Se vivo estivesse o Arcebispo Emérito de Olinda e Recife, dom Helder câmara estaria completando, nesta segunda-feira, dia sete, 113 anos.
Para celebrar a data, o Instituto Dom Helder Câmara, realiza o evento de forma virtual nesta segunda, inclusive com celebrações de missas e lançamento de livros que podem ser acompanhados pelo canal do youtube dom Helder idhec.
sa branca em voo rasante,
Olhar de águia a ver distante,
Sente a dor que da terra brota,
De um chão inóspito em calor ardente.
Cercas longas a dividir a terra,
Causa infame de prolongada seca,
Não fosse a asa branca em sinal plangente,
Luiz não teria ainda infante,
Esgrimido um som feito em fole e diapasão,
Batida de pé, nem baião.
Não,
Não teria cantado um amor ardente,
Nem feito luz das estrelas candentes.
Ah,
Não há porque mentir nem esconder!
A asa branca que levantara voo,
Do sertão e da solidão,
Riscou profunda a dor,
De que foi capaz seu coração. (Drance Elias)
Luiz Gonzaga esteve com Dom Helder Câmara e falou sobre o forró, tipo de música nascido no Nordeste, cuja instrumentação básica tem sanfona, zabumba e triângulo. Forró é um ritmo com dança alegre e sensual, hoje espalhado pelo mundo, é um pedaço do Sertão que renasceu na cidade e mata a nossa saudade de Gonzagão, que foi o seu mestre maior.
Luiz Gonzaga é, de fato, uma das mais emblemáticas figuras da música popular brasileira. Junto com os poetas das suas canções, como Zé Dantas, Patativa do Assaré e Humberto Teixeira, ele divulgou o Sertão como a grande síntese cultural do Nordeste, que está hoje no imaginário do povo brasileiro, como um baú de valores civilizatórios e de narrativas profundas. Fez com a sua arte de cantor, o que fizeram pintores como Cândido Portinari, poetas como João Cabral de Melo Neto, romancistas como Graciliano Ramos, dramaturgos como Ariano Suassuna.
Gonzaga, cantando acompanhado de sua sanfona, levou a alegria das festas juninas, da religiosidade popular e dos forrós pé-de-serra, bem como as tristezas e as injustiças de sua árida terra, o Sertão nordestino, para o resto do país, numa época em que a maioria das pessoas desconhecia o forró, o baião, o xote e o xaxado, e em que os nordestinos ainda não tinham voz pra contar suas histórias e afirmar sua dignidade. Gonzagão personificou as ambiguidades políticas do sertanejo, mas cantou como ninguém a cultura de devoção aos santos do nosso povo.
Nos últimos dezoito anos de vida, contudo, entrou na maçonaria - o que enseja e motiva pesquisas sobre a religiosidade em trânsito no Nordeste do Brasil. Para onde está indo a fé da gente?!
Luiz Gonzaga retratando – ou “decantando”, como ele dizia – a fé dos nordestinos. A música de Luiz Gonzaga documentou romarias, novenas, procissões, promessas... Uma trajetória de fé e orações direcionada para ícones como o Padre Cícero e Frei Damião.
"Na minha história pessoal Luiz Gonzaga tem uma importância fundamental. Desde os meus oito anos que eu canto Luiz Gonzaga e me encanto com ele", conta o padre Reginaldo Veloso, que procura compor um repertório para as celebrações litúrgicas da Igreja que tenha raiz nas músicas do povo, como o baião, o xote, o xaxado e as emboladas. "Eu sou muito religiosa. Não aceito que se diga que a fé é algo infantil, ingênua. Ao contrário", defende também a cantora Elba Ramalho.
O professor Gilbraz Aragão, do Mestrado em Ciências da Religião da UNICAP, lembra que o nosso Sertão teve uma evangelização católica com "muita reza e pouca missa, muito santo e pouco padre", uma tradição mais oral do que escrita.
"Por exemplo, a bíblia não era lida na nossa língua. As pessoas tinham que se valer dos seus próprios meios para transmitir histórias através de contos, loas e benditos. Então não era uma Igreja de padres com livros, mas de lideranças carismáticas que usavam da sua intuição religiosa para distribuir bênçãos, fazer rezas e contar histórias edificantes", explicou. Os contos e cantos, como os de Gonzaga, tiveram assim um papel importante na socialização religiosa.
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