TRABALHO DE LUIZ GONZAGA É UM BOM EXEMPLO DE ECONOMIA CRIATIVA

Luiz Gonzaga conseguiu através de sua música unir o país, em um período em que pouco se sabia sobre o que era feito fora do eixo Rio-São Paulo. É assim que se cria uma nação, quando os cidadãos assumem a cultura de seu próprio povo e estabelecem uma identidade nacional. 

Nesse sentido, Luiz Gonzaga tem uma importância que a gente não consegue medir. Além de levar o novo ritmo para o mundo, ele revelou para o resto do Brasil as dificuldades do Nordeste, falando das mazelas da seca e da fome melhor que qualquer político”, diz Breno Silveira, diretor do filme “Gonzaga: de Pai para Filho”). Para o diretor que estuda a vida do sanfoneiro há 20 anos, Gonzaga é um real exemplo do poder da economia criativa ao gerar riqueza para seu povo a partir da música, vendendo e divulgando a cultura nordestina até hoje.

O termo economia criativa foi usado pela primeira vez no livro “Economia Criativa: Como as Pessoas Fazem Dinheiro com Ideias”, escrito pelo consultor inglês John Hawkins. Para o escritor formado em Relações Internacionais, a economia criativa trata de atividades que resultam de indivíduos que exercitam sua imaginação e exploram seu valor econômico. Nesse sentido, o que Luiz Gonzaga fez pelo Nordeste não tem preço.

Segundo Breno, Gonzaga, ao lado do cangaceiro pernambucano Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e do padre cearense Cícero Romão Batista, nosso Padim Ciço, compõem a base do imaginário sobre o Nordeste. No entanto, só Gonzaga fez ressoar a cultura nordestina com tamanha potência. Como explicou o artista plástico e organizador do livro “O Rei do Baiao”, Bené Fonteles, Gonzaga e seu parceiro Humberto Teixeira criaram um movimento cultural nordestino através de uma música-manifesto chamada Baião.

Para se ter ideia de sua força, só na indústria do cinema, nos últimos dez anos, Gonzaga foi motivo de dois importantes filmes nacionais: “Viva São João”, de Andrucha Waddington, e sua biografia “Gonzaga - de Pai para Filho”. Na indústria fonográfica, suas músicas já foram regravadas por grandes nomes da MPB - Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethania, Gal Costa. Na literatura de cordel, Gonzagão é personagem de centenas de publicações. No artesanato, graças à sua maneira de se vestir, gibões e chapéus de cangaceiros são vendidos em feiras nordestinas como lembrança de viagem por todo país.

Por causa de Gonzaga a festa de São João entrou para o calendário nacional e é celebrada Brasil afora. Por sua influência também, a pequena cidade de Exu entrou para o mapa e hoje recebe milhares de turistas curiosos para conhecer a terra do Rei do Baião. “A cidade era quase isolada. O Gonzaga foi quem lutou para conseguir ligar Exu ao Ceará e a Pernambuco com asfalto. Ele também conseguiu trazer a TV para cá muito antes de outras cidades do Nordeste. Lutou pelo desenvolvimento da cidade e pela melhoria das condições de vida do nosso povo”, conta Clemilce Cardoso Parente, administradora do Parque da Aza Branca na cidade natal do músico.

Gonzaga era um músico popular e do povo. Em sua sanfona, deixou gravada a inscrição "É do povo". Gostava mesmo de cantar para as multidões e se pudesse evitava casas de show com preços abusivos. Cruzou em caravana de Norte a Sul, cantando, promovendo grandes encontros e levando sua alegria contagiante por onde passava. Faz tempo que ele se foi, mas sua marca vai ficar para sempre entre nós. Que Deus salve o Rei!
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