Um novo museu
está nascendo no Recife Antigo. É o Cais do Sertão Luiz Gonzaga, grande espaç à beira mar, bem próximo ao Marco Zero. Na forma de um grande
prédio de arquitetura surpreendente e generosa, vazado por recortes e vãos que
brincam com as luzes e sombras do dia e da noite, ele desponta na paisagem
física e cultural da cidade como um farol a iluminar alguns dos temas mais
queridos aos pernambucanos e a todos os brasileiros: o sertão nordestino e seu
maior intérprete, o Rei do Baião Luiz Gonzaga.
Luiz Gonzaga é
um inventor genial e múltiplo. Nada escapa a sua sensibilidade aguda e a sua
inteligência livre. A ecologia do sertão e suas sonoridades, a terra e a gente
do lugar, o trabalho e a casa, o nascimento e a morte, o amor e a festa, a seca
e a fome, a língua e a religiosidade, a doçura e a malícia: tudo é cantado com
engenho e arte em seu repertório vasto e sempre moderno.
Ao lado de
seus vários parceiros, com roupas e adereços que ninguém nunca tinha visto, um
baião diferente e um jogo de cena muito próprio, Gonzaga reinventou-se inúmeras
vezes e, com ousadia e liberdade, mostrou aos brasileiros um outro Brasil. Em
um tempo em que só o litoral tinha vez e voz, as canções de Gonzaga uniram o
sertão nordestino à imensidão amazônica, à metrópole carioca, a São Paulo e ao
Sul.
Viajando pelas estradas de todo o país, tocando nas rádios ou nas
radiolas, vivo na memória dos milhões de nordestinos que migraram, Gonzaga
ajudou a desenhar um novo mapa simbólico do Brasil. E ganhou o mundo.
São essas histórias de
vida e essas canções que conduzem o visitante pelos caminhos e veredas que se
sucedem no Cais do Sertão Luiz Gonzaga. Utilizando os mais variados e modernos
recursos expositivos e tecnológicos, o novo museu vem falar do sertão de
Gonzaga e de milhões de brasileiros. E não quer deixar por menos. De forma
lúdica, vem celebrar a rica seiva que brota do chão seco da caatinga e de sua
gente, com suas dores e seus amores.
O Cais deve
constituir-se como um espaço vibrante de convivência, diversão e conhecimento,
polo gerador de novas ideias e vivências, porto democrático e generoso,
recheado de surpresas, magia e encantamento. E certamente deverá atrair
milhares de visitantes de todas os lugares e de todas as idades.
Serão 7.500
metros quadrados de surpresas: jardins sertanejos, um “Rio São Francisco” com
suas águas e pedras e, sempre de forma inesperada, as mais variadas
instalações. Objetos reais misturam-se a projeções; chapéus, gibões e sanfonas
dialogam com karaokês sertanejos, estúdios de gravação e oficinas de
instrumentos de onde brotam velhos e novos baiões; barcos, instrumentos de
trabalho e antenas parabólicas complementam estações interativas; objetos de
arte e religiosos dividem espaço com um imenso acervo de canções.
Toda a gente
da cidade e turistas de todas as partes, jovens e velhos, estudantes e
professores, todos poderão frequentar seus belos e acolhedores espaços, seja
para se divertir, seja para pesquisar, seja para se emocionar, seja para se
indignar. Aqui, será oferecida ao visitante uma experiência concentrada do
viver no sertão e serão inúmeras as possibilidades de aprender mais e mais.
Ali qualquer
pessoa poderá acessar a
obra completa de Gonzaga, poderá assistir a filmes, peças e espetáculos, poderá
interagir com jogos desafiantes, fazer cursos, criar músicas, ou simplesmente
sentar-se à sombra de um juazeiro, brincar em seus espaços amplos, flanar
despreocupadamente, lanchar, almoçar, dançar um forró, contemplar o belo mar do
Recife. O Cais como um importante espaço de convivência entre iguais e
diferentes.
Para
dar corpo e alma a esse museu, foi reunido um grupo de profissionais
qualificados de diversas áreas que têm trabalhado intensa e apaixonadamente há
mais de dois anos numa experiência única de criação coletiva. Um time de
primeira linha que ainda vai agregar muita gente.
São arquitetos, músicos, cineastas, poetas, artistas plásticos, especialistas em tecnologia de museus, historiadores, antropólogos, linguistas, arqueólogos, fotógrafos, ecólogos, pesquisadores, arte-educadores. Todos juntos trazendo para a cena atual a história, a cultura e a imensa capacidade de adaptação e de invenção dos sertanejos, homens e mulheres que, mesmo subsistindo numa das ecologias mais adversas do mundo, nunca renunciaram à vida e à beleza.
São arquitetos, músicos, cineastas, poetas, artistas plásticos, especialistas em tecnologia de museus, historiadores, antropólogos, linguistas, arqueólogos, fotógrafos, ecólogos, pesquisadores, arte-educadores. Todos juntos trazendo para a cena atual a história, a cultura e a imensa capacidade de adaptação e de invenção dos sertanejos, homens e mulheres que, mesmo subsistindo numa das ecologias mais adversas do mundo, nunca renunciaram à vida e à beleza.
“As pessoas
que acham o sertão feio normalmente são da zona da mata ou da cidade”, disse
uma vez Ariano Suassuna. “Então estão habituados a um tipo de beleza que é mais
ligado à graça. A beleza da zona da mata é ligada ao gracioso; a beleza do
sertão é ligada ao grandioso. Ele é grandioso e terrível em certos momentos, o
que dá à beleza dele uma conotação muito diferente, muito estranha mas muito
forte.”
O Recife de
Ariano Suassuna e de Capiba, de João Cabral de Mello Neto e de Lirinha, de
Gilberto Freyre e Frederico Pernambucano de Mello, de Chico Science e Lenine
sai na frente mais uma vez. Finalmente, aqui, agora, o sertão vai virar mar e o
mar vai virar sertão. Um belo presente que Pernambuco oferece ao Brasil.
Fonte: Isa Grinspum Ferraz
Responsável pelo Projeto Curatorial e pela Direção de Criação do Cais do Sertão Luiz Gonzaga
Responsável pelo Projeto Curatorial e pela Direção de Criação do Cais do Sertão Luiz Gonzaga
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