Programa Viola, minha Viola, a valorização da música caipira reestreia na TV Cultura

O tom saudosista é imposto nos primeiros segundos, tão logo a violeira Adriana Farias surge à tela embalando a clássica valsinha caipira Lampião de Gás, composição de Zica Bergami (1914-2011) imortalizada na voz de Inezita Barroso (1925-2015). A música marcou a estreia do Viola, Minha Viola, todo domingo às 9h, na TV Cultura, uma reedição do programa de auditório mais longevo da emissora, interrompido há dois anos em decorrência da morte de Inezita.

Serão 38 episódios, e cada um reverencia a carreira de um artista consagrado do gênero, e exibe momentos marcantes de suas participações no Viola original. Inezita Barroso, por motivos óbvios, encabeça a lista. “Em termos de personalidade, ela é irretocável. Ela sempre será um espelho, um molde”, diz Adriana Farias, escolhida pela Cultura para comandar o programa.

Inezita esteve no programa pela primeira vez em 1980, quando era comandado por Moraes Sarmento e Nonô Basílio. Cantou A Moda da Mula Preta, contou sua história, e agradou ao público. De convidada, virou apresentadora. E nele permaneceu por mais de 1.500 edições.

Adriana diz se inspirar na própria Inezita para sua estreia como apresentadora. “A única coisa que eu tenho certeza de que quero manter é a oportunidade que ela dava para as pessoas da nossa cultura. Essa coisa da tradição, de ter pessoas que vestem a roupa da música caipira, para manter a chama viva. O público ficou órfão desde o fim do Viola, não existiu um programa na TV com essa temática.”

A escolha de Adriana para o comando do programa não exigiu muita pesquisa por parte da TV Cultura. Assídua frequentadora do Viola, Minha Viola, ela participou de diversas edições em que Inezita enaltecia o trabalho das poucas mulheres violeiras em atividade. “Eu tenho ela como uma figura mágica. Ela chegava perto de mim e eu não conseguia falar, gaguejava. Minha admiração era por toda a sua história e pela mulher que ela era”, afirma.

Adriana tem 41 anos de idade, mas mais de 30 dedicados à música. Autodidata, aprendeu sozinha a tocar violão e seu primeiro sopro em um berrante, segundo ela, paralisou os bezerros que corriam em torno de um lago na chácara de sua família, no interior de São Paulo.

Apaixonou-se pela música caipira ao ver seus tios, Nardo e Dora, cantarem A Lua É Testemunha, de Cascatinha & Inhana, em uma festa, aos 9 anos. Desde este episódio, nunca mais abandonou o estilo. “A música caipira não precisa de defesa, ela é a nossa história, feita por pessoas que construíram o Brasil. E a moda de viola não tem refrão chiclete, tem uma história. Quanto mais você se aprofunda na música caipira, nos compositores e nos violeiros, mais ela vira uma religião”, avalia.

Fonte: Gabriel Perline, O Estado de S.Paulo
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