RIACHO DO NAVIO: ZÉ DANTAS O POETA DO PAJEÚ, MÚSICA BRASILEIRA QUE PARA SEMPRE SEJA LEMBRADO

Neste ano de 2021, o Brasil comemorou os 100 anos de nascimento, do compositor e médico, um dos mais talentosos nomes da cultura brasileira e internacional, José de Souza Dantas Filho, o poeta Zé Dantas. 

O filho de Zé Dantas, José de Souza Dantas Neto, atualmente respeitado profissional da medicina, o doutor Dantas Neto, coronel médico aposentado do Exército Brasileiro, mestre pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, ex-chefe de clínica e da residência médica do Hospital do Exército por mais de 10 anos, participou do PROGRAMA NAS ASAS DA ASA BRANCA-VIVA LUIZ GONZAGA E SEUS AMIGOS, apresentado pelo pesquisador e jornalista Ney Vital.

A entrevista com o médico Dantas Neto foi para marcar o que representa um século de vida de Zé Dantas, o compositor que deve continuar sempre lembrado na história da música brasileira.

Com uma simplicidade e conhecimento da vida e obra do pai, Zé Dantas e da amizade por Luiz Gonzaga, o doutor Dantas Neto apresentou várias histórias.

Doutor Neto Dantas "deu um presente que surpreendeu". Ele apresentou o cantor José Tobias, o primeiro a gravar (antes de Luiz Gonzaga), a música Acauã. José Tobias iniciou a carreira artística no Recife onde nasceu, em 6 de março de 1928. José Tobias declarou o amor e carinho que tinha por Zé Dantas. "Era um mais que irmão".

José Tobias trabalhou na Rádio Jornal do Comércio na capital pernambucana, Recife. Pouco depois transferiu-se para o Rio de Janeiro, sendo levado para a Rádio Tupi por João Calmon. Da Tupi do Rio de Janeiro foi para a Rádio Record de São Paulo e passou a realizar dois programas semanais nas duas emissoras. Ao produzir um dos melhores álbuns de sua carreira, “Rapsódia Brasileira”, acompanhado por Radamés Gnattali, Camerata Carioca e Octeto Brasilis, Hermínio Bello de Carvalho escalou José Tobias e o definiu como “um cantor de mil cantorias”.

José Tobias teve a voz elogiada pela cantora Elis Regina. 

José Tobias é um nome quase esquecido no cenário musical brasileiro. Pouco se ouve falar deste magnífico cantor, dono de uma voz única, grave. Pelas suas evidentes qualidades vocais encantou milhares de ouvintes, não demorando muito para ser apresentado também no Rio de Janeiro e São Paulo, onde seguiu carreira em diversas rádios. Gravou também alguns Lps nos anos 50. Muitas dessas músicas, gravadas em discos de 78rpm, foram novamente regravadas. 

Em 1952, portanto há 69 anos, José Tobias fez sua estreia em disco no selo Star com os baiões “Acauã”, de Zé Dantas e Luiz Gonzaga e “Chora baixinho”, de Zé Dantas. Em 1953 gravou o samba canção “De tanto acreditar”, de Hervê Cordovil e Renê Cordovil e o baião “Baião do pescador”, de Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil. No ano seguinte gravou do pernambucano Capiba os sambas “Igarassu, cidade do passado” e “Recife, cidade lendária”, de Luiz Gonzaga e Ghiaroni o samba “Criança má” e de Elpídeo dos Santos a rancheira “Você vai gostar”. Em 1955 gravou de Dorival Caymmi a canção “Saudade de Itapoã”.

Em 1959 gravou o maracatu “Eh! Ua! Calunga”, de Capiba e o coco “Lua…lua…”, de Teófilo de Barros e Sebastião Lopes. No ano seguinte gravou  as toadas “Se eu soubesse”, do ex cangaceiro Volta Seca e “Vai jangada”, de Geraldo Serafim e Newton Castro. 

Em 1961 gravou do maestro Guerra Peixe o samba “Se você voltasse”. Gravou ainda pelo pequeno selo Athena. Por essa época lançou o LP “Poema triste” no qual interpretou de sua autoria, a “Balada da solidão” e “Só voltou de madrugada”; de Ronaldo Bóscoli e Roberto Menescal a música “Negro”, de Peterpan, “Hoje é Domingo outra vez” de Hervê Cordovil e Vicente Leporace, “Jangada”, de Zé Dantas, “Acauã” e de Luiz Vieira, o “Prelúdio para ninar gente grande”.

Em 1984 lançou o LP “Rapsódia brasileira”, com a participação do maestro Radamés Gnatalli, Camerata Carioca e Octeto Brasilis, no qual interpretou, entre outras músicas, “Meu caboclo”, de Laurindo de Almeida e J. Lourival, “Minha terra” de Waldemar Henrique, “Luar do sertão”, de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco, “Isso é o Brasil” de José Maria de Abreu e Luiz Peixoto e “Azulão” e “Modinha”, de Jayme Ovalle e Manuel Bandeira.

