DESERTIFICAÇÃO AVANÇA NA CAATINGA POR CAUSA DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS

A desertificação tem avançado na Caatinga por causa de mudanças climáticas que estão ocorrendo no mundo todo. Nos últimos 36 anos, o bioma, que só existe no Brasil, já perdeu 40% da área de rios e lagoas e 10% da vegetação nativa, segundo um levantamento da rede Mapbiomas.

Em Pernambuco, por exemplo, 123 dos 184 municípios estão correndo o risco de desertificação, segundo um estudo do qual participou o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Iêdo Bezerra Sá.

A caatinga ocupa um décimo do território nacional, quase todo no Nordeste. O seu nome vem do Tupi e significa "Mata Branca", que é a aparência da vegetação durante a seca.

É o pedaço mais quente e seco do país. E também um dos mais vulneráveis às mudanças climáticas.

Nos últimos 50 anos, houve um aumento de até 5% nas temperaturas máximas de algumas regiões do Nordeste, o que tem provocado picos de calor que passam dos 40 graus.

Além do clima, o bioma sofre os efeitos de um conjunto de agressões provocadas pelo homem. Começa com o desmatamento e as queimadas. Piora com a criação desordenada de animais e o cultivo com técnicas erradas.

Tudo isso gera degradação do solo, que fica exposto a secas cada vez mais longas, o que agrava o processo que transforma terras férteis em improdutivas.

"Quando a gente se depara com áreas devastadas, desflorestadas, o que acontece é que a gente perde a capacidade de reter água no solo e de bombear a água do solo para a atmosfera, para que isso ser transformado em nuvens de chuva", explica Francis Lacerda, pesquisadora e climatologista do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA).

Para minimizar os efeitos das mudanças climáticas, soluções para a adaptação do homem ao campo vão surgindo no sertão, unindo a ciência e a sabedoria do povo sertanejo.

No município de Petrolina, em Pernambuco, por exemplo, pesquisadores da Embrapa Semiárido estudam seis variedades do feijão-caupi, também conhecido como feijão-de-corda, para avaliar a resistência à seca.

Os tipos do feijão são cultivados em duas câmaras de crescimento e submetidos a diferentes temperaturas.

Quatro variedades do feijão-caupi que apresentaram maior resistência nas câmaras já foram para o campo, plantadas em duas épocas diferentes do ano. E, com o tempo, a melhor deve se destacar.

"O feijão-caupi é um cultivo de grande importância socioeconômica para o semiárido. Nós temos essa preocupação com a segurança alimentar, com o que vai estar disponível para a nossa população frente a esses cenários futuros", diz a pesquisadora Francislene Angelotti.

PRESERVAÇÃO VEGETAÇÃO NATIVA: Já em Itapetim (PE), um grupo de 19 mulheres, chamado Pajeú, replanta árvores nativas junto às nascentes do lugar onde vivem, desde 2012. Elas recebem o apoio da ONG Centro Sabiá.

Elas produzem as mudas e acompanham o crescimento das plantas, um esforço que já rendeu 10 mil árvores.

"Se a gente não recuperar, futuramente não vai ter. Vai estar escasso. As pessoas das novas gerações não vão conhecer as espécies nativas", diz a agricultora Valéria Pereira.

"Esse trabalho vai contribuir enormemente para que a gente amplie a resiliência dos povos do semiárido para o enfrentamento das mudanças climáticas", diz agrônoma Rivaneide Almeida. (Fonte: Globo Rural)

Nenhum comentário

← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário