Ainda que se sofra como
um cão, não há profissão melhor que o jornalismo.” A frase
atribuída à Gabriel
García Márquez dá ideia da importância que o
escritor dava à profissão que exerceu e lembra da relação
quixotesca que jornalistas sempre despertaram em relação à
profissão.
Gabo, morto nesta quinta (17) vítima de câncer,
foi um militante da importância do jornalismo para as sociedades
democráticas, sobretudo na América Latina, terra que penou ao longo
da segunda metade do século 20 com ditaduras em quase todos os
países. Anos depois de vencer o prêmio Nobel da Paz em 1982, o
autor foi morar na Cidade do México, onde criou a Fundação
García Márquez para El Nuevo Periodismo.
A fundação realiza cursos, seminários e já
teve até um prêmio internacional. “Nossa proposta é fazer uma
pausa na formação acadêmica e voltar ao sistema primário das
oficinas práticas formada por pequenos grupos, com um aproveitamento
crítico das experiências histórias e em seu marco original de
serviço público”.
Gabo também serviu para dar moral a um ofício
que sempre foi colocado na berlinda. Ele escreveu o artigo “A
Melhor Profissão do Mundo“, em outubro de 1996, publicado por
jornais norte-americanos. Em seu longo texto, ele faz diversas
reflexões sobre a profissão, além de fazer um apanhado histórico.
Comenta as mudanças tecnológicas que mudaram o modo de trabalhar
nas redações, as questões éticas que precisaram se atualizar ao
longo dos anos e a importância para a democracia.
“Talvez a desgraça das faculdades de
Comunicação Social seja ensinar muitas coisas úteis para a
profissão, porém muito pouco da profissão propriamente dita. Claro
que devem persistir em seus programas humanísticos, embora menos
ambiciosos e peremptórios, para ajudar a constituir a base cultural
que os alunos não trazem do curso secundário”, escreveu, em uma
das suas muitas críticas ao método de ensino das escolas de
jornalismo.
Durante uma sessão da assembleia da Sociedade
Interamericana de Imprensa (SIP), em Los Angeles, em 1996, ele
respondeu a uma estudante universitária que perguntou se era preciso
vocação para o jornalismo. A resposta foi enfática: “Os
jornalistas não são artistas”. Seu trabalho na comunicação
mostrou que o jornalismo é um gênero literário feito por gente que
trabalha com informação.
“Ninguém que não tenha nascido para isso e
esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa
profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de
cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um
instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que
nunca no minuto seguinte”, escreveu.
Fonte: Estadão
Fonte: Estadão
0 comentários:
Postar um comentário