O Compositor e amigo de Luiz Gonzaga, o músico caruaruense Onildo Almeida, de 93 anos, revela a história que há por trás da última música que fez especialmente para Gonzagão: "Hora do Adeus", um dos clássicos do Rei do Baião. "Quando [Luiz Gonzaga] ouviu, chorou", lembra.
Nascido em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, Onildo Almeida conta que em 1967, há 51 anos, o Rei do Baião o pediu para escrever uma música que representasse o fim da carreira. Segundo Onildo, Gonzaga sentia que tempo dele no cenário musical havia chegado ao fim. No início, o músico se recusou, mas fez a canção.
"Uma semana depois [do pedido de Gonzaga] fui ao Rio de Janeiro. Meus colegas de rádio de Caruaru estavam lá e nos encontramos. Luiz Queiroga, que era um deles, tirou um papel do bolso com umas palavras e disse: 'Vocês querem ver o que é talento? Onildo, coloca música nisso aí'. Quando eu abri o papel, tinham dois versos: O meu cabelo já começa prateando, mas a sanfona ainda não desafinou/ A minha voz vocês reparem eu cantando, que é a mesma voz de quando meu reinado começou. E eu fiz desses verso uma música", detalha.
Quando Onildo voltou para Caruaru, percebeu que Luiz Queiroga havia escrito poucos versos e decidiu completar a obra. "Dias depois, Luiz Gonzaga chegou perguntando se eu havia feito a música para ele. Respondi: 'disse que não faria', mas acabei mostrando 'Hora do Adeus', com os meus versos e os de Luiz Queiroga", recorda o caruaruense.
Luiz Gonzaga achou a música bonita e a gravou, mas ela não marcou o fim da carreira do pernambucano. Para Onildo, "Hora do Adeus" é uma das principais obras dele porque conta a história de Gonzaga do começo.
"É uma canção importante porque conta a história do que é, para mim, o maior nome da música popular brasileira. Gonzaga não era só cantor, era compositor e instrumentista, por isso o acho o maior. Ele mudou e despertou no governo a realidade nordestina. Deu nome ao baião, xote, xaxado, coco de roda. Ninguém queria saber da música nordestina, era música de subdesenvolvimento. Mas, por causa da música de Gonzaga, o Nordeste mudou a cara", ressalta Onildo.
Onildo Almeida foi compositor de vários sucessos de Luiz Gonzaga, como "A Feira de Caruaru", "Capital do Agreste" e "Sanfoneiro Zé Tatu".
Hora do Adeus
(Onildo Almeida e Luiz Queiroga)
O meu cabelo já começa prateando
Mas a sanfona ainda não desafinou
A minha voz vocês reparem eu cantando
Que é a mesma voz de quando meu reinado começou
Modéstia à parte, é que eu não desafino
Desde o tempo de menino
Em Exu, no meu Sertão
Cantava solto que nem cigarra vadia
E é por isso que hoje em dia
Ainda sou o Rei do Baião
Eu agradeço ao povo brasileiro
Norte, Centro, Sul inteiro
Onde reinou o baião
Se eu mereci minha coroa de rei
Esta sempre eu honrei
Foi a minha obrigação
Minha sanfona, minha voz, o meu baião
Este meu chapéu de couro e também o meu gibão
Vou juntar tudo, dar de presente ao museu
É a hora do adeus
De Luiz, Rei do Baião
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