Rio São Francisco foi afetado por contaminação da barragem de Brumadinho, Agência Nacional nega

O que ambientalistas mais temiam foi anunciado dia 22, no Dia Mundial da Água: a contaminação por metais pesados do Rio São Francisco, via Lago de Três Marias, em Felixlândia, na Região Central de Minas. 

De acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica, que monitora o Rio Paraopeba desde o rompimento, em 25 de janeiro, da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH, foi constatada turbidez no centro do reservatório acima do aceitável (248 NTU), elevada concentração de metais pesados (manganês, ferro, cobre e cromo), “também muito acima do limite legal”, e diminuição da vida aquática, informou a coordenadora do Projeto Água da entidade, Malu Ribeiro.

“A situação preocupa muito, principalmente por que a temperatura da água do reservatório de Três Maria está acima do normal, pondo em risco a atividade dos criadores de tilápia”, disse Malu, explicando que foi coletada água  para posterior análise em 12 pontos e a dois metros de profundidade, da Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, entre Curvelo e Pompeu, até Três Marias. 

Em três pontos em Felixlândia, incluindo a Ilha do Mangabal e Porto das Melancias, a situação da água é considerada regular. “Regular é estado de alerta”, destaca Malu.

A coordenadora da entidade explicou que, para evitar interferência de outros córregos, foram feitas as análises de metais pesados constatados no Paraopeba desde Brumadinho, onde foram despejados cerca de 12,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério na bacia hidrográfica, soterrando córregos como o Ferro Carvão.

Nas pesquisas foram detectados rejeitos finos de metais pesados no meio e nas curvas da margem direito do lago, que recebe o Paraopeba. A grande preocupação dos ambientalistas, além da água imprópria para consumo, é o carreamento da chamada pluma ou onda de rejeitos de minério ao longo do leito do São Francisco em direção ao Oceano Atlântico.

Em nota, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam)/Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), responsável pela análise do Governo de Minas, confirmou que os rejeitos chegaram à UH Retiro Baixo. No entanto, o órgão nega que a lama tenha chegado a Três Marias. De acordo com a direção do Igam, os rejeitos já percorreram cerca de 310 quilômetros e estão entre os municípios de Pompeu e Curvelo, no remanso do reservatório da usina de Retiro Baixo.

Ainda de acordo com o Igam, não é possível afirmar o período que a lama chegará ao reservatório de Três Marias. Atualmente, uma consultoria contratada pela Vale, dona da Barragem 1 de Brumadinho, está fazendo um estudo de transporte de sedimentos; a estimativa é que o trabalho fique pronto no início de junho. Enquanto o estudo não é finalizado, o Igam avalia o movimento da lama.

O relatório da Fundação SOS Mata Atlântica mostra que em apenas 6,5% dos rios da bacia da Mata Atlântica, a qualidade da água é considerada boa e própria para o consumo. 

Dos 278 pontos de coleta de água monitorados em um total de 220 rios, 74,5% apresentam qualidade regular, 17,6% são ruins e, em 1,4%, a situação é péssima. Nenhuma amostra foi considerada ótima. Os rios estão perdendo lentamente a capacidade de abrigar vida, de abastecer a população e de promover saúde e lazer para a sociedade, afirmam os técnicos.

A qualidade de água péssima e ruim, obtida em 19% dos pontos monitorados, mostra que 53 rios estão indisponíveis, com água imprópria para usos, devido à poluição e da precária condição ambiental das suas bacias hidrográficas, segundo a fundação.

O relatório traz ainda o balanço das análises feitas nos 220 rios, de 103 municípios dos 17 estados abrangidos pela Mata Atlântica. Nos 278 pontos monitorados, foram feitas 2.066 análises de indicadores internacionais que integram o Índice de Qualidade da Água (IQA), composto por 16 parâmetros físicos, químicos e biológicos na metodologia desenvolvida pela SOS Mata Atlântica.

A SOS Mata Atlântica considera que houve poucos avanços na gestão da água dos rios da bacia. Com o relatório deste ano, foi possível mensurar, pela primeira vez, a evolução dos indicadores de qualidade da água em todos os 17 estados abrangidos pela Mata Atlântica, comparando com o ciclo de monitoramento anterior, no ano passado, quando foram coletadas amostras em 236 pontos. 

Fonte: Jornal Estado de Minas Pedro Lovisi
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