A sanfona sabe de todas as minhas saudades, revira todas as minhas lembranças, desce ao poço profundo do meu passado e traz-me milhões de presentes. É, a sanfona é a rainha do meu salão de miudezas. É a lâmpada a clarear meu terreiro, é o sol a festejar os meus dias.
Quando chove, a sanfona é meu abrigo. À noite escura, é ela a lua escondida por trás da escuridão. Meus ouvidos são a passarela por onde ela desfila soberana. Minha pele sofre quando a escuta bem baixinho nos agudos suaves. Meus olhos se fecham, enquanto meu peito vibra nas prolongadas notas graves. Me desculpe, Deus, mas meus santos todos tocam sanfona, sem piedade. Tem dois santos no altar-mor de minha catedral: São Luiz Gonzaga do Nascimento e São Dominguinhos.
Essa da foto pertence ao segundo, já que o primeiro é primeiro mesmo. Toca, sanfona sofrida, sanfona querida.
(Fonte: Aderaldo Luciano professor doutor em Ciência da Literatura)
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