CLARISSA LOUREIRO, ÍTALO CALVINO E AS CIDADES INVISÍVEIS

"As cidades invisíveis" de Italo Calvino se destaca por ser um cadinho de narrativas sobre cidades imaginárias que se agrupam nos seguintes grupos temáticos: memória, desejo, símbolos, morte, céu, nomes e delgadas. 

O que as identifica é a sua capacidade de uso da descrição geográfica em função de uma reflexão existencial. Assim, cada cidade é personificada com nomes de mulheres que aproximam seu " corpo" a um lugar feminino de mistério, dor, abandono, morte. Por isso, nessa obra, o espaço é metafórico, preenchendo-se mais pelo que pode ser interpretado pelo leitor do que pela sua função de localizar personagens e as suas, consequentes, ações.

Entre as narrativas, destaco a intrínseca relação entre memória, desejo e morte. Todas essas narrativas levam o leitor a pensar a efemeridade do humano e, ao mesmo tempo, a sua busca por eternizar-se no modo como se relacionam com determinados " lugares" da cidade. Entre as cidades- memória, sublinho a relação entre Kubla e Maurília, enquanto cidades em que o passado é recordado permanentemente, seja na condição de cartão postal, seja na situação de resgate de ações antigas cotidianas em ruas e espaços da cidade. Por outro lado, as cidades-morte reforçam a determinação do passado no processo permanente de presentificação das cidades. É o caso das cidades Eusápia e Andelma. 

A primeira remete a uma duplicação passado-presente numa alimentação recíproca constante, já a segunda envolve a nossa saudade constante dos mortos e a nossa necessidade de os reviver em gestos e ações de estranhos. O que sintetiza a ideia central do livro na seguinte premissa, encontrada na sua primeira narrativa: " os desejos agora são só recordações", metáfora que define a sensação de impermanência comum ao homem que se propõe a assistir e, sobretudo, pensar as cidades. (Fonte: Clarissa Loureiro nasceu em Campina Grande Paraíba. É professa da UPE, mestrado e doutorado em Teoria da Literatura) 
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