*Texto do Professor Aderaldo Luciano-Doutor em Ciencia da Literatura
Ai, meus amigos, a
sanfona é a companheira dos meus "ais". A sanfona é mesmo
meu pulmão, meu coração, meu estômago, minhas vísceras. Quando
ela se abre, é minha respiração que vai junto. Quando se fecha, é
meu suspiro. A sanfona sabe de todas as minhas saudades, revira todas
as minhas lembranças, desce ao poço profundo do meu passado e
traz-me milhões de presentes. É, a sanfona é a rainha do meu salão
de miudezas.
A sanfona é a lâmpada a clarear meu terreiro, é o sol a
festejar os meus dias. Quando chove, a sanfona é meu abrigo. À
noite escura, é ela a lua escondida por trás da escuridão. Meus
ouvidos são a passarela por onde ela desfila soberana. Minha pele
sofre quando a escuta bem baixinho nos agudos suaves. Meus olhos se
fecham, enquanto meu peito vibra nas prolongadas notas graves. Me
desculpe, Deus, mas meus santos todos tocam sanfona, sem piedade. Tem
dois santos no altar-mor de minha catedral: São Luiz Gonzaga do
Nascimento e São Dominguinhos. Essa da foto pertence ao segundo, já
que o primeiro é primeiro mesmo. Toca, sanfona sofrida, sanfona
querida...
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