José Tobias de Santana começou sua carreira musical de um modo muito particular: após uma vitória de seu time de futebol (chegou a receber propostas para se profissionalizar pelo Náutico) contra o time da Rádio Jornal do Comércio de Recife, foi comemorar no chuveiro ao som de “Marina”, de Caymmi. 

Ao ouvi-lo cantar, Ubirajara Mendes – programador da rádio, que tinha ido ao vestiário com a intenção de contratá-lo para o futebol da emissora – não teve dúvidas: levou-o para a rádio, uma das mais importantes do país na época, que contava no seu elenco com músicos e arranjadores de peso como Guerra-Peixe e Sivuca.

Um dos sonhos de José Tobias, 94 anos, é realizar um show em Recife, Pernambuco.

ZÉ DANTAS: O gosto musical sempre foi o grande aliado do pernambucano José de Souza Dantas Filho (1921-1962), também chamado de Zé Dantas. Nascido em Carnaíba de Flores, no Sertão do Pajeú, desde menino se revelava compositor. Apaixonado por ritmo, melodia e harmonia, Zé Dantas, criava com facilidade xotes, baiões e toadas. No Recife estudou medicina conforme desejavam os pais, mas nunca abandonou a vocação artística.

Aquele que viria a ser um dos principais parceiros musicais do Mestre Lua é  tema do livro Na batida do baião, no balanço do forró: Zedantas e Luiz Gonzaga, da antropóloga Mundicarmo Ferretti. A publicação do livro é fruto da dissertação de mestrado da pesquisadora, que na década de 1970 fez o primeiro estudo acadêmico sobre a parceria entre os dois pernambucanos.

“Conheci o trabalho de Zedantas e de Luiz Gonzaga ainda na infância, no Piauí, e, posteriormente, vi que a música dos dois permanecia muito viva. Além disso, passou a atrair a atenção de um público classe média e universitário, da mesma maneira que em outros tempos interessou a imigrantes nordestinos”, conta. Em Pernambuco, Ferretti entrevistou amigos e familiares do compositor; e no Rio de Janeiro colheu depoimentos de pessoas ligadas a gravadoras, lojas de discos, casas de forró.

Segundo a pesquisadora, Zedantas conheceu o Rei do Baião em 1947, antes mesmo de terminar o curso de medicina na UFPE, em 1949, e de partir para o Rio de Janeiro no ano seguinte. Embora fosse “doutor”, era notado sobretudo pelo humor e talento com os quais contava histórias e criava versos. De 1950 a 1958, Luiz Gonzaga gravou 50 composições do conterrâneo, que as escrevia com a intenção de divulgar os costumes e as artes populares tipicamente nordestinas.

Com olhar voltado para as próprias raízes, Zedantas compunha canções sobre festividades sertanejas, práticas medicinais e agrícolas, poesia, artesanato. Chegou a ser diretor do programa O Rei do Baião, da Rádio Nacional, e do Departamento Folclórico da Rádio Mayrink Veiga. Quando morreu, aos 41 anos, um busto foi levantado na cidade natal, em sua memória.

Mas foi do cantor e compositor Antonio Barros, o paraibano que recebeu o maior tributo, a música Homenagem a Zedantas, interpretada por Luiz Gonzaga que empunhava versos como: “Chora meu olho d' água,/ chora meu pé de algodão./ As folhas já estão se orvalhando,/ saudade do nosso irmão,/ Zedantas”. 

Além de Luiz Gonzaga, as composições do pernambucano foram gravadas por artistas como Carmélia Alves (O calango), Quinteto Violado (Chegada de inverno), Ivon Curi, (Dei no pai e trouxe a filha), e Jackson do Pandeiro (Forró em Caruaru).

A vida e a obra de Zedantas também são o enfoque de Psiu!, filme documentário produzido e co-dirigido por Juliana Lima, com direção de Antônio Carrilho. “Partimos de conversa com dona Iolanda para colher depoimentos de outros familiares e amigos. Falamos com o filho de Zedantas, o cunhado, colegas de profissão no Rio de Janeiro, sertanejos que trabalharam na fazenda dos pais do compositor, além de artistas como Geraldo Azevedo e Fagner, que até hoje cantam as músicas dele”, ressalta a co-diretora.

No documentário, Zedantas é descrito como uma pessoa carismática, alegre e talentosa. Psiu! traz também imagens inéditas e gravações com a voz do compositor, que registrou em áudio entrevistas. A direção de fotografia é assinada por Léo Sete, Pedro Urano e Zé Cauê.

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