Resenha do CD Luar Agreste no Céu do Cariri, Xico Bizerra e Dominguinhos

Texto-*Resenha do crítico musical Mauro Ferreira, em seu Blog, sobre o nosso LUAR AGRESTE NO CÉU CARIRI. http://www.blognotasmusicais.com.br/
Segunda-feira, 10 de julho 2010

Esse adeus chuvoso por sobre a minha cabeça / É a falta de prumo bem na beira do barranco / É sonhar em preto e branco / Com a dona da minha tristeza”. Cantados pelo compositor pernambucano Dominguinhos, os líricos versos postos pelo cearense Xico Bizerra na melodia do xote Senhora da minha alegria adquirem sentido que extrapola o romantismo neste ano de 2013.

Senhora da minha alegria abre o CD Luar agreste no céu cariri, recém-lançado pelo selo Passa Disco, da homônima loja do Recife (PE). Com dez melodias inéditas de Dominguinhos, letradas por Bizerra a pedido do sanfoneiro e gravadas por intérpretes como Elba Ramalho, o disco mostra que a obra autoral do compositor extrapola o universo do forró. Embora xotes e baiões sejam recorrentes no repertório, Luar agreste no céu cariri apresenta choros, bolero e até fado, Tempo de nós dois. Se não tem uma valsa, Eternamente nós, foi porque Dominguinhos pediu a Bizerra para retirá-la do disco porque a composição seria gravada por sua ex-mulher Guadalupe. Legítimo herdeiro do legado musical de Luiz Gonzaga (1912 – 1989), José Domingos de Morais celebra seu mestre em Lua Brasil, faixa que encerra Luar agreste no céu cariri.

A única música do disco assinada somente por Xico Bizerra ganhou a voz e a sanfona de Dominguinhos. “Caiçara, quem dera, fizesse o tempo voltar / E de novo esse canto a gente pudesse escutar / Saudade tua, eterno Lua”, canta Dominguinhos, cheio de melancolia. Curiosamente, boa parte das músicas versa sobre amor e saudade no tom lírico e poético das letras de Bizerra. Caso do já citado fado Tempo de nós dois. “E a cada nota desse meu cantar / O céu brindará u’a oração / Virão as estrelas com seu cantar / Apagar a escuridão”, canta André Rio, o intérprete da faixa. No bonito choro Estrelas que se encantam, Elba Ramalho lembra que as sanfonas também choram em versos como “Saudade boa daquele que foi / Certeza que um dia ele vem”. Décimo título do projeto Forroboxote, o CD Luar agreste no céu cariri nasceu de telefonema dado ao músico a Xico Bizerra em fevereiro de 2011.

Dominguinhos pediu uma letra para tema forrozeiro que havia composto. Os compositores marcaram então de se encontrar e, ao invés de uma melodia, Bizerra ganhou onze e ainda decidiu letrar nostálgico choro antigo, No tempo do meu pai, gravado por Dominguinhos no álbum Lamento caboclo (Tropicana / CBS, 1973). Das onze melodias, dez estão no disco, cujas gravações foram concluídas em novembro de 2012 (a exceção é a valsa retirada a pedido de Dominguinhos). Mil sorrisos é bolero solar gravado por Guadalupe. A canção Casa da lua menina abriga poesia onírica na voz delicada da cantora paraibana Socorro Lira. Até onde a alma alcança remói a saudade que move muitos versos do álbum: “Que fazer se a vida não sorrir / Se o sol não sair, vier a escuridão”, pergunta, sem obter resposta, a cantora Maria DaPaz em versos do xote.

O tom é similar na canção Pássaros de papel. “Lembre sempre que eu não esqueço você / No hoje, no amanhã, no ontem que não vem / Não enxergo ninguém nessa espera que é tão vã”, lamenta a baiana (radicada no Recife) Chris Nolasco, intérprete da faixa. Certo de que não há ninguém apto a ocupar o lugar de Seu Domingos, o Brasil espera a recuperação deste iluminado criador de melodias, dom ratificado neste lírico Luar agreste no céu cariri, disco que irradia luz sobre obra já imortal.
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