Seminário Cariri Cangaço e Sentimento da terra, lugar universal

O  professor sociólogo Stuart Hall, pesquisador da área de estudos sociais apontou  que a questão da identidade está sendo extensamente discutida na teoria social. Em essência os argumentos são os mais diversos e complexos. Novas identidades vem fragmentando o indivíduo moderno.

 Discute-se assim a chamada  "crise de identidade". Crise vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social.

Stuart Hall dialoga também que a identidade cultural surge a partir da noção de pertecimento, associada a memória, etnias, raciais, linguísticas, religiosas e acima de tudo nacionais. Já Habermas diz que "saber do que se fala sempre ajuda; de resto, se se trata do problema de legitimidade, é preciso sabê-lo de modo particularmente exato".

A lembrança dessas frases e dos estudiosos da comunicação e da cultura, frases sábias me veio a cabeça quando da participação do evento Cariri Cangaço 2017, realizado em Exu e Serrita, Pernambuco, entre os dias 20 a 23 de julho. Conferências, visitas técnicas, debates, o diálago com referência a vida e obra de Lampião e Luiz Gonzaga marcaram a essencia do encontro.

Parabenizo Manoel Severo, curador do evento. Severo um defensor da cultura com capacidade de liderar uma equipe de valentes e valiosos cangaceiros da cultura. Cangaceiros culturais do bom combate. Na condição de convidado (serei sempre muito grato) impressionou-me a tarefa dos membros do Cariri Cangaço a missão de serem ousados. Ousadia de enfrentar a crise cultural e mostrar a riqueza de valores da cultura brasileira/universal.

Escutar e olhar a Cecília do Acordeon e Pedro Lucas Feitosa é saber do significado da esperança de um mundo melhor. Cecilia e Pedro Lucas são crianças que tem a identidade de sanfona.  Possuem o sentimento da terra, região. Corações tão puros e um futuro que deve ter como base os estudos e a educação para quando chegarem a maturidade e tempo adulto estarem prontos e preparados para enfrentar novos desafios em defesa da cultura. 

Manoel Severo, Conselheiros e membros do Cariri Cangaço clamam o mais alto possível pela valorização da cultura e exigem respeito ao legado histórico cultural. As conferências, em especial da minha linha de pesquisa/estudo, foram realizadas com Paulo Vanderley, Wilson Seraine, José Nobre, Kydelmir Dantas,  Múcio Procopio, Joquinha Gonzaga e Fausto Maciel (Piloto), os dois últimos sobrinhos de Luiz Gonzaga e netos de Januário. 

O professor Wilson Seraine na apresentação do Livro O Rei do Baião e a Princesa do Cariri (autoria do escritor Rafael Lima), indica uma trilha segura e aponta "para os pesquisadores iniciantes e aqueles menos informados para não serem surpreendidos com livros que expoem belas capas bonitas, bonitas ilustrações, mas com conteúdo duvidoso ou mesmo errados". 

A lição é tiro certeiro para a morte dos traidores da cultura e também para a falsa noção do atual quadro musical brasileiro que está plastificando o toque da sanfona em nome do capitalismo tão selvagem que mata até mesmo esperança e a memória do tocador de sanfona Lampião e do Rei do Baião.

No Cariri Cangaço existe a ousadia da resistência aos valores mais nobres da cultura: o talento, o abraço e o sorriso.

Portanto, ao participar do Cariri Cangaço ninguém sai impune. Conviver com os cangaceiros da cultura é ganhar mais inteligência, engenho e arte. Eles tem a magia da valorização da memória e da cultura na alma.
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