EXU, 02 DE AGOSTO, 29 ANOS DE MORTE DE LUIZ GONZAGA, O MUNICÍPIO RESPIRA SAUDADE

Em Exu, no interior de Pernambuco, encontramos João Batista Januário, 55 anos, conhecido por João Gonzaga. “O único irmão vivo do Rei do Baião na face da terra”, como ele mesmo se autodenomina, parece incorporar um dos personagens das músicas do Rei. Apesar de não ter habilidades musicais, ele cumpre uma missão.

 “A gente fica aí tentando levar para frente um legado que ele deixou. Um legado de humildade, de respeito por todos e por Exu”.

Irmão de criação e afilhado de batismo de Luiz, João Gonzaga foi adotado por Januário, pai de Gonzagão, com três dias de nascido. “Fui criado do mesmo jeito. Se palavras fossem bastante, eu diria que perder essas pessoas foi como reaprender a viver”, disse João, mostrando a foto em forma de painel em que está ao lado de Luiz Gonzaga, Januário e Gonzaguinha. 

E da herança do Rei do Baião? O que ficou para João? “Eu sou um matuto por opção e um gonzagueano de coração. Tenho duas alegrias: estar respirando e ser irmão de Luiz Gonzaga. Herança maior não existe. Não quero mais nada”, encerrou a conversa. O sentimento de João é o mesmo da cidade inteira. A herança que ficou para o irmão, ficou também para o município. 

Exu respira Luiz Gonzaga. A chamada cultura gonzagueana está por todas as partes. Olhe para qualquer lado e lá está o rosto dele. Não só nos bustos, estátuas e no museu que leva seu nome. Está também no posto de gasolina Gonzagão, na farmácia Asa Branca, nos sete quiosques centrais da rua principal – cada um leva o nome de uma música. Quase 30 anos depois de sua morte, Luiz Gonzaga é, de longe, a figura mais importante da cidade. 

E a parede da Churrascaria Itamaragi? Tomada por quadros do mestre, é capricho do garçom Felipe Coelho, 29. Garçom e fã de Luiz Gonzaga, assim como quase 100% dos moradores. “Quem colocou Exu no mapa foi Luiz Gonzaga. Daqui a 200 anos ainda vai estar vivo. Ele criou uma cultura, a cultura gonzagueana. Cresci ao lado de pessoas que cultivam isso. Sou gonzagueano com muito orgulho”, disse Felipe.  

Em Exu, por onde se anda é possível encontrar pessoas que conviveram de alguma forma com o Rei. Algumas delas, porém, são especiais. Carlos José Ferreira,  62 anos, conhecido como Dunguinha, foi motorista de Luiz Gonzaga. Ao demonstrar seus dotes musicais, foi promovido em seguida. Virou zabumbeiro da banda e passou a ter uma vida de viajante.

“Trabalhei desde os 14 anos com ele. Fui motorista, zabumbeiro e peguei no triângulo também. Tomei conta das seis fazendas dele. Só andava com ele quem soubesse tocar. Porque qualquer emergência, ele chamava”, conta Dunguinha, que passou por maus bocados sendo motorista do “homi”. 

“Ser motorista de Luiz Gonzaga era complicado. Ele mandava correr muito. Quando tava a 80 km/h, ele perguntava: ‘Esse carro tá quebrado?’. Se botasse 140 km/h, ele começava a cantarolar feliz”, lembrou o motorista, que também se diz sobrinho-neto de Gonzaga. “A mãe de Gonzaga era irmã da mãe de meu pai”, garante. 

Em Exu, todo mundo tem algum parentesco com o Rei. Mas poucos subiram no palco com ele. O trianguleiro Ênio Franco de Oliveira, 62 anos, conheceu o Brasil inteiro ao lado de Gonzagão. “Era uma satisfação enorme. Para nós no palco, mas, principalmente para o povo”, lembra. Para além da vida artística, seu Ênio viveu o dia a dia de Gonzaga. “Ele só fazia a barba com meu pai, o melhor barbeiro da cidade. Minha irmã era quem costurava as roupas dele”.   

No discurso de todos, a ideia é de que Luiz nunca esqueceu de sua terra, nunca desamparou seu povo, mesmo no auge. “A maior prova disso é que no final da carreira, ele volta para Exu. Voltou para trabalhar morando em Exu e ajudando muita gente”, diz Eliana Galdino, pedagoga e estudiosa da cultura gonzagueana. 

Os músicos que o conheceram mais diretamente confirmam. “Uma pessoa muito boa, humana. Não via ninguém precisando para ele não ajudar. Todo mundo foi ajudado por ele aqui em Exu”. Além de tudo, Luiz era autoridade. “O prefeito pedia a ele para o governador recebê-lo. Fui em reunião com ele na Sudene. Água, asfalto, telefone, tudo aqui foi ele que arrumou”, lembra Dunguinha.

*Foto: Herculo Felix
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