Em Nova Olinda, Ceará, Espedito Seleiro, transforma o couro em arte

Espedito Seleiro, o couro transformado em arte. Em 2006, o artesão participou da São Paulo Fashion Week, desenvolvendo uma coleção de bolsas e calçados para a grife Cavalera e, depois disso, criou coleções para outras grifes renomadas.

Para o filme O homem que desafiou o diabo, de Moacyr Góes, lançado em 2007, é da marca Espedito Seleiro a indumentária de vaqueiro do personagem vivido pelo ator Marcos Palmeira. Foi também agraciado com a Ordem do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura.

Há varias décadas Espedito Seleiro mantém a tradição de fazer bolsas, sapatos e outros objetos. Hoje, participa de feiras pelo Brasil. A tradição passou de pai para filho e virou parada obrigatória para quem vai a Nova Olinda, região do cariri cearense

Tudo começou por causa de uma tradição, um costume, como se diz no sertão. Seu bisavô, seu avô e seu pai eram todos seleiros, além de vaqueiros. Quando terminava o dia no campo atrás do gado, seu avô acendia uma lamparina e naquela luz leve fazia uma sela para ele próprio ou para alguém que encomendava.

"Meu pai era seleiro, sapateiro, vaqueiro. Um dia recebeu uma encomenda. Era prá fazer uma sandalia, na linguagem sertaneja, um aprecata. Era para o Lampião. Ele não cobrou nada", lembra Expedito.

Outro fato histórico foi confeccionar bolsas em couro cru, alforjes para Luiz Gonzaga. "Ele pedia na cor preta e branco. Conversamos muito. Até hoje é rei".

O costume de fazer trabalho de couro foi passando e chegou ao jovem Espedito. Mas aconteceu um contratempo. No início da jornada de seleiro achou que seria melhor comerciante. Montou uma bodega que faliu em um ano. Resultado: voltou para a profissão de seus ancestrais.

Como seleiro manteve sua vida, sustentou a família e ajudou a criar os irmãos todos mais novos. O pai faleceu em 1971. Hoje produz mais sandálias e bolsas, que tem maior apelo comercial, mas sua tradição ainda é forte. Faz muitas selas e roupas para vaqueiros, mantendo a mesma qualidade do corte e no trabalho.

Ele tem na professora Violeta Arraes, já falecida, ex-reitora da Universidade Regional do Cariri (Urca) uma grande amiga. "Foi ela que me deixou muito conhecido, pois ela trouxe muita gente importante, muitos artistas aqui, comprava e ainda brigava comigo dizendo que eu tinha que me organizar mais".

Por causa dessa divulgação, Espedito Seleiro se tornou conhecido. Esteve na São Paulo Fashion Week e participa hoje de feiras no Ceará e em outros estados.

Para produzir um segredo: o silêncio que seu avô tinha com a lamparina acessa, ele acha melhor para trabalhar. "Quando eu trabalho aqui de noite num tem ninguém me aperreando, pedindo água, ninguém para me entrevistar, ninguém perturbando", diz sorrindo.

No silêncio da noite produz mais. "E muito bom porque a gente trabalha sossegado, produzimos várias peças e entregamos tudo como combinado, pois aqui temos muito trabalho".

Seu Espedito tem sua oficina e ao lado uma lojinha arrumada dentro do possível. Com vários produtos, como bolsas, sandálias, selas, baús, cadeiras e outras peças em couro.

A loja é movimentada e acolhe todos os dias pessoas de várias cidades do Cariri e de outros estados. Como Nova Olinda é uma cidade sempre com muito movimento, seu Espedito é endereço certo para quem quer comprar uma boa sandália, uma bolsa de couro, para si próprio ou para presentear.

O menino que aprendeu cedo a arte de fazer sela, encanta agora o Cariri, o Ceará e o mundo com uma arte que poucos sabem fazer.

Fonte: Entrevista Ney Vital-Rádio Cidade Am-Juazeiro Ba.  Diário do Nordeste-Fábio Lima
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