CELESTINO GOMES VIVE NA IMENSIDÃO DAS CORES, TONS DO CÉU E DA ABUNDÂNCIA DAS ÁGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO

Na madrugada ao ouvir o barulho de um avião lembrei do Pintor Celestino Gomes e sua fala, talento em forma de cores e tons. O vento da madrugada cantava.

Conhecido como “Van Gogh do Sertão”, Celestino Gomes nasceu em Petrolina no ano de 1931. Sua vivência na cidade e no Rio São Francisco inspirou-o na realização de trabalhos artísticos como pintor, escultor e escritor. Celestino retratou em suas obras a vida do sertanejo, festas populares, mulheres, paisagens e monumentos. É nosso Luiz Gonzaga na arte do pincel.

Gênesis Naum de Farias é Professor da Universidade Estadual do Piauí – UESPI/ e Coordenador do Núcleo de Estudos Foucaultiano disse que Morreu há alguns anos atrás, mais precisamente num mês despedaçado, o mais importante petrolinense que tive a honra de conhecer e ouvi-lo falar na sua distante mansidão, na sua atormentada placidez, nos seus retoques sem muitas ambições e dotado do requinte celeste dos astros iluminados que brilham nas estepes como lírios de fogo, pois sua frenética evocação já era maior do que as histórias orais que se contavam aos montes sobre sua notória rebeldia, relatados às várias bocas pelos que o julgavam como um louco ou uma manifestação folclórica. Não havia dúvida que poderíamos trata-lo como o nosso cavaleiro mais ilustre, dono de uma beleza muito íntima.

"Sua intensa criatividade era sempre vista como uma joia de raríssimo valor, porque sem escrever um único verso, se tornou realmente um grande poeta; retinha “uma candura que insiste em dizer-nos que és feito do fogo, do rio e de sol”. 

"Seus tons de cinza, vermelho china, verde desbotado e azul cerúleo, nos lembra o extraordinário pintor holandês em seu canibalismo, empunhando sua expressão ameaçadora. E repito na insistência das palavras, Celestino sempre será reluzente, mesmo quando ignorava o sentido simbólico de suas ações e principalmente diante de sua expressiva nostalgia de menino afoito e matreiro".

Celestino Gomes escreveu dois livros que narraram sua história, 'Da Roça a Roma' e 'De Roma a Roça, descobrindo a Europa nas décadas de 1960 e 1970. Conversei muito com Celestino. Rio São Francisco e o desenvolvimento de Petrolina tema preferido. Fui responsável por várias reportagens destacando Celestino. Ele era ouvinte do Programa Nas Asas da Asa Branca que ainda apresento na Rádio Cidade am870.

Do escritor Virgilio Siqueira-músico e poeta confira TEXTO-Homenagem a Celestino Gomes

Pronto! Agora, não mais incomodas

Agora a falsa ternura que brota das acomodadas e incomodadas faces

Mistura-se, sem nenhum pudor, à sagacidade de tua irreverência

Agora, não és mais um louco

Mas um excêntrico que os normais não conseguem entender e aceitar

(Mesmo sendo, cada um dos que hoje assim te veem

Parte do batalhão impiedoso que te julgava e condenava sumariamente)

Ora, mas agora nada mais importa!

Que fazer, se as mortíferas balas perdidas do mundo não te atingiram

E se o teu perturbativo jeito de ser, jamais se perturbara?

Diante de nós, acomodados sonâmbulos que nunca sonham

Eras um delírio permanente

Ou uma centelha que incandescia a escuridão que somos

E trespassava o breu impenetrável de nossa hipocrisia

Cotidianamente estabelecida

Covardemente aceita

Se eras, perante o mundo

Indiferente aos valores que se impõem a todos

Eras também, para este mesmo mundo, uma proposta de alento

Contida na inquietude de teus dias intensamente vividos

E em tuas noites, das quais não dependias para o sonho

Pronto!

