GILBERTO GIL É CELEBRADO PELO TRIO NORDESTINO EM DISCO COM O BARRO QUE MOLDOU OBRA DO COMPOSITOR

“De onde é que vem o baião? / Vem debaixo do barro do chão / De onde é que vem o xote e o xaxado? / Vêm debaixo do barro do chão”.

Criado em Salvador (BA) em 1958, o Trio Nordestino é fruto desse chão nordestino em que está assentada parte expressiva da música do Brasil.

Por isso mesmo, o baião De onde vem o baião? é uma das 12 músicas selecionadas pelo Trio Nordestino para o 44º álbum do grupo, Trio Nordestino canta Gilberto Gil. O trio revolve o barro que moldou a obra plural do cantor, compositor e músico baiano em álbum lançado estrategicamente no dia 26 de junho de 2020, dia do 78º aniversário de Gil.

“Muito do meu modo de cantar, do meu modo de compor, vem do nordeste, dessa região, desse modo de entender a vida e de expressá-la, tão bem registrada pelo Trio Nordestino”, corrobora o compositor homenageado em depoimento sobre o disco do Trio Nordestino, herdeiro, como Gil, das tradições de Luiz Gonzaga (1912 – 1989), rei do baião e da nação musical nordestina construída com o barro do chão sertanejo.

Esse barro também vem remodelando há 62 anos o trio formado atualmente por Luiz Mário (triângulo e voz), Jonas Santana (zabumba e voz) e Tom Silva (acordeom e voz). É que, a rigor, o Trio Nordestino que canta 12 músicas de Gilberto Gil neste disco de 2020 – entre elas, o xote Abri a porta (Dominguinhos e Gilberto Gil, 1979) e o ijexá Toda menina baiana (1979) – já pouco tem a ver com o trio original de 1958, integrado por Lindú (voz e sanfona), Coroné (zabumba) e Cobrinha (triângulo).

Já são muitas as mutações e formações do trio desde então. Tanto que, no álbum lançado há dois anos pelo grupo, Trio Nordestino canta o Nordeste (2018), a composição do trio era outra. Beto Souza ainda era o sanfoneiro, posto de Tom Silva no disco em tributo a Gil.

Antes, em 2017, Jonas Santana já assumira o lugar de Coroneto no toque da zabumba após atuar por seis anos como pandeirista na banda do Trio Nordestino. É que Coroneto – neto do integrante fundador Evaldo dos Santos Lima, o Coroné, morto em abril de 2005 – preferiu atuar somente nos bastidores, se tornando produtor e empresário do trio.

Evidenciando a tênue fronteira rítmica entre o xote e o reggae, percebida por Dominguinhos (1941 – 2013) quando o sanfoneiro foi apresentado ao reggae de Bob Marley (1945 – 1981) por Gil e caracterizou o ritmo jamaicano como “xotezinho safado”, o Trio Nordestino grava músicas como Cores vivas (1981) e Vamos fugir (Gilberto Gil e Liminha, 1984), tendo evidentemente para o xote.

Andar com fé (1982), Minha princesa cordel (2011), Palco (1981), Procissão (Gilberto Gil e Edy Star, 1965), Refazenda (1975) e Toda menina baiana (1979) são outras músicas do repertório do álbum em que o Trio Nordestino canta e toca Gilberto Gil na ambiência de forró pé-de-serra sem deixar de pisar no chão que conduziu o compositor a universo musical mais amplo e cosmopolita, mas fincado nas raízes plantadas no barro do sertão nordestino.

Mauro Ferreira Jornalista
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