Riqueza na oralidade: Mia Couto conta como foi influenciado pela escrita de Guimarães Rosa

Um dos maiores escritores da língua portuguesa da atualidade vem ao Recife falar sobre uma obra prima da literatura universal: Grande Sertão Veredas.

A convite da editora Companhia das Letras, o moçambicano Mia Couto vai à Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) para uma palestra sobre sua relação com a obra do escritor mineiro João Guimarães Rosa, autor de "Grande Sertão: Veredas". 

A visita faz parte de uma série de eventos que a companhia está realizando em várias cidades brasileiras, promovendo o relançamento do clássico publicado pela primeira vez em 1956.

Entre outros detalhes que envolvem a nova edição está uma série especial de apenas 63 volumes com desenhos originais de Poty Lazzarotto (que ilustrou as primeiras edições da obra) e uma capa feita à mão por bordadeiras de São Paulo e de Minas Gerais, com arte inspirada em Arthur Bispo do Rosário.

A palestra vai acontecer na terça-feira (16), em Recife. 

"'Grande Sertão: Veredas' é um livro incomparável, difícil de ser classificado. É uma obra prima, uma espécie de milagre em que o autor coloca dois personagens em diálogo e, nessa conversa, são dois mundos que se trocam, para muito além de qualquer regionalismo, mas tocando as grandes inquietações da humanidade", aponta Mia Couto, que revela ter conhecido a obra de Rosa através do escritor angolano Luandino Vieira, em meados dos anos 1980. 

"Luandino influenciou-me, cedendo-me uma espécie de 'luz verde' para que eu deixasse entrar na escrita a riqueza da oralidade. Quando falei com ele sobre isso, ele sugeriu que eu procurasse o autor brasileiro de 'Grandes Sertões'. Isso aconteceu em 1987, quando estava a escrever o meu segundo livro de contos", relembra.

Segundo ele, Rosa influenciou sua literatura ao mostrar que "a linguagem não era apenas um instrumento invisível, mas podia constituir um outro personagem". 

"A poesia era o seu método para instituir o caos. E eu sou da poesia e, no início, pensava que havia fronteiras a respeitar entre prosa e a linguagem poética", aponta.

"Guimarães Rosa me devolveu o chão", afirma, acrescentando que veio ao Brasil trazer um abraço solidário de seu país pelas tragédias que vêm afetando Mariana, Brumadinho e Rio de Janeiro.

“Rosa me volta a ensinar que aquela minha cidade não era apenas um lugar, era uma entidade viva que me tinha contado histórias. Como o sertão de Rosa, a minha cidade é mais da palavra do que da terra, e os nossos lugares de afeto são sempre mais da linguagem do que da geografia”, diz emocionado.

Na sequência da palestra sobre "Grandes Sertões: Veredas", Mia Couto fará uma segunda apresentação na Unicap, no dia 17, às 9h, sobre o tema “Ser da Linguagem em seus desdobramentos literários, ético-estéticos”.

Folha Pernambuco
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