Agora, não és mais uma ilha perdida

Na imensidão de uma cidade vazia, estéril

E hoje, mais que nunca, pálida, triste e pobre

A covardia, a servidão e o medo

Tranquilos, podem pastar na grama dos jardins das praças

Livres que estão dos afogueados ferrões e dos flamejantes chicotes

Que se manifestavam em tuas atitudes e em tua língua de farpas

Teus raros amigos saberão – alguns

Silenciar a dor da perda que não é perda

Outros tecerão e bradarão palavras em teu louvor no momento preciso

E assim, haverão de elevar-te o nome que já é, em si mesmo, celeste

Agora tu és o que sempre foste sem que nunca percebêssemos

Um caudaloso rio submerso a irrigar luzes e cores

A fazer que brotem da sequidão do solo do sertão

Arco-íris tingidos com tonalidades que nos acalentam e libertam

Agora, é como se em tua inquietação

Pairasse uma brandura que não se acomoda

E retinisse, numa candura que insiste em dizer-nos

Que és feito de fogo, de rio, e de sol.

Pronto!

Agora dormem, sob o cerro de tuas pálpebras

As mais incandescidas imagens que concebeste

Em comunhão com os encantos dos entardeceres

Revestidos com enigmáticas tramas de tonalidades

Da mesma forma que dormem, em teu corpo inerte

Todas as cores e luzes que explodiram de teus pincéis

De teus anseios e de tuas mãos

Que teceram com raios de estrelas, de lua e de sol

Todos os encantos e desencantos, reais e fictícios

Que te faziam viver como sonhar

Como dormem, ainda

Acalentadas pela perpetuação do teu último suspiro

Repousadas na fartura do teu emblemático bigode

Todas as imagens

Minuciosamente capturadas pela agudeza de tuas retinas.

Pronto!

Agora, tudo está definitivamente vivo

Quando cintilam as luzes que se manifestam nas cores de tuas telas

E nas formas das marcantes figuras esculpidas pelas tuas mãos

Concebidas pela humanidade que explodia em teu peito

E pela fecundidade dos teus argutos olhos azuis.

Pronto!

Agora és o que sempre foste e o que sempre serás

Um homem liberto das amarras dos conceitos e dos preconceitos

A anti-razão do sonho, enfim realizado

Expresso no desejo maior de sentir-se, um dia, misturado

Às ternas e acolhedoras águas do amado

Velho Chico.

Já o Cantor Maciel Melo FEZ uma homenagem a Celestino Gomes. "Fiz uma música dedicada a três pintores por quem sempre tive muita admiração. Um é Celestino Gomes, filho de Petrolina; O outro é Mateus Veloso, que conheci ainda na adolescência; o terceiro é Ivan Marinho, companheiro de muitos anos. Começamos juntos, eu nos bares das noites recifenses, ele nas telas, nas paredes, nos recitais de poesias, nas salas de aula. Sonhávamos muito, enquanto ele pintava eu tocava violão. Foram os melhores anos de minha vida".

Na letra Maciel Melo compara o pintor e o cantor:

'Quando pinta o pintor

Pinta a cor

Do pensamento do poeta

Pinta as linhas do verso

Tinge a métrica

Desenha sua canção

E os acordes de um violão

Pelos dedos da mão

Se transformam em aquarela

Pinta pra ele ou pra ela

Com a tinta da emoção

Quando canta todo cantador

Seu pinho é seu cavalete

E do seu amigo velho e alto tamborete

Vê uma paisagem bem precisa

Decantando a Monalisa

Faz um quadro, entoa um rosto

Sinfoniando o sol posto

Traz a tela para os dedos

Sonorizando segredos

Canta o gosto e o desgosto

Quando se pinta ou se canta

Quando se escreve ou se fala

Quando se escuta ou se cala

Pode estar se pintando um mundo

Emoldurando o ser

Com as cores do bem viver

Nas telas do bem amar...

Nenhum comentário

← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário