ZÉ DANTAS 100 ANOS

Médico, poeta, folclorista e imitador eram algumas das facetas do talento de Josué Souza Dantas Filho, pernambucano do sertão de Carnaíba, cujo centenário é comemorado neste sábado (27/2). Mas, o que o levou a ser conhecido e reverenciado nacionalmente foi sua parceria com Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. O encontro desses dois extraordinários artistas nordestinos gerou clássicos da importância de A volta da Asa Branca, Riacho do Navio, Sabiá e Xote das meninas.

Zé Dantas era, ainda, estudante de medicina, em Recife, quando conheceu Gonzagão. Mas só três anos depois é que vieram a ser parceiros, À época já estava radicado no Rio de Janeiro. Isolado na antiga capital federal, entre os plantões no Hospital dos Servidores, sempre lembrava e descrevia os contos, motes e causos em que listava personagens típicos que gostava de imitar. Esse material ele reportava para revistas e utilizava no exercício de outra das suas ocupações, no Departamento de Folclore na Rádio Mayrink Veiga.

Profundo conhecedor do legado de Zé Dantas, o pesquisador e sanfoneiro pernambucano Diviol Lira conta que, “em 1951, ao lado de Gonzagão, Humberto Teixeira e do maestro Guio de Moraes, ele produziu para a Rádio Nacional uma série de programas intitulada No mundo do baião, que focalizava a cultura nordestina. Também conhecido como Sabiá do Pajeú, ele conquistou a simpatia dos ouvintes da emissora ao apresentar imitações de personagens sertanejos, contar casos e mostrar composições inéditas inspiradas no sertão do Nordeste”.

Casado com Yolanda Simões, Zé Dantas dedicou à esposa o baião romântico A letra I, destaca Divil. “A partir dali, ela passou a usar essa vogal em seu nome. Além de Luiz Gonzaga, também contribuíram para para a perpetuação da obra do letrista, Marinês, Jackson do Pandeiro, Ivon Cury, além da neta Marina Elali. Ela gravou músicas inéditas do avô, que faleceu aos 41 anos. A morte precoce levou um dos mais importantes compositores de ritmos nordestinos”.

Para Aristóteles Oliveira, vice-presidente da Associação dos Forrozeiros de Ceilândia, Zé Dantas foi um dos principais criadores de forró pé de serra. “Passei a saber mais sobre a obra dele por meio do mestre Luiz Gonzaga, a quem conheci aqui no DF em 1970. Foram muitas as parcerias dos dois. Eu me inspirei muito nas letras de Zé Dantas para criar minhas composições, registradas em cinco discos e dois CDs que lancei”, diz.

Violeiro, pesquisador, produtor e apresentador do programa Acervo Origens, na Rádio Nacional FM, e do projeto Forró de Vitrola, Cacai Nunes vê Zé Dantas como um dos mais relevantes nomes da cultura popular nordestina. “Ele traduziu em palavras a ambiência, a pureza e as tradições do povo nordestino, traduzidas em músicas por Luiz Gonzaga. A volta da Asa Branca, Sabiá e Vem morena são autênticos poemas. É da maior importância celebrar Zé Dantas no centenário dele”. (Correio Braziliense)

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