte incita a reflexão, a sensibilidade e a inteligência. Faz o homem questionar seus valores morais e históricos. Provoca a alma. Nos convida para uma ética da reflexão e da interação. A arte faz parte de uma espécie de “Humanismo da Alteridade”, diria Augusto Ponzio, pensador italiano que escreveu “A Revolução Bakhtiniana” (Editora Contexto, 2008), pois nos coloca em contato com outras perspectivas, outros modos de ver, outros modos de viver (“alter“, do latim, quer dizer “outro”). Melhorando assim nossa humanidade. Pois a arte nos alarga o modo de ver.

Falar de motivos no Brasil é fácil, se ele for gerido pelo ódio, pela ignorância, aí nem precisa juntar todos os motivos, pois um já nos bastaria e nos encerraria.

Contudo, se formos falar de arte, basta um único/outro motivo para sairmos do ódio: o uso da inteligência em benefício do aprimoramento do convívio social.

Basta saber ler e estar eticamente aberto ao diálogo, saber interagir da “quarta parede”.

Pois “As meninas” do quadro de Velázquez não são as meninas pintadas, entretanto são as meninas dos olhos do espectador atento e sem preconceitos e ódios, mas livre.

Para tanto, procurar saber o porquê da Arte já seria um bom motivo. E ele paradoxalmente nos bastaria. 

Ou como diria o poeta: “A arte existe porque a vida não basta.”

**Fonte: Fabrício César de Oliveira é doutor em Linguística e Filosofia da Linguagem pela Universidade Federal de São Carlos.
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RAIMUNDO CARRERO COMPLETA 70 ANOS COM BIOGRAFIA QUE ORGULHA BRASILEIROS

O escritor Raimundo Carrero, completa no dia 20 de dezembro, sete décadas bem vividas e muito bem contadas, com uma biografia que orgulha a todos os sertanejos, sempre representados na literatura de Carrero. Por isso a cidade de Salgueiro preparou uma programação especial para celebrar a vida do “filho ilustre”.

Uma iniciativa da deputada federal Creuza Pereira, que convidou admiradores de Carrero, para criar uma comissão e realizar as celebrações, nos dias 8 e 9 de dezembro na terra do escritor. Que vai de uma solenidade especial na Câmara de Vereadores do município a festivais de literatura, que será realizado por alunos de escolas de referência do Estado, inclusive a Escola Carlos Pena Filho onde o escritor estudou na adolescência. Os artistas salgueirenses estarão representados através da homenagem do jovem Danilo Pernambucano e do contemporâneo Maestro Zé Paixão.

“Jamais os salgueirenses poderiam deixar passar em branco o aniversário do filho querido, celebrar os 70 anos do conterrâneo e amigo Raimundo Carrero é aplaudir uma vida dedicada à literatura e a cultura, aplaudir uma vida tão bonita quanto as suas obras” comentou Creuza Pereira.

Programação completa:
08/12 – sexta-feira
9h – Sessão Solene em homenagem aos 70 anos do escritor salgueirense Raimundo Carrero                                                                                           Local: Câmara de Vereadores de Salgueiro

14h –Visita aos stands do Projeto de Literatura, Arte e Dança
19h – Festival Literatura, Arte e Dança, homenagem da Escola de Referência de Salgueiro – EREMSAL –ao escritor Raimundo Carrero                                 Local: Clube Talismã

09/12 – sábado
9h – Homenagem da Escola de Referência Carlos Pena Filho ao ex-aluno e escritor Raimundo Carrero                                                                             Local: Escola Carlos Pena Filho.
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ENCONTRO DE SANFONEIROS NO RECIFE HOMENAGEIA LUIZ GONZAGA

O Encontro de Sanfoneiros do Recife realiza a sua 20ª edição e tem o objetivo de divulgar a música popular regional e a sanfona para várias gerações. O encontro, que acontece desde 1998, busca manter viva a memória de Luiz Gonzaga e o instrumento que o imortalizou: a sanfona. Para isso, o produtor do evento, Marcos Veloso, dará aos sanfoneiros, a oportunidade de mostrar o trabalho deles e, consecutivamente, fazer diversas homenagens ao Mestre Lua.

O evento, que é gratuito, é realizado entre os dias 01 e 02 de dezembro na Praça Luiz Gonzaga, no bairro dos Torrões, no Recife, a partir das 8h e segue até 22h. 

A história da sanfona se confunde com as aventuras e desventuras do Sertão nordestino, com o rebuliço, o “xenhenhêm”, o mexe-mexe, em uma toada caboclamente brasileira. A sanfona elege a nossa terra como pátria não de nascimento, mas de identidade. E é na figura de Gonzagão que ela encontra seu mais ilustre representante. 

Nascido em Exu, Sertão de Pernambuco, no dia 13 de dezembro de 1912, serviu ao exército, o que lhe permitiu viajar por vários estados do Brasil. Em 1939, decidiu residir no Rio de Janeiro e tentar a vida como cantor e sanfoneiro, arte que teria aprendido com o seu pai, Januário. Tocou nas ruas e cabarés, até ser aclamado no programa de Ary Barroso, na Rádio Nacional. A partir deste momento, foi reconhecido como o Rei do Baião.

É, portanto, inspirado na personalidade lendária de Seu Lua que, em 1998, Marcos Veloso, decide, junto com Paulo Alves, reunir artistas anônimos e ilustres espalhados por todos os rincões do Estado. Realizado sempre em dezembro, mês do nascimento de Luiz Gonzaga, o encontro já homenageou personalidades da música como Joquinha Gonzaga (sobrinho de Gonzaga), Arlindo dos 8 Baixos, Gennaro, Mestre Camarão, Terezinha do Acordeon, Chiquinha Gonzaga, Oswaldinho, Dominguinhos, Zé Bicudo, Severo, Lindu (ex-sanfoneiro do Trio Nordestino), Abdias, Félix Porfírio, Zé de Dande, Agostinho do Acordeom, Luizinho Calixto, Joana Angélica e Heleno dos 8 Baixos.

O evento promove o intercâmbio entre músicos de diferentes regiões de Pernambuco e de outros estados brasileiros, e divulga a obra de um dos maiores ícones da música brasileira: Luiz Gonzaga.
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