POETA ZÉ MARCOLINO COMPLETARIA 90 ANOS NESTE DOMINGO (28)

Zé Marcolino, autor de Numa Sala de Reboco, faria 90 anos neste domingo 28.

Zé Marcolino era poeta, contador de causos e compositor. No matulão carregava uma penca de músicas, na cabeça um sonho: que seus xotes e baiões fossem um dia gravados por Luiz Gonzaga. Ele enviou dezenas de cartas a Gonzagão, sem nunca obter resposta. Um dia, o poeta Zé Marcolino encontrava-se em Sumé, Paraíba, para receber o dinheiro de um boi que havia vendido, quando soube que o cantor estava na cidade. Imediatamente, correu até o hotel onde o artista estava hospedado. Ficou esperando sua saída.

Poucos minutos depois, Luiz Gonzaga apareceu, com aquele seu jeitão carrancudo, que servia para desencorajar assédios de fãs. O poeta Zé Marcolino aproximou-se do seu ídolo e perguntou: – O Senhor é que é Seu Luiz Gonzaga?
– Sou sim, por que?
– O Senhor nunca recebeu cartas de José Marcolino Alves, não?

– Sei não, recebo muitas. O que era que diziam estas cartas?
– É porque eu tenho umas músicas de minha autoria que eu acho que dão certo pro senhor.

– É... o Sertão é composto de homens inteligentes. Mas.. mas quem sabe se essas músicas prestam?

Zé Marcolino ficou meio sem jeito, quase diz que suas músicas não prestavam. Luiz Gonzaga deu a conversa por encerrada com um vago: “Depois eu posso lhe atender” e seguiu em frente. Mais tarde, o Lua não apenas atendeu, como acabou gravando seis músicas daquele matuto no seu próximo LP, e mais, contratou ele como músico de seu conjunto.

José Marcolino, um dos grandes autores da música nordestina fez a ultima viagem no dia 20 de setembro de 1987. Morreu num acidente de carro.  Nascido em 28 de junho de 1930, no sítio Várzea, do Major Napoleão Bezerra Santa Cruz, mais tarde município de Sumé, na Paraíba. José Marcolino poderia ter sido mais um entre as dezenas de poetas sertanejos, que vivem e morrem no anonimato, não fosse a ousadia naquele encontro com Luiz Gonzaga, que realmente tomou gosto por aquele sertanejo.

Metade do repertório do LP Ô Véio Macho, de 1962, tem Gonzagão interpretando as composições que José Marcolino lhe mostrou em Sumé: Sertão de aço, Serrote agudo, Pássaro carão, Matuto aperriado, A Dança do Nicodemo e No Piancó. Esta seria a primeira leva de forrós de Marcolino gravada pelo Rei do Baião. Ele interpretaria várias outras, entre as quais as antológicas Sala de reboco e Quero chá.

A história conta que depolis daquele encontro Zé  Marcolino integrou-se ao grupo de Luiz Gonzaga e participou, como músico, das gravações de Ô Véio Macho, no estúdio da RCA, no Rio de janeiro. No seu livro Cantadores, Prosa Sertaneja e Outras Conversas (UFRPE, 1987) José Marcolino, impagável contador de causos revela o seu amor aos amigos que sempre chamava de poeta...

José Marcolino participou da turnê de divulgação do LP, viajou de Sul a Norte do País com Luiz Gonzaga, no entanto, a saudade da família e suas raízes sertanejas foram mais fortes. Depois de um show no Crato, Ceará,  ele tomou um ônibus até Campina Grande e de lá foi para Sumé, de onde fretou um táxi para a Prata, onde morava.

Com o sucesso de suas canções cantadas por vários artistas (Quinteto Violado, Assisão, Genival Lacerda, Ivan Ferraz, entre outros), José Marcolino montou um conjunto e passou a fazer shows pelo Sertão, contando suas muitas estórias e composições.

Somente em 1983, produzido pelos integrantes do Quinteto Violado, ele lançou seu primeiro e único, hoje fora de catálogo, LP Sala de Reboco (pela Chantecler). Um disco que está merecendo uma reedição em CD, assim como também seu único livro, necessita uma reedição mais bem cuidada.

José Marcolino faleceu em 20 de setembro de 1987, nas imediações de Afogados da Ingazeira, Sertão pernambucano, num acidente que o que tem de trágico tem de prosaico. Ele vinha, em companhia do filho Ubirajara, quando o automóvel que dirigia capotou, depois de uma manobra brusca para desviar de uma vaca que atravessava a pista. O filho sobreviveu, mas Marcolino sofreu uma grave fratura no crânio, que lhe foi fatal.

Fonte: Livro Vida e Obra de José Marcolino-UFRPE e Jornal do Commercio/Jose Teles
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