CAMINHADA JUSTIÇA POR BEATRIZ É MARCADA POR EMOÇÃO, SOLIDARIEDADE E PROTESTOS

Pela primeira vez, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, reconheceu que a Polícia Civil não conseguiu êxito nas investigações relacionadas ao assassinato da menina Beatriz Angélica Mota, 7, que ocorreu em Petrolina, no

Sertão, há seis anos. Em entrevista exclusiva ao Jornal do Commercio, ele afirmou que a autoria do crime, que chocou o Estado, não foi descoberta - mesmo após oito delegados investigarem o caso emblemático. 

"A gente sempre esteve muito atento a este caso da Beatriz, inclusive eu estive com a mãe dela aqui no Palácio (do Campo das Princesas) e em outras oportunidades em Petrolina, mais de uma vez. Desde o início, nós solicitamos

uma apuração rigorosa com relação a isso. Infelizmente o trabalho da polícia não atingiu o êxito que nós gostaríamos de ter atingido, que era justamente chegar a autoria e a responsabilidade. Mas estamos à disposição como sempre estivemos", afirmou Câmara.

A declaração foi dada em meio à caminhada que os pais de Beatriz, Sandro Romildo e Lucinha Mota, fazem há 21 dias. Eles saíram de Petrolina, no último dia 05, e vão chegar, nesta terça-feira (28), no Recife. Haverá um protesto em

frente ao Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual. Além de pedir justiça, os pais de Beatriz querem uma reunião com o governador para insistir o pedido de federalização do caso. Para eles, diante de denúncias de irregularidades nas investigações, o ideal é que a Polícia Federal assuma o caso.

O governador também comentou que federalização não é um tabu e afirma que se "for para contribuir não vai se opor". Ainda de acordo com o governador este assunto federalizar o Caso Beatriz precisa "respeitar ritos e legislação" 

"Esse assunto da federação já tinha chegado a nós. Agora, nós temos que respeitar os ritos e a legislação. Não podemos fazer mais ou além do que esteja dentro das nossas possibilidades. E a polícia entendeu que produziu o que poderia se produzir até hoje, em termos de resultados. Agora qualquer fato novo, qualquer ação que possa ser inserida, nós vamos ser os primeiros a querer que isso seja apurado. Nós queremos também, tanto quanto a mãe, que isso seja apurado, porque é o conforto que ela está esperando e realmente diante de uma perda que não tem volta. A questão da autoria e da prisão é o que a mãe tem dito, que é o grande objetivo dela. Sempre que houver um fato novo e relevante nós vamos utilizar forças para tentar de todas as formas chegar a uma resultado final desse processo", disse o governador Paulo Câmara. 

Beatriz foi morta com mais de 40 facadas durante uma festa de formatura no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, onde ela estudava. A menina deixou a quadra da instituição para beber água e, após os pais desconfiarem da demora, fizeram buscas pelo colégio e encontraram o corpo escondido numa sala desativada. Atualmente, uma força-tarefa de delegados acompanha o caso. O inquérito, com 24 volumes, foi remetido ao Ministério Público no começo deste mês. Há, ao todo, 442 depoimentos, 900 horas de imagens e 15 mil chamadas telefônicas analisadas. 

Em 2017, polícia divulgou a imagem de um suspeito que possivelmente entrou no colégio durante a festa. Uma câmera flagrou o rapaz do lado de fora, mas nenhuma imagem do lado de dentro teria registrado. Foi oferecida recompensa de R$ 10 mil, mas o criminoso não foi encontrado.

Testemunhas contaram à polícia, na época, que o suspeito teria sido visto tentando se aproximar de outras crianças antes de chegar até Beatriz. Mas ninguém desconfiou.

Após quase dois anos e meio de uma denúncia feita pelos pais de Beatriz, a Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) concluiu as investigações neste mês. Portaria assinada pelo secretário Humberto Freire, e publicada último sábado, sugere ao governo de Pernambuco a demissão do perito criminal Diego Leonel Costa, que atuou na perícia sobre o assassinato da menina. De acordo com as investigações da Corregedoria, Diego participou de um plano de segurança para o colégio, na condição de sócio cotista da Empresa Master Vision.

