Jornalista José Teles acusa prefeituras e promotores de festas pelo péssima qualidade do São Joao 2017

Num debate de que participei, na Rádio Jornal, no programa do meu amigo Ednaldo Santos, com Xico Bizerra e Anselmo Alves, confessei meu pessimismo sobre mudanças no formato adotado para os festejos juninos no Nordeste. Assim como o Carnaval, não tem mais volta o São João. Aliás, como de resto, quase todas as festas populares. É uma equação de fácil resolução. O povo é só público. A festa é de Prefeituras e produtores. Quanto mais palcos e artistas, melhor. Por isso são criados polos descentralizados, anunciados como se fossem um presente para o coitadinho que mora longe e, portanto, não tem acesso ao artista famoso.

A descentralização apenas apressa o fim das manifestações populares que ainda existiam porque estavam distante dos palcos. Se o povo da zona rural ou da periferia não vai aos palcos, levam-se os palcos a ele. Em lugar de incentivar a continuidade do tipo de festa que se fazia no local, promove-se a inserção destes "atrasados" na cultura "muderna" de palco e plateia.
O modelo, que foi disseminado, Nordeste afora, para os festejos juninos, é uma bastardização cultural mais grave do que a que se faz no Carnaval. Na região, a folia de Momo acontece, basicamente, em Salvador, no Recife e em Olinda. Enquanto o São João é festejado em centenas de municípios. Em todos os estados.

Acho que não tem volta, tanto São João quanto Carnaval. Pelo menos duas gerações cresceram indo ver a festa, e não brincar na festa. Não a entendem de outra maneira. Os secretários de cultura não assumem o cargo esboçando uma política cultural que possa ser continuada. Pensam nas atrações que serão contratadas para o próximo São João.

O São João tradicional existe apenas nos comerciais que se divulgam pela TV ou Rádio. Todos eles têm como música de fundo, o forró tradicional. Raros são os municípios que apresentam peças promocionais anunciando o que contrataram como atrações para o palco principal, Luan Santana, Jorge e Mateus, Wesley Safadão, e similares, todos pagos regiamente, e sem atraso. Estes nem são convidados para o coquetel de lançamento do "São João Monumental" de determinada cidade. Só chegam na hora do show.

O São João não tem mais volta também porque os forrozeiros acomodaram-se no papel de convidados da própria festa. Aceitam o papel de coadjuvantes, num filme que todo ano se repete, com muita conversa mole, péssima trilha sonora, grande bilheteria, e público garantido.

Fonte: Jose Teles-Jornal do Commercio
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