DOMINGUINHOS, O DISCÍPULO QUE INOVOU A ARTE DO MESTRE

Não pude assistir à festa do Prêmio TIM de Música, no Rio de Janeiro, que homenageou o sanfoneiro e compositor Dominguinhos. 

Pelo que vi na imprensa, foi uma festa belíssima. Espero que tenha sido tão bela quanto a que vi ontem no Teatro Tobias Barreto, em Aracaju, na abertura do VII Fórum Junino. O Fórum foi criado pela Prefeitura de Aracaju para acompanhar, com palestras, debates e projeções, as festas de São João, e discutir os caminhos que elas vêm tomando. 

Entre os já homenageados do Fórum estão Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Humberto Teixeira, Marinês, Carmélia Alves, Genival Lacerda, etc. 

As palestras do Fórum abordam a vida e a obra do homenageado, mas também discutem as manifestações folclóricas do Estado, o mercado de shows e de discos, a distinção entre diferentes ritmos, a história discográfica da música regional, etc. Um tema recorrente nas discussões é o curioso fenômeno do “forró eletrônico”, com seus ritmos do interior paulista, suas coreografias de lambada, suas dançarinas seminuas e suas letras que só falam de sexo. 

A abertura do VII Fórum (terça-feira, dia 3) teve um debate sobre a carreira de Dominguinhos, com a presença do Prof. Paulino da UFSE, de Anastácia (parceira de Dominguinhos em cerca de 200 canções), do compositor Climério e do cantor Silvério Pessoa. 

Dominguinhos lembrou episódios de sua carreira, recordou amigos e mestres, e divertiu a platéia com seu bom humor. Indagado sobre o seu notório medo de viajar de avião, ele confessou que muita gente já tentou dissuadi-lo, e que o próprio Luiz Gonzaga lhe disse certa vez: “Mas Dominguinhos, avião é uma coisa segura. Todo mundo viaja de avião: Sarney, Antonio Carlos Magalhães... O avião não cai com essas pestes, vai cair com a gente?!” 

Indagado sobre as bandas de forró eletrônico, o mestre do forró tradicional foi generoso e diplomático: 

“Olhe, quando a bossa-nova começou, todo mundo que tocava sanfona teve que parar. Ninguém queria saber mais de forró. Todo sanfoneiro foi tocar órgão, piano... Ficamos eu, Chiquinho do Acordeon, Caçulinha, e mais meia dúzia. Agora começaram essas bandas a fazer sucesso. Só em Fortaleza, terra de Waldonys, tem umas mil bandas. Eu acho que eles ainda não acharam um nome para botar na música deles, por isso chamam de forró. Mas é até bom, porque por causa dessas bandas o povo começou a falar em forró de novo, a imprensa voltou a cobrir o forró... Então, os forrozeiros agradecem”.

Depois, Dominguinhos fez um show, e teve a certa altura a participação da Orquestra Sanfônica de Aracaju. Foi bonito ver Dominguinhos e mais de 20 sanfoneiros tocando “Só quero um xodó” e o teatro inteiro cantando a plenos pulmões. 

Numa cena assim a gente podia ver o poder multiplicador do gênio. Um grande artista não cria consumidores, cria discípulos e futuros mestres. O lema do VII Fórum diz: “O discípulo inovou a arte do mestre”. Essa é a diferença entre o artista que cria e o que se apropria.

Fonte: Braulio Tavares-Jornal da Paraíba

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