FABIANO PIÚBA: EM DEFESA DO LIVRO E DA LEITURA

O Governo Federal pretende taxar o livro. Torná-lo mais caro e inacessível. Mais do que uma provocação ao ministro da Economia, – que certamente nunca leu Jorge Amado – proponho uma conversa com Jorge Luis Borges.

Numa aula proferida em 1978, intitulada “O Livro”, Borges diz que “o livro tem uma espécie de santidade que devemos cuidar para que não se perca. Pegar um livro e abri-lo guarda a possibilidade do fato estético”. Esta é a primeira defesa. O livro como algo sagrado na percepção estética de alimento da alma. Abrir um livro em silêncio ou em voz alta é um ato estético e sagrado.

Voltemos ao Borges: “O mais importante de um livro é a voz do autor, esta voz que chega a nós”. O livro é a obra substancial criada pelo autor. Temos aqui uma segunda defesa. O livro não é um mero objeto, ele é o conteúdo, expressão do pensamento e da criação de seu autor(a).

Alongando a conversa, outra citação: “Dentre os instrumentos inventados pelo homem, o mais impressionante é, sem dúvida, o livro. (…) O livro é uma extensão da memória e da imaginação”. Chegamos na defesa do livro como expressão simbólica e como produto cultural e econômico. Resultado de um processo de criação, produção e circulação, o livro é um produto humano de artes e ofícios do escritor, do editor, do livreiro e do mediador de leitura para o acesso ao conhecimento, para a formação humana e fruição estética, bem como para o fomento da economia das indústrias culturais.

Ouçamos o Borges outra vez: “Temos que abrir os livros e, então, eles despertam”. Chegamos assim, na defesa mais nobre. O livro como instrumento de formação leitora. Sem a dimensão da leitura, o livro é nada. Ele só acontece plenamente na travessia do leitor com a formação e experiência da leitura.

Portanto, ao propor a taxação do livro, o Governo Federal aponta um grave retrocesso na formação de uma nação de leitores livres e autônomos, atacando os elos criativos, acadêmicos, culturais, educativos e econômicos que estão preconizados no Plano Nacional de Livro e Leitura com vistas à democratização do acesso, à formação leitora e ao desenvolvimento da economia do livro no Brasil.

Fabiano Piúba-Secretário da Cultura do Estado do Ceará

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