Antes da radiodifusão em solo dos sertões pernambucanos, algumas cidades incluindo Petrolina, mobilizava sua comunicação, seu comércio, sua vida em sociedade através de serviços privados de alto-falantes a partir de um estúdio improvisado, uma engenhoca acoplando microfone, pikc-up para disco em vinil e cornetas afixadas em postes públicos.
Em Petrolina esse serviço eletrônico no inicio dos anos 1960 foi instalado, segundo informações investigadas e confrontadas por este signatário, em três diferentes endereços. Mas, sobressaia-se o estúdio “BRASIL PUBLICIDADE” de um “Menininho Sobral” em conjunto com entusiasmado comunicador de voz em tom de barítono conforme o mercado exigia à época.
Era Carlos Augusto Amariz Gomes, dividindo-se nas atividades de estudante do Colégio Dom Bosco e empreendedor no setor lojista de bicicletas. Venceu nessa disputa, o microfone, a comunicação que acordava com Petrolina diariamente. A Diocese de Petrolina através de seu titular, Dom Antônio Campelo, estava em conversa com o Governo Federal, ainda na gestão de Juscelino Kubistchek, visando a concessão de uma emissora de rádio.
Enquanto Carlos Augusto afinava sua voz que nunca “precisou de truques eletrônicos”, Dom Campelo encurtava seus voos para Brasília em avião ou entre cortava a Bahia e Minas para pressionar presidentes. Em 1962, governava agora o Brasil Jânio Quadros. Com sorte e reza, Dom Campelo arrancou autorização do presidente JANIO Quadro e ele fez porque quis, ou seja, a EMISSORA RURAL, hoje, RADIO A VOZ DO SÃO FRANCISCO AM 730. Torre fincada, rádio no ar e administração diocesana recrutara alguns locutores, entre estes, o que viria a ser seu próprio ‘DNA’, a primeira carteira profissional registrada, o primeiro emprego em comunicação, CARLOS AUGUSTO.
Antes da Emissora Rural, porém, Carlos Augusto se juntava a outro brilhante comunicador do rádio regional, Osvaldo Benevides, recentemente falecido ainda na direção da sua Rádio Juazeiro, Bahia. Essa dupla protagonizou em alto-falante um ‘jornal falado’ denominado REVISTA DOMINICAL. Carlos e Osvaldo entre 1959 e 1962, ressaltavam a qualidade sonora, a voz nativa sem sotaque sem frescura e sem influência de nada para tornar mágica a história das emissoras hoje multiplicadas em frequência modulada e ondas médias.
Carlos Augusto junto com a EMISSORA RURAL, no ‘Antigo’ e RADIO GRANDE RIO AM neste Novo TESTAMENTO, soube juntar valores, oxigenar nossa antropologia de seca e de couro, de vaqueiro e cantorias, de sanfona e berrante, de Rio e espécie animal, sobretudo o jumento, repartindo seu temperamento duro feito angico, sua alma de asa branca, seu olhar firme de catingueiro para tornar bela cada manhã brasileira dos sertões adentro.
Carlos Augusto lia a riqueza mas comia no prato indesejado dos bêbados marginais em seu sabático jeito de juntar tocadores, bom e ruim, em quaisquer foles ou zabumba, no aço de qualquer triângulo e no que fosse mais inventado nessa orquestra de gente excluída.
CARLOS AUGUSTO juntava multidões. Carlos corria mato adentro com tantos vaqueiros embandeirados para a Missa campal ou para o terço anônimo do ‘Pau de Leite’. Carlos era a reprodução invejável de todos os intérpretes d xote, do xaxado e do baião. Era Luiz Gonzaga encarnado no estúdio mandando essa terra acordar que “ já é meio dia”. A Radiodifusão hoje fica órfã do BOIADEIRO DO RÁDIO que pegou seu gado e foi pra junto do seu bem, JESUS SERTANEJO.
Adeus... (Testo apresentado em Petrolina, 02 de Abril de 2015. *Por Marcelo Barbosa Damasceno-radialista)
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