TEU PEDIDO DE DESCULPAS MURILO É VOLÁTIL, NÃO TEM SUBSTÂNCIA E É SEM ALMA

No sábado passado fiquei feliz e terrivelmente puto. Fiquei feliz porque vi Luzinete, A Rainha da Seresta, equipada com seus mais de 60 anos, atravessar com galhardia 4 horas de live cantando e homenageando os nossos ídolos da música nacional. 

Vida longa a Luzinete, bela e poderosa, decidida, ousada, mulher nordestina, fortaleza, herdeira e sucessora de nossa ancestralidade. Sem tua presença e poder, Luzinete, estaríamos fadados à nulidade. A música romântica, loucamente chamada de brega pelas elites culturais brasileiras, mas que usa essa designação como trampolim para a transcendentalização de si mesma, tem em ti, mulher, o alicerce mais profundo.

Mas como disse, fiquei também extremamente puto. Vi o vídeo podre de preconceito, nefasto de ignorância, ensebado de agressões de Murilo Couto se referindo ao nosso poderosíssimo Assisão. Debochar de outrem para tentar fazer humor é o rés do chão de quem tenta ser humorista. A ignorância é a mãe de todos os males, já dizia Rabelais, um velho como Murilo o chamaria. 

As elites culturais, mais uma vez elas, criam esse tipo de aberração. Ainda mais quando se referem ao Nordeste. Não é a primeira vez, nem será a última, na qual a excrescência eclode mundialmente se atirando contra nós, nordestinos. Não será também a última vez na qual nos levantaremos contra esse tipo de investida.

Aí, hoje, vejo o pedido de desculpas do Murilo Couto. A emenda pior do que o soneto porque ele diz literalmente "eu pensei que fosse apenas um véi". E multiplica seu preconceito. Trata-se, Murilo, de um velho, de verdade. E todos os velhos merecem respeito, todas as pessoas merecem respeito. Mas que desgraceira de país foi parido desse ventre insidioso? Lembram daquela turminha de playboys brasilienses que tocou fogo em um índio? A desculpa: "nós pensamos que fosse apenas um mendigo." 

O Nordeste é foda, Murilo. Teu pedido de desculpas, nós sabemos, é volátil, não tem substância, tampouco alma. O veneno é o mesmo: o ódio contra os nordestinos. A Luzinete e Assisão: vocês são imensos!

*Fonte: Aderaldo Luciano é doutor e mestre em Ciência da Literatura, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, professor, poeta, escritor e músico 
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