Aderaldo Luciano: Orquestra Voo Livre completa 15 anos

A Serra da Borborema é um extenso território cuja paisagem é diversa. Aqui, uma árvore copada, repleta de frutos. Ali, um vegetal robusto, adornado de espinhos. Um canavial, um córrego, uma represa, uma imensa visão de pedras, o barro vermelho, o massapê: tudo no caldeirão do tempo. A animália também se confunde: o gado miúdo, o rebanho bravo, os lagartos e as aves. A Serra da Borborema é a casa, o lar, nossa rede aberta e convidativa, a mesa posta, o céu aberto e a multidão de entidades inspiradoras, guardiãs da vida e da maquinaria, protetoras dos corações, mestras das artes, elementais da música.

A Serra da Borborema é o lastro de nossas ansiedades, o planeta de nossos sonhos. No espinhaço da serra, como disse o poeta, rasga-se e espraia-se na montanha, a cidade mítica de nossos ancestrais, o Brejo de Areia, Terra dos Bruxaxás, recanto dos ventos, morada de homens santos, caminho de homens resistentes, habitat natural do sonho e, por dentro do sonho, a trilha sonora, o gladiar dos instrumentos, o embate e o casamento entre as melodias e as harmonias, algumas naturais, saídas da terra e do ar, outras sopradas e percutidas, digitadas e fonomecanizadas, a criação do Homem, a descoberta das almas, a codificação dos músicos.

E nesse recanto, as asas abrem-se em maravilhosa viagem, em desejo transformado em meta, em vontade transmutada em ação. É a Orquestra Voo Livre que, como o condor que passa sobre os Andes, plaina sobre os vales e pousa no alto do nosso olho, no átrio de nossos ouvidos, nas entranhas de nossos poros, fazendo o peito do sensitivo saltar e irmanar-se à existência dinâmica das notas musicais. Senti isso várias vezes, postado diante de meninos que vi crescer, meninos que vi cantar, meninos que vi, de uma hora para outra, à base de muito estudo e muita dedicação, travestidos de paladinos, senhores de tanta sensibilidade, capazes de nos emocionar, sempre.

A Orquestra Voo Livre é nossa trilha sonora, para além do empreendimento, para além do trabalho, para além das coisas banais que regem a vida do cidadão comum. Procuramos, durante muito tempo, um caminho que nos pudesse oferecer a perenidade, o passo seguro, a certeza do êxito. O sucesso é um abismo, o êxito é o píncaro, onde repousa a águia brejeira, onde nem o carcará poderá postar-se. E agora, no momento em que as imagens são plasmadas, reunidas para a posteridade, o plano de voo mais uma vez está definido, mais uma vez, a nossa frente, o céu azul, o vento pouco e a serenidade protegem a rota, desenham o futuro e ambientam nossa imensidão. Estamos em pleno voo, como diria Castro Alves, o poeta condor.

Fonte: Professor doutor em Ciência da Literatura-Aderaldo Luciano
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