ANTIOGENES VIANA, ELIEZER SETTON E O CD EM NOME DO FORRÓ

Não posso dizer que me surpreendi com o álbum mais recente do alagoano Eliezer Setton. Já tinha adquirido discos dele antes e já sabia da qualidade dos seus trabalhos. “Em nome do Forró”, título muito apropriado, merece ser ouvido e divulgado.

Um disco ousado, eclético e bem produzido. Já nos chama a atenção pela capa inspirada em xilogravuras.
A ousadia se refere primeiro ao se manter fiel aos inebriantes ritmos nordestinos, principalmente baiões e xotes. É verdade. É preciso ser ousado para não se deixar levar pelos modismos sem conteúdo que infelizmente pululam pelo Brasil, mas vamos voltar ao que interessa; ao que é bom.

Também ousa ao compor versão e interpretar clássicos mundiais da música, como a canção francesa “Comme d'habitude” (“My Way”) e “Les moulins de mon coeur”, ao sabor bem nordestino. Nesta última dá a lição: “Achar no acordeon/o exato tom/o som perfeito/Universalizar/versificar sem preconceito/ Cantar, cantar, cantar/bem a meu jeito”. Na versão para “Les moulins de mon coeur”, brinca inteligentemente com máximas populares até no próprio título “O momento faz a canção”, numa ótima participação de Cezzinha (do acordeon).

Não parando por aí, Eliezer também nos brinda, forjando uma versão para a melodia da música clássica “Jesus alegria dos homens”, do alemão Johann Sebastian Bach, inspirada em versos da “Asa Branca” de Gonzaga e Teixeira e “A Volta da Asa Branca” de Gonzaga e Dantas.

Para completar o excelente repertório, há composições suas já conhecidas, mas com roupagem nova, tais como “Por um triz”, “Bote tempo”, “Eu Sou o Forró” e “D’estar” (todas composições suas de letra e melodia) e “Maria Minha” (sua com Targino Gondim).

Para homenagear ao mesmo tempo Jackson do Pandeiro, no centenário do Mestre, e João Gilberto, no ano em que este outro Mestre nos deixou fisicamente, junta um coco de sua autoria (“Ode ao Coco”), com o impagável “Coco do M”, de Jacinto Silva, para focar em “Pau de Arara”, crítica social em forma de música de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, dois importantes discípulos do Papa da Bossa Nova.

O disco ainda resgata uma das primeiras modinhas compostas no Brasil, em 1859, por Carlos Gomes e Bittencourt Sampaio. Isto mesmo, Carlos Gomes, o mais importante compositor de ópera brasileiro.
Um disco alagoano, nordestino, com ares de universalidade. Você degusta e, quando acaba, quer mais.
Que esse disco alce vôos altos e consiga chegar a ouvidos e mentes que anseiam por qualidade musical!

Fonte: *Antiogenes Viana. 
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