FAZENDA HUMAYTÁ: O LUAR DO SERTÃO NASCENDO POR TRÁS DA SERRA

 

“Luar do Sertão” é uma toada, um clássico atemporal da Música Brasileira. Composta pelo poeta e letrista Catulo da Paixão Cearense e pelo violonista João Pernambuco. Detalhe: João Pernambuco nasceu em Jatobá, hoje conhecida por Petrolândia e é um dos criadores da escola brasileira de violão. Infelizmente até hoje não tem o reconhecimento que merece.

Durante anos, o comunicador Almirante usou a letra como prefixo, a música Luar do Sertão, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro.  A música, vista por muitos como o segundo hino do país, tamanha sua popularidade, ficou marcada pela interpretação de grandes nomes da Música Popular Brasileira, entre os quais Luiz Gonzaga, Maria Bethânia e Milton Nascimento. 

João Pernambuco foi homenageado em maio de 1983 com o primeiro LP que reuniu exclusivamente obras suas, “João Pernambuco 100 Anos” na interpretação do pianista Antônio Adolfo e do grupo carioca Nó em Pingo D’água. 

"Luar do Sertão" esteve presente na trilha sonora do filme "Os Dois Filhos de Francisco" (2005)  na voz da dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano, e na novela "Tieta" (1989) interpretada por Roberta Miranda.

Companheiro de Pixinguinha e do compositor Donga no Grupo Caxangá e, posteriormente, em Os Oito Batutas, dois dos conjuntos mais populares do Rio de Janeiro no início da década de 20, o poeta alegava que ele construíra a melodia, a partir de um fragmento de Beethoven.

João Pernambuco era um compositor intuitivo que, mesmo analfabeto nas letras e nas partituras, deixou composições de impressionante complexidade. Entusiasta de seus chorinhos, Heitor Villa-Lobos admitia ser influenciado por eles em seu próprio trabalho e costumava dizer para os amigos: “Bach não se envergonharia de assinar seus estudos para violão.”

João Pernambuco tecia harmonias muito ricas e extensas, como na brilhante Interrogando, que leva o ouvinte a uma viagem por surpreendentes modulações harmônicas. Já em Sentindo, transpõe uma estrutura de tango para o clima do choro, valorizando uma melodia pungente e de grande beleza. Seu universo é complexo, mas sua música arrebata o ouvinte ao primeiro acorde.

Em “João Pernambuco 100 Anos”, essa riqueza melódica é realçada por bons arranjos, que detalham as sutilezas harmônicas do compositor com instrumentos como a flauta e o violão de sete cordas. Assim, a linha melódica se desdobra, ganha mais corpo e, naturalmente, torna-se acessível a ouvintes pouco habituados à música instrumental.

Luar do Sertão permanece na memória coletiva do povo brasileiro e ganhou muitas versões desde a sua primeira gravação, com Eduardo das Neves, em 1914. No livro A Canção no Tempo (1901-1957), Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello esclarecem que, se a letra sem dúvida é de Catulo da Paixão Cearense, a melodia muito provavelmente deriva de um tema folclórico chamado “É do Maitá” ou “Meu Engenho é do Humaitá”, recolhido e transformado por João Pernambuco. 

A foto aqui foi clicada na Fazenda Humaytá, Curaçá Bahia, pelo poeta, cantor e compositor Luiz do Humaytá.

Não há, ó gente, oh não

Luar como esse do sertão...

Não há, ó gente, oh não

Luar como esse do sertão...

Oh, que saudades do luar da minha terra

Prateando lá na serra

Folhas secas pelo chão

Esse luar cá da cidade tão escuro

Não tem aquela saudade

Do luar lá do sertão

Se a lua nasce por detrás da verde mata

Mais parece um sol de prata

Prateando a solidão

A gente pega na viola que ponteia

A canção é a lua cheia

A nos nascer no coração

Coisa mais bela neste mundo não existe

Do que ouvir-se um galo triste

No sertão se faz luar

Parece até que a alma da lua é que descanta

Escondeu-se na garganta

Desse galo a soluçar

A gente fria dessa terra sem poesia

Não faz caso dessa lua

Nem se importa com o luar

Enquanto a onça lá detrás da capoeira

Leva uma hora inteira

Vendo a lua a meditar

Ai quem me dera que eu morresse lá na serra

Abraçado à minha terra

E dormindo de uma vez

Ser enterrado numa grota pequenina

Onde à tarde a sururina

Chora a sua viuvez

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