HILDEBERTO BARBOSA FILHO LANÇA LIVRO E REFLETE SOBRE OBRA POÉTICA

Num espaço onde circulam todas as tribos — o Bar Baiano, nos Bancários — o poeta Hildeberto Barbosa Filho lança seu novo livro de poesias, As Palavras Me Escrevem. O jornalista Suenio Campos de Lucena, da Bahia, também estará em cena, lançando seu primeiro romance: Histórias de Júlia. 

“Sempre gostei de lançar meus livros em bares ou livrarias. Não gosto de ambientes solenes e formais. Detesto mesmo toda convenção social. Gosto de beber, da boemia, de andar de sandálias, roupas velhas e folgadas. Sou contra gravata, paletó e outras baboseiras com que muitos se comprazem. Bar, para mi, é sempre ambiente cultural”, anuncia o poeta.

Os vocábulos que vestem o poeta Hildeberto, não nascem do espanto, sequer da agonia, eles o acordam todos os dias. “Poema é perplexidade maturada no corpo da linguagem. Cada palavra, um estilhaço de sangue palpitando por entre as vértebras da vida”.

Não é hoje que signos do bem e do mal permeiam a poesia de Hildeberto Barbosa Filho. Não que os temas traduzam ou denunciem hecatombes, ou o ataque rotineiro à hipocrisia dos salões. A produção atual avança nesse sentido de desnudar concebida no exato momento em que é plasmada.

“Não concebo o bem sem o mal, e vice e versa, numa dialética da qual a poesia se apropria para gerar os cardumes do poema. Tudo que existe, existe porque existe seu avesso dentro dele. Com o poema não é diferente”, reflete.

‘TODO POEMA É ERÓTICO’: A mulher, os prazeres, a morte, pássaros e cavalos estão sempre inseridos nos seus versos. “São motivos recorrentes em minha trajetória poética, desde A Geometria da Paixão (1986)”. Em As Palavras Me Escrevem, Hildeberto apresenta 55 poemas. “Os poemas não têm título. Aliás, penso o livro como um poema só. Um macrotexto, ou seja, uma pequena sinfonia em que os motivos se tocam, ora num compasso ascendente, ora numa cadência em declínio. Seus atores principais são as palavras, a morte e o amor”, avisa.

O abismo do idioma tem feito do poeta um prisioneiro do amor que ata e desata. “Sou poeta de ímpetos. Grosso modo, o poema me chega nas ocasiões mais diversas. Chega como um relâmpago enfurecido e me vejo, de repente, mergulhado no transe mágico da poesia. É assim que eles brotam. No entanto, também experimento o momento racional. Trabalho muito a linguagem depois, em busca da forma estética, o que imprime a verdade e o valor do poema”.

Afinal, qual é a novidade desse novo livro de Hidelberto? “O poema, em sendo bom poema, é novidade que é sempre novidade, dizia Ezra Pound. Penso, no entanto, que, ao longo desses 50 anos de exercício poético, venho como que escrevendo e reescrevendo o mesmo poema, uma espécie de arquipoema em que os temas, tons e timbres circulam na mesma esfera significativa em variações diferentes, porém, disciplinadas pela mesma tensão estética e pela mesma pavimentação estilística”, responde.

Hildeberto também reflete sobre o quanto há dele em seus poemas, o quanto se desnuda neles. “Um desnudar-se enviesado, oblíquo, ambivalente. Acredito que no poema, eu sou eu, sim, mas sobretudo sou o outro, ou os outros que me habitam na luta feroz da sensibilidade e da imaginação. Se o poema, em certo sentido, é autobiografia, é também, num sentido, diria mais agudo, pura fantasia”.

Nunca pensou em escrever poemas eróticos? “Todo poema, para mim, é erótico”, afirma. “Octavio Paz diz que a poesia é a erotização da linguagem. Por outro lado, penso que o ato amoroso é a verbalização poética por excelência”.

Julia. Suênio Campos de Lucena, que também lança livro hoje, no Bar do Baiano, pela mesma Mondrongo, é jornalista e professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). A história de seu romance é centrada em uma menina de 17 anos apaixonada por livros, mas que tem um choque de realidade quando flagra o prefeito de sua cidadezinha comtevendo assédio contra a própria filha, que é sua amiga.

A trama se passa nos anos 1980 e faz muitas referências a livros e filmes. Ela tenta ajudar a amiga através de uma carta que segue um modelo que está em A Cor Púpura, por exemplo. Mas as coisas não saem como o esperado.

Fonte: Kubitschek Pinheiro Correio da Paraiba
Nenhum comentário

← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário