Maria e Severino: meus Avôs paternos. Rita e Antonio Vital (maternos). Uma homenagem...

"Nos últimos anos, a Avó estava se dando muito mal com o próprio corpo. Seu corpo de Ararinha cansada negava-se a segui-la.
- Ainda bem que a mente viaja sem passagem - dizia.

Eu estava longe. Em Montevidéu.

A Avó sentia que tinha chegado a hora de morrer. Antes de morrer, quis visitar a minha casa com corpo e tudo. Chegou de avião. Viajou entre as nuvens, entre as ondas, convencida que estava indo de barco; e quando o avião atravessou uma tempestade, achou que estava numa carruagem, aos pulos, sobre a estrada de pedras.

Ficou em casa um mês. Comia minguaus de bebê...No meio da noite despertava e queria jogar xadrez ou brigava com meu avô, que tinha morrido há quarenta anos...

No final, disse: - Agora já posso morrer. E regressou. Visitou a família toda, casa por casa, parente por parente, para que todos vissem que tinha regressado muito bem e que a viagem não tinha culpa. E então, uma semana depois de ter chegado, deitou-se e morreu...

Ás vezes, a Avó vem me Ver nos sonhos. Eu caminho na beira de um Rio e ela é peixe que me acompanha deslizando suave, suave, pelas águas".

Fonte: O Livro dos Abraços-Eduardo Galeano.
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