Ainda na madrugada junto como o amigo, o artesão Afonso
Conselheiro, tivemos o privilégio de nas margens do Rio São Francisco escutar
um sanfoneiro cantando, carregando através da sanfona a alegria de saber que
ali na curva do rio todos renovam a esperança de que a cada 02 de agosto Luiz
Gonzaga não morre, nasce cada vez mais belo.
Era 02 de agosto de 1989 quando o rádio anunciou Luiz Gonzaga
morreu!
E foi saindo dessa geografia da água verde do Rio São
Francisco e estrada afora entre poeira e sol que rompemos o silêncio: É Luiz
Gonzaga, o Lula, o grande nome da modernização da música brasileira nos últimos
60 anos... Afonso fez questão de declarar que sim, e Dominguinhos “pois este
superou a arte do mestre”.
Nascido em Exu, no sertão de Pernambuco, na chapada do
Araripe, Luiz Gonzaga ganhou o Brasil e o Mundo. São vinte e cinco anos de
ausência física e de nascimento a caminho dos 102 anos. “Mas coloque ai na reportagem: nunca, jamais
ele esqueceu o Nordeste, de sua origem”, diz o artesão na arte do couro Mestre
Aprigio.
Em plena atividade em Ouricuri, nascido em Exu no dia 25 de
maio de 1941, “Mestre Aprigio”, confecciona couro e sem nenhuma pretensão ou
arrogância conta que conheceu bem o repertório de Luiz Gonzaga. Ele
confeccionou o primeiro chapéu de couro usado por Luiz Gonzaga.
“Meus chapéus serviram
de coroa para os dois grandes reis que conheci, veja só que privilégio, Luiz
Gonzaga e Dominguinhos”.
Para o compositor Onildo Almeida, a sanfona e a voz de Luiz
Gonzaga representam até os dias atuais às circunstâncias regionais sem perder
de vista o universal. “Junto com os parceiros compositores soubemos traduzir
com sensibilidade a alegria de nossa gente e os problemas sociais.”
Chegamos a Exu. No carro de som ouvimos Asa Branca, toada que
Luiz Gonzaga elevou à condição de epopeia a questão nordestina. É um autêntico
Hino. Música que tonifica o cancioneiro brasileiro, capaz de ser uma tese,
síntese contra o empobrecimento cultural em que se encontra o atual estágio de
músicas executadas nas rádios e canais de TV.
Gilberto Amado disse ao se referir à morte: “Apagou-se aquela
luz no meio de todos nós”. Mas o desaparecimento físico de Luiz Gonzaga não
cessou de florescer a mensagem da cultura e da valorização da música brasileira.
Afonso, artesão e lutador do bom combate enxuga uma lágrima.
Na vitrola Luiz Gonzaga canta A Triste Partida.
Luiz Gonzaga vive, está vivo no sertão, na cidade grande e
capitais, de Norte a Sul, Leste Oeste. Luiz Gonzaga vive na boca do povo, no
gemer da sanfona, no coração e na alma da gente brasileira.
Disse Fernando Pessoa: “Quem morrendo, deixa escrito um belo
verso, deixou mais ricos os céus e a terra, mais emotivamente misteriosa a
razão de haver estrelas e gente.”
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