 No dia 14 de janeiro de 2016, ou seja, um mês após a morte de Beatriz, ele esteve na instituição de ensino e fez filmagens e fotografias por meio de um drone. Apesar disso, segundo a Corregedoria, o mesmo perito fez parte, posteriormente, da equipe de trabalho de investigação responsável pela apuração do homicídio. 

Diego é um dos mais importantes peritos criminais do Estado. Nos últimos anos, atuou como chefe do Núcleo de Perícias do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), órgão subordinado à Polícia Científica de Pernambuco.

O profissional, inclusive, chegou a assinar, como perito revisor, um laudo em 2019 para contribuir com as investigações da polícia no Caso Beatriz. A portaria da SDS aponta que esse fato "situação que causou estranhamento pelo fato deste mesmo perito já ter prestado serviços particulares ao referido colégio e que teve repercussão na mídia, o que acarretou questionamentos acerca da lisura e imparcialidade das investigações policiais do caso em tela, trazendo flagrante prejuízo ao andamento das investigações".

A SDS ainda pontua que Diego é presidente da Cooperativa de Peritos Assistentes Técnicos e Pareceristas, cooperativa que objetiva fazer a intermediação entre peritos e o Poder Judiciário com a finalidade de tais peritos prestarem serviços particulares à Justiça. Além disso, ainda seria sócio de outra empresa, a GD Perícia, Consultoria e Engenharia Ambiental LTDA, onde atuaria como perito particular.

No parecer, sugerindo a demissão do profissional, o secretário Humberto freire destaca que ele "feriu a moralidade administrativa e negligenciou o cumprimento de seus deveres em três ocasiões distintas, em especial ao exercer atividades incompatíveis com a função policial civil, ao desrespeitar a hierarquia e a disciplina, ao não zelar pela dignidade da função policial e ao não observar normas legais e regulamentares".

A decisão final sobre a demissão caberá ao governador Paulo Câmara. Diego Costa ainda não se pronunciou.

RESPOSTA: Por meio de nota, a Associação de Polícia Científica se pronunciou sobre o caso e afirmou que “considerando as graves acusações que vêm sendo recorrentemente feitas por membros da família da vítima, tanto contra Peritos Criminais quanto, de modo geral, contra integrantes da Polícia Civil de Pernambuco, [...] está atenta a todos os desdobramentos do caso, para adotar todas as providências voltadas para a defesa dos interesses do Perito Criminal Diego e de toda categoria”.

De acordo com o órgão, “o trabalho realizado pela Polícia Científica contribui para a produção da prova técnica, auxiliando, de modo relevante, a investigação policial”.


Ainda no texto, eles afirmaram que seguem “na defesa incansável dos interesses dos Peritos Criminais que estejam sendo vítimas de decisões administrativas desarrazoadas e desproporcionais". Por fim, a associação afirmou que “também não permitirá que seja maculada a reputação de profissionais responsáveis e probos”.

CRIME: Beatriz Angélica foi assassinada a facadas dentro da escola onde estudava, durante uma solenidade de formatura que aconteceu na noite do dia 10 de dezembro de 2015. O pai dela era professor de inglês da instituição.

A última imagem que a polícia tem de Beatriz foi registrada às 21h59 do dia 10 de dezembro de 2015, quando ela se afasta da mãe e vai até o bebedouro do colégio, localizado na parte inferior da quadra.

Ela foi encontrada já morta, com 42 marcas de facadas em um depósito de material esportivo desativado, ao lado da quadra de esportes onde acontecia a formatura.

Ela tinha ferimentos no tórax, membros superiores e inferiores. A faca usada no crime, de tipo peixeira, foi encontrada cravada na região do abdômen da criança. (Fonte: Jornal do Commércio)

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