BANDA DE PAU E CORDA LANÇA O DISCO MISSÃO DE CANTADOR


Primeiro trabalho de inéditas da Banda de Pau e Corda em quase 30 anos, o álbum “Missão do cantador” (Biscoito Fino) se mantém fiel à sonoridade que o grupo desenvolve há quase meio século, promovendo o diálogo da viola e da flauta com a poesia cantada.

A banda pernambucana gravou parceria inédita do escritor e poeta mineiro Murilo Antunes com Natan Marques, compositor, arranjador, multi-instrumentista e produtor. Essa faixa, “Tudo num balaio só”, traz a participação especial de Zeca Baleiro.

“Os dois fizeram uma gravação caseira e me mandaram. Quando escutei, já imaginei a música na voz de Zeca. Nós o convidamos e ele aceitou, para a nossa alegria”, diz o cantor Sérgio Andrade, único remanescente da formação original do grupo.

Murilo Antunes, aliás, em parceria com Tavinho Moura, é autor de um dos maiores sucessos da banda: “O trem tá feio”, faixa do disco “Arruar” (1978). “Temos uma longa história com Minas Gerais, foi um namoro que virou casamento”, ressalta Sérgio.

Outro convidado do novo álbum é o paraibano Chico César. Ele e o flautista Alexandre Rodrigues participam da faixa “Fogo de braseiro”. Já Marcello Rangel (voz e violão), expoente da nova cena musical pernambucana, bate ponto no frevo “Quer mais o quê?”, enquanto Mestre Gennaro empresta sua sanfona a “Estrela cadente”.

Criada no Recife, em 1972, a Banda de Pau e Corda lançou seu primeiro LP, “Vivência”, em 1973. Era produzido por José Milton, que também assina o novo trabalho. “Nossa proposta é valorizar os ritmos nordestinos, misturando música e poesia”, ressalta Sérgio Andrade. “Depois de 29 anos, voltamos com outro disco autoral e de músicas inéditas. Para nós, ‘Missão do cantador’ tem tanta importância quanto ‘Vivência'.”

Além de Andrade (voz e percussão), o grupo é formado por Julio Rangel (viola e vocal), Sérgio Eduardo (contrabaixo), Zé Freire (violão e vocal), Yko Brasil (flauta e pífano) e Alexandre Baros (bateria, percussão e vocal).

Sérgio conta que, ao gravar o novo trabalho, sentiu “o mesmo frio na barriga” do lançamento do álbum de estreia. “Esse disco tem o sabor todo especial de voltar ao autoral e às inéditas. Desde o início, sempre mantivemos o mesmo conceito.”

O cantor considera o produtor José Milton o sétimo integrante da banda. “Apesar do tempo que passamos sem gravar com ele, nunca deixamos de manter contato. O Zé é genial, produziu os maiores clássicos da música popular brasileira. Ele é a história viva da MPB”, afirma Andrade.

“Achei genial eles me chamarem de volta. ‘Missão do cantador’ ficou um disco maravilhoso. Cuidei de conservar aquele tipo de sonoridade, com os vocais bem-feitos como sempre foram”, explica o produtor.

Ao comentar sua ligação com o grupo, José Milton relembra que quem o indicou para produzir a Banda de Pau e Corda foi Toinho Alves, músico do Quinteto Violado. “A RCA me chamou para fazer algumas coisas. Eu disse para Toinho: 'Quero algo das nossas origens, da nossa terra'. Ele sugeriu a Banda de Pau e Corda, do Recife, inclusive foi Toinho quem batizou o grupo. Passado um tempo, fui vê-los tocar em São Paulo. Em 1º de outubro de 1973, entramos nos estúdios da RCA e gravamos o ‘Vivência’”.

José Milton produziu sete álbuns do grupo na extinta RCA Victor: “Vivência” (1973), “Redenção” (1974), “Assim... amém” (1976), “Arruar” (1978), “Pelas ruas do Recife” (1979), “Nossa dança” (1981) e “Coisas da gente” (1982). A formação original reunia Roberto Andrade (bateria), Waltinho Andrade (violão), Sérgio Andrade (voz), Paulinho (baixo), Netinho (viola) e Beto Johnson (flauta).

“Conseguimos manter a mesma sonoridade. Artistas do nível deles não têm de inventar, devem ter bom gosto, música boa e com harmonias bonitas. Parto do princípio de que existem dois tipos de música: a boa e a ruim. Se a pessoa ouvir os álbuns ‘Vivência’ e ‘Arruar’ e compará-los com ‘Missão do cantador’, verá que é o som da Banda de Pau e Corda”, afirma José Milton.

Também participaram do novo álbum os músicos Corró Zabumbeiro (“Estrela cadente”), Raminho da Zabumba (“Fogo de braseiro”) e Júlio César Mendes (“Desvario”).

CAPA: A capa de “Missão do cantador” foi criada por outro velho parceiro da banda: Elifas Andreato. “Ele é o papa das artes gráficas”, diz Sérgio Andrade. Em 1978, o artista plástico fez a capa do LP “Arruar”, a “mais icônica” da discografia do grupo, segundo o cantor.

“Era uma capa preta com um boi crucificado – cenário do espetáculo que fizemos em São Paulo, chamado ‘Palavrão’. A Banda de Pau e Corda cantava e o Rolando Boldrin contava histórias, com produção e direção do Antonio Abujamra e cenário do Andreato. Ele simplesmente pegou aquele cenário e jogou para a capa do nosso disco”, relembra Sérgio. (Fonte: Augusto Pio-Jornal Estado de Minas)

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