BONITA MARIA DO CAPITÃO VIRGULINO FERREIRA, O LAMPIÃO

A aventura da menina que saiu de casa aos 19 anos para percorrer o sertão nordestino a pé num bando de cangaceiros até tombar, aos 27, humilhada a ponto de ter a cabeça, decepada quando ainda vivia, exposta à curiosidade popular, tem sido narrada em prosa, verso, imagem e som. O centenário de nascimento de Maria Bonita, mulher de Lampião, motivou o lançamento de um livro que celebra sua vida e seu mito, .

Nascida e criada na Malhada da Caiçara, no sertão baiano, Maria de Déa foi destinada ao casamento, celebrado em plena adolescência, e a uma vida pacata. Aos 16 anos, casaram-na com o sapateiro Zé de Nenê, mas o lar do casal, que foi morar no povoado de Santa Brígida. No fim de 1929, cruzou a soleira dos pais dela, Zé Filipe e Dona Déa, o temível Rei do Cangaço no sertão, Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião aos 32 anos.

O chefe de bando era vingativo, cruel e destemido, mas também tinha lá seus laivos de herói romântico. Dos saques das fazendas dos ricaços do sertão furtava perfumes franceses de boa cepa e o melhor uísque escocês. Ao relento nos acampamentos no zigue-zague das fugas para escapar da perseguição policial, puxava um fole de oito baixos e a ele foi atribuída a autoria de um dos maiores sucessos do cancioneiro sertanejo e nacional, "Muié Rendeira", de cuja autoria se apropriaria, no Rio, Zé do Norte.

Não era de estranhar que fizesse corte à morena e começou por lhe encomendar que bordasse suas iniciais CL (Capitão Lampião) em 15 lenços de seda, o que permitiu a abordagem e, depois, serviu de pretexto a novo encontro, que terminou com a retirada da morena separada do marido da casa dos pais. Foi, então, que a beleza da escolhida do Rei lhe deu a alcunha com que morreu na Grota do Angico, Sergipe, ao lado do amante, e que se fixou na memória do povo: Maria Bonita.

Expedita, filha do casal real da caatinga, criada no Estado em que os pais morreram, Sergipe, sobreviveu à carnificina e gerou, entre outros filhos, Vera Ferreira, que, professora universitária em Aracaju, tem mantido viva a memória dos avós e empreendeu obra de vulto para comemorar o centenário da avó.

 "Bonita Maria do Capitão", livro trazido em 2012, a lume pela Editora da Universidade do Estado da Bahia. O volume de 328 páginas, organizado pela neta, jornalista e escritora, com a cumplicidade da desenhista paraibana Germana Gonçalves de Araújo reproduz o legado da personagem lembrada pelos caprichos e vontades, mas também pelo bom humor e descontração quase infantil, com esmero e bom gosto.

O casal, evidentemente, foi tema de muitos romances de cordel. Num deles, Saboia, chamado de Marechal de Cordel do Cangaço, registrou: "Cupido fez passatempo /com Maria e Lampião/ ela Rainha ele Rei /governou nosso sertão /cangaço e amor viveu /não foi uma ilustração". Rouxinol do Rinaré e Antônio Klévisson Viana versejaram: "Maria Gomes de Oliveira /amou muito a Lampião /decidiu ser a primeira /cangaceira do sertão /ignorando o destino /acompanhou Virgolino /pela força da paixão". O livro reproduziu a capa de um cordel de Sávio Pinheiro sob título "O Arranca-rabo de Yoko Ono com Maria Bonita ou A Desaventura de John Lennon e Lampião", editado em 2008.

A beleza de Maria, mostrada em foto e cinema por Benjamin Abrahão, fascinou artistas plásticos como Mino e virou tema obrigatório de xilogravadores como J. Borges, Mestre Noza, J. Miguel e Marcelo Soares. Suas peças de vestuário e as joias que usava foram reproduzidas no livro, que também se refere à peça de Rachel de Queiroz sobre ela e a filmes do gênero dito nordestern, que a adotaram como personagem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Bonita Maria do Capitão - Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915). Tel. (011) 3814-5811. Terça-feira, 18h30.
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