EX--PARCEIRA DE DOMINGUINHOS, A CANTORA E COMPOSITORA ANASTÁCIA COMPLETA 80 ANOS NESTE SÁBADO 30

Autora de quase mil músicas e regravada por artistas como Gal Costa, Gilberto Gil, Nana Caymmi e Luiz Gonzaga, que a apadrinhou, Anastácia compôs cerca de 250 canções com Dominguinhos, de quem foi esposa e parceira de toda uma vida. Da vida entre os dois, ela resgatou a inédita “Venceu A Solidão”, um bolero daqueles que pedem um trago de conhaque, que fecha o EP com Mariana Aydar e Mestrinho - que também dá o toque na sanfona - nos vocais.


“Já não consigo mais me encontrar/ Findou-se a calma, vou desesperar/ A solidão bateu mais uma vez/ E fez de mim seu lar”, diz o refrão. “Não
mostrei a ele em vida porque não houve oportunidade. Cantamos nós três como se fosse uma homenagem a Dominguinhos”, conta a aniversariante. Com o ex-companheiro, falecido em 2013, ela deu vida a clássicos do cancioneiro nacional, entre eles “Eu Só Quero Um Xodó”, cantada de norte a sul do país, e “Tenho Sede”, que ganhou linda versão de Gil. “Meu repertório com ele foi uma coisa maravilhosa para mim, para ele e para a música brasileira”, diz a compositora.

Aos 80 anos de vida e pouco mais de 60 de carreira na música, há de ser ter muitas histórias para contar. E quando se trata de resistir ao tempo para exaltar o cancioneiro nordestino e deixá-lo reluzente, o mérito da narrativa se torna ainda mais especial.

Ao menos para a cantora, compositora e forrozeira pernambucana Lucinete Ferreira, a Anastácia, como artisticamente é conhecida, essa tem sido a retórica de suas oito décadas de idade celebradas neste sábado (30), com comemorações abertas ontem no lançamento do EP “Anastácia 80 – Lado A”, compilação que reúne algumas de suas composições inéditas disponibilizadas nas plataformas digitais e apresentadas em duetos com artistas da Música Popular Brasileira.

“Tudo faz sentido, porque chegar aos 80 anos fazendo o que eu faço e com saúde, gostando e vivendo da música nordestina, levando alegria às pessoas. Eu não podia ter recebido presente melhor do que essa vida longa, embora espere mais e espero mesmo, viu?”, conta ela, em conversa com a Folha de Pernambuco e com empolgação de menina, provavelmente a mesma que a levou aos 14 anos de idade a escrever suas primeiras letras na música.

Foram minhas primeiras três músicas, ainda quando eu vivia no Recife. Naquele tempo não se tinha muita noção das coisas, aos 14 anos não é? Eu só sei que ria, me divertia quando via o que eu escrevia sendo musicado por outras pessoas”, relembra ela citando Clóvis Pereira, compositor e arranjador pernambucano, entre os nomes que levaram adiante seus escritos da época. 

Em “Anastácia 80 – Lado A” a artista pernambucana, que mora em SP há pelo menos seis décadas, o forró ganha os brios enraizados do Nordeste, sem polimento nem maquiagem.

Com Chico César, Jorge de Altinho, Roberta Miranda, Amelinha, Mestrinho e Mariana Aydar, Anastácia impõe suas vontades de cantar o amor sob a batuta da sanfona, gênero que a consagrou também junto ao Mestre Dominguinhos (1941-2013) com quem dividiu anos de vida e de palco, assinando com ele mais de duzentas composições - entre elas "Eú Só Quero um Xodó" e "Tenho Sede". 

“Tenho uma pastas cheias de coisas (letras), separei uma relação e submeti à minha produção que também achou interessante. Tem músicas mais antigas, outras mais recentes, mas todas perfeitas para o momento que eu pensei para o disco”, conta.

O álbum, dividido em duas partes – na sequência de “Anastácia 80 – Lado A” virá o “Anastácia 80 – Lado B” com outros nomes da MPB e como se fosse “um disco de antigamente, o LP, que a gente virava e ouvia faixas de um lado e de outro”, como explicou a artista – tem a produção do maranhense Zeca Baleiro que o tanto quanto a pernambucana conserva raízes e exalta regionalidades. 

“Forró faz parte da memória afetiva, né? Ouvia no rádio e nos discos de meus pais, Gonzaga, Genival, Jackson (...). Isso impregna na alma. Hoje tenho um projeto de forró em São Paulo (Forró do Safadinho), em que toco clássicos do gênero e também de minha lavra. E sempre recebo convidados", revela Baleiro à Folha. E Anastácia foi um dos nomes que já passou por lá.

Ele adianta, inclusive, que “em breve vem um disco autoral de forró por aí”. Enquanto não chega, é com Anastácia que Zeca Baleiro se emparelha na produção e em duas faixas do disco “O Sertão Está Chorando” e “Venha Logo”. 

“Sou grande fã de Anastácia desde sempre. A conheci em umas gravações do Gilberto Gil e depois fui conhecer seu trabalho solo e sua parceria histórica com Dominguinhos. Ela é danada, criativa, irrequieta, compõe o tempo todo, fácil, letra e melodia, é daquelas artistas essenciais, que abrem caminhos, uma grande referência para todos nós”, complementa ele que assina o álbum junto ao maestro Adriano Magoo, co-produtor do trabalho.

Para Zeca, é de grande valia conhecer e se aprofundar na obra de Anastácia, “artista fundamental para o forró e para a música brasileira”, como ele mesmo pontua ao colocá-la como “pioneira destemida” assim como Marinês e Almira Castilho, esta, parceira de outro mestre, Jackson do Pandeiro. “Elas que foram abrindo caminho para garotas no forró. Eu sou suspeito porque sou muito fã, mas acho Anastácia imensa, vamos celebrá-la - em vida, de preferência”, conclui Baleiro.

Além das faixas já citadas, “Anastácia 80 – Lado A” chega com as faixas “A Saudade me Trouxe Pelo Braço”, “Contando as Estrelas” e “ Venceu a Solidão”, esta última tratada pela artista pernambucana de forma especial. “A melodia é dele (Dominguinhos) e a letra é minha. Quando comecei a compor músicas com ele eu tinha que ficar de olho para não comprometer as suas melodias, feitas de uma forma que não tinha como a gente não gostar. 

Foram quase onze anos de convivência. Divido minha vida antes e depois dele”, ressalta Anastácia que retorna mais adiante com o seu “Lado B” ao lado de Alceu Valença, Lenine e Flávio José entre outros nomes. (Fonte: Folha Pernambuco-Germana Macambira)
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