ANTONIO NÓBREGA SEGUE, EM 2021, PROTAGONIZANDO A ARTE QUE BUSCA ENTENDER O MUNDO

Foi na caatinga do Sertão paraibano, na Fazenda Tamanduá, que Antonio Nóbrega, 68 anos, recebeu 2021 ao lado da companheira Rosane Almeida e da filha Maria Eugênia. Sem rituais, avesso a festejos amparados por artificialidades, o multiartista pernambucano não silenciou, porque pela sua cantoria “Nem na faca, nem no grito. Nem no tapa, nem na bala. (...) Poeta não cala”. 

Brincante que é, de um universo cultural que possibilita entender o mundo, Nóbrega conversou com a Folha de Pernambuco e trouxe alentos de possibilidades para um ano cujo foco deve ser o bom senso. Esse é o desejo do nosso maior protagonista da arte, a que vislumbra luz nos fins dos túneis (da vida).

A arte tem o poder de mostrar horizontes e perspectivas habitualmente não vistas no nosso cotidiano. Seja através da poesia ou de uma boa história, somos convidados a compreender o mundo e entrar nos seus subterrâneos mais facilmente”.

A quarentena me obrigou a tarefas que há algum tempo havia me proposto concluir, de natureza literária por exemplo. Pude avançar e talvez no primeiro semestre possa publicar alguns desses trabalhos.

O momento nos predispõe a uma atitude de maior busca de conhecimento, como brasileiros precisamos ter uma consciência menos banal sobre as coisas. Devemos acordar para a necessidade de repensar os chamados arquétipos do "País do Carnaval e do futebol''. 

Certamente a gente não vai ter Carnaval como festa de rua em 2021. Optar por fazer lives não é Carnaval, mas é interessante. Gostaria muito de apresentar frevos instrumentais e comentar sobre seus compositores, falar dos frevos-canções, sua dinâmica e como nascem. 

E o Carnaval é uma festa dividida entre a classe que investe e o povão na rua, uma ambiguidade. Tá na hora de mudar a roleta e entrar no lugar em que o País ainda não esteve: o do respeito por suas ideias no campo social, embora esteja dizendo isso em um momento absolutamente trágico e postergado não sei até quando.

O que está se vendo é uma absoluta falta de bom senso, algo que está fora do foco do Governo. Não há caminhos para a conversa sensata, sequer para a conversa. É difícil esperar que as coisas dentro dessa trama voltem a nos favorecer.

Eu tenho para mim que o caminho de 2021 será o da sociedade mostrar força e não aceitar as coisas “ad eternidade”. A pandemia tem sido um exemplo de muitas contradições que estão ocorrendo dentro desse contexto.

Diria que a maior parte dessa resistência foi alegre. Nós, Rosane e eu, sempre estivemos animosos e nesta pandemia ela junto aos professores do Brincante, conseguiu fazer com que o espaço atravessasse mais uma vez um período tormentoso. Já começamos a divulgação de cursos como a ‘Arte do Brincante’ e o ‘Na Rima’.

Vamos aguardar os acontecimentos sobre cursos presenciais, no segundo semestre, quem sabe? Embora o trabalho virtualmente tenha se tornado um caminho para se associar ao presencial.

Estamos confundindo arte com entretenimento e ao invés de tê-la para entender o mundo, a temos como alienação, como anestesia. Vou puxar um pouco o freio de minha atividade artística. Vai ser mais importante colocar o meu saber em processos de educação cultural, esse é meu propósito maior. Se não mudarmos, a civilização vai fenecer, porque o estado de ignorância vai preponderar.

Como podemos instrumentalizar as pessoas com a arte, dentro de um mundo em que o meio-ambiente está deteriorado, o capitalismo cresce assustadoramente com as maiores fortunas ganhando na pandemia, enquanto milhões passam necessidades das mais atrozes? Acho que no futuro essas pessoas devem ser consideradas tão más quanto os maiores facínoras de nossa época.


Nenhum comentário

← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário