Nascido em 16 de junho de 1927 em Nossa Senhora das
Neves, hoje João Pessoa, capital da Paraíba, Ariano Vilar Suassuna era filho de
João Suassuna, então governador de seu estado natal. Com o fim do mandato, um
ano depois, toda a família se mudou para o interior.
O contador de histórias do sertão tinha apenas
3 anos quando um fato trágico marcou sua infância. No desenrolar da Revolução
de 1930, um pistoleiro de aluguel assassinou seu pai com um tiro pelas costas,
numa rua do Rio de Janeiro.
O assassinato foi motivado por boatos que apontavam
o patriarca da família Suassuna como mandante da morte de João Pessoa, seu
sucessor no governo, fato que serviu de estopim para a revolução. Um ambiente
assim, com dívidas de sangue e rivalidade entre famílias, cobrava dos órfãos a
vingança. Mas, um dia antes de ser assassinado, João Suassuna deixou uma carta
aos nove filhos pedindo que eles não se tornassem assassinos por sua causa.
Ariano Suassuna obedeceu. Em vez disso, dizia estar
perto de perdoar os criminosos que mataram seu pai. A mãe e viúva também
ajudou, ao dizer que o pistoleiro responsável pelo crime já havia morrido (era
mentira). Com a tragédia, a família mudou-se para a pequena cidade de Taperoá,
no interior da Paraíba. E Ariano herdou a biblioteca do pai, onde encontrou
livros importantes para sua formação. Um dos mais importantes, sem dúvida, foi
“Os sertões”, de Euclides da Cunha. A obra lhe apresentou um dos personagens
que mais marcaram sua vida: Antônio Conselheiro, profeta e líder de Canudos.
Em 1942, Suassuna foi para Recife concluir o ensino
básico. Anos depois, na faculdade de Direito, ajudou a fundar o Teatro do
Estudante de Pernambuco. Em 1947, encenou sua primeira peça: “Uma mulher
vestida de sol”. Nove anos depois, levaria aos palcos seu texto mais conhecido,
“Auto da Compadecida”, que ganharia adaptações na TV e no cinema.
Por causa do teatro, deixou o Direito de lado seis
anos após ter se formado. O romance surgiu mais tarde em sua vida. Em 1971,
Ariano Suassuna lançou seu “Romance d’a pedra do reino e o príncipe do sangue
vai-e-volta”, com nome comprido como seus cordéis tão adorados e pensado para
ser uma trilogia. Com o livro, o escritor avança em relação à literatura
regionalista dos anos 1930, representada por João Guimarães Rosa e José Lins do
Rego. Mais tarde, Ariano Suassuna diria que “A pedra do reino” era, de certa
forma, uma tentativa de trazer seu pai de volta à vida.
Havia quem acusasse o escritor de lutar contra
moinhos de vento: o escritor se apresentava como um defensor da cultura popular
brasileira, contra a invasão da indústria cultural norte-americana. Falava mal
de Madonna e Michael Jackson. Não à toa, quando foi secretário de Cultura do
governo Miguel Arraes, nos anos 1990, tornou-se um ferrenho opositor do
maracatu eletrônico e do manguebeat. Ele se recusava, por exemplo, a chamar
Chico Science, o vocalista da Nação Zumbi, pelo nome artístico. Dizia “Chico
Ciência”.
A defesa da cultura nacional, que muitas vezes lhe
rendeu o rótulo de xenófobo, já vinha no sangue e no nome da família. Na onda
nacionalista depois da Independência, em 1822, vários brasileiros adotaram
nomes indígenas. Seu bisavô Raimundo Sales Cavalcanti de Albuquerque escolheu
Suassuna, de origem tupi, e nome de um riacho da região onde a família vivia.
Nos anos 1970, fazendo jus ao nacionalismo da linhagem, Ariano fundou o
Movimento Armorial, que defendia a criação de uma cultura erudita com bases na
cultura popular — e toda a sua obra orbita em torno desse ideal.
Em 1989, o sertanejo foi eleito para a cadeira de número 32 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono era Araújo Porto-Alegre. Sexto ocupante da cadeira, Suassuna nunca foi um imortal de frequentar os eventos da instituição. Era uma espécie de filho pródigo da ABL.
Em 1989, o sertanejo foi eleito para a cadeira de número 32 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono era Araújo Porto-Alegre. Sexto ocupante da cadeira, Suassuna nunca foi um imortal de frequentar os eventos da instituição. Era uma espécie de filho pródigo da ABL.
Fonte: O Globo/Rádio Jornal Recife PE
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