LEO RUGERO E A HOMENAGEM AO SANFONEIRO GERALDO CORREIA: O JOÃO GILBERTO DA SANFONA DE 8 BAIXOS

 

Leo Rugero é Bacharel em violão clássico pelo Conservatório Brasileiro de Música e Mestre em Musicologia pela Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Léo Rugero, é hoje uma referência no Brasil quando o assunto é sanfona de oito baixos.

Além dos estudos práticos e teóricos que tem desenvolvido com esse instrumento, Léo Rugero é autor do aclamado livro “Com respeito aos 8 baixos – Um estudo etnomusicológico sobre o estilo nordestino da sanfona de oito baixos”, que faz um apanhado da estrutura que mantém viva essa tradição os aspectos materiais e imateriais da cultura nordestina.

Confira texto homenagem pela passagem/morte do sanfoneiro Geraldo Correia:

No domingo, 13 de setembro, faleceu em Campina Grande, o exímio folista Geraldo Correia, um expoente do fole de oito no Estado da Paraíba.

Fiz um vídeo realizado no dia 03 de dezembro de 2018, durante uma visita à casa de Geraldo Correia, acompanhado por Luizinho Calixto. Na ocasião,embora estivesse debilitado fisicamente, nem por isso furtou-se a executar alguns choros no fole de oito baixos, com sua interpretação sempre envolvente. Ficamos conversando por algumas horas, acompanhados pela equipe de pesquisa e filmagem do projeto de Mapeamento do Fole de Oito Baixos no Estado da Paraíba, em parceria pelo IPHAN e Balaio Nordeste. Infelizmente, as imagens deste acervo ficaram restritas e só restou em meus arquivos estas filmagens que realizei despretensiosamente, no intuito de registro pessoal. 

Conheci Geraldo Correia em 2009 durante a pesquisa de campo de minha etnografia "Com Respeito aos Oito Baixos", que conquistaria em 2012 os prêmios "Produção Crítica em Música" e "Prêmio Centenário de Luiz Gonzaga", ambos pela FUNARTE.

Uma verdadeira lenda do fole de oito baixos, ao lado de Zé Calixto, era o último remanescente da geração de folistas da Paraíba que se consagrariam como solistas no mercado fonográfico e radiofônico na década de 1960. 

Começou a tocar fole de oito baixos na infância, influenciado pelo irmão mais velho, Severino Correia, conhecido por ter sido uma das referências mais conhecidas do fole paraibano em sua era pré-fonográfica, da qual dispomos de escasso acervo.

Através do irmão, teve aproximação com Jackson do Pandeiro, que se tornaria o produtor artístico de seu primeiro lp, através de contrato com a gravadora Philips. "Um baixinho e sua oito baixos", lançado em 1964.

A fase mais profícua de sua carreira compreende 1965 à 1980, quando gravou através da Philips, passando posteriormente para a Cantagalo e, finalmente, a gravadora Copacabana. 

Também era reconhecido por seus dotes como artesão, sendo customizador de seus próprios instrumentos, a exemplo de Adolfinho e Zè Calixto, numa época em que os folistas tinham que ser os artesãos de seus próprios instrumentos, dado a escassez de mão de obra especializada para a realização da afinação transportada e dos ajustes necessários ao estilo nordestino.

Segundo Luizinho Calixto - maior expressão do fole de oito baixos em atividade profissional, Geraldo Correia, ao lado de Zè Calixto, foi o maior intérprete de fole de oito baixos que o Brasil conheceu. Estamos certos disso e basta ouvir seu trabalho antológico para atestar a relevância deste artista. 

Conhecido por ser uma pessoa reclusa, Geraldo Correia não era um artista extrovertido, o que fez com que certa vez eu tenha escrito que ele era o "João Gilberto dos Oito Baixos", expressão que foi utilizada por outras pessoas que escreveram sobre o sanfoneiro. No entanto, sempre tive a sorte de ser recebido por ele com amizade.

Sem dúvida, Geraldo Correia deixará saudades. O som de seu fole de oito baixos ecoará por muito tempo em nossas memórias, despertando afetos e nos ensinando a desbravar as curvas e esquinas do complexo fole de oito baixos paraibano, através de seus forrós inesquecíveis e suas belas interpretações de choros antológicos. 

Esteja em paz, amigo Geraldo Correia, obrigado pelo maravilhoso legado artístico que deixou na memória cultural paraibana.

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